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Salus in Caritate

Cultura Católica

Cultura Católica II - O Poder dos Ritos e a Catarse na Ordem Social e Espiritual
Foto: Antonio Calanni/AP - Maio de 2025



Existem duas linguagens no mundo: a verbal e a não verbal. Ambas são constituídas por símbolos, e esses símbolos não são insignificantes; carregam um poder sobre a humanidade, sobre cada indivíduo, para o bem ou para o mal. São norteadores sociais, portais para o transcendente, receptáculos dos anseios dos mesmos seres humanos que os recebem e atuam nessa comunicação.

Estão por toda parte, mas encontram sua expressão mais condensada nos ritos. Os ritos são uma sucessão de símbolos, cada um deles importante, pois comunicam em uma linguagem silenciosa, capaz de transformar a atmosfera social ao tocar a alma.

Assim acontece também com as grandes obras de arte—elas geram catarse, purificam a alma. Os ritos possuem essa mesma essência. E quanto mais antigos, mais simbólicos; quanto mais simbólicos, mais poderosos; e quanto mais transcendentes, mais efetivos.




A catarse, conceito amplamente discutido na filosofia e na arte, representa um processo de purificação e transformação interior, muitas vezes desencadeado por uma experiência estética (entende-se por experiência de apreensão pelos sentidos) ou ritualística. Aristóteles, ao abordar a tragédia em sua Poética, descreveu-a como um mecanismo que permite aos espectadores liberar emoções intensas, especialmente medo e piedade, conduzindo-os a um estado de renovação emocional e intelectual.

Diversos estudiosos e artistas exploraram essa ideia ao longo dos séculos. Essa noção encontra eco na arte, onde a imersão profunda em uma obra pode provocar um efeito libertador, capaz de modificar a percepção e o estado de espírito do indivíduo.

Na esfera social e cultural, os ritos religiosos também desempenham um papel fundamental nesse processo. Conforme argumentam teóricos da antropologia, os ritos são estruturados para promover a catarse coletiva, permitindo que grupos vivenciem momentos de intensa conexão espiritual e comunitária. Essa experiência pode restaurar a ordem interna, renovar valores e reafirmar identidade coletiva. Como ressaltam estudiosos da estética (entende-se estuosos da apreensão pelos sentidos) e da psicologia, seu impacto transcende o indivíduo, influenciando sociedades inteiras e redefinindo narrativas culturais ao longo da história.



Por isso, nesta semana do abençoado mês de maio, podemos viver, após os ritos do conclave—liturgicamente e culturalmente—uma intensa catarse. A euforia diante do reset cultural provocado pela escolha de um novo papa ressoa dentro e fora da Igreja.

O silêncio, tingido pela fumaça da espera. Orações. Expectativa. Uma fumaça branca. Suspense. Uma voz. Latim. Um nome comum. Um nome de Papa. Surpresa. E, enfim, o papa.

Todas essas reações, em resposta, fazem parte da catarse gerada por um rito tão grandioso que até mesmo os desinteressados se voltam para ver.

O resultado de uma sucessão tão rica e poderosa de ritos e catarse gera um tipo de paz. Uma calma que, sem palavras, declara: "É, somos nós. Nós somos assim".

Os ritos da Igreja são, em sua essência, remédios para a alma e, por isso, remédios sociais. Foram criados para curar, para trazer paz e refrigério. Servem para, em maior ou menor grau, resetar a cultura pessoal ou social daquilo que é nocivo—numa catarse ora mais intensa, ora mais sutil, dependendo da magnitude do rito. E, por serem próprios da Igreja, enraizados na Tradição, carregam um poder especial em si.

Somos abençoados por sermos católicos, por termos à mão tantas bênçãos—uma cultura que nos alinha mentalmente e espiritualmente. Somos imensamente agraciados por receber essa riqueza vinda do coração salutar de Jesus.





Cultura I: A catolicidade é também uma cultura 

Via Pulchritudinis: a busca da Verdade, a necessidade do Bem, a fome de Liberdade, a nostalgia do Belo 




Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia, Graça & Beleza.

Aula sobre Educação Estética: aqui 
Próximo livro sobre Educação Estética: aqui






A estética (como a capacidade cognitiva de apreensão pelos sentidos, como já sinalizado aqui) sempre desempenhou um papel fundamental na construção da identidade humana. No entanto, nas última década, a pressão de imagem imposta pelas redes sociais e pela cultura de massa tem gerado impactos profundos na saúde mental, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. A educação estética, que deveria promover uma relação saudável com a imagem e a arte, enfrenta um ambiente de caos diante da crescente crise estética, ou seja, crise da apreensão.


O Brasil é um dos países com maior uso de redes sociais no mundo, e estudos indicam que há uma diferença significativa entre os sexos na utilização dessas plataformas. As mulheres representam uma parcela maior dos usuários, o que pode estar relacionado à pressão de imagem que recai sobre elas, impulsionando o consumo de produtos cosméticos e procedimentos estéticos (Vermelho et al., 2020). A venda de cosméticos no Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, evidenciando o impacto das redes sociais na busca por atender aos padrões de imagem e aparência (Fernandes et al., 2021).


Nos Estados Unidos, pesquisas científicas apontam que o uso excessivo do celular afeta a percepção da própria imagem, contribuindo para o aumento da ansiedade e da comparação social (Nicolaci-da-Costa, 2019). A exposição constante a filtros e edições digitais reforça padrões inatingíveis de imagem, levando muitos jovens a recorrer a cirurgias plásticas e tratamentos estéticos para se adequar a esses modelos, mesmo sendo tão jovens (Kataoka et al., 2021).

A arte e a literatura, assim como todas as boas produções culturais, têm um papel fundamental na promoção do bem-estar emocional. Estudos mostram que a exposição à arte pode reduzir os níveis de estresse e ansiedade, além de estimular a criatividade e a autoestima equilibrada (Fancourt & Finn, 2020). A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que produções culturais ajudam na prevenção de transtornos mentais e promovem uma melhor qualidade de vida (Jardim et al., 2021).


A série "Adolescente" aborda temas como comparação social, raiva e a dificuldade de aceitar pontos de vista discordantes, além da vivência não mundana, mas infrutífera, do celibato. Além disso, evidencia o perigo de um ambiente que apresenta ao indivíduo apenas aquilo de que ele gosta, gerando uma microcultura baseada em códigos e linguagens próprias. No contexto da série, isso pode ser prejudicial ao restante da sociedade. No entanto, esses mesmos fatores podem formar microgrupos que trazem benefícios à comunidade, utilizando as mesmas portas de acesso. Uma faca de dois gumes.


A África do Sul é o segundo maior usuário de internet, com uma taxa de penetração de 68,2% da população. Assim como no Brasil, a cultura de massa influencia a percepção da imagem e o consumo de produtos estéticos (Silveira, 2020). A globalização dos padrões de beleza, impulsionada pelas redes sociais, tem gerado impactos semelhantes em diferentes países, reforçando a necessidade de uma abordagem educacional que promova uma relação mais saudável com a imagem que vemos. Estamos constantemente expostos a conteúdos que nos levam a desejar determinadas coisas, muitas vezes beneficiando economicamente alguém à custa da saúde mental de muitos (Nanque, 2021).




A educação estética poderia atuar como um contraponto no que se refere à imagem e à aparência, ensinando a valorização da apreciação da beleza natural e a desconstrução de padrões irreais.




O livro Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, explora como a hiperconectividade e a exposição precoce às redes sociais têm gerado uma epidemia de ansiedade entre os jovens. Os homens são incentivados à "raiva masculina" e à atitude clubista de se fecharem em grupos exclusivamente masculinos. Embora isso possa ser edificante até certo ponto, se feito virtuosamente, socialmente gera uma falha, pois a sociedade é composta por homens e mulheres.

Essa construção impede a educação mútua e amplifica comportamentos nocivos de cada sexo, a saber: nos homens, o egoísmo soberbo da autoadmiração; e nas mulheres, a vaidade soberba ou a vaidade carente. Quando há a presença do sexo oposto em um ambiente virtuoso, esses pontos nocivos são educados e remediados, enquanto que, entre pares, tendem a ser fortalecidos—salvo na presença de alguém altamente virtuoso e de forte presença, capaz de remediar os demais, o que é raro.




As mulheres são particularmente afetadas, pois enfrentam uma pressão mais intensa relacionada à imagem e à aparência, muitas vezes promovida pelas próprias mulheres. Esse fenômeno contribui para o aumento de transtornos mentais femininos (Anjos & Ferreira, 2021).

A comparação constante com influenciadores digitais e celebridades reforça sentimentos de inadequação e deslocamento, oriundos da mesma dinâmica das bolhas, que dificulta a assimilação de desigualdades, dado que essas questões são apresentadas de forma tão constante (como um bombardeio digital) e, muitas vezes, apelativa (Brugiolo et al., 2021). Além disso, esse cenário incentiva preocupações com temas que podem não ser relevantes para todos ou mesmo saudáveis para todos.




Nos últimos meses, por exemplo, a lista de "mais vendidos"—sem considerar o próprio método de criação dessas listas—apresenta livros sobre alcançar a prosperidade "passando a perna no diabo". Vale notar que o objetivo parece ser ganhar dinheiro, e não ser astuto como as serpentes em prol do Reino do Senhor.

Além disso, os três primeiros lugares são ocupados por livros para colorir. Essa lista pode nos dar indícios sobre a capacidade de apreensão geral, o padrão estético-social (ou seja, o padrão de apreensão social) e os desejos e ambições da sociedade.

Para onde está olhando a maioria dos consumidores-leitores? O que estão contemplando e expressando? Podemos inferir que essa lista talvez diga: "quero ser rico e vou surtar", "preciso de dinheiro e estou exausto" ou "valorizo a riqueza, mas quero descansar".

A lista reflete a tensão da sociedade brasileira, que não suporta mais tanta pressão sem alicerce humano, educativo e espiritual.




Conclusão


A crise estética contemporânea (entende-se como crise de apreensão pelos sentidos na contemporaneidade) exige uma reflexão profunda sobre o papel da educação estética na formação da identidade e na promoção da saúde mental. A ação cristã nessa área não pode ignorar os efeitos nocivos da escravidão da imagem em prol de ganhos pessoais, especialmente para aqueles que servem a Deus na área da saúde.

A valorização da arte, a desconstrução de padrões irreais e o incentivo ao pensamento crítico são ferramentas valiosas para enfrentar os desafios impostos pela cultura de massa e pelas redes sociais. Somente por meio de uma abordagem educativa e consciente será possível construir uma sociedade cristã equilibrada, menos vulnerável à pressão da imagem e mais sensível à verdadeira virtude.

A estética (entende-se como apreensão pelos sentidos) alinhada ao evangelho promove o decoro e o polimento no comportamento sem perder a naturalidade, mantendo o bom gosto compatível com o processo de conversão cristã, que rejeita o mundano. Além disso, há um empenho em evitar que a beleza se torne um produto manipulado por setores da indústria que visam apenas ao lucro, afirmando vender beleza.


A beleza é um traço concedido a toda alma criada por Deus e se torna ainda mais bela à medida que se aproxima do Criador.

Tal ação exige uma conversão maior por parte do grupo de cristãos ativos em ações católicas pelo país.




Professora Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).



Referência deste artigo: BARROS, Ana Paula. A educação estética como ferramenta de saúde mental. Salus in Caritate, seção Educação e Filosofia, 08 maio 2025. Disponível em: <https://www.salusincaritate.com.br>.




Aula sobre Educação Estética: aqui 
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Referências

ANJOS, Larissa Alves dos; FERREIRA, Zâmia Aline Barros. Saúde estética: impactos emocionais causados pelo padrão de beleza. 

BRUGIOLO, Alessa Sin Singer; SANTOS, Eveliny Rodrigues; RIBEIRO, Pâmella Cristina Soares; CARNAÚBA, Fabiana Roberta Nunes. Insatisfação corporal e procedimentos estéticos em adolescentes. SciELO. 

FANCOURT, Daisy; FINN, Saoirse. Evidências sobre o papel das artes na melhoria da saúde e do bem-estar. Arte Despertar. 

FERNANDES, Manuela Luiza de Souza; PARAÍSO, Alanna Fernandes; RODRIGUES, Augusto César Evelin; SILVA, Amanda Tauana Oliveira e; Diniz, Sara Cristina Saraiva Batista; BEZERRA, Lana Vitória Santana; BORGES, Luna Viana. Os impactos das redes sociais na busca por procedimentos estéticos. Revista FT. 

JARDIM, Viviane Cristina Fonseca da Silva; VASCONCELOS, Eliane Maria Ribeiro de; VASCONCELOS, Célia Maria Ribeiro de; ALVES, Fábia Alexandra Pottes; ROCHA, Karyanna Alves de Alencar; MEDEIROS, Eduarda Gayoso Meira Suassuna de. Contribuições da arteterapia para promoção da saúde e bem-estar. SciELO. 

KATAOKA, Alexandre; MENDES, Camila Cristina Silva; LELLO, Nikole Guimarães Soares; SAADA, Ruaida Chahine; KAPRITCHKOFF, Maria Rita dos Reis. A influência das mídias sociais na decisão pela cirurgia plástica. SciELO. 

NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Impactos psicológicos do uso de celulares: uma pesquisa. SciELO. 

NANQUE, Manuel. A África sob diferentes olhares: do epistemicídio colonial à tecitura estética digital. Repositório UNILAB.

SILVEIRA, Marcelo Deiro Prates da. Efeitos da globalização e da sociedade em rede via Internet na formação da identidade estética. SciELO. 

VERMELHO, Sônia Cristina; VELHO, Ana Paula Machado; BONKOVOSKI, Amanda; PIROLA, Alisson. Refletindo sobre as redes sociais digitais. SciELO.




Educa-te - Paideia Cristã



A educação estética é um dos pilares fundamentais para a formação do espírito humano, pois, como nos ensina São Tomás de Aquino, "o belo é aquilo cuja contemplação agrada". Essa contemplação não ocorre de maneira superficial, mas exige um olhar educado, uma alma moldada pela tradição e pela verdade. Afinal, uma alma com vícios se agrada de coisas diferentes de uma alma que busca a virtude; logo, a agradabilidade está intrinsecamente ligada ao processo de conversão. Sócrates foi o primeiro a questionar o aspecto relativo dessa agradabilidade. 


A beleza é um atributo apreendido pelos sentidos; a essa apreensão damos o nome de estética. Assim, a estética é uma capacidade cognitiva, não um atributo, e pode ser educada. A beleza, por sua vez, é um atributo interior que pode se manifestar exteriormente, mas não obrigatoriamente, pois sua presença exterior não comprova sua existência interior, assim como sua ausência exterior não comprova sua inexistência interior.


A tradição, os artigos e referências sobre Beleza e Estética disponíveis no site Salus in Caritate nos mostram que a educação estética não é um luxo, mas uma necessidade para a alma que busca a Verdade. Sem uma formação estética que contemple o belo como manifestação de ordem e harmonia, corre-se o risco de ensinar uma percepção fragmentada da realidade, distorcida pelo imediatismo e pela comercialização da "beleza" que dissemina a ideia da aquisição da beleza mediante transação financeira, ou seja, a compra da beleza.


Nougué nos lembra que "as artes do belo visam a fazer o homem propender ao bom e ao verdadeiro". Assim, a educação estética deve ser conduzida de modo a levar o indivíduo a reconhecer e amar o Belo Verdadeiro, afastando-se das ilusões modernas que buscam substituir a ordem pela feiura, o conteúdo pelo artifício e Deus pela própria imagem.


A educação clássica enfatiza que "a memória, a leitura e o maravilhamento são essenciais para a formação do intelecto". O maravilhamento diante da beleza é o primeiro passo para a verdadeira educação estética, pois ensina a alma a reconhecer a ordem divina presente na criação e nas obras humanas que refletem essa ordem.


Considerando que Sócrates argumenta que o verdadeiro belo deve ter um fundamento mais profundo, ligado à essência das coisas e não apenas à sua forma sensível; que Platão vê a beleza como uma Ideia eterna e imutável no mundo das Formas; que Aristóteles tem uma abordagem mais concreta e ligada à experiência sensível; e que os estoicos consideravam que a verdadeira beleza não estava na aparência física, mas no caráter e na virtude; São Tomás de Aquino ensina que a beleza é um dos transcendentais do Ser, juntamente com a Verdade e a Bondade. Ao que tudo indica, parece que não podemos comprar um transcendental. Mas podemos educar a nossa capacidade de apreensão. 


Que possamos educar nossos olhos e nossos corações para contemplar o Belo e, por meio dele, aproximar-nos da Verdade e do Bem, sem afrontas veladas ao Sumo Belo, mas com respeito genuíno.




Professora Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).


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A literatura tem um papel fundamental na construção do conhecimento, na construção da cultura e na ampliação da percepção sobre o mundo. Ela permite que as pessoas entrem em contato com diferentes épocas, lugares, emoções e ideias, facilitando reflexões.


A literatura não é apenas um conjunto de palavras organizadas em páginas; é um reflexo da alma humana. Os grandes escritores buscaram traduzir, em suas obras, as inquietações do espírito e os dilemas morais que atravessam gerações. Assim como as melhores virtudes humanas. Cada época espelha aquilo que é na literatura que produz. 


Os estudos literários são o campo de pesquisa que analisa as obras literárias, seus contextos históricos e culturais, estilos, estruturas e impactos sociais. Eles englobam diversas abordagens, como crítica literária, teoria da literatura e história da literatura, buscando entender a profundidade das narrativas e seus significados. Estudar literatura não é apenas ler histórias; é interpretar textos, compreender simbolismos e analisar o papel da escrita na sociedade. São um caminho para a sabedoria, uma forma de compreender a história da humanidade por meio de suas narrativas.


Tolstói acreditava que a literatura deveria acompanhar o amadurecimento da pessoa. Portanto, ele recomenda as leituras bíblicas até os 20 anos, enquanto Homero é citado para ser lido após os 20 anos. No entanto, vale salientar que a idade do acervo literário nem sempre corresponde à idade cronológica. Uma pessoa pode ter 35 ou 40 anos e possuir um acervo literário equivalente ao de alguém entre 14 e 20 anos, simplesmente por não ter tido contato com determinadas obras, como os livros bíblicos. Da mesma forma, alguém com 25 anos pode ter uma bagagem literária robusta por ter lido tanto os livros indicados para sua faixa etária quanto outros mais complexos.


O primeiro passo, portanto, é identificar a idade exata do seu acervo literário e, a partir daí, buscar suprir eventuais defasagens. Mesmo que essa bagagem esteja desorganizada, com leituras de diferentes períodos da vida, vale a pena estruturar o repertório.


As aulas dos estudos literários são disponibilizadas em três etapas: a primeira, com duração de 40 minutos, para os membros do Clube de Leitores Salutares (aqui); e as aulas extensas destinadas exclusivamente aos alunos do Educa-te (aqui), que já possuem a bagagem das obras estudadas nos Estudos Literários I – Virtudes e Literatura. O objetivo das aulas é favorecer a leitura dos símbolos, facilitar análises, encorajar releituras com novas perspectivas e promover a maturação da relação com o enriquecimento do acervo literário de forma ordenada e fomentar o uso dos clássicos de forma católica.




Entre para o Clube de Leitores aqui


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Professora Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).







Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).
Por Isabel Molina Estrada.
Pintura: Paseo a orillas del mar, Joaquín Sorolla




Para o resgate da elegância. 
"A roupa é uma linguagem que transmite ideias e convicções"




"Você não nasce elegante." 


Embora algumas pessoas tenham aquele "algo" inato que lhes dá uma certa nobreza e refinamento ao seu porte, a autora brasileira Ana Paula Barros explica a Misión que a elegância é adquirida praticando virtudes como simplicidade e modéstia, e exercitando "a arte de escolher o melhor". 



Aprenda o que é a verdadeira elegância e por que praticá-la.

Muitos hoje se vestem mal, não apenas em suas vidas diárias, mas também para participar de eventos memoráveis, como uma formatura ou um evento oficial ou para ir a lugares sagrados (para a missa ou um casamento, uma comunhão ou um funeral). O que aconteceu? Esta geração desistiu da elegância?

Ana Paula Barros, autora do livro Modéstia: o caminho da Beleza e da Santa Ordem (disponível na Editora Salus in Caritate, 2023), explica que as modas atuais fazem parte de uma grande "fábrica social" em que todos são obrigados a usar jeans e camiseta. E isso não é acidental, porque as roupas, como posturas e gestos, comenta a autora, "fazem parte do discurso social, são mais uma linguagem para transmitir ideias e convicções que pertence ao quadro dos símbolos". E, como alertou a baronesa Gertrude von Le Fort, filósofa e teóloga católica, "o símbolo nunca é insignificante". Para que as ideologias se enraízem na cultura, garante Barros, é preciso "silenciar ou perverter os ensinamentos cristãos, também na forma como se vestem, e fazer com que os crentes deixem de prestar atenção ao discurso que pronunciam com seu comportamento".


Os gestos e o vestido pronunciam um discurso cheio de valores


 


A Marca do Horrendo


Barros afirma que a boa postura, o vestuário harmonioso e os gestos medidos e amigáveis criam uma atmosfera cordial que hoje está quase extinta. "Com a descristianização do Estado e da escola e a renúncia à educação moral, não era mais considerado importante educar na elegância. Esses aspectos da educação foram considerados restritivos. O resultado é um aumento crescente no "culto da feiura", do descuido e um esforço para construir uma aparência que esteja em conformidade com os modismos passageiros. As indústrias da moda e da arte, incentivadas por ideologias, querem imprimir nas pessoas – a imagem e semelhança de Deus e, portanto, bela – a marca do horrendo", diz ela.

Barros evoca Gustavo Corção, um de seus autores favoritos, em Conversação em Sol Menor. Compilação de memórias (disponível em português no VIDE Editorial, 2018): "A cidade era linda como as meninas daquela época. Quando eram pequenos, cantavam em círculos, e em todos os bairros os cantos das crianças marcavam o crepúsculo [...]. A rua da cidade ajudava as pessoas a viver. […] Quem ousou tocar levemente o corpo sagrado de uma jovem? […]. As pessoas se vestiam melhor, a postura do corpo era mais ereta, mais resoluta, mais enérgica do que hoje. Folheie você mesmo o álbum de seus avós, leitor, e observe que eles eram mais determinados e firmes. O que aconteceu com os homens, com as cidades? O que foi que aconteceu?..."



A arte de saber escolher


A palavra elegância vem do latim eligere que significa "fazer uma escolha". Portanto, como explica Barros, elegância é a arte de optar pelo melhor no campo moral. E acrescenta que "quando uma pessoa faz suas escolhas de acordo com razões transcendentes, a elegância se manifesta em suas posturas, em seu tom de voz, em seus gestos e no refinamento de sua maneira de se vestir".

Muitas vezes, acredita-se que a elegância seja cumprir certos códigos sociais para ter uma boa aparência ou ser apreciada pelos outros. Mas uma pessoa elegante e de bom gosto, adverte a autora, é aquela que "sabe escolher levando em conta a vontade de Deus, a Tradição Católica e a beleza que emana da evangelização silenciosa".

Os seres humanos são gentil e naturalmente atraídos pela beleza porque ela irradia luz, não apenas física, mas também espiritual. "A beleza é o resultado da harmonia, integridade e clareza", diz Barros, que distingue três formas de beleza: estética, moral e espiritual. "A beleza estética é capturada pela observação da pureza, que é o resultado da harmonia na forma. A moralidade surge do equilíbrio da alma. E o espiritual é a capacidade de chegar à Verdade, que é Jesus Cristo. Só é possível que algo seja belo se a beleza estética estiver subordinada à beleza moral e espiritual. Portanto, a elegância só leva à beleza quando as escolhas estão subordinadas à moral e à verdade cristãs. Caso contrário, torna-se uma mera adesão a regras de etiqueta (que significa pequena ética) que podem não ter valor eterno."



"A elegância [vivida desta forma] ajuda a recristianizar, pois reflete a beleza da alma unida a Deus"



O auge da elegância


Uma pessoa pode ser elegante sem a necessidade de usar joias ou acessórios, simplesmente vestindo trajes modestos e expressando-se com gestos harmoniosos. Para alcançar esse refinamento, Barros sugere buscar a assistência de São José, por sua presença viril e modesta, e da Santíssima Virgem, o ápice da elegância e "senhora da elegância espiritual", como Santo Ildefonso sabiamente a chamou.

Barros adverte que fomos levados a acreditar que, para ter uma boa aparência, é necessário construir um "rosto no rosto" [maquiagem excessiva], um "cabelo no cabelo" [penteados elaborados] e um "corpo no corpo" [roupas excessivamente vistosas ou procedimentos], e esquecemos que a beleza é espiritual e esta ligada à simplicidade. "Em geral, a quantidade e intensidade de acessórios e o esforço para usar roupas e objetos atraentes geram ruído para a beleza natural da pessoa", diz ela.

Em síntese, segundo a autora, a elegância é um atributo indispensável para a recristianização, pois atualiza na pessoa diferentes verdades cristãs: a beleza de ser imagem e semelhança de Deus, o respeito pelo corpo dos outros e pelo próprio, o valor da beleza da alma unida a Deus, as bênçãos e responsabilidades da filiação divina (que variam de acordo com a missão e os dons que cada um recebeu), o valor dos lugares consagrados ao culto, o dever de adorar a Deus de corpo e alma e a capacidade de olhar de perto a beleza que nos rodeia.



MODÉSTIA E ELEGÂNCIA


"Se a elegância é a arte de escolher bem, a modéstia é a prática da moderação em tudo", diz Ana Paula Barros. E explica que a relação entre as duas virtudes é que uma escolhe e a outra coloca em prática, o que é essencial, porque às vezes é difícil para nós realizar as decisões que tomamos. Além disso, a modéstia e o pudor são virtudes irmãs." Um protege os sentidos (e a noção de privado) e o outro protege o corpo. Portanto, se a elegância é considerada de forma cristã: a elegância, a modéstia e o pudor andam juntas", explica. No entanto, se o padrão de elegância é apenas o da etiqueta social, um vestido chique pode não ser virtuoso ou elegante porque seleciona peças que expõem o corpo e o tornam vulnerável. Portanto, a elegância supõe o exercício da temperança, juntamente com as virtudes que dela emanam: sobriedade, mansidão, continência e modéstia, além de outras como cordialidade e respeito pelos outros.




Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).
Por Isabel Molina Estrada.





"Os segredos dos grandes homens estavam no bom emprego do tempo. A hora é feita de minutos; aquele que sabe utilizar todos os minutos acaba por ganhar horas e dias inteiros." — Dom Tihamer Toth.




Estamos em 2025, e o Salus completa 13 anos. 

O livro Modéstia, publicado em 2018, e o projeto Educa-te atingem, neste ano, 7 anos de existência. Não é incrível? Além disso, a Revista Salutaris comemora 1 ano de vida, enquanto o livro Graça e Beleza, o mais novo da família, completa 2 meses.


Às vezes, tenho a impressão de que o Salus, com tantas iniciativas, pode causar uma leve confusão, afinal é mais de uma década. É como em famílias com muitos filhos: fica difícil saber quem é o mais velho ou distinguir entre Maria Antônia e Júlia Maria. Apesar disso, considero isso um ponto positivo, embora acredite que uma sinalização mais clara possa ser útil. 




"Põe a logro tua vida enquanto é tempo! 
 Porque os instantes idos, 
 Para sempre estão perdidos." 
 — Poeta húngaro Czuczer.




O site Salus e as aulas abertas, provavelmente conhecidos por você, são plataformas onde publicamos artigos e pod-aulas, estas veiculadas somente de duas a três vezes por ano, no Spotify e no YouTube Salus (aqui). 


Se você aprecia literatura, arte e filosofia, temos as salas no Telegram e WhatsApp da Comunidade Salutares (aqui). Esses espaços oferecem, aos sábados, indicações e comentários brevíssimos sobre literatura, arte e filosofia, além de servir como canal para a monitora do Salus repassar dúvidas diretamente para mim.


A Revista Salutaris (aqui), traz edições trimestrais (quatro vezes por ano) dedicadas à educação estética, arte e patrimônio. Uma vez por ano, publicamos uma edição especial chamada Pausa, voltada para crítica cultural e estudos culturais. 

Já a Linha Editorial Practica (aqui) reúne todos os livros publicados, tanto em formato digital quanto físico, disponíveis na Amazon e em nosso site.


No Clube do Livro Salutares (aqui), por meio do Apoia-se, proporcionamos uma experiência mensal de aprendizado, com aulas exclusivas sobre livros recomendados na Comunidade Salutares. O Apoia-se foi recentemente reativado com uma nova proposta, oferecendo recompensas em três níveis:

  • Leitor do Clube do Livro: inclui uma aula mensal, por nove meses (março a novembro), de até 40 minutos (R$ 15,00).
  • Mecenas: contempla todas as recompensas anteriores, além da assinatura da Revista Salutaris e uma menção de agradecimento como mecenas na Revista.


Por último, temos o nível mais profundo: o Educa-te- Paideia Cristã (aqui), que oferece mais de 180 horas de aulas já disponíveis e cuidadosamente organizadas em etapas no plano de estudos Educa-te, além de dois aulões mensais durante 12 meses—um dedicado à Educação Estética e outro ao livro do mês—com duração de 1h30 a 2h30 cada, acompanhados por materiais de apoio exclusivos.


E este é o resumo dos projetos. Caso tenha alguma dúvida envie uma mensagem na Comunidade Salutares. 

Até mais,
Professora Ana Paula Barros



"Evidentemente, o tempo é algo precioso! Mas, afinal de contas, quanto vale? Veja: vinte minutos valem 12 milhões de dólares. Como assim? Perguntas. Entre Buffalo e Nova York, a via férrea antigamente contornava um vale profundo, o vale de Tuckannock. Mais tarde, os americanos construíram, por cima desse vale, um viaduto gigantesco que custou 12 milhões de dólares. Esse viaduto encurta a viagem em vinte minutos. Vinte minutos valem 12 milhões de dólares...

O que importa, acima de tudo, é que aproveites os anos da tua juventude para estudar e trabalhar, pois esses anos são justamente aqueles em que deves te preparar para a Vida, acumulando conhecimento e capitais espirituais, com vistas ao Futuro." — Dom Tihamer Toth





O outono é a estação que marca a transição entre os extremos do verão e do inverno. Mesmo em um país como o Brasil, onde o clima é predominantemente marcado pelo calor do verão, o outono apresenta algumas variações interessantes. É, geralmente, o período ideal para o cultivo de hortaliças e frutas, com temperaturas amenas que favorecem o desenvolvimento das plantas. Agrião, acelga e alface são especialmente cultivados nesta época. Além disso, é considerada a estação oficial da colheita.


Em nós, como reflexo harmonioso da natureza, manifesta-se uma estação de recolhimento e introspecção, dedicada ao cultivo e à reorganização das dimensões mental, física e espiritual. No hemisfério sul, oportunamente, coincide com meados da quaresma em quase todos os anos. Este período se torna ainda mais significativo pelas orientações das quatro têmporas e pela prática das virtudes para cada mês do ano, segundo Santo Afonso de Ligório.


Neste período, podemos dizer que passamos do vigor e do enraizamento da primavera para a renovação, condensação e transformação características do outono. Nesta estação, alinhados com a virtude do mês — que é a virtude da piedade — e com a quaresma, podemos, com a Graça, reorganizar e condensar ideias e condutas, limpando o que já não serve mais, como fazem as árvores ao se transformar.


Dessa forma, é valioso trabalhar com o objetivo de condensar, ou seja, dar maior densidade e substância às ideias. Para isso, ideias, objetivos e projetos podem exigir certa atenção especial, sem exaustão.


O outono sempre me recorda da "seriedade de 80 anos" que São Josemaria Escrivá solicitava com frequência. Esta seriedade, muitas vezes vista como tristeza, inclusive dentro da Igreja, na verdade reflete a beleza de bons outonos vividos com colheita e cultivo, com limpeza e condensação. Ela traz certa gravidade à vida e a densidade de alguém que possui bagagem.


Provavelmente, você já viu uma árvore de muitos anos. Aquelas árvores centenárias, com raízes que chegam à altura do joelho e copas majestosas que se perdem em algum lugar no alto. Quando as vejo, sempre me recordo do outono, e não das outras estações. Crescem calmamente e constantemente, com seriedade e lentidão, alheias às inconstâncias do que se estabelece ao seu redor.


"Ocupando-vos com os vossos próprios negócios e trabalhando com as vossas próprias mãos, como já vos ordenamos." - 1 Tessalonicenses 4, 11




Ocupar-se dos próprios negócios, ou seja, de si mesmo e da própria alma, é uma tarefa e tanto. Exige muito esforço e uma luta constante com o "irmão mais velho" — da parábola do filho pródigo — que habita em todos nós. Essa parábola é interessante, pois, longe de ser uma alegoria do rígido e do misericordioso, fala sobre o amor e a alegria no convívio com Deus.

O filho mais novo buscou a alegria longe do Pai e voltou animado pelas coisas que receberia, mesmo como empregado. O Pai, ciente disso, deu-lhe bens para que ele se sentisse seguro, ao menos, e não se perdesse novamente no pecado. No entanto, o amor do filho mais novo estava condicionado pelas coisas que possuía ou não. 

Já o filho mais velho, que sempre esteve ao lado do Pai, apresentou como primeira queixa o fato de nunca ter recebido algo para festejar com os amigos. Assim, ele também não reconhecia a riqueza incomparável de estar junto ao Pai, a própria fonte de todos os bens. Enquanto se ocupava em invejar as dádivas recebidas pelo irmão mais novo, ele não percebia que possuía algo muito maior: conviveu mais tempo com o Pai, esteve mais próximo Dele e, na verdade, o próprio Pai era a sua maior recompensa.


Parece óbvio, não? Mas não é. Depois de muito tempo servindo a Deus e observando como Ele dá a cada um o que é necessário para que aquela alma não caia no pecado, passamos a esquecer que estar sempre ali com Ele, como uma lamparina do Santíssimo, que nunca se apaga, é uma recompensa imensamente maior do que as coisas que Ele oferece a algumas almas para mantê-las longe do mundo.


Todos nós vivemos experiências semelhantes às dos dois irmãos em nossas vidas. No ensino tradicional das quatro têmporas, vemos que a têmpora do outono, ou da quaresma, tem como objetivo combater a melancolia e a tristeza. Acredito que esta parábola seja muito oportuna para essa estação.


Além de revelar o amor e a alegria com o Pai, essa parábola também nos oferece uma valiosa lição sobre a justiça divina. Ela ilustra como a justiça de Deus, muitas vezes incompreensível à visão limitada dos homens, pode parecer injustiça aos olhos humanos. O irmão mais velho enxergava com olhos humanos a ação do Pai; ele via uma ação injusta, e isso o impedia de reconhecer a imensurável riqueza dos momentos - do tempo -vividos ao lado do Pai, do estar ali, algo que seu irmão mais novo não havia experimentado da mesma forma. 


Tempo. Um tema que abordei longamente no livro "Graça e Beleza". Os ciclos do tempo nos levam, no outono, a voltar o olhar para o Pai e para dentro de nós mesmos, e certamente isso nos conduzirá a organizar gavetas e armários, tanto internos quanto externos. É um tempo de recolhimento ativo, marcado por uma agradabilidade peculiar.


Vamos tornar nossa casa — interna e externa — mais confortável, como uma sala estar - e gostar de estar- para conviver com Aquele que importa.





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O anseio por uma vida sazonal: ritmo e tradição 

Revista Digital Salutaris - Edição Especial Pausa: Educação Estética, Arte & Patrimônio 














A educação baseada nas artes liberais, conhecida como Educação Liberal, tem suas raízes na educação clássica da Antiguidade e na Idade Média, onde o foco era desenvolver habilidades intelectuais fundamentais através do estudo de sete artes liberais: gramática, lógica, retórica, aritmética, geometria, música e astronomia. Enfatiza a importância do aprendizado ao longo da vida e do desenvolvimento intelectual em diversas áreas do conhecimento.

Irmã Miriam Joseph Rauh, C.S.C., PhD (1898–1982), foi integrante das Irmãs da Santa Cruz e obteve seu doutorado na Universidade de Columbia. Ela lecionou inglês no Saint Mary's College de 1931 a 1960 e é autora de diversos livros, incluindo "The Trivium" (1937), um texto desenvolvido para o currículo básico do Saint Mary's College. No prefácio da edição de 1947, ela menciona a inspiração e instrução do professor Mortimer J. Adler, da Universidade de Chicago, e reconhece suas dívidas intelectuais com Aristóteles, John Milton e Jacques Maritain. O livro aborda a educação medieval em artes liberais, com foco na gramática, lógica e retórica.

Em 1935, a carreira da Irmã Miriam Joseph deu uma guinada significativa após uma palestra do Dr. Mortimer J. Adler, da Universidade de Chicago, no Saint Mary's College. Adler destacou a importância das artes liberais e criticou a especialização que separou gramática, lógica e retórica, levando à deterioração de suas funções educacionais.

Após a palestra, o Padre William Cunningham, C.S.C., professor de Educação em Notre Dame, perguntou a Adler sobre a viabilidade de restaurar o Trivium no curso de inglês para calouros. Anos mais tarde, a Irmã Miriam Joseph escreveu que, quando a pergunta foi feita, “muitos na plateia viraram-se e olharam para mim”. As irmãs Madeleva, Miriam Joseph e Maria Theresa estudaram com Adler em Chicago e na Columbia University em Nova York. No outono de 1935, a Irmã Miriam Joseph começou a lecionar o curso "The Trivium" no Saint Mary's College, que se tornaria uma instituição essencial. O curso, ministrado cinco dias por semana durante dois semestres, treinava os estudantes a pensar corretamente, ler inteligentemente, falar e escrever de maneira clara e eficaz.

Sem um livro-texto adequado, a Irmã Miriam Joseph escreveu "The Trivium in College Composition and Reading", publicado pela primeira vez em 1937.




Obras Publicadas


  1. Joseph, Irmã Miriam (1937). O Trivium Integrado com a Composição da Faculdade (1ª ed.).
  2. Joseph, Irmã Miriam [1948]. McGlinn, Marguerite (ed.). O Trivium: As Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica (3ª ed.).
  3. Joseph, Irmã Miriam [1948]. O Trivium na Composição e Leitura da Faculdade (3ª ed.).
  4. Joseph, Irmã Miriam [1947]. O Uso das Artes da Linguagem por Shakespeare.
  5. Joseph, Irmã Miriam (1962). Retórica na Época de Shakespeare: Teoria Literária da Europa Renascentista.
  6. Joseph, Irmã Miriam (1940). Lógica Cotidiana.
  7. Joseph, Irmã Miriam (1954). Ortodoxia no Paraíso Perdido.
  8. Referências a Mulheres nas Epístolas de Cícero, Sêneca e Plínio (1954).
  9. Joseph, Miriam (abril de 1962). "Hamlet, uma Tragédia Cristã". Estudos em Filologia, 59(2): 119-141. Imprensa da Universidade da Carolina do Norte.
  10. Joseph, Miriam (1959). "Uma Leitura 'Trivial' de Hamlet". Laval Théologique et Philosophique, 15(2): 182-214. Universidade Laval. DOI: 10.7202/1019978AR. ISSN 1703-8804 (versão impressa).



Acesse aqui: Literato Católico 2025 





Panorama do século XX




O século XX foi um período de grandes transformações e acontecimentos históricos que moldaram a sociedade como a conhecemos hoje. Foi marcado pelas duas Guerras Mundiais, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que trouxeram devastação e mudanças geopolíticas significativas, incluindo o colapso de impérios e o surgimento de novas superpotências como os Estados Unidos e a União Soviética. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo mergulhou na Guerra Fria (1947-1991), uma disputa ideológica, tecnológica e militar entre o capitalismo e o socialismo, que influenciou profundamente a política global e levou à corrida espacial, com momentos marcantes como o lançamento do satélite Sputnik pela União Soviética em 1957.

O século também viu o processo de descolonização, intensificado após a Segunda Guerra Mundial, com diversos países da África, Ásia e Oriente Médio conquistando sua independência ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970, como a independência da Índia em 1947.

Ao mesmo tempo, os avanços tecnológicos e científicos revolucionaram todos os aspectos da vida humana, desde a medicina, com o desenvolvimento de vacinas como a da poliomielite nos anos 1950, e antibióticos como a penicilina na década de 1940, até as comunicações, com a invenção do rádio (década de 1920), da televisão (anos 1930), do computador (década de 1940) e, mais tarde, da internet (década de 1980). A exploração espacial tornou-se uma realidade, culminando com a chegada do homem à Lua em 1969.

Socialmente, o século XX foi palco de movimentos transformadores em busca de direitos civis, "igualdade de gênero" e inclusão de grupos marginalizados, como o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1960 e as ações feministas ao longo de todo o século. Na cultura, o modernismo (início do século XX), o surrealismo (década de 1920) e outras correntes artísticas redefiniram as fronteiras da criatividade, enquanto a globalização conectou as nações como nunca antes, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.





Literatura do Século XX 




No modernismo, autores como James Joyce, com Ulysses (1922), e Marcel Proust, com À Sombra das Raparigas em Flor (1919), introduziram inovações como o fluxo de consciência. Na literatura existencialista, obras como O Estrangeiro (1942), de Albert Camus, e A Náusea (1938), de Jean-Paul Sartre, exploraram a liberdade e a alienação.


O realismo mágico emergiu com força na América Latina, com escritores como Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão (1967), e Juan Rulfo, com Pedro Páramo (1955), que mesclaram o cotidiano ao fantástico. No cenário pós-colonial, autores como Chinua Achebe, com O Mundo se Despedaça (1958), e Salman Rushdie, com Os Filhos da Meia-Noite (1981), abordaram a  independência cultural.


A poesia modernista também se destacou, com T.S. Eliot publicando A Terra Desolada (1922), uma obra repleta de alusões fragmentadas, enquanto Pablo Neruda publicava sua poesia romântica e política, como em Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada (1924). No teatro, Samuel Beckett desafiou as convenções com Esperando Godot (1953), representativo do Teatro do Absurdo, enquanto Federico García Lorca explorou as tensões sociais em peças como A Casa de Bernarda Alba (1936).


A literatura distópica também floresceu com obras como 1984 (1949), de George Orwell, que lançou uma poderosa crítica ao totalitarismo, e Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley, que examinou os perigos de uma sociedade controlada. Simone de Beauvoir publicou O Segundo Sexo (1949), enquanto Virginia Woolf publicou Uma Janela para o Amor (1927).


No Brasil, Clarice Lispector se destacou como uma das maiores escritoras do século, trazendo uma linguagem introspectiva e poética em obras como sua obra A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Por outro lado, autoras afro-americanas como Zora Neale Hurston, com Seus Olhos Viam Deus (1937), e Toni Morrison, ganhadora do Prêmio Nobel em 1993, trouxeram narrativas sobre a experiência afrodescendente, como em Amada (1987).


O mercado também abriu espaço para narrativas de suspense, como as de Agatha Christie, a "Rainha do Crime", cujas obras, como Assassinato no Expresso do Oriente (1934) e E Não Sobrou Nenhum (1939). 



Gertrud von Le Fort destacou-se com Hymnen an die Kirche (1924), um tributo à Igreja Católica, e Die Letzte am Schafott (1931), que narra o martírio das Carmelitas de Compiègne. Edith Stein, filósofa e santa católica, deixou importantes escritos como On the Problem of Empathy (1916) e The Science of the Cross. Maria Luiza Chaveut publicou o seu A virgem cristã na família e no mundo em 1930.


Na África, Margaret Ogola contribuiu com The River and the Source (1994), uma celebração de gerações de mulheres quenianas, além de I Swear by Apollo (2002) e Place of Destiny (2005). Flannery O'Connor, uma renomada escritora americana, trouxe contos e romances que abordam a graça divina e a complexidade humana, como em Wise Blood (1952). Alice Thomas Ellis explorou a fé e a moral em obras como The Sin Eater (1977), enquanto Caryl Houselander destacou-se por seus escritos espirituais, como The Reed of God (1944), que reflete sobre a Virgem Maria.


Ademais, Irmã Miriam Joseph, acadêmica e autora católica, deixou um importante legado com The Trivium: The Liberal Arts of Logic, Grammar, and Rhetoric (1937), uma obra que revitaliza as artes liberais na educação, e Shakespeare's Use of the Arts of Language (1947), que analisa o uso da retórica nas obras de Shakespeare. 




Crítica de Cultura (por Professora Ana Paula Barros)



O que chama a atenção na história da irmã Miriam é a pergunta do padre ser automaticamente ligada a ela. Ou seja, o reverendo já tinha em mente colocá-la a cabo dessa tarefa. Valorização clara, evidente. Esquecida completamente. Uma ação realizada fora da cultura de massa.

Mas um ponto importante do esquecimento é a cultura de massa. Por exemplo, quando você aceita a pessoa que possui muito alcance, números, como se ela fosse uma autoridade, sem nenhuma formação para ministrar coisa alguma, isso é movimentado pela cultura de massa. No Brasil, a cultura de massa é veiculada pelas celebridades. O celebrismo é um atributo que confere à pessoa o nível de autoridade automaticamente, sem nenhuma reflexão. Essa dinâmica do celebrismo é bem conhecida no jornalismo cultural e norteia praticamente toda a recepção dos conteúdos gerados em cultura no Brasil. O público é treinado para ver somente o que tem o brilho do celebrismo, assimilando com isso a fala e os trejeitos da celebridade.

No meio católico, não é diferente: as autoridades são as celebridades. Não importa a formação, se são de fato sensatas e corretas segundo as regras da Igreja; basta que tenham visibilidade para ganharem automaticamente autoridade. O que faz com que todo produtor de conteúdo vise antes ser celebridade, populista e polemista do que qualquer outra coisa, já que vocês, o público, querem isso. Compram qualquer coisa vendida por celebridades, mas desprezam qualquer bom trabalho feito por alguém não conhecido. Isso é a cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.

Também é cultura de massa quando, dentro do mecanismo da imitação de comportamento, você escolhe citar em suas redes sociais a celebridade feita de autoridade para navegar por alguns segundos na fama da celebridade, mas não cita um professor desconhecido que oferece um conteúdo mil vezes melhor. Isso é a cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.

Também é cultura de massa quando o consumo, os temas e as opiniões são modulados pela maioria, quando você só procura ler algo se alguém, "celebridade", mostra nas redes sociais que leu. Isso é a cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.

É crença que a cultura de massa está vinculada somente à TV, funk, pagode. Não, a cultura de massa está ao nosso redor, e não acredite que, por ser católico e consumir conteúdos católicos, você está a salvo. Não está, porque você consome conteúdo das celebridades católicas. Você imita os gostos, roupas, jargões das celebridades católicas, você cita em seus stories a celebridade e não cita o professor que mais oferece conteúdo de verdade. Você ainda está na cultura de massa e você é a massa moldada e manipulada.

Por este motivo, pelo interesse da massa ser moldado pelas celebridades cheias de jargões e pouco cérebro, autoras como a irmã Miriam são esquecidas. Uma mulher consagrada a Deus com um alto nível de conhecimento clássico simplesmente não tem obras traduzidas nesta terra das celebridades.

Este padrão não pode ser mantido durante uma vida de estudo sério. Da mesma forma como não pode ser mantido o ridículo proceder masculino de não ler obras de mulheres. Ou das mulheres de não buscarem conhecimento em arte e beleza que realmente seja sério e não um deleite diante da própria imagem. Não sei se isso acontecerá, no entanto, tenho quase certeza de que, se uma celebridade lançar um curso com preço absurdo para resolver algo profundo em dez aulas, haverá uma massa moldada e manipulada para pagar. E a massa é você.


Parece severo, não é mesmo? Mas faz parte do trabalho, e não é um desabafo pessoal que leva um professor a trazer tais pontos à tona. Não é curioso que a própria massa não perceba que é a massa? No livro O Discurso sobre a Servidão Voluntária, o autor [com as ressalvas que é prudente ter com os humanistas] aborda uma questão que permanece atual: qual a razão das ações irrefletidas das massas? O próprio autor sugere: "vós mesmos podeis libertar-vos, basta que não apoiem mais".

Entretanto, os ensinamentos propagados pela cultura de massa limitam essa consciência de escolha, esse entendimento de que "eu posso optar por não consumir isso", seja no mundo digital ou fora dele. Mais uma vez, parece perpetuar-se o que já existia na Roma Antiga: o prazer proporcionado pelo "pão e circo". Apesar de, em tempos de inflação, o pão não ser tão acessível, o circo certamente não falta. O fascínio pelo circo e pelo entretenimento atualiza as reações da turba romana.

Nero, tão terrível quanto foi, recebeu o pranto da turba ao falecer. Por quê? Bem, ele era generoso em prover entretenimento. É por isso que a cultura de massa merece uma análise minuciosa, mesmo no contexto de uma dinâmica dita cristã. Pois, por trás da diversão que diverte e "desvia", há um terreno fértil para a irreflexão, que torna aceitáveis frases como "esposa troféu" ou "o homem perde sua masculinidade ao lavar a louça".

Uma filha de Deus não é um troféu; nenhuma mulher é um objeto. Da mesma forma, a ideia de que sua "aquisição" confere status ao possuidor-ganhador é absurda. Apenas a carência poderia enxergar nessa frase um elogio; somente as sequelas do pecado original podem torná-la tolerável. Quanto à segunda frase, é questionável uma masculinidade que "escoa pelo ralo". Sem mencionar que santos como Santo Antônio, entre muitos outros, alcançaram a santidade também servindo na cozinha em prol dos irmãos, vivendo a masculinidade católica de maneira autêntica, sem recorrer a essas ideias ridículas, mas eu falo mais sobre isso no livro Graça & Beleza.





Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025). 

 








Escrever um ensaio sempre me pareceu semelhante a escrever uma carta: longa e repleta de detalhes. Cada escrita reflete o olhar do autor e tudo o que esses olhos testemunharam.


Para alguns, o processo de escrita é árduo; para outros, flui com facilidade. Escrever em si nunca foi difícil para mim, mas o fluxo rápido de ideias sempre foi um desafio maior. Também não acredito que uma obra esteja concluída até que o autor assim o declare ou até que ele tenha falecido. Portanto, não tenho ilusões sobre a obra perfeita. Para mim, o mais importante é que seja coerente e reflexiva.


Como mencionei várias vezes em aula, escrever é, para alguns, uma espécie de sina; para outros, um mecanismo de enfrentamento, utilizado apenas na esfera pessoal. O escritor está na primeira categoria. E dessa condição vêm desconfortos, lágrimas e tempo necessário para a concepção. Não é um processo luxuoso, nem tampouco perfeito. Inclusive, acredito que é difícil ensinar alguém a ser escritor. Também considero difícil que ser escritor esteja atrelado a uma fama pré-existente.


Digo isso porque, neste cenário pós-moderno superinformativo, as pessoas fazem uma correlação entre as duas coisas, sem saber que, no mercado literário, existem escritores muito conhecidos em certos nichos, com leitores que aguardam ansiosamente seus livros. São pessoas que não são famosas fora desses nichos. É muito interessante esse modelo social que se formou, com nichos completamente desconhecidos para outros nichos.




A escrita de "Modéstia" foi impulsionada pelo caos infinito que o tema gerou em 2018, um ano que serviu como peneira para muitas celebridades deste nicho ao qual pertenço. Após essa grande "seleção natural", o assunto surgiu em minha mente como uma exigência para escrever, e então o fiz. Esse ensaio faz parte de uma tríade que até então existia apenas em minha mente. No entanto, foi fruto de estudos realizados desde 2012, ou seja, seis anos—praticamente uma faculdade sobre o mesmo tema—para conceber a primeira parte. Foi uma grande felicidade, embora tenha me causado alguma tristeza depois, devido às dificuldades do meio editorial. Alegro-me apenas pelas pessoas que leem o livro físico; o restante dessa experiência com a edição física me trouxe muita tristeza. Mas enquanto foi apenas um livro digital, foi uma felicidade.

A escrita não foi difícil, mas havia muitos pontos que deveriam ser abordados sem tornar o livro pesado. Este tema é sempre muito sensível, e as reações são geralmente exacerbadas. Portanto, o livro também tem a intenção de suprir algumas deficiências na formação humana católica. A formação católica possui três níveis: humano, doutrinal e espiritual. Todas são alimentadas pela Sagrada Escritura e pela Sagrada Tradição. É frequente, no entanto, que até mesmo os mais versados acreditem que todas são formações espirituais, mas isso é um engano. As instâncias são distintas. A formação humana abrange toda a área educacional; a doutrinal, a Santa Doutrina; e a espiritual, em suma, são as direções espirituais. Vivemos numa época sem ação efetiva sacerdotal, o que torna muito confuso, até mesmo para eles, observar a diferença gritante entre as áreas. Que dirá para as outras pessoas sem formação católica ou recém-convertidos.

Portanto, a escrita de "Modéstia" deveria contemplar todas essas nuances e oferecer um bom material de reflexão sobre a temática, que é uma das bases da formação educacional dos iniciantes. Para isso, este ensaio possui muitas citações diretas e transcrições, creditadas inclusive aos tradutores que muito contribuíram nesse sentido, além de poemas de minha autoria e de outros autores. No final, tornou-se um bom livro para a educação moral cristã a partir dos 14 ou 15 anos, que realmente era a minha intenção, sem deixar de atender as mulheres sem sólida formação católica.


No entanto, considerando a necessidade de veicular a temática em outras áreas, o livro possui vasta referência bibliográfica e pode ser incluído nas referências de trabalhos acadêmicos de moda, psicologia comportamental e ciências sociais, sem deixar a desejar.

Por trabalhar na área acadêmica há 15 anos e ter lecionado a desafiadora disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso muitas vezes, sei que pode ser difícil encontrar referências para algumas temáticas. Também sei da importância do papel dos estudantes nessa ação cultural católica. Os estudantes católicos têm o dever de citar todos os autores católicos que conseguirem em seus trabalhos e não ter medo. Exceto alguns nomes midiatizados, por conta da "sociedade dos nichos", seus professores certamente não sabem quem são os escritores e tradutores católicos, e vocês podem usar isso ao seu favor. O resultado é a veiculação das obras no meio acadêmico secular, um meio solenemente ignorado até hoje.

Ao escrever, pensei em todas essas coisas, na esperança de que os vórtices da internet se transformassem em uma mudança de mentalidade verdadeira a respeito da produção cultural católica responsável, que pudesse causar mudanças na recepção dos leitores e fazê-los deixar de ver a catolicidade como um nicho separado das outras áreas, atitude que realmente dificulta a evangelização e a ação cultural católica. Quem sabe um dia tenhamos estudantes realmente corajosos?




Em termos de vendas de livros, há diferentes níveis de "sucesso" que podem ser observados no mercado editorial. Os best-sellers são aqueles livros que conseguem vender um grande número de cópias rapidamente após o seu lançamento, comumente mais de 10.000 cópias no primeiro ano. Eles são frequentemente destacados nas listas de mais vendidos e alcançam uma ampla audiência de forma rápida e eficaz.

Por outro lado, temos os livros de mídias livres, que vendem bem, mas não chegam ao status de best-seller. Esses livros geralmente vendem entre 1.000 a 5.000 cópias no primeiro ano e ainda conseguem um bom desempenho, mesmo que não alcancem os números impressionantes dos best-sellers.

Os livros de nicho são aqueles que vendem principalmente em segmentos específicos de mercado. Eles costumam ter vendas mais modestas, entre 500 a 1.000 cópias no primeiro ano. Apesar de suas vendas menores, esses livros têm uma audiência dedicada e fiel dentro de seu nicho.

Finalmente, há os livros de baixa venda, que vendem poucas cópias. Esses livros geralmente vendem menos de 500 cópias no primeiro ano. Embora suas vendas sejam limitadas, eles ainda encontram valor entre leitores específicos e podem atender a propósitos especializados ou pessoais.

"Modéstia" encontra-se entre um livro de nicho e mídias livres, dependendo do formato de edição (digital ou física), o que não implica em um ganho significativo, não é mesmo, caríssimos? Como expliquei nesta aula aberta: Letras, mercado e política (transcrição de aula aberta). Por isso, agradeço muito aos leitores, principalmente aos leitores do livro digital, pelas razões mencionadas na aula.



O segundo ensaio, Graça & Beleza, publicado este ano (2025), 15 anos após os primeiros passos nas pesquisas da temática, traz uma reflexão que realmente visa mulheres a partir dos 20 anos. Foi pensado como uma ação educativa que poderá acompanhar a formação de algumas moças e suprir minimamente a formação de outras que, embora com idade e muitas com fama, não são mais que iniciantes na catolicidade. Desta forma, este ensaio foi escrito com uma abordagem mais madura e com mais enfoque na crítica social, em continuação ao ensaio anterior. Busquei momentos de leveza, usando a literatura poética católica tradicional. Foi uma escrita densa, mas não me pareceu pesada ao finalizar.

De modo geral, vejo os escritos como uma oportunidade de treinar minha capacidade de condensar um tema sem perder profundidade. Esta visão destoa de alguns autores que acreditam no poder de um calhamaço em capa dura; principalmente os homens gostam bastante dessa abordagem. Eu, como mulher, realmente prefiro o sagrado poder da síntese sem perder profundidade, resgatando as camadas profundas de escrita que existem em contos e mitos.

Além disso, há um motivo prático: se o leitor for uma mulher com seus vários lindos filhos, indo a uma pracinha, carregando bolsas e todo o kit de sobrevivência para uma excursão externa, ela certamente poderia levar um livro. No entanto, é fundamental que ele seja leve, e o formato da edição ajuda muito nisso. Afinal, todas as coisas que são carregadas alegremente pelas crianças voltam devidamente unidas e ao mesmo tempo para os braços do adulto mais próximo. Portanto, isso também passa pela minha cabeça quando escrevo, assim como penso nas mães de recém-nascidos que escutam as aulas em áudio e com isso se sentem nutridas de conhecimento em meio ao período de adaptação. Acredite, já acompanhei muitas mamadas dessa forma.

Quanto à utilização acadêmica, mantive a mesma intenção do primeiro ensaio.




Como vê, meu processo de escrita se desenvolve na formação humana sem perder o olhar humano. Desenvolvido ao longo de muitos anos, entre sorrisos, lágrimas, algumas humilhações e falta de respeito. E, como tudo na vida, tem suas tristezas, principalmente quando em contato com o lado escuro de algumas alas. Mas, em suma, quando me trazem alguma notícia do que o Senhor fez com simples palavras—mas palavras consagradas—compensa em parte o processo oculto de escrever e a lapidação que realiza no próprio escritor.


A autora,
Professora Ana Paula Barros




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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)




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