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Salus in Caritate

Cultura Católica

Carta 21 Eu confesso que prefiro os caminhos antigos

 Piracicaba, 01 de fevereiro de 2021


Eu confesso que prefiro os caminhos antigos.

"Assim fala o Senhor: “Sustai vossos passos e escutai; informai-vos sobre os caminhos de outrora, vede qual a senda da salvação; segui-a, e encontrareis a quietude para vossas almas”. Responderam, porém: “Não a seguiremos!”. (Jeremias 6, 16)

Os antigos caminhos tem se mostrado para mim a melhor escolha, a mais segura e a mais reconfortante em praticamente tudo em minha vida. Na forma como eu vejo a religião, a alimentação, o lar, o trabalho, a minha vocação, as coisas que acontecem sucessivamente no mundo.

Lembra daquela parte de Atos (17, 21) sobre os atenienses que tinham uma fixação pela novidade, "em ouvir e dizer algo novo"? Talvez estejamos vivendo uma repetição disso, estamos sendo impulsionados para o novo, novo, novo e constante instigados a uma aversão mórbida pelo caminho antigo e regular de outrora, pelo caminho batido de todos os atletas do Senhor que vieram antes de nós.

Tudo se centraliza nas emoções e no desgraçado respeito humano, que nos faz colocar as criaturas no lugar do Criador.

Os antigos caminhos são belos e bons, caminho batido e seguro, em que os santos da Igreja são os verdadeiros mentores que nos levam ao nosso Mestre. Nós não moldamos a Palavra do Senhor, ela é que nos molda.

Neste dia eu só queria lhe dizer que duas coisas fizeram realmente toda a diferença em minha vida: a Total Consagração a Santíssima Virgem e entrar nos caminhos de outrora, nos caminhos da Tradição bela e educativa da Igreja.

"Assim fala o Senhor: “Sustai vossos passos e escutai; informai-vos sobre os caminhos de outrora, vede qual a senda da salvação; segui-a, e encontrareis a quietude para vossas almas”. Responderam, porém: “Não a seguiremos!”. (Jeremias 6, 16)


Eu confesso que prefiro os caminhos antigos. 


Singelamente, Ana
Carta 20| A Santa Ordem: um princípio de eternidade



Piracicaba, 09 de dezembro de 2020

Parece-me que se passaram somente alguns dias desde a carta que lhe escrevi falando sobre o meu cansaço de fim de ano...mas na verdade já faz um ano. E que ano! Parece um professor de metafísica, um daqueles que não entendemos nada e depois de um tempo entendemos alguma coisa


"O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem a sua frente a eternidade.“ (Rainer Maria Rilke)

A arte de viver a vida é realmente interessante. Como lhe falei naquela carta, eu estava muito cansada, acredito que você também estava, mas agora (rs)... mas parece que a espera fez sua catarse, neste ano só posso falar do princípio de eternidade: a Santa Ordem. Esta ordenação interior que nos permite suportar os ventos, chuvas e raios... que permite, como a planta que vive no mais grave inverno, esperar a primavera e o verão.

A ordem, este princípio eterno, faz morada na alma que espera e então ela volta a se harmonizar com a criação para render louvor ao Criador. Harmonia que é o princípio da Beleza. A ordem que retifica o nosso olhar.

Um olhar corajoso para o futuro, muitas vezes é a ação mais nobre, mais virtuosa, mais cristã. Um olhar corajoso que aceita a realidade como ela é e não se intimida na adversidade (Papa Francisco). Que convite simples e desafiador!

Nós que somos tão frágeis, Deus tem nos lembrado disso. Mas tem nos lembrado, muito mais, que: uma fortaleza poderosa é o nosso Deus.

"Uma pessoa que espera é uma pessoa paciente. A palavra paciência significa a disposição para permanecer onde estamos e viver plenamente a situação, na crença de que algo oculto se manifestará ali para nós." (Henri Nouwen)

Singelamente, Ana

A virtude da ordem





A virtude da ordem é mais do que tentar ser um especialista em eficiência. O Dr. David Isaacs define a ordem como:

"Uma pessoa ordenada segue um procedimento lógico que é essencial para a consecução de qualquer objetivo que ele se propõe - organizando suas coisas, usando suas habilidades, realizando suas atividades por sua própria iniciativa, sem ter que ser constantemente lembrado."



Em um nível supernatural, ordem significa fazer a coisa certa no momento certo, para a maior glória de Deus. Para viver verdadeiramente a virtude da ordem, precisamos desenvolver a ordem correta no reino espiritual, pois somos um composto de corpo e alma. O que fazemos corporalmente influencia a alma e vice-versa.

Assim algumas frases se tornam mais profundas e claras:

"... Sem as virtudes da autodisciplina, contemplação diligente da verdade, simplicidade da vida e dedicação alegre aos outros, você não terá a força interior para combater a cultura da morte que está ameaçando o mundo moderno.” 
“O que você acredita em seu coração e declara com a boca, você deve se esforçar para cumprir em suas ações." (Papa João Paulo II

"Quem você é fala tão alto que não consigo ouvir o que você está dizendo." (Ralph Waldo Emerson)


"A desordem é o contrário da Ordem. A Ordem é uma virtude filha da temperança, irmã do pudor, da modéstia, da castidade (e outras). Todas elas se relacionam com o comportamento e o acolhimento da Ordem Divina.  Dessa forma são atos de amor. Tal ação de amor se desdobra na virtude da diligência, que é a capacidade de se aplicar com amor a uma tarefa,  "diligir" em latim significa amar, essa presteza e preciosismo em realizar as tarefas é virtuoso. Seu contrário é o vício da preguiça, caracterizado pela negação do esforço, pode ser visto no fato de: fazer tudo de qualquer jeito, não fazer as coisas com amor, cansaço constante pelo fato de não poder fazer o excelente - então não faz nada- falta de ordenação no tempo gasto." Ana Paula Barros.

Trechos do "Plano de Vida Espiritual".
Carta 19: Eu recebi um presente


 Piracicaba, 05 de maio de 2020


Há 32 anos eu recebi um presente: uma vela acesa.


Vejo pelas fotos quem estava lá, conheço alguns e desconheço a maioria... Depois fui andando por esta estrada chamada vida, não me lembro de nada nítido do começo do caminho, depois surgiram luzes pelo caminho, era a vida das outras pessoas, o que elas tinham e eu não, as outras luzes eram sonhos e coisas que pareciam legais, eram luzes diferentes, mas eram luzes.

Vivi muitos anos carregando essa vela sem perceber sua luz, os outros brilhos me chamavam mais a atenção. Não me lembro, no entanto, de ter largado a vela, nem que sua luz se apagou alguma vez... mas me lembro de ventos, tempestades e outras coisas que me faziam ver que o que mais importava era manter acesa aquela luz que eu, na maior parte do tempo, não me importava... mas ela se manteve acesa, como que por milagre, dado que me esqueci dela muitas vezes.

Há 32 anos eu recebi uma vela e agora sei que toda a vida consiste em mantê-la acesa, alimentar o fogo a ponto de me tornar parte dele e colocar essa luz e fogo ao meu redor.

Há 32 anos eu recebi um presente, que se bem cuidado, me fará viver para sempre.

Singelamente, Ana
Levítico: Visão geral + Comentário de São João Crisóstomo



1) Introdução

Este é um material de apoio do Projeto de Leitura Bíblica: Lendo a Bíblia, para baixar o calendário de leitura bíblica e os outros textos de apoio dos Doutores da Igreja , online e pdf, sobre cada livro da Bíblia, clique aqui. 

Este projeto é um dos ramos de uma árvore de conteúdos planejados especificamente para o seu enriquecimento. Os projetos que compõem esta árvore são: Projeto de Leitura Bíblica com textos de apoio dos Doutores da Igreja (baixar gratuitamente aqui), Plano de Vida Espiritual (baixar gratuitamente aqui), o Clube Aberto de Leitura Conjunta Salus in Caritate, com resenha e materiais de apoio (para ver a lista de livros, materiais e os cupons de desconto  2020 clique aqui) e o Salus in Caritate Podcast (ouça em sua plataforma preferida aqui). 



Baixe esse material em PDF


2) O que é um Doutor da Igreja? 


Os Doutores da Igreja são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente saber teológico, atestado por escritos vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja. Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja, dos quais também diferem. Padres da Igreja são aqueles cristãos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram eficazmente para a reta formulação das verdades da fé (SS. Trindade, Encarnação do Verbo, Igreja, Sacramentos. ..) nos tempos dos grandes debates e heresias. O seu período se encerra em 604 (com a morte de S. Gregório Magno) no Ocidente e em 749 (com a morte de S. João Damasceno) no Oriente. 

Para que alguém seja considerado Padre da Igreja, requer-se antiguidade (até os séculos VII/VIII), ao passo que isto não ocorre com um Doutor.Para os Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou por um Concílio. Para os Padres, não se requer um saber extraordinário, ao passo que para um Doutor se exige um saber de grande vulto. 

Em Suma 


Doutor da Igreja é aquele cristão ou aquela cristã que se distinguiu por notório saber teológico em qualquer época da história. O conceito de Doutor da Igreja difere do de Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a reta formulação dos artigos da fé até o século VII no Ocidente e até o século VIII no Oriente. Há Padres da Igreja que são Doutores. Assim os quatro maiores Padres latinos (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo e S. Gregório Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzeno e S. João Crisóstomo). 

Portanto, o parecer de um Doutor da Igreja é maior do que achismos, independente do assunto em estudo ou discussão.


Visão geral do Livro de Levítico


Levítico, do grego Λευιτικόν, "Leuitikon", do original hebraico "torat kohanim" ou em hebraico: וַיִּקְרָא, "Vaicrá" - "Chamado por Deus". É o 3º livro da Bíblia e começa logo após o êxodo dos Israelitas de sua escravidão no Egito quando Deus os trouxe até a base do Monte Sinai e convidou Israel para uma aliança, mas Israel rapidamente se rebelou e quebrou essa aliança.

No entanto, Deus queria que Sua gloriosa presença habitasse no meio de Israel, no Tabernáculo, mas o pecado de Israel danificou a relação desse povo com Deus. No final do livro anterior, Êxodo, Moisés, como representante de Israel, estava autorizado a entrar na presença do Senhor, dentro da tenda. O livro de Levítico começa nos lembrando desse problema fundamental: "O Senhor chamou a Moisés de DENTRO da tenda". O tema do livro é: Como pode Israel, envolto no pecado e no egoísmo, se reconciliar com Deus que é Santo?

Deus graciosamente provê uma maneira para que essas pessoas pecadoras e corruptas possam viver em Sua presença.

Mas antes de prosseguirmos vale colocarmos um olhar atento sobre esse traço fundamental da personalidade de Deus e que é o cerne para entender todo este livro: a santidade de Deus. 

A palavra "santo" significa simplesmente "ser separado" ou "único" e na Bíblia, Deus é separado de todas as outras coisas por causa do seu papel único como o Criador de tudo, como o próprio Autor da vida, então, se Deus é Santo, o espaço ao redor de Deus também é Santo, é cheio de Sua bondade, vida, pureza e justiça. O livro passa muito tempo falando justamente disso, até mesmo quem tocar num objeto consagrado recebe a influencia da santidade de Deus. 

Se o povo de Israel, que é injusto e pecador, quiser viver na presença santa de Deus eles também precisam se tornar santos, seus pecados precisam ser curados. O livro fala da dedicação do Senhor em tratar os pecados desse povo tão cabeça dura, que O trocou por um boi de metal e que reclama o tempo todo. O livro todo é sinal da bondade de Deus e de sua ação didática em fazer com que o povo entenda que Ele é santo e que seu povo também deve ser. 

O livro tem um maravilhoso design simétrico, ele explora as 3 principais maneiras que Deus desenvolveu para que  Israel possa viver em Sua presença. 

As seções externas são descrições dos rituais que Israel deveria praticar na Santa Presença de Deus e as seções internas focam no papel dos sacerdotes de Israel, como mediadores entre Deus e Israel; já dentro das seções internas, existem duas seções similares que focam na pureza de Israel. No meio do livro, tem um ritual-chave, o Dia da Expiação, que é o laço que une todas as seções do livro, que se conclui com uma pequena seção onde Moisés clama a Israel para serem fiéis à essa aliança. 


1º Seção de rituais

A primeira seção explora os 5 principais tipos de rituais sacrificiais que Israel deveria realizar. 2 deles eram maneiras que os Israelenses poderiam dizer "obrigado" oferecendo as primícias, os 3 outros sacrifícios eram maneiras diferentes de se pedir perdão a Deus e aqui um israelita iria oferecer o sangue de um animal enquanto confessava seu pecado, que gerou mais maldade e morte no bondoso mundo de Deus. Mas Deus, ao invés de destruir essa pessoa, quer, é claro, perdoa-la, então, esse animal simbolicamente morre em seu lugar e expia, ou cobre o seu pecado. Então, através desses rituais, os israelitas estavam sendo constantemente lembrados da graça de Deus, mas também de Sua justiça, e da seriedade do pecado, de sua maldade e suas consequências. 


2º Seção de rituais

O segundo grupo de rituais apresenta os 7 festivais anuais de Israel e cada um deles reconta uma parte da história, sobre como Deus redimiu-os da escravidão no Egito e os guiou através do deserto a caminho da Terra Prometida. E por celebrar esses festivais regularmente, Israel se lembraria quem eles são e quem Deus é. 


3º Seção de rituais

É a que trata dos Sacerdotes de Israel. Aarão e seus filhos são os primeiros a serem ordenados, entrando na presença de Deus, representando Israel. 

Nessa seção nós vemos as qualificações para ser um sacerdote. Os sacerdotes eram chamados para terem o mais alto nível de integridade moral e santidade ritual porque eles representavam o povo perante Deus, mas eles também representavam Deus perante o povo, nós descobrimos assim porque a santidade dos sacerdotes é tão importante. 


Logo depois que a família de Aarão foi ordenada, dois de seus filhos entram diretamente na presença de Deus e violam flagrantemente as regras e no mesmo momento, eles são consumidos pela santidade de Deus.  É um lembrete assombroso do paradoxo de viver na presença santa de Deus, porque Ele é bondade pura, mas se torna perigosa para aqueles que se rebelam e insultam Sua santidade. Por isso, é importante que os sacerdotes de Israel se tornem santos e também que todo o povo de Israel se torne santo.

Os capítulos 11 a 15 tratam sobre a pureza ritual requerida para todo o povo de Israel e os capítulos 18 a 20 são sobre a pureza moral do povo.

Por Deus ser santo e separado, os israelitas também precisam estar num estado de santidade quando eles entram na presença Dele, isso era considerado ser "limpo" ou "puro", a presença de Deus era uma zona proibida para qualquer um que não estivesse em santidade e isso era considerado ser "sujo" ou "impuro". Um israelita poderia se tornar impuro de algumas maneiras: por contato com fluídos reprodutivos, por possuir uma doença de pele, por tocar mofo ou fungo, ou tocar o corpo de algo que estivesse morto. Para os israelitas, tudo isso estava associado com mortalidade, com a perda da vida, o que nos leva ao simbolismo central dessas ideias. 

A pessoa se torna impura quando se contamina por tocar a "morte", de certa forma. E a morte é o oposto da santidade de Deus, porque a essência de Deus é a vida. O pecado estava em entrar na presença de Deus carregando esses símbolos de morte e impureza no próprio corpo. Esse ponto nos dá uma boa reflexão, ainda hoje. 

A última forma de se tornar impuro era por comer certos tipos de animais. As leis de alimentação kosher estão descritas nessa seção e existem muitas teorias do porque esses animais eram considerados impuros e proibidos, poderia ser para promover a higiene, ou para evitar tabus culturais; a verdade é que o texto simplesmente não é explícito. Mas o ponto básico de todos esses capítulos é muito claro: todas essas regras juntas funcionam como um conjunto elaborado de símbolos culturais que fazem Israel se lembrar de que a santidade de Deus deveria afetar todas as áreas de suas vidas. 

Isso se relaciona com a pureza moral de Israel. Os israelitas eram chamados a viver de forma diferente dos canaanitas, eles deveriam cuidar do pobre ao invés de ignora-los, deveriam ter um alto nível de integridade sexual e promover justiça durante toda a vida.

E por fim chegamos ao centro do livro: o Dia da Expiação. 

Nem todos os pecados e rebeliões do povo de Israel tinham sido cobertos através dos sacrifícios individuais, então, uma vez ao ano, o Sumo Sacerdote levava dois bodes. Um desses bodes se tornaria uma oferta de purificação e expiaria dos pecados do povo e a outro era chamado de "Bode Expiatório".

O sacerdote iria confessar os pecados de Israel e simbolicamente os passaria para o bode e então o bode seria enviado para o deserto, novamente, essa é uma imagem muito poderosa do desejo de Deus de remover o pecado e suas consequências, do seu povo, para que Deus pudesse viver em paz com eles. 

Atualmente é celebrado no dia 10 do sétimo mês no calendário israelita, é chamado de Dia do Juízo, ''Yom Kippur" pelos judeus, o Dia da Expiação, ou Dia do Perdão. As orações dos judeus nesse dia são o Vidui, uma confissão, e Al Chet, uma lista de transgressões entre o homem e Deus e o homem e seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em hebraico). Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão de qualquer transgressão que se queira na letra apropriada. O Vidui e Al Chet estão no plural, o que pretende transmitir a ideia de que o povo judeu é um povo "entrelaçado", onde todos devem ser responsáveis pelos outros. Mesmo não cometendo uma determinada ofensa, pretende-se transmitir uma carga de responsabilidade por aqueles que a cometeram - especialmente se a transgressão pudesse ter sido evitada por aqueles que não arcarão com as culpas.

O livro concluí com Moisés chamando Israel para ser fiel a todos os termos da aliança e ele descreve as bênçãos de paz e abundância que resultarão se Israel obedecer todas essas leis e também os adverte que se eles forem infiéis e desonrarem a santidade de Deus isso resultará em desastre e em último caso, exílio da terra prometida a Abraão. 

Se você quer ver como o Levítico se encaixa na história geral da Bíblia você pode dar uma olhada nos primeiros versos do próximo livro da Bíblia: Números. Ele começa: "O Senhor falou com Moisés DENTRO da tenda". 

Moisés pode entrar na presença de Deus representando Israel, o que Deus mandou no livro de Levítico funcionou! (claro!). 

Apesar das falhas de Israel, Deus proveu uma maneira para que seus pecados fossem cobertos, para que Ele vivesse pacificamente com eles. 



Comentário de São João Crisóstomo

“O Sacerdócio se exerce sobre a terra, mas seu lugar está na ordem das coisas celestes: e isso está correto. Pois não foi um homem, nem um anjo, nem um arcanjo, nem nenhuma outra potência criada, mas o próprio divino Paráclito que estabeleceu esse lugar: foi ele quem deu aos homens a sublime confiança de exercer, ainda que revestidos de carne, o ministério dos puros espíritos. É preciso então que o sacerdote seja puro, como se ele estivesse no céu junto com os espíritos bem-aventurados. Que majestosa paramentação havia antes da lei da graça! Como tudo inspirava um santo temor! As sinetas, as granadas, as pedras preciosas que brilham sobre o peito e a éfode do Grande Sacerdote; o diadema, a tiara, o manto que se arrasta no chão, a espada de ouro, o santo dos santos e sua impenetrável solidão! E se considerarmos os mistérios da lei da graça, veremos como era vã a pompa exterior da antiga lei, e compreenderemos bem, nesse caso particular, a verdade de tudo o que foi dito sobre essa lei em geral: o que havia de notável nesse primeiro ministério sequer constitui uma glória, quando comparada à glória supereminente da segunda[1]. Quando você vê o Senhor imolado e estendido sobre o altar, o sacerdote que se inclina sobre a vítima e ora, e todos os fiéis cobertos de púrpura desse sangue precioso, você ainda crê estar entre os homens, e mesmo sobre a terra? Não foi antes você transportado aos céus, e, tendo banido todo pensamento carnal, como se fosse puro espírito, despojado da carne, não contempla você as maravilhas do mundo superior? Ó prodígio! Ó bondade de Deus! Aquele que assenta no alto, à direita do Pai, deixa-se nesse momento tomar pelas mãos de todos, e se entrega aos que desejam recebê-lo e apertá-lo junto ao coração; é isso que se passa aos olhos da fé. Essas coisas parecem-lhe dignas de desdém? São elas de natureza tal que as possamos considerar abaixo de nós?”.


“Vamos considerar a excelência de nossos santos mistérios por um outro prodígio. Imagine Elias, uma multidão imensa de pé ao redor dele, e a vítima estendida sobre as pedras; todos os assistentes aguardando no mais profundo silêncio, apenas o Profeta que ora em alta voz; e, de repente, a chama se precipita do céu para o holocausto. Tudo isso é maravilhoso, e próprio para penetrar a alma de temor. Mas agora passe desse espetáculo para a celebração de nossos mistérios, e verá coisas que excitam e ultrapassam toda admiração. O sacerdote está de pé, e ele faz com que desça do céu, não o fogo, mas o Espírito Santo. Sua oração é longa: ela se eleva, não para que uma chama venha do alto devorar as oferendas que foram preparadas, mas para que a graça, descendo sobre a hóstia, abrase por meio dela a todas as almas, tornando-as mais brilhantes do que a prata depurada no fogo. Não é preciso estar privado de razão e de senso para ser capaz de desprezar um mistério tão temível? Não sabe você que uma alma humana jamais suportaria o fogo do sacrifício, mas que seríamos prontamente destruídos sem o socorro poderoso da graça de Deus?”.


 “Se refletirmos que é um mortal, envolvido pelos laços da carne e do sangue, que pode se aproximar dessa natureza bem-aventurada e imortal, ficaremos espantados com a profundidade desse mistério, e ao mesmo tempo penetrados pela grandeza do poder que a graça do Espírito Santo confere aos sacerdotes. É por meio deles que essas maravilhas se realizam, e muitas outras não menos importantes, tanto para nossa salvação como para nossa glória. Criaturas que habitam sobre a terra que têm sua existência ligada à terra, são chamadas à administração das coisas do céu, ao exercício do poder que Deus não concedeu sequer aos anjos e arcanjos! Pois não é a eles que foi dito: ‘O que ligardes na terra será ligado no céu, e o que desligardes na terra será desligado no céu[2]’. Também os poderosos da terra têm o poder de ligar, mas somente os corpos; a ligação de que fala o Evangelho é um laço que arrebata a alma, e tudo o que se estende até os céus, daquilo que aqui em baixo fazem os sacerdotes, Deus o ratifica no alto; o Mestre confirma a sentença dos servidores”.


“Ele lhes deu, por assim dizer, a onipotência no céu. Ele disse: ‘Aqueles a quem perdoardes os pecados, esses lhes serão perdoados; aos que os retiverdes, ser-lhes-ão retidos[3]’. Pode haver maior poder do que esse? O Pai entregou ao Filho todo julgamento, e vemos agora o Filho entregar esse mesmo poder inteiramente nas mãos dos seus sacerdotes. Não diríamos que Deus primeiramente os introduziu no céu, que os elevou acima da natureza humana e que os libertou das paixões, para em seguida revesti-los dessa suprema autoridade? Se um rei admite que um de seus súditos partilhe de seu poder, concedendo-lhe o privilégio de aprisionar ou libertar a quem melhor lhe parecer, tamanha honra atrairia contra ele a inveja e a consideração de todo o mundo; e aquele que recebe de Deus um poder tão superior àquele, tanto quanto o céu é superior à terra e a alma ao corpo, não terá recebido, segundo o juízo de algumas pessoas, mais do que uma dignidade medíocre, uma dignidade da qual se pudesse pensar que alguém desdenharia tanto a honra como o dom! Que extravagância! Desprezar uma função sem a qual não existe a salvação para nós, nem a realização das promessas divinas! Ninguém pode entrar no reino de Deus, se não renascer da água e do Espírito Santo[4]; quem não comer da carne do Senhor e não beber de seu sangue, estará excluído da vida eterna’[5]. Então, se esses benefícios não podem ser conferidos senão por mãos santificadas, ou seja, pelas mãos dos sacerdotes, de que meio disporíamos, sem seu ministério, para evitar o fogo do inferno, ou para alcançar as coroas que nos foram reservadas?”.


“A gravidez espiritual das almas é seu privilégio; somente eles as fazem nascer para a vida da graça por meio do batismo; por meio deles somos sepultados com o Filho de Deus, por meio deles nos tornamos membros desse Chefe divino. Assim é que devemos respeitá-los mais do que os príncipes e reis, e ainda amá-los mais do que aos nossos próprios pais. Esses nos fizeram nascer do sangue e da vontade da carne; os sacerdotes nos fazem nascer como filhos de Deus; nós lhes devemos nossa feliz regeneração, a verdadeira liberdade da qual desfrutamos, a nossa adoção na ordem da graça”.


“Somente os sacerdotes da antiga lei tinham o direito de curar a lepra, ou melhor: eles não a curavam, mas julgavam se as pessoas estavam curadas; e você sabe com quanto ardor se buscava a dignidade sacerdotal entre os judeus[6]. Quanto aos nossos sacerdotes, não é a lepra do corpo, mas a da alma, que eles receberam o poder de curar, não de verificar, mas de operar a cura por inteiro. Aqueles que os desprezam são assim mais sacrílegos do que Satã e seus companheiros[7], e merecedores de um castigo mais severo. Eles, desejando uma dignidade que não lhes cabia, ao menos deram provas de uma estima especial naquilo que faziam, pela própria ambição que os levara à usurpação. Mas hoje em dia, quando o sacerdócio está de posse de uma autoridade e de uma excelência muito mais relevantes do que outrora, desprezá-la constitui um crime ainda mais odioso do que o de pretendê-la por motivos de ambição. Não há nenhuma paridade, sob o aspecto do ultraje, entre pretender uma dignidade cujo direito não se tem, e desprezar os grandes bens que o Sacerdócio guarda em si, tanto está longe a admiração do desdém, tanto o segundo crime é mais grave do que o primeiro. Que alma seria tão miserável para desprezar tão augustas prerrogativas? Nenhuma, a menos que estivesse submetida ao aguilhão e ao poder de Satanás. Mas voltemos ao tema que deixamos para trás”.


“Dizia Paulo: ‘Quem sofre, sem que eu sofra com ele? Quem se escandaliza sem que eu queime?’. Assim deve ser o sacerdote, ou melhor, nem isso basta: isso ainda é pouco, é nada em comparação com o que vou dizer”.


“Escute: ‘Eu gostaria que Jesus Cristo tornasse a mim próprio anátema em favor de meus irmãos, eles que são de minha própria raça segundo a carne[11]’. Todo homem que for capaz de proferir essas palavras, cuja alma for sublime o bastante para se elevar às alturas de tal desejo, merecerá ser condenado caso fuja do episcopado. Mas quem se afastar dessa virtude tanto quanto eu, será odioso, não se recusar, mas se aceitar”.


A alma do sacerdote é açoitada por muito mais tempestades do que os ventos que revoltam os mares.

Os monstros que esse recife abriga; uma vez aprisionado por eles, seguimo-los por onde nos arrastarem, e descemos tão baixo na servidão que, para agradar às mulheres, fazemos coisas que não convém nem mencionar. É em vão que a lei de Deus excluiu as mulheres desse santo ministério, pois, querendo forçar as portas do santuário por si mesmas e não o podendo fazer, elas fazem tudo pela mão de seus agentes, cuja autoridade usuraram, tendo-os elevado ao episcopado e fazendo-os descer até virar tudo de cabeça para baixo, demonstrando a aplicação do provérbio: os de baixo governam os chefes. E quisesse Deus que esses de baixo fossem homens! Mas são as mulheres, que sequer têm o direito de ensinar. Que digo eu, ensinar? Pois a elas o bem-aventurado Paulo proibiu até mesmo a palavra dentro da Igreja! Entretanto, pelo que ouvi dizer, deixaram-nas ganhar tamanha liberdade, que as vemos manipular imperiosamente os bispos, e falar-lhes com mais superioridade do que os mestres a seus escravos.


“Não se pense, porém, que eu lanço essas acusações sobre todos os ministros da Igreja. Existem também os que escapam a essa espécie de rede, e são inclusive mais numerosos do que os que se deixam prender. Praza a Deus que eu não seja culpado da imprudência de acusar o sacerdócio desses vícios que não pertencem senão ao homem! O ferro não é culpado das mortes, nem o vinho da embriaguez, nem a força da violência, nem a coragem da temeridade cega; os culpados são aqueles que fazem mau uso dos dons de Deus, e são esses que as pessoas sensatas acusam e punem. É o Sacerdócio que terá o direito de nos acusar, se exercermos mal nossas funções. Longe de ser ele a causa dos males que assinalei; somos nós que o desonramos, na medida em que tais máculas existem em nós, quando o entregamos aos primeiros que aparecem, a homens que, sem ter previamente consultado suas forças, nem atentado para o peso do fardo, em apoderam do sacerdócio como de uma presa que lhes é oferecida; mas quando eles começam a trabalhar, se perdem por sua imperícia, e afligem com males sem número os povos que foram encarregados de conduzir. 


“De onde nascem, pensará você, essas perturbações que desolam nossas Igrejas? Por minha conta, não posso assinalar outra causa que a falta de prudência e de circunspecção na escolha e na eleição dos ministros. É preciso que a cabeça seja muito forte para dominar e para dissipar os vapores perniciosos que as partes inferiores do corpo lhe enviam. Se acontecer de ela ser fraca, então, impotente para afastar essas influências malignas, ela se torna ainda mais fraca do que era naturalmente, e arrasta todo o resto à sua ruína. 


"Disse o Senhor: ‘Sereis felizes, quando os homens vos ultrajarem e vos perseguirem, quando digam falsamente toda espécie de mal contra vós, por minha causa; alegrai-vos e tremei de alegria, porque uma grande recompensa vos estará reservada nos céus[13]’. Esse é o caso, quando os próprios colegas cassam e depõem alguém por inveja, por uma frouxa complacência para com estranhos, por inimizade ou por qualquer outro motivo injusto; mas sofrer a mesma perseguição da parte de inimigos declarados é algo de mais meritório ainda, e a malícia dos perseguidores traz então benefícios que é inútil descrever”.


É preciso assim visitar todos os recantos de nosso coração, e buscar cuidadosamente se alguma chama, mal extinta, desse desejo, não se esconde ali contra nossa vontade. Não basta estar isento dessa paixão desde o começo, é preciso ainda se considerar feliz por tê-la sob domínio, mesmo no seio do poder e da elevação. Quanto àquele que, antes de alcançar as honrarias, nutre em si mesmo esse desejo insaciável e pernicioso, não somos capazes de dizer em qual ardente fornalha ele estará se atirando se conseguir chegar aonde quer. 


É preciso que um sacerdote seja sóbrio, clarividente; que ele tenha olhos para observar a tudo, pois ele não vive apenas para si, mas para todo o povo[14]. 


“Nada perturba mais a clareza da inteligência, nada ofusca mais a penetração do espírito, do que a cólera, desordenada e impetuosa. A cólera, foi dito, põe a perder até mesmo os sábios[16]. É como um combate noturno, em meio do qual a vista obscurecida já não distingue os amigos dos inimigos, nem o homem honesto do homem desprezível; a cólera faz com todos da mesma maneira; pouco importa o mal que ela faz a si própria; ela se resolve assim, ela sente uma espécie de prazer que tem que satisfazer a qualquer custo. Sim, esse abrasamento do coração não vem sem um certo prazer, e ele chega a exercer sobre a alma uma tirania mais imperiosa do que qualquer outro prazer, e assim vira de cabeça para baixo seu estado normal. A cólera arrasta naturalmente atrás de si o orgulho insolente, as inimizades sem causa, os ódios cegos, as ofensas gratuitas; ela dispõe constantemente às provocações e ultrajes. O que não faz ela dizer, aquele a quem possui! A alma aturdida em seu tumulto, arrastada por sua violência, já não encontra apoio para resistir aos seus violentos ataques”.


“Tanto os bons exemplos servem para inflamar a santa emulação da virtude, quanto os maus contribuem para espalhar entre os povos o relaxamento e a negligência na observação do dever. É preciso assim que o sacerdote tenha uma alma que irradia beleza e cuja luz ilumine e alegre as almas daqueles que têm os olhos voltados para ele. As faltas dos homens vulgares permanecem enterradas na sombra e só prejudicam aqueles que as cometem. O escândalo de um homem que ocupa uma posição elevada no mundo está exposto a todos os olhares e se torna uma espécie de flagelo público, tanto por autorizar a tibieza daqueles que se assustam com os rudes exercícios da virtude, como por desencorajar os que desejariam levar uma vida melhor. Acrescente a isso que as faltas das pessoas individuais, quando conhecidas, não têm uma influência perigosa sobre as disposições dos demais; mas o sacerdote, nada do que ele faz permanece oculto, e cada uma de suas ações, indiferentes em si, tomam um aspecto sério perante a opinião geral. Os erros são medidos pela gravidade do delito quanto pela posição daqueles que os comete. Que o sacerdote se revista, por assim dizer, de um zelo estrito, de uma contínua vigilância sobre si mesmo, como se fosse de uma armadura de diamante que não deixa nenhum ponto fraco ou espaço a descoberto por onde possa penetrar o golpe mortal. Tudo o que o cerca tanta a todo tempo feri-lo e abatê-lo, não apenas seus inimigos declarados, como ainda os que fingem ser seus amigos”.


“É preciso escolher, para o sacerdócio, almas semelhantes aos corpos dos três jovens que a graça divina tornou invulneráveis em plena fornalha da Babilônia. O fogo com que estão ameaçados não se alimenta de gravetos, de resina ou de estopas, mas de materiais mais perigosos; é um fogo que não se vê, é o fogo da inveja que envolve o sacerdote com suas chamas devoradoras, chamas que se erguem, que se estendem e se atiram sobre sua vida, e que a penetram por inteiro com uma atividade que jamais o fogo material chegou a ter contra os corpos dos três jovens. Assim que a inveja encontra uma ponta de matéria combustível, sua chama se agarra a ela imediatamente, consumindo essa parte defeituosa; quanto ao restante do edifício, ainda que ele seja mais brilhante do que os raios do sol, ela o destrói com sua fumaça e o enegrece por completo. Enquanto a vida do sacerdote está em perfeito acordo com a regra de seus deveres, nada há para temer das armadilhas de seus inimigos. Mas se uma única irregularidade, por menor que seja, escapar à sua atenção (ainda que isso seja mais do que perdoável, por ser ele homem, e por estar atravessando esse mar semeado de recifes que se chama ‘vida’), e eis que todas as suas virtudes já não lhe servem de nada contra as línguas de seus acusadores; basta um nadinha para ofuscar toda sua vida. Todo mundo julga o sacerdote, e o julga como se ele já não estivesse em sua carne, como se não pertencesse à raiz comum a todos, como se fosse um anjo liberto de todas as fraquezas do homem”.



“E além da inveja, existe ainda outra paixão mais violente, que arma muitos homens contra um bispo, que é a cobiça que essa dignidade excita. Assim como existem filhos ambiciosos que se afligem com a vida longa de seus pais, existem também homens para os quais a longa duração de um reinado episcopal causa uma impaciência extraordinária. Não ousando atentar contra a vida do titular, eles trabalham por sua deposição com tanto mais ardor, na medida em que cada um aspira substituí-lo, em que cada um espera que a escolha recairá sobre si”.



“Os filhos de Cristo arruínam o império de Cristo mais funestamente do que seus inimigos declarados, e Ele, sempre bom, sempre misericordioso, ainda os chama à penitência! Glória a Ti, ó Senhor, glória a Ti! Que abismo de bondade existe Nele, que tesouro de paciência! Homens que, à sombra de Seu nome, de obscuros que eram se tornaram ilustres, abusam das honras, contra Aquele mesmo a quem as devem, ousam o que não é permitido ousar, insultam as coisas santas, afastam ou expulsam do santuário os homens virtuosos, a fim de dar aos ladrões a maior liberdade de fazer o que bem entendem”.


“Se você quiser conhecer as causas de tantos males, verá que são as mesmas dos anteriores. Sua raiz, sua mãe, por assim dizer, é a inveja; mas elas apresentam uma enorme variedade de formas. Um é demasiado jovem, outro não sabe bajular; esse não é bem visto por aquele; determinado figurão veria com desaprovação a eleição de alguém em detrimento do candidato que ele próprio apresentou; um é bom e paciente, outro é terrível com os pecadores; para outros, será por qualquer pretexto igualmente bem escolhido. 




[1] 2 Coríntios 3: 10.
[2] Mateus 28: 18.
[3] João 20: 23.
[4] João 3: 5.
[5] João 6: 54.
[6] Levítico 14.
[7] Números 16.
[8] Tiago 5: 14-15.
[9] 2 Coríntios 11: 3.
[10] 1 Coríntios 2: 3.
[11] Romanos 9: 3.
[12] 1 Timóteo 3: 1.
[13] Mateus 5: 11-12.
[14] Cf. 1 Timóteo 3: 2.
[15] CF. Mateus 5: 22.
[16] Cf. Provérbios 15: 4.
[17] 1 Coríntios 12: 28.
[18] 1 Coríntios 2: 11.
[19] Estreito que separa a Eubeia (Negroponte) da Beócia, no mar Egeu.
[20] Filipenses 2: 7.
[21] Ezequiel 18: 23; 33: 11.
[22] Timóteo 5: 16.


Devocional| Virtude da Liberalidade e seus vícios opostos: a avareza e a prodigalidade
Foto: Edouard Boubat



A última virtude anexa à virtude da justiça particular, que é destinada às obrigações morais dos homens uns com os outros, é a virtude da liberalidade. 

A virtude da liberalidade é a disposição de ânimo, em virtude da qual o homem não tem apego excessivo às coisas exteriores de utilidade comum, e está disposto sempre, com regra e medida, a desprender-se delas e especialmente do dinheiro que as representa, em bem da sociedade. É uma virtude de importância pequena quando vemos que se refere aos bens temporais, no entanto, se torna nobre quando contribui para os elevar [os bens temporais] a um fim eterno. 

Os vícios opostos a virtude da liberalidade são: a avareza e a prodigalidade. 

A avareza é o amor desordenado às riquezas. Por se tratar de uma escravidão aos bens materiais em detrimento dos espirituais é vício degradante e vergonhoso, pois é pernicioso a ponto de levar o avarento a cometer crimes contra Deus, o próximo e contra si mesmo. 

As filhas da avareza são: a falta de misericórdia e compaixão, inquietação, violência, astúcia ou dolo, perjúrio, fraude e traição. Pois a avareza é o amor pelas riquezas que gera atitudes para retê-las, a cobiça em aumentá-las e o emprego de meios ilícitos para adquiri-las. 

Mas a prodigalidade também é vício, pois o pródigo não sabe olhar bem para a riquezas e tem propensão em dissipá-las. 

No entanto, o pior entre os dois vícios é a avareza, pois é mais contrário a virtude da liberalidade, que se orienta pela máxima de que é melhor dar do que guardar. 

Portanto, resumidamente, as virtudes anexas à justiça particular, seguem a seguinte ordem conforme sua nobreza: 

1) ocupa o primeiro lugar a virtude da religião, que tem por objeto o culto e serviço a Deus;

2) a virtude da piedade para com os pais e a pátria;

3) a virtude da observância para com os superiores;

4) a virtude da gratidão aos benfeitores

5) a virtude da vindicta contra os que nos agravam em matéria que exija reparação;

6) e as virtudes da verdade, a amizade e a liberalidade para com o próximo em respeito a nós mesmo. 


Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás


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Da virtude da amizade e seus vícios opostos: desprezo e adulação
Foto de Robert Doisneau , 1960




Dentre os deveres morais está a amizade. Não é um dever moral tão necessário para a pacífica convivência como a vindicta (não deixar impune os agravos quando o bem está em risco), a gratidão (agradecer e retribuir os benefícios particulares que recebemos) e a bondade.

A virtude da amizade nos impele a pôr em nossas palavras e ações exteriores quanto possa contribuir para fazer amável e prazenteiro o trato com os semelhantes.

É a virtude social por excelência, ao ponto de podermos chamar-lhe a flor e aroma das virtudes da justiça e da caridade.

Podemos faltar com a virtude da amizade, por defeito, quando não se repara nem se toma em conta o que pode agradar ou molestar ao próximo; por exemplo, adulando-o ou não o contradizendo, oportunamente, quando o mereçam as suas palavras e atos.

Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás



Melhor é a repreensão feita abertamente
do que o amor oculto. Quem fere por amor
mostra lealdade,
mas o inimigo multiplica beijos.
Provérbios 27,5-6


Não se deixem enganar: "As más companhias corrompem os bons costumes".
1 Coríntios 15, 33




 
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E santo Ambrósio diz expressamente da alma consagrada: "É virgem quem possui a Deus como esposo". 

 

1) Introdução

“Desci ao jardim das nogueiras, para ver os brotos dos vales,

Ver se a videira florescia, se os botões das romeiras se abriam.

Eu não conhecia meu coração.”

Cânticos 6, 11-12

A intenção deste estudo é fornecer uma orientação básica sobre o tema aos que possuem dúvidas relevantes e também para oferecer um material de consulta aos padres, que por ventura tenham a graça de possuir entre seus filhos algum chamado a esta vocação peculiar. 

Tal intuito é motivado por uma série de entendimentos equivocados sobre a vocação do celibato, ocasionada, em suma, pela crise em diversas áreas da formação católica, a crescente falta de bons modelos e acima de tudo a total falta de conhecimento da História da Igreja. 

Não tenho a intenção de abarcar todos os prismas do tema neste estudo, seria necessário um livro, no entanto, acredito que será o suficiente. Aviso ao leitor que em determinados momentos tratarei com mais atenção o celibato feminino, por seu valor metafisico e escatológico singular (além de ser a feminilidade o principal ramo do meu trabalho, como pode ser visto aqui, no primeiro e terceiro módulo do Curso Mulher Católica), mas no geral o material poderá ser utilizado para orientar a todos.

“A vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem Gloriosa e Bendita!”

 

2) Vida Consagrada 

Quem é essa que sobe do deserto

Apoiada em seu amado?

Cântico 8, 5

 

A palavra celibato vem do latim cælibatus que significa "sem estar casado". Esta definição já nos orienta em relação a uma questão, que será futuramente mais trabalhada: se o matrimonio é um estado de vida, logo o celibato é um estado de vida. Se o estado de vida é uma vocação, um chamado, logo o matrimonio e o celibato são vocações. O celibato é uma vocação e como toda escolha definitiva não possuí um aspecto temporário.

Não se trata de uma fase, não se trata de uma oferta que deva ser retomada, portanto, é errado usar o termo celibato para a castidade exigida do cristão antes do casamento, por exemplo. Isso é uma tentativa, já presente na Igreja há muito tempo, em tentar abafar, deturpar, ir criando certo distanciamento do entendimento correto do celibato, partindo do uso incorreto das palavras, alimentado pelo entendimento errado do funcionamento da Igreja. 

“Não se pode contar a multidão daqueles que, desde os começos da Igreja até aos nossos tempos, dedicaram a sua castidade a Deus, uns conservando ilibada a própria virgindade, outros consagrando-lhe para sempre a viuvez, outros finalmente escolhendo, em penitência dos seus pecados, uma vida perfeitamente casta; todos esses, porém, propuseram abster-se para sempre dos deleites da carne por amor de Deus. A doutrina dos santos padres sobre a grandeza e o mérito da virgindade seja incitamento e forte sustentáculo para todas essas almas, a fim de perseverarem no sacrifício oferecido e não retomarem para si nem a mínima parte do holocausto já colocado sobre o altar de Deus.


A virgindade floresceu entre os féis de todas as condições

A castidade perfeita é a matéria de um dos três votos constitutivos do estado religioso e exigida aos clérigos da Igreja latina para as ordens maiores e também aos membros dos institutos seculares. Mas é igualmente praticada por grande número de simples leigos: homens e mulheres há que, sem viverem em estado público de perfeição, fizeram o propósito ou mesmo o voto privado de se abster completamente do matrimônio e dos prazeres da carne para mais livremente servir ao próximo, e mais fácil e intimamente se unirem com Deus.

Dirigimo-nos com coração paterno a todos e cada um desses muito amados filhos e filhas, que de algum modo consagraram a Deus corpo e alma, e exortamo-los vivamente a confirmarem sua santa resolução e a pô-la em prática com diligência.

Não falta contudo quem, saindo do bom caminho, nos dias de hoje exalte o matrimônio a ponto de o colocar praticamente acima da virgindade, depreciando consequentemente a castidade consagrada a Deus e o celibato eclesiástico. Por isso nos pede agora a consciência do nosso cargo apostólico que declaremos e defendamos a doutrina da excelência da virgindade, para acautelarmos de tais erros a verdade católica.

A sagrada virgindade e a perfeita castidade consagrada ao serviço de Deus contam-se sem dúvida entre os mais preciosos tesouros deixados como herança à Igreja pelo seu Fundador.

Carta Encíclica Sacra Virginitas do Papa Pio XII (25 de Março de 1954)

 

Esta encíclica já nos mostra a visão da Doutrina Católica a respeito do celibato leigo, vivido fora de uma ordem religiosa, um instituto ou ainda do sacerdócio, no caso dos homens. 

Muitos não entendem como é possível que tal vocação seja vivida fora de um grupo e ainda costumam apontar que o celibato não é uma vocação, pois, não recebeu sacramento. No entanto, tal linha de pensamento vem de um entendimento muito raso sobre a própria constituição da Igreja. É comum escutarmos os adeptos desse pensamento dizerem coisas como: "o celibato não é uma vocação, é alguém que não quis ser padre e nem religioso e nem casar... o celibato não é vocação pois não recebeu sacramento como as outras". Normalmente, o raciocínio deixa a entender que um religioso recebeu um sacramento próprio para a vocação a religiosa, acontece que nenhum religioso recebe um sacramento para ser religioso.


“A vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espírito. Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus — virgem, pobre e obediente — adquirem uma típica e permanente « visibilidade » no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus...Cientes, como estamos todos, da riqueza que constitui, para a comunidade eclesial, o dom da vida consagrada na variedade dos seus carismas e das suas instituições, juntos damos graças a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado, pelas Sociedades de Vida Apostólica, pelos Institutos seculares, e pelos outros grupos de consagrados, como também por todos aqueles que, no segredo do seu coração, se dedicam a Deus por uma especial consagração.”

Vita Consecrata, São João Paulo II

 

Pelo trecho da encíclica acima o leitor já poderá intuir que a linha de pensamento expressa na frase de exemplo é um disparate, no entanto, não me dou por satisfeita e desejo esmiuçar a raiz da questão, que é: o não entendimento do funcionamento da Igreja. 

O Corpo Místico de Cristo, a Igreja, é formado por dois grupos: o clero e os leigos. Pertencem ao clero todo aquele que é sacerdote, o clero é formado somente por sacerdotes que são: o Papa, os arcebispos, os bispos, os padres. Os leigos são os: cristãos casados, cristãos religiosos, cristãos celibatários, qualquer cristão batizado na Igreja Católica, que não seja também padre. 

Ou seja, um religioso é um leigo, entende? Seja de qual ordem ou instituto ele pertença, ele é um leigo.

Seguindo para a questão dos sacramentos: os únicos estados que recebem sacramento são o sacerdócio e o matrimônio. Ou seja, nenhum religioso, recebe sacramento próprio para a vocação. Isso significa, caro leitor, que Santa Teresa, não recebeu um sacramento para o seu estado, São Francisco (que não era padre), também não, Santa Teresinha, Santa Catarina de Sena, enfim qualquer religioso de qualquer ordem religiosa no mundo, não recebeu sacramento para o seu estado de vida.  

Assim se seguirmos o raciocínio absurdo expresso no exemplo da fala anterior, todos estes santos e muitos outros viveram sem vocação a vida toda, pois não receberam sacramento. Ou ainda, significaria que o maior celeiro de santidade da Igreja não é uma vocação, pois não recebeu sacramento. O que é uma conjectura ridícula. Portanto, só me resta acreditar que este pensamento só pode ser nutrido pela ignorância de como de fato funciona o Corpo Místico de Cristo. 

É pelo que relatei acima que o celibatário fora de uma comunidade é chamado de leigo celibatário ou celibatário no mundo ou celibatário no século. Pois existe o celibato em comunidades e institutos, celibato sacerdotal, celibato em ordem religiosa. E reitero que nenhum deles recebeu ou recebe um sacramento específico.  

“A experiência nos mostra que, geralmente falando, somente prestam à Igreja grande bem aqueles que professam a perfeita castidade: os sacerdotes e as religiosas, as jovens que ingressam nas Sagradas Congregações, os santos leigos que se põem ao trabalho da promoção das boas obras.

De maneira que farão bem os confessores que são imbuídos pelo zelo da religião em usar de sua diligência para ensinar aos jovens de ambos os sexos que cultivam a piedade e levam com docilidade uma vida fiel aos mandamentos divinos quão grande bem é a perfeita castidade. Exortem-nos à observância da castidade perfeita, se a tanto os virem inclinados, pois alcançarão mais facilmente a perfeição cristã e servirão com maior fruto ao bem da religião.

Isto, porém os confessores não conseguirão realizar a não ser que, depostos por completo todos os preconceitos que o vulgo tem contra esta virtude, contemplarem o zelo que os Santos Padres da Igreja usaram para promoverem a perfeita castidade, a tal ponto que praticamente todos escreveram livros a este respeito; e, ademais, a não ser que também estes mesmos confessores busquem esta virtude com grande amor, e se esforcem por levar uma vida inteiramente angélica.

A carne gera a carne; o espírito, espírito; os anjos não se procriam senão a partir dos anjos.

Padre José Frassineti, Carta sobre o Celibato, 1804 - 1868, Prior de Santa Sabina em Gênova


"Se alguém disser que o estado conjugal

deve antepor-se ao estado de virgindade

ou de celibato,

ou não ser coisa melhor e mais feliz

permanecer na virgindade ou no celibato

que unir-se em matrimônio,

seja excomungado"

Concílio de Trento

 

A perfeita castidade é o celibato. 

Existe ainda a dúvida sobre a frase "o celibato é mais meritório". Como vimos anteriormente o celibato é um chamado que não tem sacramento, no entanto, é um chamado explicito do Senhor (Mt 19, 10-12) e do Apostolo das Gentes São Paulo (I Coríntios 7, 7). O sacramento concede Graça Sacramental, que é um aporte especial da Graça para vivenciar aquele estado de vida escolhido. Ou seja, o sacerdote e o casal recebem em seus respectivos sacramentos um aporte especial da Graça que os socorrerá em suas vicissitudes, se souberem usar bem, é claro. Ora, o celibatário não tem sacramento, logo ele conta com a graças sacramentais mais comuns (Comunhão, Confissão, etc), ou seja, o mérito vem do esforço maior que se faz diante dessa conjuntura. O celibatário é alguém que é chamado a chegar lá com o que tem em mãos, usando tudo que possuí na sua maior potencia. Nós já veremos o valor sobrenatural disso no Corpo Místico, pois Deus é capaz de suprir tudo, absolutamente tudo, com os sacramentos básicos do cristão, nutrindo a alma para a santidade.

Neste ponto não acredito que seja útil mudar a frase, como andam fazendo, numa espécie de crise de inferioridade, o caminho é ver a realidade e se perguntar o óbvio: os casais recebem um aporte especial da graça para se santificar então... o que acontece? O que fazem com a graça que recebem? Eles sabem que recebem um aporte especial da Graça? 

Estas são as perguntas corretas, que, me parece, ninguém faz. 

Existem muitos casais que são santos desconhecidos, de fato, mas existem muitos que pegaram a sua graça sacramental e jogaram na lata do lixo. Então vale pensar sobre isso, reflexivamente, deixando todo complexo de inferioridade de lado.

 

“Reprovamos recentemente com tristeza a opinião que apresenta o casamento como meio único de garantir à personalidade humana, o seu desenvolvimento e a sua perfeição natural. Alguns afirmam, de fato, que a graça, comunicada ex opere operato pelo sacramento do matrimônio, santifica o uso do casamento a ponto de o tornar instrumento mais eficaz que a mesma virgindade para unir as almas a Deus, porque o casamento cristão é um sacramento, mas não o é a virgindade. Nós declaramos, porém, essa doutrina falsa e nociva. Sem dúvida, o sacramento concede aos esposos a graça de cumprirem santamente o dever conjugal e reforça os laços do afeto recíproco que os une; mas não foi instituído para fazer do uso do matrimônio o meio mais apto, em si, para unir com o próprio Deus a alma dos esposos pelos laços da caridade. Quando o apóstolo são Paulo reconhece aos esposos o direito de se absterem algum tempo do uso do casamento para se entregarem a oração (cf. 1 Cor 7, 5), não é exatamente porque tal renúncia torna a alma mais livre para se dar às coisas divinas e orar?


Finalmente, não se pode afirmar, como fazem alguns, que "a ajuda mútua", que os esposos procuram no matrimônio cristão, é ajuda mais perfeita para conseguir a santidade do que a apregoada solidão do coração das virgens e dos continentes. Pois, não obstante a renúncia a tal amor humano, não se pode dizer que as pessoas, que abraçam o estado de perfeita castidade, empobrecem por isso mesmo a sua personalidade humana. De fato, recebem do próprio Deus um socorro espiritual muito superior à "mútua ajuda" prestada pelos cônjuges entre si. Dedicando-se completamente àquele que é seu princípio e lhes dá a participação da sua vida divina, longe de se diminuírem a si mesmos, só se engrandecem o mais possível. Quem, com mais verdade que os virgens, pode aplicar a si aquelas admiráveis palavras do apóstolo são Paulo: "Vivo, já não eu, mas é Cristo que vive em mim"? (Gl 2, 20).

Também julgamos dever notar que é completamente falso dizer que as pessoas que professam castidade perfeita, deixam, em certo modo, de pertencer à comunidade humana.

... deve-se conceder sem rodeios que, por ser a virgindade mais perfeita que o matrimônio, não se segue que seja necessária para alcançar a perfeição cristã. Pode-se chegar a ser santo mesmo sem fazer voto de castidade, como o provam numerosos santos e santas, que a Igreja honra com culto público, os quais foram fiéis esposos e deram exemplo de excelentes pais ou mães de família; além disso, não raro se encontram pessoas casadas que buscam com todo o empenho a perfeição cristã. A castidade é conseqüência duma escolha livre e prudente.

Também se há de notar que Deus não impõe a todos os cristãos a virgindade, como ensina o apóstolo são Paulo: "Quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou conselho" (l Cor 7, 25). Portanto, é só conselho a castidade perfeita: conduz com maior certeza e facilidade à perfeição evangélica e ao reino dos céus "àqueles a quem isto foi concedido" (Mt 19, 11); por isso, como bem adverte santo Ambrósio, a castidade "não se impõe, mas propõe-se".

Sacra Virginitas, Papa Pio XII

 

Não é muito difícil de compreender, está nas Escrituras, mas o Senhor mesmo disse que alguns não entenderiam, pois o celibato é um dom, um chamado:

 

"Seus discípulos disseram-lhe: “Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar! Respondeu ele: “Nem todos são capazes de compreender o sentido dessa palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda”. (Mateus 19, 10-12)

"Pois quereria que todos fossem como eu; mas cada um tem de Deus um dom particular: uns este, outros aquele. "Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu. " (I Coríntios 7, 7)

"Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preo­cupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa. "A mesma diferença existe com a mulher solteira ou a virgem. Aquela que não é casada cuida das coisas do Senhor, para ser santa no corpo e no espírito; mas a casada cuida das coisas do mundo, procurando agradar ao marido. Digo isto para vosso proveito, não para vos estender um laço, mas para vos ensinar o que melhor convém, o que vos poderá unir ao Senhor sem partilha." (I Coríntios 7, 33-35)

 

“Por essa razão, a castidade perfeita exige, da parte dos cristãos, que a escolham livremente, antes de se oferecerem totalmente a Deus; e, da parte de Deus, que ele comunique o seu dom e a sua graça (cf.1 Cor 7, 7). Já o próprio divino Redentor prevenira: "Nem todos compreendem esta palavra, mas aqueles a quem isto foi concedido... Quem pode compreender, compreenda" (Mt 19, 11.12). São Jerônimo, considerando atentamente essa sentença de Jesus Cristo, exorta "a que examine cada um as suas forças, para ver se poderá cumprir os preceitos da virgindade e da pureza. Em si, a castidade é agradável e atrai a todos. Mas há que se medir as forças, de modo que compreenda quem puder compreender. É a voz do Senhor a exortar, por assim dizer, e a animar os seus soldados para conquistarem o prêmio da pureza. Quem pode compreender, compreenda; quem pode lutar, lute, vença e triunfe".

... para a abraçar, não se requer apenas o propósito firme e expresso de renunciar completa e perpetuamente aos prazeres legítimos do matrimônio; é preciso também dominar e acalmar, com vigilância e combate constantes, as revoltas da carne e as paixões do coração, fugir das solicitações do mundo e vencer as tentações do demônio. Com muita razão dizia são João Crisóstomo: "A raiz e o fruto da virgindade é a vida crucificada". Porque a virgindade, segundo santo Ambrósio, é como um sacrifício, e a virgem é "a hóstia do pudor, a vítima da castidade". São Metódio de Olimpo chega até a comparar as virgens aos mártires , e são Gregório Magno ensina que a castidade perfeita supre o martírio: "Mesmo tendo passado o tempo da perseguição, a nossa paz tem, ainda assim, o seu martírio; porque, mesmo se já não metemos o pescoço debaixo do ferro, no entanto matamos com uma espada espiritual os desejos carnais da nossa alma". A castidade consagrada a Deus exige, portanto, almas fortes e nobres, prontas para o combate e para a vitória "por amor do reino dos céus" (Mt 19, 12).

Papa Pio XII

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É mais perfeito porque é mais meritório, esta é a Doutrina Católica.


Por outro lado, existem os que acreditam somente na vocação como parte da vivência em uma comunidade ou como um acontecimento que existia antes e agora está ativo novamente. Bem, isso já nos mostra uma carência no que se refere à História da Igreja.

 

 

3) História do Celibato

Coloca-me como sinete sobre o teu coração,

Como sinete em teu braço,

Pois o amor é forte, é como a morte

Cântico 8, 6

 

É comum que se tenha atualmente uma visão muito limitada dos acontecimentos na Igreja, a maioria das pessoas acreditam que só porque eles nunca viram algo, logo nunca existiu; também acreditam que se eles estão vendo algo agora, o evento começou a ocorrer agora. Mas a Igreja tem dois mil anos, não podemos ver os acontecimentos como nos ensina a modernidade. 

"... os santos padres observam que a virgindade perpétua é um bem excelso nascido da religião cristã. Com razão notam que os pagãos da antiguidade não exigiram das vestais tal estado de vida senão por certo tempo; e mandando o Antigo Testamento conservar e praticar a virgindade, fazia-o só como exigência prévia do matrimônio (cf. Ex 22, 16-17; Dt 22, 23-29; Eclo 42, 9); além disso, como escreve santo Ambrósio; "Lemos de fato que havia virgens no templo de Jerusalém. Mas que diz delas o apóstolo? 'Todas estas coisas lhes aconteciam em figura' (1 Cor 10, 11), para serem indícios dos tempos futuros".

Carta Encíclica Sacra Virginitas do Papa Pio XII (25 de Março de 1954)

 

Como vimos o celibato é uma vocação que existe desde os primeiros séculos da Igreja. No entanto, também existiam prefigurações desta vocação no templo de Jerusalém e até mesmo entre os pagãos. Farei aqui um pequeno resumo, segundo os escritos de Regine Pernoud.

Um dos templos mais conhecidos entre os pagãos era o dedicado a deusa Vesta, lá viviam as vestais, sacerdotisas virgens, que eram entregues ao templo por volta dos 3 a 6 anos e lá ficavam até os 33 anos. Uma vestal, ao contrário do que dizem as feministas new age, era colocada lá sem seu consentimento e ficavam responsáveis por manter o fogo sagrado, caso ocorresse alguma derrota em batalha era sempre atribuído a culpa as vestais e iniciado uma busca para encontrar a vestal que se corrompera, caso ela fosse encontrada ou inventada, ela era morta. Portanto, a castidade era algo visto com muito respeito entre os pagãos, mas não era vivenciada por livre e espontânea vontade pelas vestais. Nenhuma vestal era vestal porque escolheu ser. Depois de sair do templo pagão ela nem sempre conseguiria casar-se, pois existia uma crença que dizia que quem se casasse com uma antiga vestal teria má sorte. Ela tinha bens e terras, normalmente, mas não era algo vivido com liberdade de escolha. Portanto, longe de ser uma sacerdotisa super poderosa como apregoa essa onda neo pagã atual.

Já as virgens do Templo judeu eram vistas de forma mais amigável, mas a escolha também não era em liberdade e o estado não era visto com bons olhos, aquela que não se casava, era estéril ou viúva, mesmo estando no templo, era vista como infeliz. 

Depois surgiu o cristianismo, Cristo mesmo fez menção direta sobre a vocação, São Paulo também e eis que surge nos primeiros séculos cristãos que mudaram com sua escolha toda a percepção pagã e judaica sobre o celibato. Você se lembra da oração eucarística em que o padre diz uma série de nomes (?): "Perpétua e Felicidade, Barbara, Luzia...". Pois é, a maioria delas escolheu o celibato e foram martirizadas, não só, mas também, por isso.

Na concepção de mundo pagão não existia a possibilidade de uma pessoa decidir por si mesma, inclusive uma mulher pagã nem mesmo tinha um nome seu. Lúcia, por exemplo, é um sobrenome (feminino de Lucius) provavelmente o nome da família dela, os homens tinham nomes mesmo, como Poncius Lucius, Cornélius Lucius, enfim. Isso mostra o nível da mulher na sociedade pagã. As cristãs dos primeiros séculos escolheram por si mesmas se consagrarem ao Senhor, rejeitando muitas delas reis e reinos, e sendo mortas por isso. 

A individualidade humana, única e irrepetível, foi mostrada pelo Senhor e afirmada com o sangue Dele e de celibatários que defenderam a autonomia da pessoa. 

Neste ponto considero importante lembrar-lhe que os mosteiros só começaram a existir no século IV e V. Ou seja: Santa Pudenciana, Santa Marinha, Santa Sofia, Santa Bárbara, Santa Luzia, Santa Inês, Santa Cecília, Santa Eulália, Santa Margarida e tantas outras, viveram fora de um mosteiro. Mas devo seguir a história.

Depois que o cristianismo se espalhou houve a formação de alguns grupos, sem nenhuma ordem exata, principalmente nas regiões afastadas, dentre esses grupos estavam os Padres e as Madres do Deserto. Eles viviam sozinhos, em grupos pequenos ou maiores, em vida de penitência e oração. Com o tempo foram surgindo mosteiros que por diversas razões, inclusive a obra da evangelização do Ocidente, foram se espalhando, numa espécie de monges viajantes. Ou seja: existiam os que viviam em suas casas, os que estavam no deserto sozinhos ou em pequenos grupos, os que estavam nos primeiros mosteiros e os que estavam nos mosteiros e ainda pregavam. As moças seguiram o mesmo caminho, começaram a surgir pequenos grupos em lugares santos, muitas delas filhas espirituais de São Jerônimo e Santo Agostinho, além do Carmelo já existente. E nesse ritmo foi crescendo as comunidades de virgens e depois os mosteiros. Não aconteceu uma coisa e depois a outra, as coisas aconteciam e existiam ao mesmo tempo. 

Esses locais eram centros de cultura e educação. Todo mosteiro era uma escola, contrariando o que dizem atualmente, inclusive e principalmente os mosteiros femininos, uma vez que o masculino era dedicado mais à penitencia. Alguns comentários de São Jerônimo foram escritos a pedido de sua filha espiritual Paula e outras irmãs que viviam em Belém, ela aprendeu hebraico para alegria de seu pai espiritual. Então, o entendimento que temos desta época é profundamente deturpado.

Enquanto isso a realidade dos primeiros mosteiros e dos que vivem em pequenos grupos ou sozinhos continuou a existir. 

 

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Beguinas




A Idade Média avançava e com ela a cristandade, no entanto, também aumentaram consideravelmente a corrupção no clero e as heresias. Os grupos de celibatários e também os que viviam sozinhos, assim como os mosteiros religiosos, aumentavam. Por volta de 1215 começou a surgir, mas explicitamente (pois o celibato já existia) um grupo de celibatários chamados de begardos e beguinas, alguns viviam errantes, outros em pequenas comunidades. Não existia entre eles uma ordem igual ao do mosteiro, mas havia nos grupos femininos uma "Grande Senhora", que normalmente era responsável pela organização dos atos. Os beguinos por sua vez eram pregadores que andavam pelas cidades denunciando a corrupção do clero. Alguns historiadores, a maioria meio aversos a idade média, outros nem tanto, colocaram os beguinos entre os cátaros, mas não eram a mesma coisa, um dos maiores exemplos dessa distinção é uma pessoa que fez toda a diferença em toda essa história: São Francisco de Assis. Existiram erros entre eles, mas esse grupo é de suma importância nessa história que estou a contar.

Mas continuando... os beguinários começaram a se espalhar, alguns membros do clero os apoiaram e outros eram completamente contra. Os beguinários foram supridos durante um tempo, mas não adiantava, logo surgia centenas de beguinos na rua. Mas além da ação masculina, mais pregadora, a maioria era responsável pela caridade. Não podemos nos esquecer que os beguinários, grandes e pequenos, eram ricos em cultura nessa época. E o que eles faziam (?): Santa Missa diária, leitura espiritual, uma devoção mariana, confissão semanal, obras de caridade. Basicamente, era essa a dinâmica, seja para os que viviam sozinhos, seja para os que viviam em grupos pequenos. 


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Beguinas



Devo dizer, novamente, que elas não eram monjas, nem todas viviam em comunidade, digo isso por duas razões:

1-      o celibato no mundo muitas vezes na história ficou ocultado na ligação a algum grupo não monástico,

2-      as beguinas são e serão, cada vez mais no futuro, usadas como uma espécie de antepassado feminista religioso, o mesmo será feito com o celibato leigo, esse é um dos motivos desse artigo: defender essa vocação, mas também a doação simples dessas irmãs esquecidas no curso da história.

Também vale lembrar que a regra de clausura começou a vigorar a partir 1298, por um decreto do Papa Bonifácio VIII chamado Periculoso. Portanto, a única distinção entre uma celibatária no mundo e uma monja era o tipo do voto, pois antes de 1298 não existia a clausura como regra. O voto das beguinas e begardos vivendo em comunidade ou sozinhos era privado; enquanto que as monjas e monges faziam um voto público. Depois do decreto foi acrescentado a está distinção do voto também o da clausura, inclusive nós vemos como foi difícil esse decreto ser vivido na história de Santa Roseline Sabran e ainda 200 anos depois no caso de Santa Teresa de Jesus, na reforma. 


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Beguinas



No entanto, para as beguinas e begardos foi uma sucessão de acontecimentos até que foram aceitos: o papa Clemente V e o Concílio de Vienne acusam irrestritamente o movimento de heresia em 1312, vetando toda a vida comunal. Esta atitude drástica foi revista por João XXII, que reabilitou as beguinas, conquanto que se submetessem à ortodoxia; ainda assim, muitos begardos e beguinas continuaram sendo considerados hereges. A perseguição ao movimento aliviou posteriormente, quando os papas Gregório XI e Bonifácio IX enviaram bulas para as dioceses alemãs e holandesas em defesa dos begardos ortodoxos, ou seja, que obedeciam a Igreja. 

Esse grupo de pessoas, unidas ou sozinhas, causava grande inquietação, era um incomodo um grupo que não se sabia direto como funcionava, mas ainda assim crescia absurdamente, até que surgiu São Francisco, ele próprio no começo de sua missão viveu de forma muito semelhante a um beguino, depois ele fundou a Ordem Franciscana, uma ordem mendicante e que ainda denunciava muito dos abusos do clero. Ele, imbuído da graça, iniciou a categoria das "ordens terceiras", depois outros monteiros também adotaram o uso, como os dominicanos. Assim os beguinários, beguinos e beguinas que viviam sozinhos ou em pequenos grupos, adotaram a regra da ordem terceira franciscana e muitos deles se uniram de fato à ordem terceira. Ou seja, São Francisco foi o responsável por equilibrar a situação e dar certa ordem para os celibatários no mundo.

Isso continua acontecendo até que por volta de 1300 aparece uma pessoa que exemplifica bem a percepção do celibato no mundo que hoje perdemos: Santa Catarina de Sena. Ela fez um voto privado, mas foi obrigada a falar sobre o voto para justificar ao pai o motivo que a impedia de casar-se, pela sua biografia e conduta ela nunca teve a intenção de entrar em um convento, viveu praticamente toda a vida no fundo da casa dos pais e só saiu dali para obedecer o Senhor, pois ela deveria encorajar o Papa a voltar para Roma. Ela é a imagem pura do celibato no mundo. No entanto, muitos não veem isso, pois ela tinha o desejo de se ligar a terceira ordem dominicana e assim o fez, mas veja bem, a terceira ordem era para casadas, ela recebeu uma admissão especial porque conseguiu se mostrar doente às responsáveis e essas a tomaram como feia e inválida, ou seja, o seu voto não teve nenhuma ligação com a admissão à terceira ordem. Um voto feito aos 7 anos de idade, que ela confessou aos por volta dos 16 anos para os pais e que permaneceu fiel por toda a vida. Muitos historiadores a colocam no grupo das beguinas que viviam sozinhas, pois sua vida estava muito alinhada a essa realidade. 

Outro exemplo excepcional é Santa Joana D'arc, fez o voto privado aos 13 anos, e viveu como uma menina comum até ir para o campo de batalha. 

Nesse tempo a Idade Média começava a declinar, depois os beguinários sofreram muito, com a rebelião protestante que destruiu muitas vocações e os levou gradativamente uma a quase extinção. No entanto, ainda existem alguns beguinários na Europa. 

Depois o celibato ficou dissolvido em terceiras ordens e grupos que foram surgindo gradativamente, um desses grupos é as Filhas de Maria, que não é para celibatárias somente (!) mas foi aplicado diversas vezes por padres que estavam buscando vocações, de um desses grupos saiu um grupo de leigas que viviam como religiosas em casa; de algumas delas, algumas - pois as outras se mantiveram vivendo em suas casas - saiu a Congregação das Ursulinas e também a Congregação de Nossa Senhora Auxiliadora que é ramo feminino dos salesianos. 

O celibato nunca foi extinto ou ficou inativo (como já disse, não é porque não vemos explicitamente que não existe ou existiu), como você vê nem mesmo na Idade Média isso aconteceu, inclusive foi a porta de entrada para uma das maiores ordens católicas do mundo: os franciscanos. Não, o celibato nunca ficou ou ficará inativo, pois o Espírito Santo nunca fica inativo e o celibato é o fruto mais nítido de sua ação na Igreja, principalmente quando está em crise. 

Comprovo-o lhe mostrando alguns, somente alguns, exemplos de celibatários pela história, depois dos primeiros séculos. Lembre-se, não é porque você não viu, que nunca lhe contaram, que não existiu ou existe:

 

Santos, Beatos e Veneráveis Leigos Celibatários

- Hardewijck de Antuérpia (mística, beguina, Idade Média entre 1200- 1300)

 

- Santa Catarina de Sena (mística, filosofa e teóloga escolástica, mas também era servia dos pais em casa 1347-1380; voto privado aos 7 anos, se uniu a Ordem Terceira Dominicana)

 

- Santa Joana D'arc (camponesa e heroína da França, faleceu em 1431, voto privado aos 13 anos)

 

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- Santa Gema (mística, 1878-1902, voto privado aos 21 anos)

 

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- Beato Contardo Ferrini (advogado civil e canônico e professor acadêmico, 1859 - 1902, se jurou a Deus (voto privado) e se uniu, ainda exercendo seu trabalho já citado, a Ordem Terceira Franciscana e era membro da Sociedade São Vicente de Paulo)

 

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- São Giuseppe Moscati (médico, voto privado, 1880-1927)

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- Beato Bartolomeu Longo (advogado, membro da Ordem Terceira Dominicana, Fundador das Filhas do Santo Rosário, voto privado, 1841-1926)

 

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- Beata Angela Salawa (empregada doméstica, depois serviu como enfermeira nos hospitais da Primeira Guerra Mundial, era membro da Terceira Ordem Franciscana, voto privado, 1881-1922).


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 - Venerável Carla Ronci (costureira, 1936-1970, voto privado aos 20 e poucos, depois entrou no Instituto Ancelle Mater Misericordiae, de consagradas reconhecido pela Igreja de leigas consagradas que viviam cada uma em sua casa e trabalho - não achei noticias atuais desse instituto - primeiros votos aos 25 anos e votos perpétuos aos 27).


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- Beata Alexandrina Balazar (mística e membro da Associação dos Salesianos Cooperadores, 1904-1955, voto privado).

- Marcela Patty (a última beguina, tocava órgão na Santa Missa, 1920-2013)

- Maria de Dignies, a quem o bem conhecido bispo de Acre, Jacques de Vitry, declara dever a sua conversão e vocação.

 

Como vê a vida de um celibatário pode ser vivenciada de tantas formas quanto é possível viver no mundo sem ser do mundo, basta uma decisão para que o jorro da graça aconteça. Também é possível notar que, opostamente ao que dizem alguns pouco esclarecidos, o celibato não é um voto para tornar mais fácil a vida profissional, inclusive veremos que este é um motivo para não fazer o voto já que é sinal de egoísmo ou superficialidade. Também vemos que é inverídica a fala de que o celibato é algo novo, que foi uma porta aberta depois de 1960, esta afirmação é contraria a realidade manifesta na vida dessas e de outras pessoas que viveram a sua vocação no ocultamento completo.

Aproveito também para manifestar o quanto é terrível e profundamente desrespeitoso debochar de um chamado por conta de percepções dualistas dentro da Igreja, como se um chamado fosse propriedade de uma linha x ou y de pensamento teológico ou pastoral. O celibato é um chamado divino existente na Igreja Primitiva, na Idade Média, antes e depois do Concilio Vaticano II, pois é a flor que nasceu, nasce e nascerá do sopro do Espírito Santo que sempre nutriu e sempre nutrirá a Igreja em todos os tempos, pois o Senhor é Imutável, portanto, respeitem a vocação e não a profanem com apropriações indevidas ou deboches desmedidos, pois ambos os posicionamentos são mentirosos: tanto o que debocha como se fosse algo indesejável e contrário à Tradição, quanto o outro que se apropria indevidamente partindo da premissa equivocada de que é algo maravilhosamente novo. 

Aos que possuem alguma questão de discernimento quanto ao celibato e como estes vivem, parte desta resposta já foi dada na dinâmica das beguinas e na leitura que poderá fazer ao pesquisar a vida dos santos, beatos e veneráveis citados acima, a vida deles já lhe dirá a rotina de um celibatário, no geral, e a conjuntura enorme de possibilidades, além de lhe dar alguma referência de vida já aprovada pela Santa Igreja. Caso você tenha algum outro nome para acrescentar a lista, por gentileza, ficaria feliz que mencionasse nos comentários para que eu possa incluir. 

 

4) Metafísica e Escatologia

Tu que habitas nos jardins,

Companheiros te ouvem atentos,

Faze-me ouvir tua voz!

Cântico 8, 13

 

Metafísica é a matéria que estuda, basicamente, aquilo que transcende o visível. Já a Escatologia é a doutrina que estuda o que acontecerá no fim dos tempos, durante e após a segunda vinda do Senhor.

O celibato seja ele vivenciado sozinho ou em comunidade e acima de todos o sacerdotal, é o florão mais puro da Igreja. É em si mesmo um sinal visível do invisível. Toda alma humana foi criada para se unir a Deus, podemos dizer que toda alma humana foi criada para se casar com Deus e Ele fala sobre isso em diversos momentos nas Sagradas Escrituras. O celibatário é aquele que ao jurar sua vivencia na castidade para toda a vida entra num noivado com o Senhor. Os casais se unem até que a morte os separe, os celibatários vivem até que a morte os una ao Noivo, seu Senhor. Portanto, a vida do celibatário se torna um sinal visível de uma realidade e verdade invisível, a sua existência é o lembrete de Deus, pelos séculos, do chamado Divino à toda alma humana individual, irrepetível.

Essa ação se amplifica para a relação da Igreja com o Senhor. Os celibatários são a porção separada dentro do corpo Místico de Cristo para dar a Deus uma adoração de doação pura, para antecipar a vivencia do esponsal indiviso com Ele e para pedir pela purificação e santificação do restante do Corpo.

E por fim, esta ação se amplifica para a humanidade, nela os celibatários no mundo (tanto os leigos nas comunidades paroquiais ou em instituto e comunidades, quanto os padres) possuem uma ação missionário radical inerente, eles existem para ser a parcela consagrada da humanidade no mundo, faróis que mostram a terra segura, que guiam os perdidos em alto mar. O lembrete vivo do Plano Salvífico do Senhor e de seu desejo de se unir as almas na Eternidade.

Resumindo: eles são como pequenas velas, que quando acessas não sentimos a presença de forma notável, mas que causam muita falta quando são apagadas, pois a escuridão se torna mais palpável. 

É uma vocação que se vive no ocultamente e escondimento, exceto em situações como essa em que é preciso falar sobre o assunto para evitar erros e dar algum conteúdo seguro para os que estão em dúvida, ou para os que já são celibatários e os padres, confesso que não estou a escrever por gosto, mas por amor à Verdade. 

“Sozinhas ou associadas, constituem uma imagem escatológica especial da Esposa celeste e da vida futura, quando, finalmente, a Igreja viverá em plenitude o seu amor por Cristo Esposo.” (Vita Consecrata, 25 de março , 1996, Papa São João Paulo II)

 

5) Discernimento

“Sua mão esquerda

Está sob minha cabeça,

E com a direita me abraça”

Cântico 2, 6

 

A escolha pelo celibato pode ocorrer por diversos motivos, desde impossibilidade para a vida religiosa até uma escolha pura e simples para isso. Mas, o fato decisivo é: ninguém poderá decidir por você. Portanto, não espere que a resposta venha de outro lugar que não seja você mesmo, é o milagre da escolha, o milagre do livre arbítrio, até mesmo no que se refere ao caminho para a felicidade.

Alguns me perguntam sobre os sinais da vocação, bem, eu particularmente não gosto desta forma de ver a vocação pois parece uma gripe que detectamos através dos sintomas, mas acontece que não é assim, eu não conheço um único celibatário que tenha tido um caminho de discernimento igual a outro, são todos únicos e, principalmente, muito sutis e ordinários. E acima de tudo, também não é saudável usar a escolha da vocação como uma boia “salva vidas”, como se tudo se resolvesse magicamente se você se refugiar numa determinada resposta a essa pergunta. A sua vocação é a santidade, então antes de escolher onde irá, como fazer tal e tal coisa, antes de saber como vive o fulano e ciclano para ver se você “acha legal”, é fundamental ver a sua vida de oração, a vivencia dos sacramentos, se você está estruturado como pessoa ou se é muito imaturo e cheio de melindres, se você vive a castidade em obediência ao mandamento e não como um test drive para ver se vai dar certo, já que a castidade é um preceito e não um teste. Se você buscar estruturar esses pontos, as outras setas aparecerão, então se acalme e faça o básico primeiro.

No entanto, cabe colocar aqui alguns pontos citados por São Tomás como sinais de vocação: insatisfação pelas coisas do mundo, forte desejo de levar vida pura, desejar ter a vocação já é um indicio que possa tê-la, atração para coisas espirituais e oração maior que para as coisas do mundo, disposição a entrega, ao sacrifício e ao esforço para ajudar as pessoas, espírito de generosidade para com Deus (querer entregar tudo quanto possa entregar e cada vez mais), horror ao pecado, desejo de se consagrar pela conversão das pessoas, o zelo pelas almas e pela salvação das almas. Santo Tomás diz que todo desejo pela vocação consagrada vem de Deus. Já Santo Alberto Hustado alerta que até o pavor da vocação pode ser vocação, já que o demônio pode lhes lançar medos e temores para que desistam. Lembrando que Deus é infinitamente maior que o demônio e que a graça nunca falta àqueles que buscam o caminho do Senhor. 

Também é comum durante o discernimento o uso de termos e sugestões que são completamente equivocados. Colocarei aqui alguns deles, mas gostaria que entendessem o raciocínio para que possam empregar tal ordem em outras situações equivocas que possam surgir.

O primeiro é o uso do termo celibato para a situação de alguém que vive a castidade sem nenhum voto, o uso está errado pois tal ato é uma obediência ao mandamento, portanto, matéria básica para todo cristão não casado, não é um voto, não é uma entrega, é simplesmente obedecer a lei de Deus, é buscar viver na ordem divina. Logo, quem está sem namorar ou não sabe a vocação, quem está namorando, está noivo ou está se equilibrando de tendências homoafetivas, as mulheres ou homens que já foram casados e agora guardam seu voto do matrimônio na castidade para não adulterar, todos estes vivem a castidade exigida pelo mandamento, estão seguindo a ordem divina, mas não estão vivendo um voto perpetuo de doação, não é celibato, seja pela situação que é transitória, seja pela carência do equilíbrio exigido na vida consagrada diante de um voto ao Senhor privado ou público (como já vimos anteriormente), seja pela ligação a um voto de matrimônio ainda vigente. Espero que tenha sido feliz em explicar essa diferença.

O segundo é a respeito do termo “celibato formativo”. O termo é inadequado pela realidade da coisa, muitas vezes esse período funciona dentro da “mentalidade do test drive”, em que a pessoa testa se ela conseguirá ficar sem paquerar, se interessar por alguém e viver a castidade. Ora, isso a pessoa já pode viver vivendo a castidade (que é preceito), e se ela tem dificuldade na castidade, ela não está se formando no celibato, está se formando na vivencia do mandamento, que é para todo cristão. Então o celibato formativo não existe. Inclusive, não existe test drive para vocação e é aí que está toda a radicalidade da questão.

Neste ponto é preciso falar da atual mentalidade e, pior, da atitude de testar namorar antes de escolher o celibato, seja lá em que forma for. Eu confesso que me sinto um pouco perplexa ao ter que explicar isso: que as pessoas não são carros. Você não pode testar se a sua vocação é o matrimônio, usando uma pessoa e os sentimentos dela num teste, num ato que, vivido honestamente, é destinado ao casamento! Isso é horrível! É egoísta! As pessoas não estão no mundo para servir a sua indecisão e falta de fibra. Se você não sabe o que quer, não use outra pessoa para testar se vai dar certo ou não. As pessoas não são carros! O mesmo vale para os que entram no seminário e ficam com um pé dentro e outro fora usando dos ensinamentos do seminário e depois caem fora, como quem já se esbaldou numa festa e não encontra mais nada de útil, o seminário é para formar padres, não para ser refugio de quem não sabe o quer ou quer suporte enquanto faz um curso. A Igreja não é a casa da mãe joana.

Existem ainda aqueles que se preocupam com o futuro se (se) eles tomarem esta decisão. Primeiro, cabe lembrar que mais importa se está trilhando o caminho de santidade agora, do que com o futuro de uma escolha que nem mesmo foi tomada, pois simplesmente é o mais inteligente. Segundo, mesmo que você escolha o casamento ou uma comunidade numerosa ninguém lhe garante que você terá amparo, ou não morrerá sozinho, sei que parece um pouco duro para alguns pensar nisso, mas a verdade é que: mesmo que você se case quem lhe garante que você morrerá no mesmo dia e hora que seu cônjuge? Quem lhe garante que ficará sempre acompanhado? Ou que terá tudo de temporal que for preciso? A moral da história é: nós estamos sempre nas mãos da Providência, uns conscientemente, outros inconscientemente.

Mas como já vimos, nas histórias dos celibatários citadas acima, todos os celibatários trabalham, seja os que estão fora ou dentro dos mosteiros e comunidades, todos trabalham, pois quem não trabalha não deve comer, portanto, seu sustento virá do seu trabalho e da Providência que é a paga do trabalho gratuito pelo Evangelho. Todo celibatário trabalha para o Rei mais justo e benévolo do mundo, mas tem que trabalhar. 

Quanto aos outros possíveis motivadores não puros para a escolha da vocação como briga com os pais, insatisfação com o trabalho, querer se encaixar a qualquer custo, ter algo para responder às pessoas sobre a vocação, não ter encontrado a sua outra metade ou ainda querer viver o celibato de forma temporária e assim que passar um trem bonito deixar Jesus e ir com o trem bonito, ou então visando ter tempo para o trabalho e a vida sozinho, ou viver sozinho sem que ninguém lhe desgastando a paciência; enfim sobre esses motivos, um tanto egoístas, deixo abaixo a resposta:

"Daqui se segue – como os santos padres e os doutores da Igreja claramente ensinaram – que a virgindade não é virtude cristã se não é praticada "por amor do reino dos céus" (Mt 19, 12); isto é, para mais facilmente nos entregarmos às coisas divinas, para mais seguramente alcançarmos a bem-aventurança, e para mais livre e eficazmente podermos levar os outros para o reino dos céus.

Não podem, portanto, reivindicar o título de virgens as pessoas que se abstêm do matrimônio por puro egoísmo, ou para evitarem seus encargos, como nota santo Agostinho, ou ainda por amor farisaico e orgulhoso da própria integridade corporal: já o concílio de Gangres condena a virgem e o continente que se afastam do matrimônio por o considerarem coisa abominável, e não por se moverem pela beleza e santidade da virgindade.

Além disso, o apóstolo das gentes, inspirado pelo Espírito Santo, observa: "Quem está sem mulher, está cuidadoso das coisas que são do Senhor, como há de agradar a Deus... E a mulher solteira e virgem cuida das coisas que são do Senhor, para ser santa de corpo e de espírito" (1 Cor 7, 32.34). É essa, portanto, a finalidade primordial e a razão principal da virgindade cristã: encaminhar-se apenas para as coisas de Deus e orientar, para ele só, o espírito e o coração; querer agradar a Deus em tudo; concentrar nele o pensamento e consagrar-lhe inteiramente o corpo e a alma.” ( Sacra Virginitas, Papa Pio XII, 1954)

Então se você acha que quer o celibato para viver melhor sozinho e ser feliz sozinho, numa emancipação feminista travestida de cristianismo, ou ainda numa esperança de se “encostar” na Igreja para ter uma vida mais fácil, devo lhe avisar que a sua intenção está corrompida e como diz São Tomás se a intenção está corrompida nem mesmo o ato que tem tudo para ser virtuoso o será, pois a intenção está corrompida. Talvez deva rever isso com urgência com um bom padre.

‘Em cada etapa dos itinerários de discernimento e de formação deve realizar-se o acompanhamento espiritua”. (Ecclesiae Sponsae Imago, 8 de junho 2018)

Neste ponto me vejo obrigada a falar de um assunto que muitos deveriam intuir, no entanto, como vivemos num mundo em que certas sutilezas se tornaram inexistentes, me vejo obrigada a falar que: mesmo que a moça não seja mais virgem poderá se consagrar nesse matrimonio espiritual, assim como viúvas e viúvos (salvo os casos já citados anteriormente e os que serão citados posteriormente). 

Esse vínculo de perfeita castidade consideraram-no os santos padres como uma espécie de matrimônio espiritual da alma com Cristo; e, por isso, chegaram alguns a comparar com o adultério a violação dessa promessa de fidelidade. Santo Atanásio escreve que a Igreja católica costuma chamar esposas de Cristo às virgens. E santo Ambrósio diz expressamente da alma consagrada: "É virgem quem possui a Deus como esposo". Mais ainda, vê-se pelos escritos do mesmo doutor de Milão, que, já no quarto século, o rito da consagração das virgens era muito semelhante ao que a Igreja usa ainda hoje na bênção matrimonial. (Sacra Virginitas, Papa Pio XII, 1954)

 

6) Estilo de Vida

Fala meu amado, e me diz: “Levanta-te, minha amada,

Formosa minha: já passou! Olha a chuva: já se foi!

As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo,

 E o canto da rola, está se ouvindo em nosso campo.

Despontam figos na figueira, e a vinha florida exala perfume.

Levanta-te minha amada, formosa minha, vem a mim!”

Cântico 2, 10-13

 

Como disse anteriormente a maior parte das dúvidas nesta questão vem ou da curiosidade vã ou do desejo em querer ter algo predeterminado. Para sanar as dúvidas daqueles que tem uma reta intenção já lhes dei uma série de nomes de celibatários que podem pesquisar a biografia, seus hábitos de oração, trabalho, oficio ou missão; e com isso você terá referências sobre este ponto.  Mas segue abaixo alguns pontos adicionais.

 

Espiritualidade e Rotina de Oração 

O carisma da vocação é o esponsal com o Senhor. 

“Para que os carismas pessoais sejam reconhecidos, acolhidos e vividos na sua autenticidade, as mulheres consagradas se deixam acompanhar e amparar pela Igreja na ação constante do discernimento humilde, para compreender qual é a vontade de Deus para a sua vida ( Rm 12, 2). Trata-se de interpretar com inteligência e sabedoria evangélica a experiência espiritual de cada consagrada, levando em consideração sua história e o contexto eclesial e social específico em que vive.

A oração é para as mulheres consagradas uma exigência de amor para «contemplar a beleza dAquele que as ama» e de comunhão com o Amado e com o mundo onde se encontram.

O ano litúrgico é a “estrada principal” para as virgens consagradas, que deve ser percorrida com os irmãos para caminhar ao encontro de Cristo Esposo. Elas se deixam guiar pela pedagogia da Igreja que os guia na compreensão, na celebração e na assimilação, cada vez mais, do mistério de Cristo.

Elas colocam a Eucaristia no centro da sua vida, o sacramento da Aliança esponsal da qual brota a graça da sua consagração . Chamados a viver na intimidade com o Senhor, na empatia e na conformidade com Ele, na participação possivelmente quotidiana da celebração eucarística recebem o Pão da vida da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo.

Mediante a sua fidelidade quotidiana ao Ofício Divino... prolongam no tempo a memória da salvação e permitem que a extraordinária riqueza do mistério pascal influencie e sejam espalhados por cada hora de suas vidas. Na celebração da Liturgia das Horas, em particular das Laudes e das Vésperas , elas se permitem ressoar e assimilar os sentimentos de Cristo, unir a sua voz à da Igreja e apresentar ao Pai o grito de alegria e da dor, muitas vezes inconsciente, que surge da humanidade e de toda a criação.

Aprofundam e reavivam a relação com o Senhor Jesus, reservando momentos oportunos para retiros e exercícios espirituais. Eles também valorizam formas e métodos de oração que pertencem à tradição da Igreja, incluindo exercícios piedosos e outras expressões de piedade popular.

Cultivam uma devoção cheia de afeto e confiança filial à Virgem Maria, «Senhora da virgindade», modelo e padroeira de toda a vida consagrada , da qual aprendem todos os dias a louvar o Senhor.” (Ecclesiae Sponsae Imago, 8 de junho 2018)

 

Condições de Vida

“Um traço característico deste modo de vida são as raízes das mulheres consagradas na Igreja particular e, por conseguinte, num contexto cultural e social específico: a consagração as reserva para Deus sem as tornar alheias ao meio onde vivem e são chamadas fazer o seu próprio testemunho... Podem viver sozinhas, em família, junto com outras consagradas ou em outras situações favoráveis ​​à expressão de sua vocação, que lhes permitam viver concretamente seu projeto de vida. Elas sustentam seu sustento com os frutos de seu trabalho e recursos pessoais... se vestem e guardam os costumes do meio em que vivem, combinando o decoro e a expressão da sua personalidade com valor de sobriedade, de acordo com as exigências de sua condição social.

A sua dedicação à Igreja manifesta-se no reconhecimento "marcada pelo fogo" pela "missão de iluminar, abençoar, vivificar, erguer, curar, libertar”, na paixão pelo anúncio do Evangelho, pela edificação da comunidade cristã...

Aprendem com o Esposo, manso e humilde de coração ( Mt 11,29), a viver na esperança e no abandono a Deus, também quando avançam nas diferentes etapas sucessivas da vida, doença, sofrimento moral ou outras situações em que vivenciam o drama, a fragilidade e a precariedade da existência . Aceitando até ao fim o amor esponsal do Crucificado e Ressuscitado, confiam n'Ele para viver também na morte o sentido pascal da existência.

Com a sua consagração, recordam a todos que a origem, o sentido e o destino da história humana se encontram no santo mistério de Deus.

As mulheres ... permanecem enraizadas na porção do povo de Deus onde já vivem ...

A Igreja particular, nos seus vários componentes, é chamada a acolher a vocação das mulheres consagradas, a acompanhar e a sustentar o seu caminho, reconhecendo que a consagração virginal e os carismas pessoais de cada mulher consagrada são dons para a evangelização, a edificação da comunidade e a comunidade eclesial. Elas, por sua vez, prestam atenção constante ao magistério do Bispo diocesano e se deixam questionar por suas opções pastorais, para acolhê-las com responsabilidade, inteligência e criatividade... as intenções do Bispo levam à sua oração.” (Ecclesiae Sponsae Imago, 8 de junho 2018)

 

7) Ordo Virginum

“Meu amado é meu e eu sou do meu amado,

Do pastor das açucenas”

Cântico 2, 16

 

consagrados-sobre-o-celibato-leigo-ordo-virginum
Consagração Ordo Virginum em Valência, 2017
ps: o véu não é de uso exclusivo desta consagração, como será dito no ponto "Pontos de Esclarecimento"


Como já vimos a realidade do celibato está atrelada ao voto privado ou ao público. O voto privado deve ser feito com uma determinada determinação, uma total convicção, após ponderação pessoal e reflexões com o diretor espiritual (tal processo pode demorar anos, mas deve ser feito com seriedade e ser especialmente dedicado a formação madura para afastar os medos). O voto privado deve ser feito com espírito de honestidade, visando uma vida em conformidade com a doação e entrega característicos dos que se consagram a Deus. É vivido, em sua maioria, no escondimento e na entrega nos atos cotidianos, embasado no efeito real e eficaz de uma promessa feita a Deus, como já vimos nas vidas dos santos, beatos e veneráveis celibatários. Um voto privado é um ato de matéria grave e, portanto, deve ser feito com muita responsabilidade. A quebra de voto é pecado contra o segundo mandamento, pois o nome de Deus foi usado em vão, é uma ofensa ao Coração Divino. Honrar o voto é honrar o Nome Santo de Deus.

Vimos também, que muitos celibatários viveram em voto privado a vida toda e se santificaram vivendo-o. Também vimos, que o voto público era vivenciado, somente nos mosteiros. Neste ponto, preciso continuar a história. O Rito de Consagração (chamado Rito das Virgens) existia na Igreja Primitiva, mas com o tempo o Rito cedeu lugar ao Rito das admissões nas Ordens Religiosas. O Rito de consagração das virgens no mundo caiu em desuso, não o celibato no mundo. No entanto, como vimos na história da Venerável Carla Ronci, existiam alguns Institutos, que mesmo antes de 1960, possuíam a opção deste rito, ainda sem a configuração de comunidade, devemos considerar que ela não era a única no instituto, logo existia uma premissa, ao menos regional. Mas realmente, também notamos que não devia ser algo comum, mas uma concessão especial ao devido Instituto.

Observando o crescimento dos leigos celibatários a Santa Sé, que já tinha sobre nós um olhar atento desde o Papa XII e muito antes, como vimos, fez, no pontificado de Paulo VI, a revisão do rito de consagração, oferecendo agora o voto público e, o mais importante, as orientações específicas sobre o estado de vida, postura do bispo responsável e outras questões pastorais que precisavam de orientação mais clara. As mulheres que fazem o voto público utilizando este rito são admitidas na Ordo Virginum. Que nada mais é do que uma porta aberta pela Igreja para facilitar a orientação das celibatárias, a sua posição na Igreja e o reconhecimento delas pela mesma (mesmo que já houvesse citações em outros documentos, não havia um documento específico para o celibato no mundo, principalmente visando a orientação dos bispos).

A Ordo Virginum é uma orientação de algo que sempre existiu e a opção somada a orientação do voto público dentro da comunidade paroquial pelas mãos do bispo diocesano. Portanto, para voto privado e o voto público é importante a observação de tudo o que foi dito antes, mais o que será dito abaixo: 

“A admissão à consagração exige que, pela idade, maturidade humana e espiritual e pela estima que goza na comunidade cristã onde está inserida, a candidata confie em que pode assumir com responsabilidade os compromissos que derivam da consagração.

Também requer que a pessoa nunca tenha sido casada e não tenha vivido pública e manifestamente em um estado contrário à castidade.

Nas mulheres que aceitaram esta vocação e corresponderam à decisão de perseverar na virgindade ao longo da vida, os Padres da Igreja viram refletida a imagem da Igreja Esposa totalmente dedicada ao seu Marido; é por isso que elas foram chamadas de Sponsae Christi , Christo dicatae , Christo maritate , Deo nuptae (Santo Atanásio) . No corpo vivo da Igreja, elas apareceram como um coetu (companhia) institucionalizado, chamado Ordo Virginum (São Basílio)

A partir do século IV, a entrada na Ordo Virginum fazia-se por meio de um rito litúrgico solene, presidido pelo Bispo diocesano. No meio da comunidade reunida para a celebração eucarística, a mulher manifestou o sanctum propositum de permanecer toda a vida na virgindade por amor a Cristo, e o Bispo pronunciou a oração consagrativa. Como atestam os escritos de Ambrósio de Milão e sucessivamente as fontes litúrgicas mais antigas, o simbolismo nupcial do rito ficou particularmente evidente pela imposição do véu sobre a virgem pelo Bispo, um gesto que correspondeu à velatio da esposa na celebração de casamento.

Os ritos de entrada na vida monástica eram paralelos e, na maioria dos mosteiros, substituíam a celebração da consagração virginum. Apenas algumas famílias monásticas nas quais foram feitos votos solenes mantiveram este rito.

Desta forma, a consagração virginal das mulheres que permanecem no seu ambiente de vida ordinária, enraizada na comunidade diocesana reunida em torno do Bispo, foi explicitamente reconhecida pela Igreja, segundo a modalidade do antigo Ordo Virginum, sem ser designada a um Instituto de vida consagrada. O próprio texto litúrgico e as normas nele estabelecidas delineiam nos elementos essenciais a fisionomia e a disciplina desta forma de vida consagrada, cujo caráter institucional - próprio e distinto dos Institutos de vida consagrada - foi sucessivamente confirmado pelo Código Canônico (cân. 604). Da mesma forma, o Código dos Cânones das Igrejas Orientais também explicitou a possibilidade de que nas Igrejas Orientais o direito particular constitua virgens consagradas que professam publicamente a castidade no século “por conta própria”, isto é, sem os laços de pertencer a um instituto de vida consagrada (cân. 570).

 

Para verificar a experiência espiritual, o seguinte é de particular importância:

a ) o sentimento de pertença a Cristo e o desejo de configurar toda a existência "ao Senhor Jesus e à sua oblação total  " como resposta de amor ao seu amor infinito ;

b ) o sentido de pertença à Igreja, vivido concretamente na participação na vida da comunidade cristã, mantido por um profundo amor à comunidade eclesial, pela celebração dos sacramentos e por uma atitude de obediência filial ao Bispo diocesano;

c ) zelo pela dimensão contemplativa da vida e fidelidade à disciplina espiritual, momentos de oração, seus ritmos e suas diferentes formas;

d ) assiduidade na caminhada penitencial, ascética e de acompanhamento espiritual;

e ) o interesse em aprofundar o conhecimento da Escritura, dos conteúdos da fé, da liturgia, da história e do magistério da Igreja;

f  ) a paixão pelo Reino de Deus, que se dispõe a interpretar a realidade do próprio tempo segundo critérios evangélicos, a agir na realidade com sentido de responsabilidade e amor preferencial pelos pobres;

g ) a presença de uma intuição sintética e global da própria vocação, que demonstra um conhecimento realista da própria história, das próprias qualidades - recursos, limites, desejos, aspirações, motivações - e que condiz com o modo de vida dos indivíduos da Ordo virginum.

 

Para avaliar o grau de maturidade humana, os seguintes sinais serão levados em consideração:

a ) Um autoconhecimento realista e uma consciência objetiva e serena dos próprios talentos e limites, aliados a uma clara capacidade de autodeterminação e a uma atitude adequada e suficiente para assumir responsabilidades.

b ) a capacidade de estabelecer relações saudáveis, serenas e não egoístas com homens e mulheres, juntamente com uma compreensão correta do valor do casamento e da maternidade;

c ) a capacidade de integrar a sexualidade na identidade pessoal e de direcionar as energias afetivas para expressar sua feminilidade em uma vida casta que se abre a uma grande fecundidade espiritual ;

d ) o trabalho e a capacidade profissional para se sustentar de forma digna;

e ) atitude comprovada de processar sofrimentos e frustrações e também de dar e receber perdão como possíveis passos para a realização humana;

f  ) fidelidade à palavra dada e aos compromissos adquiridos;

g ) o uso responsável dos bens, redes sociais e tempo livre.”

(Ecclesiae Sponsae Imago, 8 de junho 2018)

 

 

O Processo para a Ordo Virginum, Admissão e Transferência

 

“Como és bela, minha amada,

Como és bela!...

São pombas

Teus olhos escondidos sob o véu”

Cântico 4, 1

 

Ocorre um período de orientação para ajustar se o desejo da candidata é puro, depois um período formativo visando suprir falhas de formação da candidata e por fim os votos. Tais etapas são acompanhadas pelo bispo, mas podem ser delegadas para um sacerdote ou ainda uma das consagradas responsáveis presentes na diocese, se houver.

 

“A admissão à consagração requer certeza moral sobre a autenticidade da vocação do candidato, a existência real de um carisma virginal e a subsistência das condições e pressupostos para que o interessado aceite e corresponda à graça da consagração, e que testemunhe com eloquência a própria vocação, perseverando nela e crescendo na doação generosa ao Senhor e aos irmãos.

Se a avaliação levar à sua admissão à consagração, o Bispo acordará com a candidata a data e o local da celebração, tendo em conta as indicações constantes do Pontifício a este respeito.

É conveniente preparar a comunidade para uma participação fecunda na liturgia da consagração, com o convite a acompanhar a consagrada na oração e com uma catequese específica sobre as características desta vocação. Na preparação e no desenvolvimento do rito, procurar-se-á introduzir na assembleia o mistério nupcial de Cristo e da Igreja que se celebra, com a nobre sobriedade dos gestos, dos cantos, dos sinais propostos.

A consagração, uma vez realizada, será documentada por uma inscrição no registro da Ordo Virginum , assinada pelo ministro celebrante, pelo interessado e por duas testemunhas, e que, ordinariamente, será conservada na Cúria diocesana . O certificado correspondente será entregue ao interessado. Além disso, é conveniente que o Bispo providencie para que a consagração celebrada seja comunicada ao pároco competente para que seja anotada no registo de batismo.

.... o Diretório para a pastoral dos Bispos Apostolorum Successores , em continuidade com a antiga tradição eclesial, voltou a afirmar que o Bispo diocesano deve ter uma preocupação particular com a Ordo Virginum , porque as virgens são consagradas a Deus através das suas mãos e a Igreja as confia aos seus cuidados pastorais.

Em sinergia com o magistério e a ação dos Bispos diocesanos, a Sé Apostólica tem mantido uma atenção constante ao Ordo Virginum , colocando-se ao serviço das Igrejas particulares, para favorecer o renascimento e o desenvolvimento desta forma de vida, segundo o seu características peculiares.

Durante o rito, as mulheres consagradas expressam o sanctum propositum , ou seja, a vontade firme e definitiva de perseverar ao longo da vida na castidade perfeita e no serviço de Deus e da Igreja, seguindo Cristo como o Evangelho se propõe a dar ao mundo um testemunho vivo de amor e sinal explícito do Reino futuro.

Compete ao Bispo diocesano acolher como dom do Espírito as vocações à consagração na Ordo Virginum , promovendo as condições para que as raízes das mulheres consagradas na Igreja que lhe foi confiada contribuam para o caminho de santidade do  Povo de Deus e na sua missão. O Bispo diocesano exerce a pastoral das mulheres consagradas, encorajando-as a viver a própria vocação com alegre fidelidade, estando atento às exigências do caminho de cada uma e garantindo que tenham os meios adequados para a formação permanente.

No entanto, o apego especial à Igreja onde se celebra a consagração não impede a consagrada de se deslocar temporária ou definitivamente para outra Igreja particular, caso seja necessário, por exemplo, por motivos laborais, familiares, pastorais ou outros motivações razoáveis ​​e proporcionais. Se uma mulher consagrada deseja mudar-se definitivamente para outra diocese, ela apresentará seus motivos ao Bispo, que se manifestará. Depois, pode pedir ao Bispo da Diocese ad quem para  ser acolhido na Ordo Virginum local. Este último, tendo recebido do Bispo da Diocese a quo uma apresentação com os motivos da transferência...  Em caso de resposta positiva, o Bispo da Diocese ad quem acolherá a consagrada, introduzi-la-á na sua Igreja particular e inserirá-a, se for caso disso, entre as consagradas da sua diocese, combinando com ela o que for necessário e útil segundo a sua condição pessoal. Segundo a avaliação, o Bispo da Diocese ad quem  também pode negar a filiação, ou segundo o Bispo ad quo  estabelecer um tempo de prova; neste caso, mantendo o vínculo com a Diocese ad quo , a consagrada pode transferir o seu domicílio canônico para a Diocese ad quem , seguindo as indicações dos Bispos interessados ​​quanto à sua condição pessoal.”

(Ecclesiae Sponsae Imago, 8 de junho 2018)

 

Ou seja, o celibato em voto privado ou público, não é brincadeira, não é uma fase, não é um teste. É um maravilhoso chamado, uma linda doação de si que requer honestidade, maturidade, equilíbrio e muita determinação.

 

Considerações Finais

És jardim fechado,

Minha irmã, noiva minha,

És jardim fechado,

Uma fonte lacrada.

Cântico 4, 12

 

Você já viu uma Rosa do Deserto?

Ao olhar para essa planta que cresce num ambiente tão adverso acredito que sentirá um misto de admiração e estranhamento. Ela é linda, mas um tanto estranha. Possuí raízes à mostra pois o vento do deserto é tão forte que ao se firmar no solo o tronco foi se tornando mais robusto e as raízes mais evidentes. Dizem que uma planta tem no solo o dobro do tamanho do tronco... Já suas flores lembram açucenas, são delicadas e causam com contraste com o tronco.

Eu acho que todo celibatário no mundo é assim, ou um dia será. Portanto, para finalizar este pequeno estudo, gostaria de lhe lembrar que é maravilhoso conseguir crescer no deserto! É um milagre! Portanto, no caminho, não tente ser outra coisa, não vá nas ondas de areia e nos ventos vazios, não tenha medo de fincar tão profundamente as raízes no Coração Sagrado que se torne uma pessoa com raízes à mostra. Não tenha medo de ser um tanto diferente num mundo guiado pela morbidade da igualdade que faz com que as pessoas não vejam a beleza da sua individualidade irrepetível e deixem passar um dos maiores frutos da ação salvífica do Senhor: a autonomia da pessoa. Num tempo em que a ideologia de gênero tem propagado que você pode ser um homem, ou uma mulher, ou um dragão com asas de águia; num tempo em que se propaga o aborto de bebês de nove meses e até mesmo o absurdo do aborto de recém nascidos, num tempo em que possuímos uma tentativa forte de uma massificação do povo, transformando-os em números e não em pessoas distintas e munidas de liberdade; neste cenário o celibato é o sinal visível do valor inestimável da pessoa humana, da individualidade.

A autonomia é “governar-se pelos próprios meios”, aplicando ao celibato e a vida cotidiana é a capacidade de agir no mundo segundo as leis morais do Senhor e vivenciar a ação da graça na realidade simples e nos sacramentos cotidianos do cristão em prol da santidade. O celibato condensa essa realidade maravilhosa de alguém que decidiu vivenciar a honestidade interior a tal ponto de fazer os atos que lhe são orientados sem que ninguém mande ou que ninguém os veja, alguém que vive um acordo com o Deus que vê o oculto e em atenção e amor a Ele executa as tarefas de seu estado.

Este ponto é de extrema importância, neste caminho, embora exista a ajuda do padre e do bispo, você não terá uma madre ou um prior que lhe mande sempre fazer a tarefa, não terá a irmã para lhe chamar se você ficar enroscada na preguiça pela manhã, você nem mesmo terá alguém que veja isso, e outras coisas, acontecerem, mas Deus, o Esposo, vê. A honestidade interior é de extrema importância neste caminho, é a única forma de não colocar tudo a perder ou fazer da vivência somente de fachada. Tudo realmente é vivido no oculto e é nele que a vocação acontece.

Eu espero que tenha lhe esclarecido as dúvidas possíveis.

Talvez o Senhor através deste texto possa colher açucenas, um tanto diferentes, o que me alegrará muito, Ele realmente gosta muito de fazer isso.

 

Meu amado desceu ao seu jardim,

Aos terrenos perfumados,

Foi pastorear os jardins,

E colher açucenas.

Eu sou do meu amado,

E meu amado é meu,

O pastor das açucenas.

Cântico 6, 2-3

 

 

 Anexo

Pontos de Esclarecimento

 

1-      o véu não é algo exclusivo para a celibatária, portanto, ao ver uma mulher de véu não significa necessariamente que ela é celibatária, toda mulher tem o seu papel de ser sinal do invisível no visível e também de ser sinal de submissão, ou seja, sinal da submissão da criatura perante o Criador, o véu é o sinal visível deste papel que toda mulher possuí numa imitação genuína e efetiva da Santíssima Virgem. A celibatária é uma condensação mais evidente desse sinal. Portanto, não confundam uma coisa com a outra (para saber mais clique aqui)

2-      o celibato também não tem relação obrigatória com a Total Consagração, é bom que a celibatária se consagre totalmente a Santíssima Virgem, mas ser consagrada não quer dizer que a pessoa é, necessariamente, celibatária.

3-      o véu da celibatária deve ser branco para sempre, a solteira usa-o até casar-se

4-      o rito pode ser com vestes comuns ou algo mais especial (já que se trata de um casamento espiritual) a celibatária que escolhe. Mas o Rito deve ser solene.

5-      a celibatária deve ajudar as mulheres a verem a beleza da filiação divina, da sua feminilidade como Deus pensou.

6-      no que se refere a vida espiritual, além das práticas citadas, pode acontecer uma identificação específica com um mistério da vida do Senhor, ou ainda, um apreço maior por alguma devoção específica, isso é normal.

7-      a imitação da Santíssima Virgem é a única forma de vivenciar este estado numa feminilidade genuína e conforme aos propósitos de Deus, livre de qualquer viés ideológico ou até mesmo vias teológicas contrárias a Santa Tradição e as Sagradas Escrituras.

8-      a celibatária deve ser sinal da feminilidade sadia vivenciada no fluxo do Espírito Santo, que é sempre o mesmo.

9-      quanto aos irmãos com tendências desordenadas, realmente o voto (privado ou público) não é indicado pela mesma razão que não se indica o sacerdócio (que possuí este mesmo voto) para os que vivem a mesma batalha; longe de ser por motivos sectaristas o não dado normalmente esconde muito amor e um cuidado para que possam travar a batalha de forma mais misericordiosa, rumo a santificação que poderá ocorrer, e pela graça e determinação ocorrerá, no propósito firme da obediência ao mandamento, vocês serão sinais do efeito ordenador da obediência ao Mandamento Divino, tanto naquele que manda respeitar o nome de Deus cuidando do que jura em Seu Nome, quanto aquele que manda guardar a castidade.  

10-  quanto às irmãs que viveram situações públicas contra a castidade em suas diversas formas (amasiadas, prostituição, separação e etc.) e agora estão vivendo a castidade com fidelidade, realmente temos somente o já dito sobre o rito a esse respeito, devem portanto se colocar diante dos olhos do diretor espiritual e pensar somente no voto privado; ou ainda levar o caso para o bispo diocesana que poderá lhe orientar ou enviar um pedido de orientação para a Santa Sé; no mais, continuem na graça e sejam fiéis a Deus, Santa Madalena e Santa Maria Egípcia, tenho certeza, olharão para a reta intenção de vocês e serão fiéis intercessoras para que possam, um dia, serem um sinal público do poder reconstrutor do Dedo de Deus.

 


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Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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