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Uma Leitura Estética do Curta Blossom, de Isabelle Drummond por professora Ana Paula Barros



 Uma Leitura Estética do Curta Blossom, de Isabelle Drummond

Professora Ana Paula Barros¹


Resumo


O curta-metragem Blossom, protagonizado por Isabelle Drummond e marcado pela presença da maison Dior no figurino e na caracterização, propõe uma reflexão poética sobre o tempo, a sofisticação e a dualidade entre o antigo e o novo. Marca também a atuação de Isabelle como produtora executiva, consolidando sua atuação em várias frentes da criação audiovisual. Este artigo analisa a obra à luz da história do cinema, com especial atenção à estética do preto e branco — isto é, à apreensão sensorial dessa linguagem — explorando como tal escolha comunica sensações de introspecção e elegância em um mundo marcado pela velocidade e pelo deslocamento, que frequentemente resulta em um afastamento de si. A narrativa de Blossom pode ser interpretada como uma ode ao resgate da lentidão, ao ato de parar e olhar, e à redescoberta de elementos antigos que podem conversar com a contemporaneidade. O curta constrói uma ponte entre o clássico e o moderno e aponta que a sofisticação também está na forma que escolhemos ou podemos viver e perceber o tempo.

Palavras-chave: cinema; preto e branco; lentidão; sofisticação; Blossom; Isabelle Drummond.




1. Introdução

O cinema surgiu oficialmente em 28 de dezembro de 1895, quando os irmãos Louis e Auguste Lumière apresentaram ao público o cinematógrafo — uma invenção que captava, revelava e projetava imagens em movimento. A primeira exibição, realizada no Grand Café em Paris, marcou o início da sétima arte e foi composta por curtas em preto e branco, como L'Arrivée d'un Train à La Ciotat, cujo realismo provocou reações intensas na plateia. O preto e branco, inicialmente uma limitação técnica, tornou-se uma linguagem estética que valorizava o contraste entre luz e sombra, a composição visual e a expressividade silenciosa.

O cinema mudo, predominante entre o final do século XIX e o final da década de 1920, foi uma fase de intensa experimentação artística. A ausência de som não era vista como limitação, mas como oportunidade para explorar ao máximo os recursos visuais e narrativos. A linguagem corporal dos atores, os enquadramentos, a iluminação e a montagem tornaram-se ferramentas essenciais para a construção de sentido. Obras como O Encouraçado Potemkin (1925), Nosferatu (1922) e O Gabinete do Dr. Caligari (1920) demonstram como o silêncio podia ser eloquente. Mesmo após o advento do som, muitos cineastas continuaram a utilizar o estilo mudo, valorizando a pureza da imagem e a intensidade emocional que ela pode transmitir. O legado do cinema mudo permanece vivo, influenciando produções contemporâneas que optam por uma narrativa mais visual e contemplativa.

A introdução do som, com The Jazz Singer (1927), e da cor, com Becky Sharp (1935), revolucionaram a experiência cinematográfica, mas não eliminaram o uso do preto e branco. Ao contrário, essa estética passou a ser uma escolha artística, associada à introspecção, à sofisticação e à concentração emocional do espectador.

No Japão, o cinema também desenvolveu formas narrativas singulares, como os benshi — narradores que acompanhavam as projeções mudas, explicando e dramatizando a história ao vivo. Essa tradição de mediação oral e sensibilidade estética pode ser vista em obras contemporâneas como Dias Calmos e Tranquilos ao Seu Lado, que resgatam o ritmo pausado do cinema antigo.

Este artigo busca compreender como Blossom articula esses elementos para construir uma linguagem atemporal, em diálogo com a história do cinema e com a sensibilidade contemporânea.




2. O curta Blossom: enredo e estética

O curta-metragem Blossom apresenta uma narrativa, roteirizada por Anna Lee, centrada em uma personagem que passa, aparentemente, pela pressa, pelo olhar rápido e desatento, e por um luto — de si e do outro — e que, depois, retorna a si, desacelera e redescobre o mundo ao seu redor. É um roteiro que, assim como alguns mitos gregos, traz notas da ideia de ressurreição, neste caso, uma ressurreição existencial. A trama se constrói por meio de gestos sutis, silêncio e atmosferas reflexiva e intimista. O silêncio, unido à trilha sonora, exige atenção para acompanhar a narrativa; somos levados a colocar um olhar atento, buscar interpretar, dar nome às cenas durante a descoberta da história — atitudes que não somos mais levados a fazer no cotidiano, em que as informações são praticamente esfregadas na nossa cara ou se apresentam determinadas a ser engolidas, por bem ou forçosamente. Neste cenário, o curta é um refrigério para os sentidos.

A escolha estética do preto e branco desempenha papel fundamental na construção da linguagem visual do filme. Essa opção reforça a introspecção da protagonista e comunica uma sofisticação atemporal, alinhando-se à identidade da Dior, cuja presença na obra permite traçar paralelos com a história da maison. A irmã de Christian Dior, Catherine Dior, passou por momentos horríveis durante a Segunda Guerra Mundial: foi presa pela Gestapo (por pertencer a rede de inteligência franco-polonesa F2, financiada pelos britânicos), torturada e deportada para campos de concentração, sobrevivendo a Ravensbrück e outros locais até ser libertada em 1945. Após a guerra, dedicou-se à floricultura — tema presente no curta de Isabelle. Ela também inspirou o vestido bordado com mil flores e foi presidente honorária do Museu Dior. Todos esses pontos — desligamento de si, sofrimento, flores, arte, novas flores — estão presentes no curta. 

A ausência de cores permite que o espectador concentre-se nos contrastes, nas texturas e na composição dos planos, valorizando a luz e a sombra. Essa estética remete ao cinema antigo e ao cinema de autor.

O cinema de autor caracteriza-se pela presença marcante da visão artística e pessoal do cineasta, que assume o controle criativo sobre os diversos aspectos da obra, do roteiro à linguagem visual. Diferentemente das produções comerciais voltadas ao entretenimento de massa, o cinema de autor valoriza a expressão pessoal, a experimentação narrativa e a construção de atmosferas singulares. Nesse contexto, o diretor é visto como um 'autor' no sentido literário, imprimindo sua assinatura estilística e temática ao filme. A abordagem frequentemente privilegia o silêncio, o tempo dilatado, os conflitos internos e a linguagem simbólica, criando obras que convidam à reflexão e ao envolvimento sensorial. Essa vertente é especialmente relevante na análise de curtas como Blossom, já que o liga às características do cinema francês sem deixar de ser brasileiro.

O cinema francês é reconhecido mundialmente por sua abordagem estética refinada, narrativa introspectiva e valorização da autoria. Desde os primórdios com os irmãos Lumière até movimentos como a Nouvelle Vague, o cinema francês privilegia o realismo poético, os conflitos existenciais e a experimentação formal. Diferente do cinema americano, que se apoia em fórmulas de sucesso voltadas ao entretenimento de massa — como blockbusters, narrativas lineares e efeitos visuais espetaculares — o francês busca provocar reflexão e sensibilidade. Já o cinema asiático, especialmente o japonês, coreano e chinês, destaca-se pela forte presença cultural e linguagem visual singular, com narrativas que também exploram o silêncio, o tempo e o simbolismo dentro da identidade comunitária. Em contraste, o cinema brasileiro tem raízes no realismo social e na crítica política, como visto no Cinema Novo, mas também enfrenta desafios de financiamento e distribuição. Embora compartilhe com o francês o interesse por temas humanos e sociais, o cinema brasileiro ainda busca maior reconhecimento internacional e equilíbrio entre produções autorais e comerciais. Cada tradição cinematográfica oferece um olhar único sobre o mundo — e o curta Blossom oferece uma junção refinada e delicada de duas formas de atuação nas produções culturais.





¹Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

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