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Salus in Caritate

Cultura Católica




Eu conheci a virtude da Modéstia há 10 anos. Me lembro que quando escutei e li textos sobre esta virtude fiquei muito feliz, por ser a resposta à uma questão que tinha em mente: "como fica o corpo no caminho espiritual?" Saber que o Senhor nos concede um "virtus" (uma força) para educar, guardar e preservar o corpo, foi a resposta para uma pergunta feita durante três anos, estava esperando a resposta pacientemente e um tanto inertemente. 
Eu sempre fui católica, nascida e criada, mas precisei estudar para entender esta virtude. Estudar e viver, estudar e viver. Revi também todo o Catecismo. A Total Consagração e a Modéstia me tiraram da inércia. 

Não existiam muitos apostolados de internet sobre o assunto, a maioria dos que existiam e entraram pelo mesmo caminho que eu, não existem mais. Mas acredito que isso fora oportuno no meu refinamento, muitas vozes ditas ao mesmo tempo costumam confundir a mente e torná-la preguiçosa no estudo, enfraquecendo a vontade. Então, ao ter que me dedicar sem o apoio de padres, um grupo de iguais ou influências da internet acabei criando alguma fibra interior que, acredito, não seria possível em outra situação. Mas, confesso, um padre encorajador da virtude, abertamente, faz falta e ocupa um lugar que fica vazio na alma durante todo o caminho. 


Deus e eu

O meu primeiro refinamento, logo depois de conhecer a virtude e ainda estudando- a, foi olhar o meu guarda roupa e tirar o que não era compatível. No entanto, veja bem como é a Providência, eu não usava roupas curtas, nem transparência, nem decotes, nem roupas apertadas, enfim, sem um olhar atento eu não conseguiria fazer nenhuma abnegação. Então, restava uma coisa, as calças. Eu nunca tive muitas roupas, então tinha poucas calças, não eram apertadas. Portanto, resolvi que esta seria a minha abnegação. Foi estranho notar que eu fiquei com blusas (eu usava muitas camisas femininas com botões antigos) uma saia (que não era tão boa assim, era uma preta rente ao joelho, poderia ser mais longa, mas era o que tinha). 

Passou algumas semanas e eu encontrei uma loja, eu acho que ela estava fechando ou algo assim, encontrei saias com valores muito baixos e consegui comprar quatro ou cinco, com valor de duas, ou algo assim. Usei estas mesmas saias por três ou quatro anos. Eram boas e longas. Foi a primeira vez que comprei alguma coisa com uma intenção forte no que e em Quem eu acredito. 

No meu primeiro refinamento aprendi um pouco sobre abnegação, a virtude da pobreza, sobre a Providência. Foi também o começo da mudança de comportamento de gestos e tom de voz. 

Meu segundo refinamento aconteceu quatro ou cinco anos depois. Dois anos antes eu já tinha começado a usar o véu. O que me permitiu mais um tanto de refinamento da minha fibra interior, isso me ajudou muito na criação de um ambiente interno independente do exterior (que nem sempre é tranquilo). Neste refinamento, me lembro que foi a primeira vez que pensei na minha personalidade. Eu já tinha notado que muitas coisas que eu tinha não tinham nada comigo, muitas eram ganhadas... eu nunca fui de comprar roupas. Já tinha doado essas peças, mesmo sendo boas, por este motivo. Mas não tinha pensado muito em mim, acho que isso foi muito bom, porque me fez notar como a abnegação nos faz pensar na virtude (agradar a Deus) antes de nós mesmos. Neste segundo refinamento foi a primeira vez que comprei coisas em brechó e consegui ter peças que expressam quem eu sou além do que eu acredito, sem sair da virtude. Foi um refinamento muito tranquilo, baseado somente no que eu já sabia de mim mesma: não gosto de babados, não gosto de muitos detalhes, não gosto de estampa, não gosto de coisas rodadas, não gosto de muitos acessórios, eu gosto de coisas simples, clássicas com uma delicadeza sutil. Tenho estas peças até hoje, algumas passaram pela costureira, mas são boas porque atendem à virtude e depois à minha personalidade. 

Neste refinamento eu aprendi que a virtude vem antes de mim e da minha personalidade. E ao mesmo tempo ela me dá clareza do que eu gosto ou não, independente da minha vocação. Isso também poupa dinheiro e tempo. Neste refinamento eu já estava com a fala e os gestos bem moderados, com alguns retornos esporádicos à minha natureza colérica, mesmo sendo ela uma aliada muito boa quando se tem um objetivo a ser alcançado. 

Meu terceiro refinamento foi exclusivamente interior. É muito interessante como a virtude trabalha o exterior no interior, o interior no exterior. Durante todo este processo, que não acabou, encontrei a expressão "elegância espiritual" usada pelo Monsenhor Idelfonso Villar. Entendi, numa expressão, o caminho que entrei com a Santíssima Virgem. Elegância é a arte de eleger, escolher. A Modéstia me ensina a escolher, usar meu livre arbítrio com uma intenção espiritual, para o meu crescimento espiritual. E no meu caso, colocar em prática a resposta que recebi: desde já cultivar a alma e o corpo numa conduta santa. A alma e o corpo caminhando juntos num caminho espiritual que se plasma no temporal, de certa forma, transfigurando a matéria. Eu me esqueci disso, por algum tempo e reaprendi (ou aprendi, de fato) no meu terceiro refinamento. 

Existem outras coisas que não consigo escrever, no entanto, espero que estas palavras sejam oportunas na sua disposição para o seu refinamento. 

Singelamente, Ana

 


Aparentemente, o ano começou. Os dias se tornaram mais frescos, como uma antecipação do outono. 

O outono é a estação das folhas secas e do vento. Uma estação de recolhimento para uma mudança interna, numa disposição para deixar o vento levar o que já não parece vívido. As árvores ficam lindamente alaranjadas ou sem folhas, as folhas antes verdejantes tornam-se adubo para um novo ciclo, de maior recolhimento. 

Mas ainda é verão. Embora já se possa sentir, pelos acordes que o Senhor rege a criação, as notas de uma nova sinfonia, mais aconchegante, lenta e intimista. 

Quando nos educamos para respeitar e honrar o tempo, passamos a acolher os tempos dos ciclos naturais com sentido católico. 

Segundo o ensinamento das Quatro Têmporas, a estação do verão nos impulsiona a contemplar a força do calor e a regrar em nós o arrebatamento e a falsidade, como se a própria estação se empenhasse conosco a vencer os arrebatamentos que o calor gera através da vivência da virtude da modéstia; acostumando-nos com a luz vibrante do sol, que como a Verdade não admite falsidade. Já o outono, com seu despojamento manifesto nas árvores, nos ensina a acalmar em nós a melancolia, a tristeza e a cobiça. 

O Senhor nos direciona por vários meios. Como um maestro coordena o Universo, no entanto, tem na mão, não uma vara de madeira, mas uma vara de ferro. 

"Tu as quebrarás com vara de ferro" (Salmo 2, 9).

A vara de ferro significa um governo severo. Sempre quando leio os salmos, me impressiono com o que fizeram com o Reinado do Messias. 

Severo significa exigente. 

Num mundo tão instantâneo quanto o nosso, tão ansioso, tão profundamente superficial, é difícil, para alguns, conciliar à Santa Bondade uma Santa Exigência. 

No entanto, este é um atributo do Reinado Messiânico. Uma característica do Príncipe Messiânico. O triunfo do Reino do Messias é justamente estabelecido quando os príncipes da terra que se uniram contra Deus e seu Messias, prestam-lhe vassalagem, com temor e tremor. 

O triunfo do Reinado do Senhor Jesus se manifesta quando se estabelece a Santa Ordem: tudo o que é inferior deve se submeter ao que é superior. 

Isso significa que o Reinado do Messias se fará sobre todo povo e nação. Significa também que estas serão sujeitadas a Ele. 

Tristemente não é essa a catequese que recebemos nas homilias, todos estão preocupados com a opinião dos outros e não com a opinião do Messias que pagou um alto preço e agora vê seus filhos e ministros ordenados se alistarem contra Ele, atentando contra o Seu Poder e Direito de Reinar. 

No entanto, não devemos deixar que essas atitudes, feitas por aqueles que deviam nos proteger, tirem a nossa esperança no Senhor e no Plano para a Sua Igreja, pois "o que habita os céus ri, o Senhor se diverte às Suas custas... confundi-os com o Seu furor" (Salmo 2, 5)

Proteja-se na Verdade do Senhor, no ensinamento puro da Santa Igreja e da Santa Tradição e deixe que os que escolheram solenemente a confusão nela recebam mais confusão.


"Felizes aqueles que n'Ele se abrigam." (Salmo 2, 12)

Quantas pessoas realmente esperam o Senhor? 

Você espera o Senhor?

Tenho pensado muito sobre isso. Os judeus, antes da vinda do Messias, esperavam o Messias. Os judeus que se converteram também esperaram o Messias. Por gerações, trabalharam, foram à sinagoga e esperaram o Messias. Hoje ainda muitos judeus o esperam. Ao menos, eles esperam. 

Não sei se posso dizer com veemência e sinceridade que os cristãos, os católicos, principalmente, esperam o Senhor. Quase não se escuta nenhuma ensino sobre a vinda do Messias. Estamos na Quaresma e quase não escutamos o motivo pelo qual entramos em oração e jejum. O motivo é: o noivo voltará. 

É triste constatar que ninguém parece esperar o Senhor. Os padres fogem de falar sobre a vinda do Senhor, por um único motivo: terão que falar sobre o Juízo. E é claro, isso fere a suscetibilidade das pessoas, então não pode. 

Penso constantemente na frase do Senhor: "quando eu voltar encontrarei fé sobre a terra?" (Lucas 18,8). Que triste, não é? Ele já sabia e por isso ficou tão triste. 

Eu não sei muito bem se podemos ajudar o clero, me parece que eles cavam diariamente a própria cova, se afundando em calar sobre realidade gritante ou em falar doutrinas estranhas. Não sei também se podemos mudar a sociedade, sem catequese ministrada de forma pura é difícil existir uma mudança social. Mas uma coisa me parece sensata: esperar que o Senhor venha. 

É comum escutar que o Senhor já veio, não é tão comum escutar que Ele virá de novo. Existe uma completa descrença na vinda do Senhor entre os que dizem crer, é algo tratado como um mito, como a existência de um pote de ouro no fim do arco íris. 

Que alegria seria se um número maior de pessoas pudesse levantar a cabeça e sorrir ao escutar que o Senhor vêm, Ele realmente vêm. E ter, finalmente, esperança. 


 








São Tomás afirma que para se dizer virtuoso é preciso cultivar todas as virtudes. Quanto espanto não causaria o doutor angélico nos dias de hoje, diante do esforço profundo e sistemático em transformar todas as vivências cristãs numa réplica das vivências mundanas. Quantos não dizem, para se manter no conforto daquele que não busca lapidar-se e se deixar lapidar, que tal coisa é coisa de "gente elevada", uma falsa humildade que só incentiva os outros a acolher com amor e carinho uma mediocridade incompatível com o cristianismo. 

A modéstia não é uma virtude difícil. São Tomás coloca-a como virtude anexa. As virtudes anexas são as mais fáceis de viver, pois se referem a um território do comportamento, a uma área da vida. Uma área. Se trata da ordenação de uma área, dentre todas que devem passar por ordenação. Mas como estamos imbuídos por uma mentalidade de conveniência e de um treinamento moral que nos faz gastar forças com tudo (faculdade, carro, status, ser bem visto e bem quisto) menos com a virtude, passamos a achar a virtude difícil, sendo que é a única coisa que importa. Esforços canalizados no objeto errado, um objeto terreno e perecível. 

Virtude vem da palavra virtus, que significa força. Ser forte é ser virtuoso. O Catecismo ensina, mesmo que ninguém obedeça, que a virtude é empregar todas as forças sensíveis e espirituais na obtenção de um bem. Todas as forças. Isso significa que, como já dito, o discurso raso é realmente anti cristão. Pena que tantos católicos o fazem com sorriso nos lábios, ensinando como sendo virtuoso o ser preguiçoso diante da própria auto educação e salvação.

O interessante é que, de modo geral, são os mesmo que querem defender a Igreja e lutar contra todos os inimigos do catolicismo, no entanto, se recusam ao treinamento virtuoso que começa nas virtudes mais fáceis, dentre elas a Virtude da Modéstia. Para tal se deturpa a Beleza, o Amor, a Caridade, o Tomismo.

Uma desordem interior que se manifesta de diversas formas. No entanto, ainda existe a grande esperança do Senhor curar a cultura de exposição brasileira. Esta cultura que atinge até mesmo os bons, até mesmo os consagrados. Mentalidade acolhida pelos brasileiros depois de anualmente e repetidamente ver corpos expostos com glitter, numa competição que será coroada com notas; padres cantando com mulheres semi nuas daçando logo atrás e jogos televisivos com pessoas também peladas. Não é de se admirar que esta virtude seja tão altamente rejeitada. Afinal, diante de tais referências, vestir uma roupa qualquer é tornar-se automaticamente beato. 

Nós temos como referência os piores comportamentos. E diante dos piores comportamentos é fácil se achar bom: "ao menos eu não mato ninguém" (a referência é o comportamento de um assassino); "ao menos eu não roubo ninguém" (a referência é o comportamento de um ladrão); "ao menos eu não ando com um shortinho  e top" (a referência é aquela que fez más escolhas); "ao menos eu não ando seminua rebolando por aí" (a referência é a fankeira). Interessantemente, todas estas frases fazem a pessoa se sentir bem, afinal, comparado com os piores comportamentos ela é boa. 

Acontece que não é esta a didática da Igreja, do Evangelho e dos Santos. Não é esta a didática católica. A Igreja nos presenteia com a divulgação da vida dos santos, para nos ensinar, pelo comportamento dos melhores, a sermos bons. Diante do comportamento de qualquer Santo nós sempre temos algo para melhorar e aperfeiçoar, não somos tão bons assim. E como eles são humanos como nós, são a prova de como Deus pode aperfeiçoar a nossa humanidade, treinando-nos num comportamento virtuoso e numa conduta santa. 

Quando alguém diz que tal virtude é para os elevados ou vulgariza uma virtude, tomando como ponto de referência a sua própria fraqueza, ofende a ação da Graça grandemente, proclama a Sua descrença na ação do Senhor na nossa humanidade, dúvida do Senhor que disse "sereis santos como eu sou santo", chama-O de mentiroso. 

Ele que sustenta o Universo não poderia fazer de nós, um conjunto de carbono, algo belo, virtuoso e ordenado? Sendo que é isso que Ele quer?

Sim, Ele pode. E pagou um alto preço para isso.

Pare de ofender o Senhor.












Modéstia por São Tomás de Aquino



Tratado Sobre a Temperança

Suma Teológica, II-II, qq. 160 e 168-170


Questão 160

Art. 1 – Se a modéstia faz parte da temperança.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a modéstia não faz parte da temperança.

1. – Pois, modéstia vem de modo. Ora, toda virtude tem o seu modo, por se ordenar ao bem; e o bem, segundo Agostinho, implica o modo, a espécie e a ordem. Logo, a modéstia é uma virtude geral. E portanto, não deve ser considerada parte da temperança.

2. Demais. – O mérito da temperança parece consistir sobretudo uma certa moderação. Pois, daí é derivado o nome de modéstia. Logo, a modéstia é o mesmo que a temperança e não, parte dela.

3. Demais. – Parece versar, a modéstia sobre a correção do próximo, segunda o Apóstolo: Não convém que o servo de Deus se ponha a altercar; mas que seja manso para com todos capaz de corrigir com modéstia aos que resistem à verdade. Ora, corrigir os delinquentes é ato de justiça ou de caridade, como se estabeleceu. Logo, parece que a modéstia faz parte, antes, da justiça que da temperança.

Mas, em contrário, Túlio considera a modéstia como parte da temperança.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, a temperança introduz a moderação em matéria em que é dificílimo nos moderarmos, a saber, nas concupiscências dos prazeres do tacto. Ora, sempre que uma determinada virtude versa especialmente sobre um máximo, há de por força haver outra reguladora do que é medíocre; pois, é necessário a vida do homem ser, em todos os seus aspectos, regulada pela virtude. Assim, como dissemos, a magnificência regula os grandes dispêndios de dinheiro; mas, ao lado dela, a liberalidade é necessária para regular as dispêndios medíocres. Por onde e forçosamente, há de haver uma virtude moderadora de matéria em que não nos é demasiado difícil nos moderarmos. E esta virtude se chama a modéstia e esta anexa à temperança como à principal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Os nomes gerais às vezes se apropriam do que é ínfimo; assim, o nome geral de anjo, à ínfima ordem dos anjos. Assim também o modo, geralmente observado em cada virtude, se apropria a uma virtude especial, que o introduz no que é mínimo.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Certas coisas precisam ser temperadas por serem demasiado fortes, como, por exemplo, o vinho; mas, tudo exige moderação. Por onde, a temperança regula, antes, as paixões veementes, ao passo que a modéstia, as medíocres.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A modéstia, no lugar aduzido, é tomada em sentido geral, no sentido em que todas as virtudes a exigem.


Art. 2 – Se o objeto da modéstia são só os atos externos.



O segundo discute–se assim. – Parece que o objeto da modéstia são só os atos externos.

1. – Pois, os movimentos internos das paixões não podem ser conhecidos dos outros. Ora, o Apóstolo manda, que a nossa modéstia seja conhecida de todos os homens. Logo, a modéstia tem por objeto só os atos exteriores.

2. Demais. – As virtudes, cujo objeto, são as paixões, distinguem–se da justiça, cuja matéria são os atos. Ora, parece que a modéstia é uma só virtude. Logo, se versa sobre os atos externos, não tem por objeto nenhuma paixão interna.

3. Demais. – Uma mesma virtude não pode ter por objeto o que respeita o apetite, regulado pelas virtudes morais; nem o que respeita o conhecimento, regulado pelas virtudes intelectuais; nem o que respeita o irascível e o concupiscível. Se, pois, a modéstia é uma mesma virtude, não pode ter por objeto tudo o que acaba de ser enumerado.

Mas, em contrário. – Em todos os casos referidos, é mister observar o modo, donde deriva a palavra modéstia. Logo, ela se aplica em todos os casos referidos.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a modéstia difere da temperança em ser esta moderadora do que dificilmente refreamos, e aquela, do que nos é fácil dominar. Ora, certos consideraram a modéstia diversamente. Pois, excluem–na em todos os casos em que descobrem uma razão especial no moderar um bem ou uma dificuldade, aplicando a modéstia só a situações fáceis de serem moderadas. Ora, como é manifesto a todos, implica uma dificuldade especial a moderação dos prazeres do tacto. Por isso, todos distinguem a temperança, da modéstia. Mas, além disso, Túlio notou haver um bem especial na moderação das penas. Por onde, também separou a clemência, da modéstia, deixando a esta a moderação só em casos gerais.

Ora, estes são quatro – Um consistente no movimento da alma em busca de alguma excelência, moderado pela humildade. – O segundo é o desejo em matéria de conhecimento, moderado pela estudiosidade, oposta à curiosidade. ­ O terceiro respeita os movimentos e os atos corpóreos, que devemos fazer conveniente e honestamente, tanto quando procedemos seriamente, que quando nos divertimos. – O quarto concerne à nossa apresentação externa, por exemplo, no vestuário e em cousas semelhantes.

Mas, outros dizem serem certas virtudes especiais as que concernem a alguns desses atos. Assim, Andronico fala na mansidão, na simplicidade, na humildade e noutras semelhantes, de que já tratamos. Aristóteles, por seu lado, considera como o objeto da eutrapélia regular o prazer dos divertimentos. Mas, todas essas virtudes estão contidas na modéstia, no sentido em que Túlio a considera. Por onde, a modéstia concerne não só aos atos externos, mas também aos internos:

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Apóstolo fala de modéstia com relação às coisas exteriores. Mas também a moderação das atitudes interiores pode manifestar–se por certos sinais exteriores.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A modéstia abrange as diversas virtudes correspondentes às diversas concepções dos autores. Por onde, nada impede versar ela sobre as coisas, que essas diversas virtudes exigem. – E contudo não há tão grande diversidade entre as partes da modéstia, umas para com as outras, como há entre a justiça, que versa sobre os atos, e a temperança, cuja matéria são as paixões. Pois, as ações e as paixões, que não implicam nenhuma dificuldade especial, quanto à matéria delas, mas só quanto à moderação das mesmas, essas não são o fundamento senão de uma virtude, baseada na ideia da moderação.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO.






Questão 168

Art. 1 – Se nos movimentos exteriores do corpo pode haver virtude.



O primeiro discute–se assim. – Parece que nos movimentos exteriores do corpo não pode haver nenhuma virtude.

1. – Pois, toda virtude contribui para o ornato espiritual da alma, segundo aquilo da Escritura: Toda a glória da que é filha do rei é de dentro; ao que diz a Glosa: isto é, na consciência. Ora, os movimentos corporais não vêm de dentro, mas, de fora. Logo, tais movimentos não são susceptíveis de virtude.

2. Demais. – As virtudes nós não as temos por natureza, como ensina o Filósofo. Ora, os movimentos corporais externos os homens os têm da natureza, pois, certos têm o movimento mais veloz e outros, mais tardo; e o mesmo se dá com as outras diferenças dos movimentos exteriores. Logo, esses movimentos não são susceptíveis de nenhuma virtude.

3. Demais. – Todas as virtudes morais supõem atos relativos a terceiros, coma a justiça; ou regulam paixões, como a temperança e a coragem. Ora, os movimentos exteriores do corpo não se referem a outrem, nem são paixões. Logo, não são susceptíveis de virtude.

4. Demais. – Toda prática de obras virtuosas exige esforço, como se disse. Ora, é repreensível empregar esforço na disposição dos movimentos exteriores. Assim, diz Ambrósio: É digno de aprovação o andar em que haja a dignidade da autoridade, a ponderação da gravidade, o vestígio da serenidade, como também, se não houver esforço e afetação, mas for puro e simples o movimento. Logo, a virtude não versa sobre a composição dos movimentos exteriores.

Mas, em contrário, o decoro da honestidade pertence à virtude. Ora, a contemplação dos movimentos exteriores pertence ao decoro da honestidade, como diz Ambrósio: Como não aprovo o tom da voz nem o gesto do corpo efeminados ou afetados, assim também não, o agreste ou rústico. Imitemos a natureza, ela reflete uma fórmula de disciplina e uma forma de honestidade. Logo, a virtude versa sobre a composição dos movimentos exteriores.

SOLUÇÃO. – A virtude moral tem por fim pôr ordem racional nos atos humanos. Ora, é manifesto, que os movimentos exteriores do homem são ordenáveis pela razão; pois, os membros exteriores se movem pelo império da razão. Por onde, é manifesto, que à virtude moral compete ordenar esses movimentos.

Ora, a ordenação desses movimentos tem duplo fundamento: um, a conveniência da pessoa; outro, a conveniência com as demais pessoas, a matéria ou os lugares. Por isso, diz Ambrósio: Viver uma vida honesta é tratar cada um conforme o exige o sexo e a pessoa. E isto respeita ao primeiro fundamento. Quanto ao segundo, ele acrescenta: Esta é a melhor ordem dos atos, este o decoro acomodado de todas as ações.

Por isso, Andronico descobre duas qualidades nesses movimentos exteriores. Um, o decoro, que respeita à conveniência da pessoa; e por isso diz ser ele a ciência do que convém ao movimento e ao hábito. E a boa ordenação, que respeita a conveniência com os diversos materiais e com as suas circunstâncias; e por isso diz, que é a experiência da separação, isto é, da distinção das ações,

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Os movimentos exteriores são um sinais da disposição interior, conforme àquilo da Escritura: O vestido do corpo e o riso dos dentes e o andar do homem dão a conhecer qual ele é. E Ambrósio diz, que o hábito do espírito se manifesta no aspecto do corpo; e que o movimento do corpo é uma como voz da alma.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Embora por natural disposição o homem tenha a aptidão para dar tal ou tal outra direção dos movimentos exteriores, contudo, o que falta à natureza pode ser suprido pela indústria da razão. Donde o dizer Ambrósio: A natureza informa o movimento; se há realmente um vício em a natureza, emende–o a indústria (o empenho da razão).

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como dissemos os movimentos exteriores são uns como sinais da disposição interior, fundada sobretudo nas paixões da alma. Por onde, a moderação dos movimentos exteriores exige a das paixões internas. Por isso Ambrósio diz: Por aí, isto é, pelos movimentos exteriores, é que julgamos se um homem é, no seu íntimo leviano arrogante ou orgulhoso; ou, se ao contrário, é grave, constante, cheio de pureza ou da maturidade. E também, pelos movimentos exteriores é que os outros homens formam um juízo de nós, seguindo a Escritura: Pela vista se conhece uma pessoa e pelo ar do rosto se discerne o homem sensato. Por onde, a moderação dos movimentos exteriores de certo modo se ordena para os outros, segundo o ensina Agostinho: Nada façais, com os vossos movimentos, que ofenda a vista de quem quer que seja, mas só o que convenha a vossa santidade. Por onde, a moderação dos movimentos exteriores pode reduzir–se às duas virtudes, a que se refere o Filósofo. Enquanto, pois, pelos movimentos exteriores nos ordenamos aos outros, a moderação desses movimentos é operada pela amizade ou pela afabilidade, cujo objeto são os prazeres e as tristezas, consistentes em palavras e em fatos, em ordem aos outros com os quais convivemos. Enquanto porém os movimentos exteriores são sinais da disposição interior, a moderação deles pertence à virtude da verdade, pela qual nos manifestamos, pela nossas palavras e atos, tais quais interiormente somos.

RESPOSTA À QUARTA. – Na composição dos movimentos externos, o esforço é censurável pelo qual fingimos, nos nossos movimentos exteriores, o que não convém à disposição interior. Devemos porém empregar um esforço tal, de modo a corrigir o que porventura tenham de desordenado. Donde o dizer Ambrósio: Falta a arte, não falta a correção.












Art. 2 – Se pode haver uma virtude reguladora dos divertimentos.



O segundo discute–se assim. – Parece que não pode haver nenhuma virtude reguladora dos divertimentos.

1. – Pois, afirma Ambrósio, que o Senhor diz: Ai de vós, os que rides, porque chorareis. Por onde, sou de opinião, que devemos evitar não só os divertimentos dissipados, mas todos. Ora, não devemos totalmente evitar o que podemos fazer virtuosamente. Logo não pode haver virtude reguladora dos divertimentos.

2. Demais. – A virtude é o meio pelo qual Deus age sobre nós sem nós, como se disse. Ora, Crisóstomo diz: Não é Deus a causa dos divertimentos, mas, o diabo. Ouve o que às vezes aconteceu com os que se divertem: O povo se assentou a comer e beber e depois se levantaram a divertir–se. Logo, não pode haver uma virtude reguladora dos divertimentos.

3. Demais. – O Filósofo diz, que as diversões não visam nenhum fim útil. Ora, a virtude exige que quem escolhe o faça para algum fim, como está claro no Filósofo. Logo, não há nenhuma virtude reguladora dos divertimentos.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Concedo, pois, que a ti mesmo te poupes; porque convém às vezes o sábio afrouxar a contenção, que põe na prática dos seus atos. Ora, essa remissão da alma, na prática dos seus atos, dá–se pelas palavras e obras diversivas. E o Filósofo também faz dos divertimentos a matéria da virtude da eutrapélia, a qual nós podemos chamar a amabilidade.

SOLUÇÃO. – Assim como precisamos de repouso corporal para fortalecer o corpo, porque não pode trabalhar continuamente, por ter uma virtude finita, proporcionada a determinados trabalhos, assim a alma, cuja virtude também é finita e proporcionada a determinadas operações. Por isso, quando se aplica a certas operações de modo excessivo, consome–se e fatiga–se; sobretudo porque também o corpo se consome simultaneamente com a atividade da alma; pois, a alma intelectiva se serve de forças, que operam por meio de órgãos corpóreos. Ora, os bens sensíveis são conaturais ao homem. Por onde o elevar–se a alma sobre o sensível, entregue à atividade racional é causa de uma certa fatiga psíquica, quer nos apliquemos à atividade da razão prática, quer à da especulativa; mas, sobretudo, se nos entregarmos à atividade contemplativa, pela qual mais nos elevamos acima do sensível; embora talvez em certos atos exteriores da razão prática seja maior o trabalho do corpo. Em ambos os casos, porém, tanto mais se nos fatiga a alma, quanto mais veementemente nos damos à atividade racional. Ora, assim como a fatiga corpórea desaparece pelo repouso do corpo; assim também o cansaço da alma, pelo descanso dela. Mas, o descanso da alma é o prazer, como estabelecemos, quando tratamos das paixões. Por onde, é necessário buscar o remédio à fatiga da alma nalgum prazer, afrouxando o esforço com que nos entregamos à atividade racional. Assim, nas Conferências dos Padres se conta de S. João Evangelista que, tendo alguém se escandalizado pelo ver brincando com os discípulos, mandou um deles buscar um arco para disparar uma seta, O que, como o tivesse feito repetidamente, perguntou­-lhe se podia continuá–la sem parar. Respondeu-­lhe, que se assim procedesse continuadamente, o arco haveria de quebrar–se. Donde concluiu S. João, que do mesmo modo, quebrar–se–ia a alma do homem, se nunca relaxasse a contenção do seu agir. Ora, as palavras ou obras, com as quais só buscamos a diversão da alma, chamam–se lúdicas ou jocosas. Por onde, é necessário usar delas, às vezes, como de um repouso para a alma. E é o que diz o Filósofo, quando ensina, que na conversação desta vida, gozamos de um certo repouso com os divertimentos. Por onde, é necessário recorrer a eles de tempos a tempos.

Mas devemos tomar, nessa matéria, tríplice cautela. – Primeiro e principalmente, não devemos nos com prazer em quaisquer atos ou palavras torpes ou nocivas. Por isso, diz Túlio, que há uma espécie de divertimento indecorosa, impudente, flagiciosa, obscena. – A segunda cautela a tomar é que a gravidade da alma não desapareça de todo. Por isso, diz Ambrósio: Acautelemo–nos, ao querer dar descanso à alma, para não destruirmos totalmente a harmonia, que é um como concento das boas obras. E Túlio acrescenta que assim como não permitimos às crianças, toda espécie de divertimentos senão só os que se coadunam com a honestidade, assim também sejam, nas próprias diversões iluminadas pelo facho da probidade. – E em terceiro lugar, devemos atender a que, como em todos os demais atos humanos, convenham os divertimentos à pessoa, ao tempo e ao lugar e se ordenem segundo as demais circunstâncias devidas: isto é, sejam dignos do tempo e do homem, como ensina Túlio no mesmo passo.

Ora, os divertimentos se ordenam pela regra da razão. Mas, o hábito, que opera conforme a razão é a virtude moral. Portanto, pode haver uma virtude reguladora dos divertimentos, a que o Filósofo chama eutrapélia. E a expressão – boa conversão – é a que nos faz chamar eutrapélico a quem converte acertadamente as palavras ou obras em repouso. E essa virtude, enquanto nos refreia a imoderação nos divertimentos, está contida na modéstia.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA 0BJEÇÃO. – Como dissemos, os divertimentos devem convir à matéria e as pessoas. Por isso, Túlio diz, que quando os ouvintes estão cansados, não é inútil tomar o orador um assunto novo ou risível, contanto que a dignidade da matéria tratada não exclua a possibilidade da distração. Ora, a doutrina sagrada versa sobre matéria da máxima importância, conforme a Escritura: Ouvi, porque vos tenho de falar acerca de grandes coisas. Por isso, Ambrósio não exclui universalmente o divertimento, da conversação; mas, da doutrina sagrada. Pelo que, disse antes: Embora às vezes os divertimentos sejam honestos e deleitáveis, contudo não se coadunam com a regra de vida eclesiástica; pois, o que não encontramos nas Sagradas Escrituras, como podemos admiti–lo?

RESPOSTA À SEGUNDA. – As palavras de Crisóstomo devem entender–se daqueles, que se entregam desordenadamente aos divertimentos; e sobretudo dos que põem o seu fim nos prazeres, como os de quem diz a Escritura: Julgaram, que a nossa vida era um divertimento contra o que diz Túlio: Não fomos gerados pela natureza, para nos considerarmos feitos para os divertimentos e para o jogo; mas, antes, para a severidade de vida e para certos estudos mais graves e maiores.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O ato mesmo de nos divertirmos não se ordena especificamente para nenhum fim. Mas, o prazer, que sentimos nos atos de diversão, ordenam–se a uma certa recreação e ao descanso da alma. E, neste sentido, se procedermos moderadamente, podemos buscar o divertimento. Donde o dizer Túlio: Por certo podemos nos dar ao divertimento e ao jogo; mas, como ao sono e aos demais descansos, só quando tivermos satisfeito às coisas graves e sérias.


Art. 3 – Se pode haver pecado nos divertimentos excessivos.



O terceiro discute–se assim. – Parece que não pode haver pecado nos divertimentos excessivos.

1. – Pois, o que escusa do pecado parece não ser pecado. Ora, o divertimento às vezes escusa do pecado; pois, muitos atos que praticados seriamente seriam pecados graves, feitos como divertimento, não são pecados ou só levemente o são. Logo, parece que no excessivo divertimento não há pecado.

2. Demais. – Todos os demais vícios se reduzem aos sete capitais, como diz Gregório. Ora, o excesso nos divertimentos não parece reduzir­se a nenhum dos vícios capitais. Logo, parece não haver nele pecado.

3. Demais. – Sobretudo os histriões é que se consideram como os que entregam ao excessivo divertimento, pois, ordenam toda a vida às diversões. Se, pois, o excesso nos divertimentos fosse pecado, então todos os histriões viveriam em estado de pecado. E também pecariam todos os que lhes empregam o ministério, ou os que lhes fazem liberalidades, como fautores do pecado. Ora, tal é falso. Pois, como se lê nas Vidas dos Padres, a S. Pafúncio foi revelado, que um hístríão haveria de ser o seu conserte, na vida futura.

Mas, em contrário, àquilo da Escritura – O riso está misturado com a dor e aos fins do gozo sucede a tristeza – diz a Glosa: o choro perpétuo. Ora, no excessivo divertimento ha risos desordenados e desordenada alegria. Logo, ha nele pecado mortal, o só digno do pranto perpétuo.

SOLUÇÃO. – Em toda matéria susceptível de ser dirigida pela razão, excessivo se chama o que lhe ultrapassa a regras, e mesquinha o que fica aquém da regra racional. Ora, como dissemos, as palavras ou ato lúdicros ou jocosos são dirigíveis pela razão. Por onde, divertimento excessivo é o que ultrapassa a regra racional. O que de dois modos pode dar–se. – Primeiro, pela espécie mesma dos atos diversivos; e esse gênero de divertimento se chama, segundo Túlio, indecoroso, impudente, flagicioso, obsceno; a saber, quando se empregam, como divertimentos, palavras ou atos torpes, ou redundam em prejuízo para o próximo, e que, em si mesmos, são pecados mortais. – De outro modo, pode haver excesso no divertimento, por falta das circunstâncias devidas; por exemplo, quando se buscam os divertimentos em tempos ou lugares impróprios, ou fora da conveniência da matéria ou da pessoa. E isto pode às vezes ser pecado mortal, por causa da veemência do afeto neles posto, e o prazer do qual se prefere ao amor de Deus, de modo que não se evita o gozo de tais prazeres contrários aos preceitos de Deus ou da Igreja. Outras vezes, porém, é pecado venial; por exemplo, quando não nos afeiçoamos aos divertimentos a ponto de querermos praticar atos contrários a Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Certos atos são pecado só pela intenção, isto é, por serem praticados em detrimento de outrem; e essa intenção exclui o divertimento, o qual buscamos com o fito no prazer e não no mal do próximo. Ora, em tais casos, o divertimento escusa do pecado ou o diminui. Outros atos, porém, são especificamente pecaminosos; tais, o homicídio, a fornicação e semelhantes. E esses não se escusam pelo divertimento; ao contrário, o divertimento deles oriundo torna–se flagicioso e obsceno.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O excesso nos divertimentos constitui a alegria fátua, que Gregório considera filha da gula. Donde o dito da Escritura: O povo se assentou a compor e beber, e depois se levantaram a brincar.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como dissemos, o divertimento é necessário para a conversação da vida humana. Ora, tudo o que é útil à conversação humana pode fazer o objeto de certas profissões lícitas. Por onde, também o ofício dos histriões, ordenado a distrair os homens, não é em si mesmo ilícito; nem vivem eles em estado de pecado, se provocam moderadamente ao divertimento, isto é, se não recorrem a nenhumas palavras ou ações ilícitas para divertir e se não suscitam diversões em matéria, ou tempos impróprios. E embora, na ordem das coisas humanas, não tenham nenhum outro ofício como o têm os outros homens, contudo, pelo que a eles mesmos respeita e a Deus, vivem reta e virtuosamente, por exemplo, quando oram, quando regulam racionalmente suas paixões e obras; e às vezes dão também esmolas aos pobres. Por isso, os que moderadamente os auxiliam não pecam, mas procedem com justiça, dando–lhes uma paga pelo ministério deles. Mas, quem dispender os seus bens superfluamente com eles, ou ainda sustentar os histriões que promovem divertimentos ilícitos, pecam, quase pelos provocarem ao pecado. Por isso, diz Agostinho, que por dos seus bens aos histriões é enorme vício. Salvo ao histrião posto em extrema necessidade, caso em que se lhe deve socorrer; pois, adverte Ambrósio: Dá de comer ao que morre de fome. Pois, quem puder salvar a vida a outrem, dando–lhe de comer, e não o fizer, mata–o.


Art. 4 – Se a abstenção total dos divertimentos constitui pecado.



O Quarto discute–se assim. – Parece que a abstenção total dos divertimentos não constitui pecado.

1. – Pois, nenhum pecado pode ser imposto como penitência. Ora, Agostinho diz, falando do penitente: Coíba–se dos divertimentos, dos espetáculos do século, quem quiser conseguir a graça perfeita da remissão. Logo, a abstenção total dos divertimentos não constituí nenhum pecado.

2. Demais. – Nenhum santo jamais recomendou o pecado. Ora, certos recomendaram a abstenção dos divertimentos. Assim, diz a Escritura: Não me assentei no congresso dos escarnecedores. E noutro lugar: Nunca me comuniquei com os que folgavam, nem tive comércio com os que se conduziam com leviandade. Logo, na abstenção total dos divertimentos não pode haver pecado.

3. Andronico define a austeridade, que enumera entre as virtudes, o hábito pelo qual não damos aos outros o prazer da nossa conversação, nem neles o recebemos. Ora, isto constitui a abstenção dos divertimentos. Logo, essa abstenção constitui, antes, uma virtude que um vício.

Mas, em contrário, o Filósofo considera viciosa a abstenção dos divertimentos.

SOLUÇÃO. – Tudo o que, na ordem humana, e contra a razão é vicioso. Ora, é contra a razão tornarmo–nos causa de penas para os outros, não lhes causando nenhum prazer e impedindo o prazer deles. Donde o dizer Séneca: Conduze–te sabiamente, de modo que ninguém te considere como áspero nem te condene como vil. Ora, os que se privam de todos os divertimentos sobre não dizerem palavra, que provoque o riso, são molestos aos que o fazem, por não consentirem nos divertimentos moderados dos outros. E por isso esses tais são viciosos – chamados duros e agrestes, pelo Filósofo.

Mas, sendo os divertimentos úteis pelo repouso e pelo prazer, que causam; e como o prazer e o repouso não os buscamos em nossa vida, por eles mesmos, mas, em vista da ação, como ensina Aristóteles, por isso, a abstenção dos divertimentos é menos viciosa, que o superexcesso deles. Donde o dizer o Filósofo, que, para o nosso prazer, bastam poucos amigos; pois, para vivermos bastam–nos, quase como condimento, poucos amigos, assim como pouco sal basta para a comida.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como se impõe aos penitentes, que chorem os seus pecados, assim, se lhes proíbem os divertimentos. Nem isto implica em abstenção total deles, pois, a razão mesma exige, que lhes sejam eles diminuídos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Jeremias, no lugar aduzido, se exprime conforme a congruência dos tempos, cuja situação exigia sobretudo o pranto. Por isso acrescenta: Eu estava sentado só, porquanto me encheste de amargura. – Quanto às palavras de Tobias, elas se referem aos divertimentos excessivos, como é claro pela sequência: Nem tive comércio com os que se conduziam com leviandade.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A austeridade, como virtude, não exclui todos os prazeres, senão só os supérfluos e os desordenados. Por onde, pertence à afabilidade, chamada pelo Filósofo amizade; ou à eutrapélia ou amabilidade. E contudo ele a nomeia e a define peja sua conveniência com a temperança, a que pertence regular o prazer.



Questão 169

Art. 1 – Se há algum vício ou alguma virtude em matéria de ornato exterior.



O primeiro discute–se assim. – Parece que não há nenhum vício nem nenhuma virtude em matéria de ornato exterior.

1. – Pois, o ornato exterior não o temos nós por natureza; por Isso, varia, conforme a diversidade dos tempos e dos lugares. Donde o dizer Agostinho: Entre os Romanos era crime trazer túnicas talares e de mangas largas; agora, porém crime é as pessoas bem nascidas não as trazerem. Ora, como diz o Filósofo, nós temos uma aptidão natural para a virtude. Logo, não há vício nem virtude em matéria de ornato exterior.

2. Demais. – Se sobre o hábito externo houvesse virtude e vício, necessariamente o excesso, nessa matéria, bem como o defeito seriam viciosos. Ora, o cuidado excessivo com o vestuário exterior não parece vicioso, pois, também os sacerdotes e os ministros do altar usam, no sagrado ministério, de vestes preciosíssimas. Semelhantemente, não parece vicioso o: defeito, porque em louvor de certos diz o Apóstolo: Eles andaram vagabundos, cobertos de veles de ovelhas e de peles de cabras. Logo, não parece que possa haver qualquer virtude ou vício nessa matéria.

3. Demais. – Toda virtude é teologal, moral ou intelectual. Ora, nessa matéria, não pode haver virtude intelectual, pois esta tem a sua perfeição no conhecimento da verdade; também não há aí nenhuma virtude teologal, que tem Deus por objeto; nem finalmente nenhuma das virtudes morais, a que se refere o Filósofo. Logo, parece que não pode haver nenhuma virtude nem nenhum vício em matéria de vestuário exterior.

Mas, em contrário. – A honestidade supõe a virtude. Ora, o vestuário externo comporta uma certa virtude. Pois, diz Ambrósio: Que o ornato do corpo não seja exagerado, mas natural; simples negligente de preferência a rebuscado; não se usem de vestes preciosas e alvejantes, mas, de roupas comuns, de modo a não faltar nada do que exige a honestidade ou a necessidade, sem se cair no exagero. Logo, pode haver virtude e vício em matéria de vestuário.

SOLUÇÃO – As coisas exteriores, em si mesmas, de que o homem usa não são matéria de nenhum vício, que só existe em quem as emprega imoderadamente. Ora, essa imoderação pode dar–se de dois modos, – Primeiro, relativamente ao costume daqueles com quem convivemos, E por isso diz Agostinho: Os delitos contra os costumes locais devemos evitá–los segundo a diversidade desses costumes; pois, o pacto social estabelecido numa cidade ou num povo, pelo uso ou pela lei, não poderia ser infringido pelo capricho de um cidadão ou de um estrangeiro. Há deformidade em toda parte, que esteja em desacordo com o todo. – De outro modo, pode haver imoderaçâo, no uso das referidas coisas, pelo afeto desordenado de quem usa delas; donde vem que às vezes usamos dos ornatos exteriores com sensualidade, quer estejamos de acordo, quer em desacordo com os costumes daqueles com quem convivemos. E por isso diz Agostinho: Não devemos usar de nada com paixão; pois, esta, não somente abusa com nequícia do costume daqueles com quem vivemos, mas ainda, transgredindo–lhes muitas vezes os limites, manifesta com flagiciosa erupção, a sua torpeza, que se ocultava nos hábitos graves do claustro.

Ora, esse afeto desordenado pode pecar, por excesso de três modos. – Primeiro, se buscamos a glória humana, pelo cuidado excessivo com o nosso vestuário; isto é, quando as nossas vestes e cousas semelhantes são acompanhadas de ornatos. Donde o dizer Gregório: Há certos que não julgam pecado a preocupação em trazer vestes tinas e preciosas. Ora, se isso não fosse pecado, certamente a palavra de Deus não teria tão veementemente dito, que o rico atormentado no inferno, estivera vestido de linho fino e de púrpura. Pois, ninguém se veste de roupagens preciosas, isto é; que lhe excedem o estado próprio, senão em vista da vanglória. – De outro modo, se nos preocupamos excessivamente com o nosso vestuário, em vista do prazer; pois, as roupas se ordenam ao culto do corpo. – Terceiro, se nos preocupamos excessivamente com a roupagem externa, mesmo se não há nenhum fim desordenado.

E, por isso, Andronico faz do hábito externo o objeto de três virtudes. – Uma, a humildade, exclusiva da intenção da glória. E assim, diz que a humildade é o hábito não excessivo, em matéria de gastos e de aprestos. – E a honesta suficiência, exclusiva da intenção do prazer. E ensina, que a honesta suficiência é o hábito, que se contenta com o necessário; e ela determina o conveniente à vida, segundo aquilo do Apóstolo: Tendo com o que nos sustentar­ e com o que nos cobrirmos, contentemo–nos com isto. – E a simplicidade, exclusiva da supérflua solicitude com tais cousas. Donde o dizer, que a simplicidade é o hábito pelo qual nos contentamos com o que nos acontece.

Semelhantemente, o afeto pode ser duplamente desordenado, por defeito. – Primeiro, por negligência, quando não aplicamos cuidado nem diligência em nos vestirmos como devemos. E por isso, diz o Filósofo, que é molície deixarmos as nossas roupas se arrastarem pelo chão, para não termos trabalho de as levantar. – Segundo, porque, a deficiência mesma com que nos vestimos é meio de buscarmos a glória. Por isso, diz Agostinho, que não somente no esplendor e na pompa das causas materiais pode haver jactância, mas também na sordície lamurienta, e tanto mais perigosamente, quanto se apresenta, para nos enganar, com o pretexto de servir a Deus. E o Filósofo diz, que o excesso e o defeito desordenados constituem a jactância.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ Embora a natureza não nos infundisse o culto pelo nosso vestuário, contudo à razão natural pertence moderá–lo. E assim, podemos, por natureza, praticar a virtude moderadora do culto pelo nosso vestuário.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os constituídos em dignidade, ou ainda os ministros do altar, usam de roupagens mais preciosas que os outros, não para glória própria, mas para exprimir–lhes a excelência do ministério ou do culto divino. Por isso, não praticam nenhum vicio, assim procedendo. Donde o dizer Agostinho: Todo o que usa das coisas externas de modo a ultrapassar os limites do costume das pessoas virtuosas entre as quais vive ou tem algum fundamento de assim proceder ou procede mal, isto é, se usa delas em busca do prazer ou da ostentação. Semelhantemente, essa deficiência pode constituir pecado. Porém, não peca sempre quem usa de roupas mais vis que a dos demais. Assim, se o fizer por jactância ou soberba, julgando–se superior aos outros, cai no vicio da superstição. Se, porém, proceder desse modo para mortificar a carne ou por espírito de humildade, praticará a virtude da temperança. Por onde, diz Agostinho: quem usa das coisas mais estritamente que o permitem os costumes daqueles com quem convive, ou é temperante ou e supersticioso. – Mas sobretudo cabe usar de roupas mais vis aqueles que exortam os outros, pela palavra e pelo exemplo, à penitência. Por isso, uma Glosa ao Evangelho diz: Quem prega a penitência traga um hábito de penitente.

RESPOSTA A TERCEIRA. – O cuidado com o vestir–se é de certo modo um indício da natureza humana. Por onde, o excesso, o defeito e a mediedade (mediano), nessa matéria, podem reduzir–se à virtude da verdade, cujo objeto, como o ensina o Filósofo, são os nossos atos e as nossas palavras, e que, de algum modo, revelam o nosso estado.



Art. 2 – Se os ornatos femininos constituem pecado mortal.



O segundo discute–se assim. – Parece que os ornatos femininos não deixam de constituir pecado mortal.

1. – Pois, tudo o que contraria um preceito da lei divina é pecado mortal. Ora, os ornatos femininos contrariam aquele preceito divino, que se lê nas Escrituras: Não seja o adorno destas, isto é, das mulheres, o exterior enfeite dos cabelos riçados, ou as guarnições de ornadas de ouro, ou a gala da compostura dos vestidos. Ao que diz a Glosa de Cipriano: As vestidas de seda e púrpura não podem sinceramente revestir–se de Cristo; as ornadas de ouro, margaridas e colares perderam os ornatos da alma; e do corpo. Ora, isto constitui pecado mortal. Logo, os ornatos femininos não deixam de constituir pecado mortal.

2. Demais. – Cipriano diz: Penso que não somente as virgens, mas também as viúvas e todas mulheres em particular, devem ser advertidas, para que não adulterem de modo nenhum o que Deus fez e plasmou, usando de um colorido flavo, de pós negros ou de rubores, ou de qualquer ingrediente corruptor da fisionomia natural. E em seguida acrescenta: Levantam mãos contra Deus, quando pretendem reformar o que ele formou. Fazer tal é contrariar a obra divina, prevaricar contra a verdade. Não poderás ver a Deus, se os teus olhos não são os que Deus fez, mas os que o diabo deformou: ornada do inimigo, com ele arderás. Ora, disto só é digno o pecado mortal. Logo, os ornatos das mulheres não vão sem pecado mortal.

3. Demais. – Assim como não convém à mulher usar de roupas masculinas, assim também não deve usar de ornatos desordenados. Ora, o primeiro procedimento é pecaminoso; pois, diz a Escritura: A mulher não se vestirá de homem, nem o homem se vestirá de mulher. Donde se conclui, que o ornato exagerado das mulheres é pecado mortal.

Mas, em contrário, se assim fosse, haveríamos de concluir, que os artífices fabricantes desses ornatos também pecariam mortalmente.

SOLUÇÃO. – Em relação ao ornato das mulheres, devemos levar em conta os mesmos elementos que consideramos já, em geral, relativamente ao vestuário exterior; e além disso mais em especial devemos –notar, que os ornatos femininos provocam mais os homens à lascívia, segundo a Escritura: Eis que lhe sai ao encontro uma mulher ornada à moda das prostitutas, prevenida para caçar as almas. Pode contudo, a mulher aplicar–se licitamente em agradar ao seu marido, afim de que ele, por desprezo, não venha a cair em adultério. Por isso diz o Apóstolo: A mulher casada cuida nas coisas que são do mundo, de como agradará ao marido. Por onde, se a mulher casada, se ornar para agradar ao marido (não a todos, não para uma plateia na internet, conota privacidade), pode fazê–lo sem pecado. Mas, as mulheres, que não têm marido, nem os querem ter e vivem em estado de não os poderem ter, não podem sem pecado querer agradar aos olhos dos homens, para o fim da concupiscência, pois, seria dar–lhes o incentivo de pecar. Se, pois, se ornarem com a intenção de despertar nos outros a concupiscência, pecam mortalmente. Se o fizerem, porém, por leviandade ou por uma certa vaidade fundada na jactância, nem sempre cometem pecado mortal, mas, às vezes, venial. E o mesmo se dá, neste ponto, com os homens. Por isso diz Agostinho: Não quero que sejas muito pronto em proibir os ornatos de ouro ou os vestuários ricos, salvo naquelas que não sendo casadas, nem desejando sê–lo, devem pensar no modo de agradar a Deus. Pois, as pessoas do mundo pensam nas cousas do mundo; os maridos, como agradarão às esposas; as mulheres, aos maridos; salvo que nem mesmo às mulheres casadas convém trazer os cabelos descobertos, elas que devem cobrir até a cabeça. Caso em que certas poderiam ser escusadas do pecado, se não procedessem assim por nenhuma vaidade, mas, por um costume contrário, embora tal costume não seja louvável.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como diz a Glosa, no mesmo lugar, as mulheres dos que estavam em tribulação, desprezavam os maridos; e, para agradarem aos outros, ornavam–se de belos ornatos; e é esse procedimento que o Apóstolo condena. Sendo a esse mesmo caso que se refere Cipriano: mas, não proíbe ele às mulheres casadas ornarem–se para agradar aos maridos afim de não lhes dar ocasião de pecarem com outras. Donde o dizer o Apóstolo: As mulheres em traje honesto, ataviando–se com modéstia e sobriedade; não com cabelos encrespados ou com ouro ou com pérolas ou vestidos custosos. Pelo que dá a entender, que o ornato sóbrio e moderado não é proibido às mulheres, senão só o supérfluo, o inverecundo (sem vergonha) e o impúdico (luxurioso, sensual).

RESPOSTA À SEGUNDA. – A pintura das mulheres, a que se refere Cipriano, é uma espécie de fingimento, que não pode deixar de ser acompanhada de pecado. Por isso, diz Agostinho: Pintar a pele, para que parece mais corada ou mais branca, é uma falácia adulterina, com a qual, não duvido, nem os próprios maridos queiram se deixar enganar, eles só para os quais é permitido às mulheres ornarem–se (novamente conota privacidade), o que lhes é concedido, mas não ordenado. Nem sempre, porém tal pintura constitui pecado mortal, mas só quando feita por lascívia ou por desprezo de Deus , casos a, que se refere Cipriano. Saibamos, porém, que uma cousa é fingir uma beleza que não se tem, e outra, ocultar um defeito proveniente de alguma causa (que é lícito), como por exemplo, uma doença ou qualquer outra. O que é licito, pois, segundo o Apóstolo os que temos pelos mais vis membros do corpo a esses cobrimos com mais decoro.

RESPOSTA À TERCEIRA. – como dissemos, o vestuário exterior deve corresponder à condição da pessoa, de conformidade com o uso comum. Por isso e em si mesmo, é pecaminoso uma mulher trazer trajos viris ou inversamente; e sobretudo, porque pode ser essa uma causa de lascívia. O que a lei antiga especialmente proibia, porque os Gentios usavam desses travestimentos, pela superstição da idolatria. Pode–se porém proceder desse modo e sem pecado, se o exigir a necessidade: quer para ocultar–se dos inimigos, quer por falta de outras roupagens, quer por outro motivo semelhante (numa guerra, numa perseguição).

RESPOSTA À QUARTA. – Os artífices de uma arte que fabricassem objetos de que se não pudesse usar sem pecado, pecariam necessariamente assim procedendo, por oferecerem aos outros ocasião direta de pecar; tal o caso, por exemplo, de quem fabricasse ídolos ou objetos pertinentes ao culto da idolatria. Mas, não é pecaminoso o uso de produtos artísticos, corno a espada, a seta e outros semelhantes, produtos de cujas artes podemos usar bem ou mal; e só essas é que devem chamar–se artes. Por isso, diz Crisóstomo: Somente devemos denominar artes as que fornecem e constroem o que nos é necessário e imprescindível à vida. Se porém os produtos de uma arte fossem, na generalidade das vezes, empregados mal por certos, embora esses produtos não sejam em si mesmo ilícitos, contudo, o príncipe deveria extirpá–los da cidade, segundo o ensino de Platão. Ora, como as mulheres podem ornar–se licitamente, quer para conservar a decência do seu estado, quer também para fazer qualquer correção afim de agradar aos maridos, por consequência os artífices de tais ornamentos não pecam usando da sua arte, salvo .se vierem a fabricar coisas supérfluas e vãs. Por isso, Crisóstomo diz, que também as artes de fabricar sapatos e tecidos deveriam ser impedidas de fabricar muitas coisas. Pois, levaram a arte a servir à luxúria, corrompendo–lhes a necessidade, misturando a arte boa com a má.






Resumo de São Tomás sobre a Modéstia em 10 pontos


Suma Teológica, II-II, qq. 160 e 168-170

1 - A moderação das atitudes interiores pode manifestar-se por certos sinais exteriores.
2- Os movimentos exteriores são um sinal da disposição interior.
3- O movimento exterior reflete o interior, nos manifestamos por palavras e atos, como de fato somos. Por isso, é censurável todo esforço de fingimento, que é contrário a virtude da verdade. Mas é louvável a moderação e educação dos mesmos.
4- Devemos evitar os delitos dos costumes locais.
5- Os artefatos exteriores não devem ser usados por sensualidade, glória humana, prazer ou culto ao corpo ou a imagem. 
6- Devem se atentar ao vestir sobretudo os que exortam os outros.
7- Os ornatos femininos provocam os homens à lascívia, por isso se deve fugir da "moda das prostitutas".
8- "Ornar-se para agradar o marido" conota privacidade e se refere ao objetivo de evitar o adultério. Não é uma ordem, pois um marido temente a Deus será fiel à esposa que escolheu por amor a Deus. 
9- Para todas as mulheres, casadas e solteiras: o ornato sóbrio (sério, discreto) e moderado não é proibido. São proibidos os ornatos supérfluos (que ultrapassa a necessidade, extravagantes e exibicionistas), os invericundos (sem vergonha) e os impudicos (luxurioso, sensual).
10- É pecaminoso a mulher trazer trajes viris ou os homens trajes afeminados, pois pode ser causa de lascívia (luxuria, sensualidade). Porém em caso de guerra, ocultamento de um inimigo, perseguição, necessidade financeira real ou desconhecimento por falta de catequese verdadeira, não há pecado. Já saber e não fazer é dureza de coração. 





Atitudes Cotidianas que me fazem viver bem a Virtude da Modéstia


A pacata vida cotidiana é um terreno muito fértil para vivenciar a virtude. Estava agora mesmo arrumando a casa e me veio a ideia deste texto, mais precisamente enquanto tirava o pó da cômoda do meu quarto. Pensei em compartilhar algumas coisas simples que me fazem enraizar profundamente na decisão comprometida em vivenciar esta virtude fortemente educadora do corpo, da alma e da mente. 

Pequenas atitudes importam:

- limpar a casa em silêncio e escutar o barulho das coisas, o barulho da vida.
- tentar falar sempre num mesmo tom,
- escolher palavras cordiais,
- ver imagens da Santíssima Virgem em suas diversas aparições (observar sua fala, modos e vestes),
- escutar músicas calmas,
- tenho uma imagem de Padre Pio e Santa Gemma na minha cômoda (a dele me recorda de seus conselhos sobre a modéstia e a dela me recorda de sua vida fortemente entrelaçada à modéstia),
- cultivar plantas e observar a sua beleza sem ostentação ou afetação,
- ler a vida das Santas com alguma frequência,
- todos os domingos leio uma das cartas de São Paulo ou São Pedro que orientam sobre a conduta da mulher piedosa,
- uso água benta todos os dias,
- penso que minha escolha concreta desagrava o Coração de Jesus e Maria, além de ser uma forma de abençoar as pessoas com esse amor. 




Livros de formação sobre Modéstia:

Obs: se a leitura ficar muito difícil e você se sentir incomodada, inquieta ou revoltada, peça ajuda a Nossa Senhora; leia, reze e silencie. Ela lhe ajudará a fazer o melhor, pois a virtude é dar o máximo de si: "a virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em atos concretos." (Catecismo da Igreja Católica, ponto 1803)


- Bíblia Sagrada (aqui)
- Catecismo de São Pio X (aqui)
- Compêndio de Ascética e Mística (ponto 700 e seguintes, aqui)
- Modéstia o Caminho da Beleza e da Santa Ordem (aqui)
- Modéstia da Teoria à  Prática (aqui)
- Guia sobre Modéstia (sem relativismo) (aqui)
- Virtudes de Nossa Senhora (aqui)
- Privilégio de ser mulher (aqui)
- A calça e a emancipação feminina (aqui)


- Seleta sobre Modéstia On-line (textos dos Padres, Santos e membros ilustres da Igreja, basta clicar no título para ler):

Pronunciamentos Papais e da Sagrada Congregação do Concílio: 

1. Cruzada pela pureza, por S. S. Pio XII

2. Moda e modéstia, por S. S. Pio XII

3. O vestuário pode denegrir a pessoa, por S. S. Pio XII

4. Papa Bento XV fala sobre moda

5. Problemas morais nos estilos da moda, por S. S. Pio XII

6. Carta aos bispos: Imodéstia nas modas contemporâneas, pela Sagrada Congregação do Concílio aos Bispos do mundo

7. Carta da Congregação do Concílio sobre modéstia, pelo Cardeal Donato Sbaretti


Pronunciamento de Santos

1. Vestida com dignidade, por São Francisco de Sales

2. Modéstia aos olhos, por Santo Afonso Maria de Ligório

3. As excelências da mortificação, por Santo Afonso Maria de Ligório

4. As nossas conversas, por São Francisco de Sales

5. Honestidade das palavras e respeito que se deve ao próximo, por São Francisco de Sales

6. Da prática da caridade nas palavras, por Santo Afonso Maria de Ligório

7. Modéstia ao assistir à Santa Missa, por São Leonardo de Porto Maurício

8. Imodéstia - Noiva do diabo, por São Leonardo de Porto Maurício

9. Padre Pio insistiu na modéstia

10. Adorno de modéstia e sobriedade: Pe. Pio na luta pela modéstia

11. Modéstia por São Tomás de Aquino: Suma Teológica, II-II, qq. 160 e 168-170


Pronunciamento de Cardeais, Bispos, Monsenhores, Cônegos e Padres

1. Pureza interior, pelo Cardeal Mindszenty

2. Uso do véu / Modéstia no vestir, por Dom Antônio de Castro Mayer

3. O valor do pudor, por Dom Tihamér Tóth

4. Soldados da pureza, por Dom Tihamér Tóth

5. O sentido da vista / Modéstia: Baluarte que nos protege a débil virtude, pelo Cônego Augusto Saudreau

6. Praias e piscinas / Dança, pelo Padre Ricardo Félix Olmedo

7. As vestes à luz da Bíblia Sagrada, pelo Padre Elcio Murucci

8. Maria - Modelo acabado do mundo feminino, pelo Padre Hardy Schilgen

9. Modéstia no vestir - Cuidado com a moda!, pelo Padre Hardy Schilgen

10. Acerca da decência no vestuário, pelo Abade A. Bayle

11. A modéstia: I - No porte e nos olhares / II - Nas conversas e recreios, pelo Padre F. Maucourant

12. Modéstia do corpo, pelo Padre Adolph Tanquerey

13. Castidade / Modéstia / Castidade do coração, pelo Padre Gabriel de Santa Maria Madalena

14. As modas indecentes e a Maçonaria, por Dom Tomás de Aquino

15. Vestidas com o sol, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

16. Eu e minha toilette... Algemas da moda!, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

17. Heroínas do pudor, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

18. Inculcar nas crianças a modéstia nos trajes: um dever de mãe!, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

19. Relatividade do pudor?, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

20. Com teus vestidos, pelo Padre Geraldo Pires de Souza

21. Pequeno catecismo do namoro, pela FSSPX

22. A sensualidade e o dano intelectual, pelo Padre Gillet

23. Grandes tesouros para a donzela cristã: modéstia e humildade, pelo Padre J. Baetman

24. Sois cristã: tendes, pois, uma fé que deve irradiar, pelo Padre J. Baetman

25. Moda: uma trama diabólica, pelo Padre J. Baetman

26. O coquetismo, pelo Padre J. Baetman

27. Ornamentos da donzela cristã: firmeza / brandura / altruísmo, pelo Padre Matias de Bremscheid

28. Vaidade feminina, pelo Padre Manuel Bernardes

29. Ambição e moda, pelo Padre Luis Chiavarino

30. Conversas, pelo Frade Frutuoso Hockenmaier

31. Palavras torpes e indecentes, pelo Padre Manuel Bernardes

32. Sermões de São João Maria Vianney - O cura D'Ars

33. Lembrete de algumas regras de modéstia cristã, pelo Monsenhor Bernard Fellay

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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)




"Quem ama a disciplina, ama o conhecimento" - Provérbios 12, 1

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