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Cultura Católica



Na maioria das vezes os assuntos são tratados como preto no branco, existe a "opinião a" e a "opinião b" (pode existir soterrada em alguma mente acanhada a "opinião c"), elas são opostos e distintas, normalmente inconciliáveis. Muitas vezes é assim... mas nem sempre. Alguns assuntos quando bem trabalhados chegam à bifurcações em que os argumentos, que antes eram disparados de trincheiras opostas, parecem se tornar uma só coisa, estranhamente parecem que estão falando a mesmíssima coisa os mesmos soldados inconciliáveis de antes. Eu chamo a esse momento de "encruzilhada".


Em alguns assuntos isso é fácil de notar. Por exemplo, a pauta do veganismo e o cristianismo, em outros nem tanto, como a medicina de Santa Hildegarda x a New Age ou a Teologia da Prosperidade x a boa administração dos bens temporais. 


Para servir de exemplo começo pelo primeiro tema citado. Todos sabem que um vegano não consome produtos de origem animal e que suas razões são políticas no sentido de influenciar com isso a indústria alimentícia e o agronegócio, além da pauta da crueldade animal. Por outro lado, o cristianismo orienta um reto uso dos bens criados, ou seja, a cadeia alimentar existe e deve se manter. A Ordem criada por Deus nos aponta a beleza da cadeia alimentar e dos ensinamentos milenares que os animais transmitem entre si justamente por conta dela (a cadeia alimentar está ligada a sobrevivência das espécies), no entanto, o reto uso dos bens criados também nos faz refletir sobre a Ordem Divina na criação e na nossa ação co-criadora. Veja bem, um porco demora por volta de um ano para crescer, comendo coisas que porcos comem e vivendo como um porco vive, isso é o certo, mas não é o que acontece. O mesmo para a galinha e a vaca, a primeira é dopada com hormônios para dar ovos sem conta, de gemas quase tão brancas quanto a clara e a segunda produz uma quantidade de leite que é impossível para uma vaca que vive como vaca, comendo o que uma vaca come. Ou seja, o desejo de lucro realmente alterou a Ordem da Criação estabelecida por Deus ao ponto de fazer com que uma galinha cresça o que tem que crescer em menos de três meses... ver isso como normal não é sensato. 


Provavelmente, você notou que estamos numa bifurcação, numa encruzilhada, os argumentos ditos anteriormente não são ilusórios, são reais e verdadeiros, você sabe disso por ver isso na realidade (mesmo que seja uma visão da comodidade dos corredores do supermercado), mas o motivador desses argumentos e dessa linha de pensamento não é o combate contra o capitalismo, a crueldade animal, a aversão a cadeia alimentar e sim a alteração da Ordem da criação, ou seja, o motivo é: não foi assim que Deus fez as coisas para a nossa manutenção, não é assim que deveríamos cuidar da criação. 


O que importa na bifurcação é o motivo do argumento, sem notá-lo podemos sair rotulando a todos como ambientalistas progressistas sem nenhum motivo real. 


Provavelmente você se lembra da menina que enviou um pedido ao Papa Francisco para que Sua Santidade ficasse não sei quanto tempo sem comer carne. Esse tipo de postura nos leva a notar como no geral as pessoas conhecem pouco os costumes cristãos católicos, principalmente os costumes tradicionais, um católico não come carne todas as sextas feiras do ano (exceto solenidades), não come nos dias de jejum obrigatório, não come carne na quaresma (se assim escolher), se fizer a quaresma de São Miguel pode também não comer carne durante a mesma (se assim escolher), se entrar numa ordem penitente não come carne nunca (exceto se estiver doente). Fazer abstinência de carne é uma prática religiosa penitente (não somente cristã) muito comum, que nada tem com bandeiras e pautas, mas hoje não comer carne é usado largamente como bandeira política para alistar e agregar pessoas nos grupos de base da massa de manobra revolucionária. O veganismo atualmente nada tem com a vertente oriental, é somente uma vivência para unir grupos com determinadas pautas, é uma "cola de pertencimento" que une vários grupos e suas pautas, por isso você pode escutar com frequência que "o veganismo é um ato político", e da forma como ocorre atualmente, de fato o é. 


Dessa forma é assombroso o número significativo de católicos que alinhados a essas idéias seguem-nas não por querer melhor viver a Ordem da criação, já mencionada, mas como reflexo dos argumentos desses grupos. É profundamente diferente respeitar a criação (sua ordem de nascer, viver e morrer, o galo como galo, a galinha como galinha, a vaca como vaca, cada coisa no seu tempo e lugar, no curso da criação e da cadeia alimentar) e levantar bandeiras desprovidas de sentido eterno.


As pautas podem chegar a um extremo horripilante, há alguns anos contava aos meus alunos em uma formação online para um grupo em Kendall, EUA, que assisti a um documentário que contava a história de famílias que viviam perto de uma área de reserva que antes era usada como terreno de caça. Bem, falando dessa forma parece muito sensato preservar a mata, no entanto, na vila ali perto, de moradores locais, famílias que nunca saíram dali e que plantam feijão, uma família permitiu que mostrassem o que comiam: feijão e muitas vezes só feijão. Pois era o que plantavam. Acontece que esse pai de família caçava tatu para alimentar a família de uma forma mais completa, pois você já pode imaginar uma família com seis crianças, vivendo somente com feijão. Mas ele não podia mais caçar para dar de comer aos filhos pequenos e se fosse caçar seria multado em cinco mil reais... uma pessoa que só come feijão, em todas as refeições, seria multada em cinco mil reais por caçar para dar de comer aos filhos. Enfim, é esse o fim dos caminhos ideológicos, um tatu vale mais que uma família com seis crianças. 


Outro ponto de bifurcação citado como exemplo  é a medicina de Santa Hildegarda (rogai nós!). Eu me lembro que há 12 anos existiam pouquíssimas pessoas que falavam sobre os escritos dela. Me lembro de um dia pesquisar a respeito, no meu consultório (não atendo mais), e encontrar pessoas não muito ortodoxas falando uma coisa ou outra. Depois encontrei um curso sério em Portugal e foi só. Durante todos esses anos os ensinamentos da Santa cresceram na Europa e não aqui no Brasil, até 2020. Bem... o ponto é que a Santa usa recursos naturais, o que é bem lógico já que ela viveu na Idade Média (que não tem nada de obtusa), dentre seus usos encontramos plantas e pedras, que só são orientados e efetivos depois de uma conversão verdadeira. 


Bem, a bifurcação está no uso dos elementos naturais, tal ato pode ser recebido como um discurso semelhante aos dos esotéricos e adeptos da New Age. No entanto, existe uma diferença sutil, mais profunda, entre: reconhecer que Deus realmente colocou princípios curativos em plantas e algumas pedras (não todas) e reduzir toda a espiritualidade ao uso de plantas ou pedras. É claro que esse assunto sempre será espinhoso, principalmente aqui no Brasil, porque nós somos um povo dado a terceira tentação do deserto, como diziam os primeiros missionários jesuítas que aqui chegaram, nós temos tendência ao paganismo, a sucumbir ao pedido do diabo de ajoelhar diante dele e o adorar. Essa inclinação é a raiz de toda a bagunça religiosa atual, essa tendência a misturar tudo num sincretismo que nos impede de ver algumas obviedades. Por exemplo, existe uma diferença entre acreditar que Deus colocou características curativas em plantas e algumas pedras (não todas) e acreditar nos astros, por exemplo, como é a "nova" - nada nova - moda católica do momento: palavrões místicos interplanetários (retrocedendo todo o trabalho da RCC no país inteiro quanto a isso, diga-se de passagem, para não faltar com a justiça). Os planetas podem obedecer um ditame divino, como o sol que rodou em Fátima, ou como os eclipses Tetrabiblicos, mas todos são sinais que Deus permite para mostrar seu poder ou assinalar algo no Plano da Salvação (como os eclipses citados) ou algo na Ordem da Criação (como o ciclo circadiano ou a ação reguladora do sol e da lua sobre alguns outros componentes da criação como o mar, o ciclo de plantio e colheita e etc.), os astros em si não deviam ser pauta de conversas cristãs, isso seria - e é - um retrocesso ao paganismo, assim como dar ênfase demais, sem falar de conversão, a plantas e minerais também o seria e é. 

Santa Hildegarda apresenta uma medicina dentro da Ordem da criação, que parte da conversão verdadeira e da vida na graça, ela diz que nada mais fará efeito se a vida espiritual não estiver acertada diante de Deus. Ou seja, somente por isso já vemos que embora exista a indicação de plantas e pedras, a motivação e o alicerce são diferentes da frente da New Age, que prega uma espiritualidade sem compromisso, uma vivência espiritual que não cobra nada. A medicina de Santa Hildegarda é o antídoto que a Santa Tradição preservou por séculos para esse momento da história humana, de adoecimento físico, metal e espiritual, em que devemos voltar a vivência de uma religião em comunhão com a criação, dentro da redenção que o Senhor Jesus nos alcançou, sem as artimanhas do paganismo e sua tendência a ressuscitar deusas pagãs e seus costumes. Uma vivência da busca por uma vida sadia de corpo, mente e alma; de uma vida que se une ao resto da criação e não que se aparta dela.


Dentre os temas citados como exemplo, também citei a Teologia da Prosperidade x o bom uso dos bens materiais que estão sobre a administração de cada um. Esse ponto é extenso e se liga a Doutrina Social da Igreja, costumo dizer aos meus alunos, no curso da Doutrina Social da Igreja, sobre a boa gestão dos bens materiais e a responsalidade que aquele que tem mais tem diante do que tem menos, pois se ele tem mais não é por injustiça divina e sim porque ele deve ser administrador desses bens em prol dos outros. E todos nós temos mais que alguém, vale lembrar, sempre existe alguém que tem menos do que temos, infelizmente. Portanto, a visão cristã da gestão dos bens temporais é essa: você pode e deve crescer, evoluir, ser promovido, ter mais renda, para o bem dos seus e de todos os outros (da sua comunidade local e depois na sociedade), que precisam de ajuda; você deve progredir como administrador dos bens que Deus lhe deu, mas você não é o dono de nada, é o administrador e Deus pedirá contas disso. Nem preciso dizer o quanto esse motivador é diferente do motivador da Teologia da Prosperidade e da nova onda de incentivo a ganhar e ganhar; um ponto importante está sendo esquecido: que quanto mais abastado você é, maior é a sua responsabilidade. 


Os assuntos citados são somente uma amostra do que acontecerá, os debates se tornarão a cada momento mais sutis, as diferenças mais difíceis de se notar e as linhas de discernimento mais finas. Por isso, a necessidade de observar os motivadores verdadeiros das escolhas e discursos. Nem sempre a fala será 8 ou 80, muitas vezes grupos contrários falarão coisas parecidas e cabe ao ouvinte observar a veracidade do motivador dessa fala, o que sustenta o discurso, assim como o fim último da proposta contida no discurso. 


Esse nível de discernimento se faz necessário com urgência, primeiro para não taxar de progressista ou ideológico o que e quem não é; segundo para reconhecer a característica mutante das ideologias e portanto do comportamento de seus adeptos; não se surpreenda por exemplo que um membro progressistas ou amante de ideologias passe a usar símbolos tradicionais, não se surpreenda que comecem a falar da beleza e etc... basicamente ocorrerá mudanças no agir dos membros desses grupos desde que isso possibilite defender e passar adiante as bases da ideologia que acreditam, se é um caminho para as pessoas eles mudarão a forma de agir para se infiltrar, desde que não comprometa a mensagem revolucionária que desejam passar. E isso já está acontecendo. Portanto, cabe mais atenção às sutilezas, às nuances que passam como positivas e boas diante de um olhar desatento. 


Esteja alerta e vigilante. Mas não se esqueça de pedir a Deus a graça de um olhar límpido, um coração puro como a pomba e um instinto sagaz como a serpente. Nós nascemos para sermos santos, não tontos. Que você tenha um coração vibrante e bondoso mas também uma mente atenta e sagaz. 


Singelamente, Ana. 

























Recentemente estive pensando nessa nova forma de evangelização vigente, essa de mostrar a própria vida. Não digo uma coisa ou outra, digo essa atual forma de mostrar, mostrar, mostrar...

É claro que é normal falar sobre si mesmo e sobre o que Deus faz ou não faz. Mas estava a me perguntar se os discípulos faziam isso: mostrar-se. 

Fiquei por semanas ruminando essa questão, numa onda ora filosófica, ora meramente reflexiva e sempre chegava nesse ponto: os discípulos faziam isso? 

Bem, nenhum deles fez, somente São Paulo falou algumas vezes sobre si mesmo, já os outros, tudo que temos são suas palavras sobre o Senhor, a vida deles se afundou na vida do Senhor, que tudo que contavam era sobre a vida do Senhor... e não as suas.


Nesse ponto da reflexão eu me deparei com o ponto que você deve também estar a pensar agora: o testemunho. No entanto, sobre isso, também existem perguntas: testemunho é falar sobre si mesmo? ou testemunho é falar sobre o que viu ser feito? 


Novamente me perguntei o que os discípulos fizeram... e eles falaram o que viram. 


Sempre achei interessante um ponto na narrativa Bíblica: já reparou que não sabemos nada sobre o que aconteceu com as pessoas que viveram com o Senhor? Exceto São Pedro e São Paulo, não é narrado o que aconteceu com os outros, todos os outros. Não é interessante? Só sabemos pelo legado da Santa Tradição. 


É porque o Senhor é o escritor e o personagem principal do livro, numa história que não acabou, todos que se encontram com o Senhor se afundam nEle de tal forma que o Senhor se torna a sua história pessoal. 


Por isso, fico a pensar nas diversas coisas que essa necessidade de exposição pessoal significa. Todos tem que mostrar o que fazem e quando fazem, pois só assim aquilo existe. Os debates se resumem a atitudes pessoais e opiniões pessoais e não em direcionamentos específicos e claros. A maioria das pessoas perguntam: "o que você acha sobre isso?"... é muito estranho perguntar o que uma pessoa da era moderna tem a dizer sobre algo pessoalmente, quando temos doutores, santos e filósofos para consultar. Mas porque se faz isso? Por ser mais fácil. O escritor Gustavo Corção já falava da "era da publicidade" em 1970, imagina se ele visse o que está acontecendo até entre os "bons e sãos". 


Uma vida com certa discrição, com um território privado, uma vida com áreas não compartilhaveis, é uma vida normal. Jacinto Choza diz que a era do despudor gerou essa abertura excessiva das nossas vidas e casas, coisas que antes pertenciam ao terreno sagrado do privado e íntimo se tornaram entretenimento nas mídias sociais (veja que o despudor se refere a uma cartela extensa de atitudes e está presente entre os bons de forma alarmante). 


No entanto, como católicos, o mais preocupante ainda é: os discípulos fizeram isso? os discípulos, os santos expunham a sua vida? 


Sempre me lembro de um episódio que Santa Gema preferiu ser tida como boba e um tanto tola do que mostrar a sua vida íntima cheia de colóquios com anjos e visões e êxtases. E, veja bem, ela fez isso a um prelado enviado pela Cúria... nem se tratava de cento e uma mil telementes. 


Será que mostrar coisas cotidianas, a sacralidade da vida íntima e familiar, o lar ...enfim, será que isso é ok? Sempre me recordo do costume de receber visitas, ao menos aqui no interior, é super estranho trazer gente recém conhecida para casa, um estranho, fazer isso é coisa de gente doida e quem entra sem ser convidado é bisbilhoteiro e intrometido, e provavelmente será visto assim por toda a vida. Na internet, sem muros e portas, parece que todos entram e saem vendo intimidades alheias sortidamente sem nenhum problema... isso é realmente normal? 


Qual seria o limiar entre propagar a si mesmo e propagar o que o Senhor fez e faz? Essa é a pergunta atual dos meios interneteiros que são minimamente sérios. 


Me pergunto se existe como colocar um limite depois que essa abertura foi iniciada... talvez uma alma bem desarraigada da vaidade consiga, não sei. Afinal, é como olhar um espelho, não é? Os stories quando feitos sobre si, se tornam um espelho compartilhável, que pode ser real, falso, ou fracionado. Mas é um espelho e é sempre bom olhar espelhos, já reparou? Principalmente, nós mulheres. 


Talvez ao entrar nesse caminho seja bom pensar nos riscos, ter um bom diretor e principalmente ver a efetividade disso... e aí vem a parte que muita gente não gosta: falo isso porque pode ser um apostolado ou um negócio. Não existe problema em fazer da própria imagem uma renda honesta, um negócio; modelos, atrizes, apresentadores e etc fazem isso, mas não preciso lembrar dos riscos espirituais e morais dessa abordagem, as pessoas podem passar a ser o centro e aí tudo pode ser bem ruim (temos exemplos atuais bem claros sobre isso). A segunda forma é a de apostolado, num apostolado a pessoa não é o centro, mesmo mostrando algo de si, o centro é o objetivo do apostolado, a razão que te levou a fazer aquilo ali, o princípio norteador e inegociável da sua presença ali... um apostolado é mais exigente que uma aparição monetizável porque não tem como foco nem o executor, nem os seguidores, o foco é o princípio norteador e sua fonte: que é Deus e o cerne do apostolado... raramente cabe num apostolado aparições demasiadas ou indevidas, por simplesmente corromper o princípio norteador, então o executor mata a vaidade em prol do princípio. Ao menos deveria ser assim. 


Mas existem casos em que se faz o oposto e não sei sinceramente até que ponto isso é bom ou ruim. Nós vivemos num país televisivo, que ama um BBB e que é natural acompanhar a vida das pessoas como forma de passatempo (mesmo depois da "conversão" parece que essa atitude não muda). Sempre que penso na exposição nos meios cristãos me vem a imagem da logo do BBB na cabeça e olha que não tenho tv em casa já fazem dez anos. Traumas televisivos. 


Mas voltando ao assunto, pode ser que nessa conjuntura, nada saudável e profundamente dementizante, mostrar a própria vida seja um anzol para algo mais elevado. Pode ser, mas não é certo que será, afinal, os santos não faziam isso, então existe uma margem de questionamento enorme, além dos diversos livros que falam sobre recolhimento, escondimento e etc., ou seja, orientam o oposto. 


Por exemplo, (e estava a conversar sobre isso com a Daiane do @fiatvoluntastua) um conteúdo mesmo edificante no Instagram (ou o YouTube), que é uma tela de rolagem sem fim, é mesmo efetivo, muda mesmo as pessoas? Quando penso nisso acho que é uma efetividade baixa para média, a depender da linguagem, se for uma linguagem comum ao brasileiro e que ele não precisa mudar nada moralmente diante daquilo, mas saber sobre o assunto lhe dá um status cool, pode ser que ele "melhore" alguma coisa sem tempo determinado. Basta ver as mudanças políticas e morais de areia movediça que passamos, mudamos? sim, é firme? não, e a razão é essa mentalidade do status cool sem mudança religiosa e moral real. Todos sabem dizer "eu sou eu e minhas circunstâncias" com ares filosóficos mas não sabem de quem é essa frase (é de Ortega). O ciclo de mimetismo que deveria ter sido quebrado para gerar mentes capazes de discernir não aconteceu, todos estão imitando, até entre os bons. Claro que diante do quadro isso não é de todo ruim, melhor imitar algo melhor que continuar imitando o ruim, mas está longe de ser o ideal e efetivo. Até porque a imitação é baseada no conveniente e gostosinho, se for proposto algo que exige mudanças comportamentais já não serve. Basta ver a onda de status cool embalada em palavrões que estamos vivendo e outros pontos morais e comportamentais simples que ganharam retrocesso mesmo com o cartaz de feminilidade exposto nas cento e uma mil biografias do Instagram. Pautas vazias, que fazem pensar se realmente existe efetividade de evangelização num meio assim (o que não quer dizer que não devemos estar lá, veja bem... mas podemos pensar na qualidade do solo... e não é boa).
 

Já quando existe uma  abertura de coração verdadeira, mesmo diante de uma linguagem mais sóbria a pessoa mudará muito. Já vi pessoas encontrarem na internet toda a formação que não tiveram (e não se tornarem revoltados). Uma vez eu ofereci uma resposta num stories a uma caixa de pergunta e depois a pessoa mandou uma mensagem dizendo que mudou sobre o abordado e outras coisas, veja bem ela pegou um norte numa resposta de storie e foi atrás, Deus já estava lá e o coração estava aberto; enquanto com outros podemos falar por horas e nada, pedra pura e dura. O número de corações sedentos é grande, já os abertos é ainda bem reduzido. E a ferramenta não parece ajudar a abri-los de verdade. 


Outro ponto é a própria ferramenta, o Instagram é uma rede instantânea, tudo lá dura no máximo 24 horas, e pessoas que querem deixar um legado mais sério acabam não vendo muita razão nessa linha, eu por exemplo faço as coisa para que durem. O Instagram gera tudo muito rapidamente e superficialmente, nem barra de busca de conteúdo tem, veja bem, quer dizer que isso não importa de verdade. As outras plataformas fazem quase o mesmo caminho e estão se tornando a terra dos monólogos, todos falam, ninguém escuta. 

Portanto, o meio de evangelização nas redes é sim bem limitado se considerarmos a efetividade, que é: a pessoa que vê o conteúdo se converter, ter vida sacramental, mudar de vida mesmo e criar tipo, um tipo católico mesmo. Isso porque a maioria está de passagem, querendo ver a vida alheia, isso digo até dos bons e religiosos, que fique claro. Lembrando que se isso - mostrar a própria vida - edifica pode até ser bom, mas, novamente, a vaidade e a curiosidade vã são leões sempre rondando essa abordagem. 


Assim, existem perguntas importantes: isso é inerente e necessário a sua vocação? isso compromete a sua vocação? você ajuda pessoas efetivamente? qual o reflexo disso na sua espiritualidade e plano de vida espiritual? você consegue manter-se no caminho das virtudes mesmo com as divergências de exemplos do meio ou parece uma biruta que muda de opinião toda hora? e aí faz dos outros birutas também, o que isso muda na sua vida efetivamente, no sentido de propósito de vida? 


Essas perguntam importam porque quando uma pessoa escolhe expor a sua vida e tenta influenciar pessoas corre o risco de passar somente a sua visão do assunto. Veja bem, é diferente passar o que São Tomás diz e a minha visão sobre tal assunto sério, a chance da minha visão ser limitada, fraca, medíocre ou tendenciosa a fazer o mínimo é enorme. O interessante é que parece que todos querem opniões pessoais que obviamente não chegarão num consenso, pois são pessoais. Principalmente entre as mulheres isso é muito comum, pois se considera mais a afinidade do que a realidade (parece o BBB, percebeu?). 


Por isso, esse assunto está longe de ser simples, parece mais um efeito colateral no que se refere ao nosso país bbbtizado. No entanto, pode ser um anseio em alguns casos raros, outros países também tem visto crescer o número de influenciers do cotidiano, principalmente as linhas do slow living e outras, que é a expressão de um anseio genuíno, justo e aceitável por uma vida mais lenta dentro da insanidade que se tornou a modernidade, é uma voz serena que pede para voltar a forma de vida tradicional humana, em que o tempo é vivido e não perseguido. Mas a principal característica dessa vertente é que se mostra justamente isso o viver o tempo e não a vida da pessoa, a pessoa não é o centro... não sei se estou sendo feliz em explicar, mas me parece uma diferença bem significativa, já que todo anseio humano manifesto trás uma espécie de ensinamento que nos afasta do erro. 


Também é importante lembrarmos da atmosfera de competição que existe atualmente na internet, mesmo sem questões políticas e religiosas envolvidas, sempre temos a experiência de observar certa falta de maturidade ao ver a vida diferente de outra pessoa, suas possibilidades, seus supostos privilégios, tudo isso exige um nível de maturidade, ainda mais se pensarmos que estamos falando sobre ver a vida de mais de uma pessoa em minutos. Isso pode gerar uma sensação de insatisfação e a já dita competição velada. Claro, que não quero dizer que isso é algo justificável, é muito sério quando não conseguimos notar que as pessoas tem condições de vida diferentes e é isso. Não estou falando de exibicionismo, só da parte simples de ver que o fulano tem outro status social. Não se desanimar com isso ou ainda não usar isso para permanecer na mesma é maturidade... muitas vezes ver o status de outra pessoa dá aquela desculpa para não fazer algo, pois se pensa, "haaaa mas a fulana tem ajuda na faxina", "haaaa mas a fulana mora num condomínio", "haaaa mas olha a máquina de café da fulana", " haaaa mas olha onde ela mora"; enfim desculpas vindas da comparação. 


A internet aumentou a percepção das diferenças entre as pessoas, diferenças morais, religiosas e sociais. Eu me lembro que descobri que era pobre quando olhei o conjunto de 64 mil canetinhas da minha amiguinha de sala e eu com o meu de doze cores sem marca. Na internet esse momento foi amplificado na vida de todos, estamos diante das diferenças todo o tempo e quanto maior a exposição mais isso se afirma. Pensando como cristãos: será que devemos contribuir com isso? Onde o Senhor cresce nessa dinâmica?


Singelamente, Ana





 























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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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