Introdução
De forma geral, o analfabetismo funcional costuma ser definido como a incapacidade de compreender e interpretar textos ou fazer operações matemáticas com um grau mínimo de complexidade.
Hoje, as avaliações que medem os graus de analfabetismo incluem quatro ou cinco categorias (geralmente divididas entre analfabetismo total e níveis como alfabetização rudimentar, básica, intermediária e proficiência). Somente as duas primeiras categorias são consideradas analfabetismo funcional.
O Instituto Paulo Montenegro, que é referência no assunto e mede regularmente o nível de alfabetização dos brasileiros, sustenta que 4% dos que cursam ou cursaram uma faculdade são analfabetos funcionais. O percentual na população geral fica em 27%.
Por outro lado, o Instituto Paulo Montenegro identificou que apenas 22% dos universitários ou graduados são proficientes em leitura. Uma matemática simples leva à conclusão de que quase 80% dos universitários brasileiros não atingiram o nível ideal de alfabetização. Isso é diferente da definição clássica de analfabetismo funcional. Mas, como os números evidenciam, a situação é ruim."¹
Proficiência é ter a capacidade e habilidade de ler e compreender.
Eu me lembro do período em que eu lecionava em sala de aula (até 2017). Sempre fui professora de adultos, alunos de cursos técnicos (sim, eu estava lá quando a Dilma desenvolveu uma obsessão pelo Pronatec, lembra? Pois é... foi traumático). E como você professor já sabe, esse número (80%) não é ilusório, é a pura realidade. Se não desenharmos, não existe compreensão. Esta é a raiz do surgimento da necessidade de professores que precisam fazer praticamente um espetáculo de circo para "prender a atenção do aluno" para que ele "compreenda ludicamente". O tiktok já existia em algumas salas de aula, acredite.
Características do Analfabeto Funcional
O analfabeto funcional, e todos nós somos ou já fomos, parece ter uma nuvem mental que o impede de ler e entender o que está escrito. Como não possuem a capacidade de realmente receber a mensagem do autor, constroem interiormente uma série de interpretações, baseadas exclusivamente em sua vida e visão, é a interpretação de texto baseada no próprio umbigo. O resultado são as interpretações fragmentadas baseadas na emoção que o leitor tem ao, forçosamente, adaptar algo que leu ou ouviu à sua vida e buscar trechos de auto confirmação. Como a interpretação é puramente emocional e forçosamente adaptada à uma realidade diferente da apontada pelo autor do texto, qualquer objeção apontado pelo analfabeto funcional não tem resposta, dado que ele inventou uma interpretação, criou um cenário de interpretação.
É um monólogo numa sala cheia de espelhos distorcidos.
"Os analfabetos funcionais ajudam uns aos outros a não perceber que o são."²O resultado dessa babel interpretativa é a incapacidade, generalizada, de aprender.
O Aprendizado
Para aprender é preciso se abrir à uma outra percepção. É preciso se esforçar para entender a apresentação de um outro pensamento fora do nosso. É a capacidade de absorver outro prisma, de atravessar um portal e ser apresentado a um outro feixe de luz de conhecimento. Obviamente, que isso se torna impossível sem a capacidade de realmente ler o pensamento do autor. O primeiro passo é receber o pensamento do autor e depois, num segundo momento, verificar algo do ensinado na própria vida, se existir, sem fazer adaptações forçadas.
"A lógica é a arte de pensar; a gramática, a arte de inventar símbolos e combiná-los para expressar pensamento; e a retórica, a arte de comunicar pensamentos de uma mente a outra, ou de adaptar a linguagem à circunstância."³