Agora vejo o sol entrar pela janela. Um sol escaldante de uma tarde de um fim de outono nada outonal. As plantas foram podadas, e comidas leves já se tornaram a única forma de alimentação possível. Exceto pelo café escaldante, que ainda é acolhido com alegria como companhia perfeita para um dia escaldante. Os dias estão calmos e pacatos, o ventilador não deixa o seu ofício, e minha mente se vê, novamente, cercada por alguns assuntos.
Recentemente, voltando de um dia inteiro ministrando aulas sobre assuntos da catolicidade, estava escutando um sermão. Não me espantou que o padre estivesse defendendo o direito de só os padres catequizarem. Que só padres devem ensinar a Santa Doutrina.
Não me espantou porque sei que existem leigos e padres que pensam fortemente assim (além de confundirem aulas católicas com “ensinar a Doutrina” — uma confusão inaceitável, mas comum), principalmente porque já possuem um meio salutar estabelecido e raramente saem para cidades em que não existem ciclos similares. Eu, pessoalmente, gostaria que todos pudéssemos ter essa oportunidade. Gostaria, de todo coração, que nenhum leigo tivesse que caçar uma boa Missa, um bom padre. Gostaria mesmo que todos tivessem acesso facilitado aos ensinamentos de um padre como estes que dizem tais coisas — porque são bons padres, e seria o melhor para o povo se todos tivessem um padre assim para chamar de seu.
No entanto, durante a escuta dessa fala, eu fiquei esperando a solução — afinal, o argumento não era novo. Fiquei, portanto, esperando a solução para a maioria dos católicos que não têm acesso a essa dinâmica tão comum para aquele padre e seus paroquianos. Bem, não veio. Não houve nenhuma solução apresentada, somente a fala insistente de que só o padre pode ensinar doutrina e dar catequese.
Eu me lembro que já lhes contei sobre o momento em que o governo da Dilma, ainda no início, declarou que a minha faixa de salário era “classe média alta”. Eu, uma recém-formada, com salário de recém-formada e dívidas de uma recém-formada, que trabalhou para pagar a faculdade — como a maioria dos brasileiros. Me lembro como se fosse hoje de olhar em volta e pensar: “No máximo, eu sou uma classe pobre alta.”
Bem, uma sensação similar me veio quando escutei aquele padre, numa rodoviária lotada de pessoas, depois de uma viagem longa, que veio depois de um dia inteiro dando aulas. Enquanto olhava em volta, vendo o rosto das pessoas, seus cansaços de viajante, esperava o padre dar os horários em que poderia visitar as cidades, dar aulas e ensinar a catequese como ele disse. Também não veio essa informação. Não me causou surpresa — afinal, todos sabem que os padres são ocupados e que são poucos os bons padres. No entanto, como havia a solene defesa de que só padres podem catequizar, deveria também existir a quantidade de padres — e padres com tempo... me parece uma coisa obrigatória. Mas, ao que parece, para ele, não é.
Interessantes são as reflexões que surgem como resposta à crise da Igreja. No entanto, algumas beiram a obtusidade. Outras, à falta de humildade...
Todos sabemos que, raramente, um padre consegue sair da sua paróquia e grupo de paroquianos — as pessoas que vão até ele. Existem cidades que nem mesmo conhecem a catequese tradicional e os costumes tradicionais. Os padres com tais conhecimentos são poucos e estão sem tempo de viajar até lá... Então, a proposta seria deixar os irmãos na ignorância? Desconhecendo a Tradição e a beleza da Igreja? Desconhecendo até mesmo que existem bons padres do calibre dos senhores?... Não é possível que alguém que ama a Tradição Católica defenderia algo assim. Não é de se crer. Seria uma obtusidade. Ainda mais não tendo tempo, nem número suficiente.
Não. Muito provavelmente, os padres diriam “obrigado” por trazermos pessoas até o berço da Tradição, para que eles comecem nelas o trabalho de lapidação. Agradecendo com o coração cheio de orgulho paternal aos filhos que levam à sua frente o estandarte da Santa Casa de Deus à qual pertencem. Ou, no máximo, ficariam em silêncio — para não nos atrapalhar a atrair pessoas para a Doutrina da Igreja e a prática da vida cristã. Sim, não é de se crer que se colocariam contra quem está ajudando no acesso ao Tesouro da Tradição. Não é de se crer.
“Se você fizer alguma coisa, a chance de ser um erro ou um acerto é de 50% cada. Mas, se você não fizer nada, é 100% certo que não dará certo.”