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Salus in Caritate



“Sempre tenha o livro sagrado em suas mãos, para que ele possa alimentar sua alma pela leitura devota.” - São Jerônimo 


"S. Bento, entre outros, ordenou que cada um dos seus monges fizesse todos os dias a sua leitura, e que houvesse dois encarregados de ir visitar as celas, para verem se todos observavam esta regra; e quando se achava algum nisto negligente, queria que fosse penitenciado. Mas, antes de todos, o Apóstolo a impôs a seu discípulo Timóteo, dizendo-lhe: Aplica-te à leitura." -  Santo Afonso Maria de Ligório



Começar a ver o estudo como uma constante, e não como um período, pode ser um desafio. Nós somos treinados a abandonar o lugar de aprendiz o quanto antes e incentivados a tomar posições de destaque prematuramente. Gastar tempo em estudo e mais estudo, ler para acumular uma bagagem sólida e trilhar um caminho sem imitar os outros não é um percurso que chame muita atenção. No entanto, há algo muito formativo em trilhar o próprio caminho de estudo e se dedicar a ele. Construir suas próprias listas de leitura e permitir que o ano seja repleto dessas pequenas conquistas é uma experiência enriquecedora.


É interessante observar o efeito que a construção de um castelo literário gera, especialmente quando é feito sem influências externas. Lembro-me de que fiz uma lista de leitura sobre neurociência sem conhecer ninguém que tivesse interesse nessa área. Mas eu, Ana Paula, gosto de neuroeducação. Ninguém se interessa, mas eu me interesso. E isso é o que considero uma lista de leitura bem feita: aquela que nasce de um verdadeiro interesse por um assunto ou área.


É claro que este caminho é mais trabalhoso. É muito mais fácil ler o que todos leem, imitar os caminhos dos outros. Mas a leitura é uma forma de traçar seu próprio caminho, sua identidade. Tudo pode parecer caótico no início, mas com o tempo, você descobrirá os temas que realmente te interessam e não buscará mais ler apenas o que todos leem e indicam. Mesmo no nicho católico, há uma tendência ao mimetismo, o que pode acabar impedindo você de ler um livro excelente porque o autor não é amplamente compartilhado. Ser capaz de trilhar seu caminho literário de forma independente pode abrir portas para conhecer talentos, contemplar habilidades e lapidar sua própria habilidade.


Quanto ao número de leituras anuais, é importante ter uma meta. No entanto, mais importante é ler e assimilar de forma adequada. A qualidade vem antes do número, mas é necessário ter uma meta numérica para não se perder. Você precisa, ao menos, ter o projeto do castelo literário que deseja construir neste ano. Que assunto deseja focar e, de preferência, que seja após avaliar seus próprios interesses, sem imitar outra pessoa.

Embora a imitação seja uma parte do processo educacional em qualquer idade, imitar por muito tempo torna o caminho cansativo e triste. O gosto por estudar e aprender que devemos manter até o fim da vida só é possível com um interesse verdadeiro.

Uma vez, escutei a história de um idoso que, já no hospital, mantinha o hábito de fazer todos os dias um simulado da prova de conclusão do ensino médio. Todos os dias, ele comemorava quando conseguia acertar uma questão a mais. Antes de morrer, ele fez a sua última prova e ficou feliz porque acertou mais do que no dia anterior. Ele aprendeu até o último momento de sua vida.

Este espírito é o espírito da vida intelectual. E nós o mantemos construindo um castelo literário anual, mas este castelo só é firme se for bem estruturado no interesse verdadeiro por algo.


Algumas coisas que podem ajudar são:

  • Fazer uma lista simples, digital ou no papel.
  • Utilizar leitores digitais e audiolivros.
  • Intercalar gêneros literários.
  • Dar a mesma importância para ensaios e ficção.
  • Não se esquecer de manter a postura de aprendiz, principalmente diante de um autor que você não conhece.
  • Ler todos os livros do mesmo autor auxilia a entender o pensamento do autor, pois um livro é apenas um fragmento do pensamento do autor.
  • Buscar ler ao menos um novo autor este ano. 


Para aprofundamento: Educa-te: Paideia Cristã 





Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: "Modéstia", "Graça & Beleza".








A Filocalia - Um Tesouro Literário entre Oriente e Ocidente

Professora Ana Paula Barros¹




Resumo


A Filocalia dos Santos Padres Népticos, compilada por Nicodemos, o Hagiorita, e Macário de Corinto, e publicada em 1782, é uma antologia patrística que reúne escritos de monges e teólogos orientais do cristianismo entre os séculos IV e XV. A obra reflete um itinerário espiritual que atravessa as etapas da purificação (katharsis), iluminação (theoria) e deificação (theosis), organizando-se como um repositório da mística hesicasta. O hesicasmo, enquanto tradição contemplativa centrada na oração de Jesus e na vigilância interior, fundamenta a proposta espiritual da Filocalia.

Embora de origem ortodoxa, a obra possui elementos teológicos e espirituais que ressoam também no Ocidente cristão, como evidenciado por sua recepção crescente na Igreja Católica e sua tradução para diversas línguas ocidentais a partir do século XX. Esse movimento favoreceu o reencantamento contemporâneo pela mística cristã. A presente pesquisa analisa a estrutura da obra, sua evolução histórica, os fundamentos teológicos do hesicasmo e sua relevância como patrimônio espiritual comum entre as tradições oriental e ocidental.

Palavras-chave: Filocalia; hesicasmo; espiritualidade cristã; tradição oriental.



1- Introdução


A palavra Filocalia vem do grego philokalia (φιλοκαλία), formada por phílos (φίλος), que significa “amor” ou “amizade”, e kalós (καλός), que significa “belo” ou “bom”. Portanto, seu significado literal é “amor à beleza” ou “amor ao bem”.

A Filocalia dos Santos Padres Népticos constitui um dos marcos mais relevantes da tradição espiritual cristã, configurando-se como uma antologia patrística que reúne escritos de monges e teólogos do Oriente cristão entre os séculos IV e XV. A obra articula temas centrais da mística cristã, como a oração interior, a ascese e a progressiva união da alma com Deus, dentro do horizonte da tradição hesicasta. Publicada originalmente em 1782 por Nicodemos, o Hagiorita, e Macário de Corinto, a Filocalia emerge como expressão de uma renovação espiritual no contexto do mundo helênico sob domínio otomano (a partir de 1454) e visa recuperar a profundidade da experiência contemplativa dos Padres do Deserto.

Grande parte dos textos reunidos na Filocalia remonta ao século IV, período de consolidação da teologia cristã após o Concílio de Niceia (325), com autores como Evágrio Pôntico, Santo Antão e Macário do Egito. Esses escritos antecedem em cerca de sete séculos o Cisma do Oriente, ocorrido em 1054 (século XI), que marcou a separação formal entre a Igreja de Roma (Ocidental) e a Igreja de Constantinopla (Oriental). O cisma foi resultado de tensões teológicas, litúrgicas e políticas acumuladas ao longo dos séculos, como a disputa sobre a autoridade papal, o uso do Filioque no Credo e diferenças na prática sacramental.

Embora a Filocalia tenha sido compilada bem depois do cisma, ela se ancora em uma tradição espiritual anterior à ruptura e comum às duas Igrejas, o que lhe confere um valor católico singularmente puro. Sua linguagem simbólica, sua antropologia espiritual e sua proposta de transformação interior dialogam com correntes contemplativas do Ocidente, como a tradição beneditina e carmelita. Nesse sentido, a obra se apresenta não apenas como um testemunho da espiritualidade oriental, mas como um patrimônio espiritual comum, capaz de enriquecer a compreensão da mística cristã em sua totalidade.





2. Panorama Histórico e Literário


A Filocalia dos Santos Padres Népticos foi publicada oficialmente em 1782, em Veneza. A obra compila escritos de mais de trinta autores da tradição oriental, entre os quais se destacam Evágrio Pôntico, São João Clímaco, São Máximo, o Confessor, Gregório Palamas, Simeão, o Novo Teólogo e Isaac, o Sírio. Esses textos são organizados de forma a refletir um itinerário espiritual ascendente, caracterizado pelas etapas da purificação (katharsis), iluminação (theoria) e deificação (theosis).

Inserida no contexto da espiritualidade hesicasta, a Filocalia condensa a prática mística consolidada no Monte Athos e em outras regiões do Oriente cristão. O hesicasmo (do grego hesychía, “quietude” ou “silêncio interior”) é uma tradição espiritual contemplativa que visa à união com Deus por meio da oração contínua, especialmente a chamada oração de Jesus (“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador”). Essa prática é acompanhada por um esforço ascético de vigilância dos pensamentos (nepsis), recolhimento interior e desapego das paixões, buscando a pacificação da alma e a experiência direta da presença divina. A sistematização teológica do hesicasmo foi desenvolvida sobretudo por Gregório Palamas no século XIV, em resposta às controvérsias sobre a possibilidade de contemplar a luz incriada de Deus.

Após sua publicação original em grego, a obra foi traduzida para o eslavo eclesiástico e amplamente difundida no mundo eslavo ortodoxo, sobretudo na Rússia, por meio da atuação de Païssi Velitchkovsky. A partir do século XX, a Filocalia passou a ser traduzida para línguas ocidentais, como o francês, inglês, romeno e português, ampliando significativamente seu alcance e influenciando a espiritualidade cristã do Ocidente. Essa difusão contribuiu para o renovado interesse contemporâneo por práticas místicas e para o diálogo entre as tradições cristãs oriental e ocidental.




3. Estrutura da Obra


A obra é dividida em quatro tomos principais, que reúnem tratados completos de autores da tradição mística oriental, abrangendo um período que vai do século IV ao século XV.

Tomo I: reúne os escritos mais antigos, com destaque para autores como Santo Antão, Evágrio Pôntico, Marcos, o Asceta, e Diádoco de Fótica. Os temas predominantes são o combate espiritual, a vigilância dos pensamentos (nepsis), a humildade e a purificação interior (katharsis).

Tomo II: introduz textos voltados à prática da oração de Jesus e à interiorização da vida espiritual, com autores como Hesíquio, o Sinaíta, Nicéforo, o Solitário, e Teolepto de Filadélfia. A ênfase recai sobre a técnica da oração hesicasta e a busca da hesychía (silêncio interior).

Tomo III: contém tratados de autores como Máximo, o Confessor, e Gregório Palamas, que desenvolvem a teologia da iluminação espiritual (theoria) e da deificação (theosis), articulando experiência mística e reflexão teológica.

Tomo IV: apresenta textos de maturidade espiritual, como os de Simeão, o Novo Teólogo, Calisto e Ignácio Xantopoulos, e outros autores posteriores. Os temas centrais são a união com Deus, o amor divino e a plenitude da vida no Espírito.

Essa organização reflete a intenção dos compiladores — Nicodemos, o Hagiorita, e Macário de Corinto — de oferecer uma verdadeira “escola da oração interior”, acessível tanto a monges quanto a leigos comprometidos com a vida espiritual.




3. Fragmento da Obra






"É espiritual o ser humano o qual o Espirito Santo perpassou e ligou corpo e alma entre si." 
(Pai Irineu)





".... e esses homens estão longe de si mesmos, como ébrios de bebida, ébrios em espírito de mistério e de Deus."


(Pseudo-Macário, Homilias espirituais)



O termo "Padres do Deserto" inclui um grupo influente de eremitas e cenobitas do século IV que se estabeleceram no deserto egípcio. As origens do monaquismo oriental se encontram nessas ermidas primitivas e comunidades religiosas. Paulo de Tebas é o primeiro eremita do qual se tem notícia a estabelecer a tradição do ascetismo e contemplação monástica, e Pacômio, da Tebaida, é considerado o fundador do cenobitismo, do monasticismo primitivo. Ao final do terceiro século, contudo, o venerado Antão do Egito orienta colônias de eremitas na região central. Logo, ele se torna o protótipo do recluso e do herói religioso para a Igreja oriental – uma fama devida, em grande parte, à vasta louvação na biografia de Atanásio sobre ele. Esses primitivos monásticos atraíram um grande número de seguidores aos seus retiros austeros, através da influência de sua simples, individualista, severa e concentrada busca pela salvação e união com Deus. Os Padres do Deserto eram frequentemente solicitados para direção espiritual e conselho aos seus discípulos. Suas respostas foram gravadas e colecionadas num trabalho chamado "Paraíso" ou "Apotégmas dos Padres". (Por Emily K. C. Strand, tradução Jandira)


"Perguntaram ao Pai Ammonas: 'Qual é o caminho estreito e apertado?' (Mt. 7,14). Ele respondeu: O caminho estreito e apertado é este: controlar seus pensamentos e despojar-se de sua própria vontade por amor de Deus. Também isto é o significado da sentença: 'Senhor, eis que deixamos tudo e te seguimos.' (Mt. 19,27)"


Diziam dele que havia como que uma depressão escavada em seu peito, pelas lágrimas que caíram de seus olhos durante toda a sua vida, enquanto ele fazia seu trabalho manual. Quando Pai Poemen viu que ele estava morto, disse chorando: "Verdadeiramente você é abençoado, Pai Arsênios, pois você chorou por si mesmo neste mundo! Quem não chora por si mesmo aqui embaixo chorará eternamente então; por isso, é impossível não chorar, voluntariamente ou quando obrigado pelo sofrimento." (i.e., o sofrimento derradeiro no inferno).


Também era dito dele (Pai Arsênios) que, nas noites de sábado, preparando-se para a glória do domingo, ele virava-se de costas para o sol e elevava suas mãos em oração em direção ao céu, até que o sol novamente brilhasse em sua face. Então ele se sentava.


Dizia-se do Pai Ammoes que, quando ele ia à igreja, não permitia que seu discípulo caminhasse ao seu lado, mas a uma certa distância; e, se esse último viesse lhe perguntar sobre seus pensamentos, ele se afastava dele logo após responder-lhe: "É por receio que, após tão edificantes palavras, sobrevenham conversas irrelevantes, que eu não permito que caminhes comigo."


Foi dito do Pai Ammoes que ele possuía cinquenta medidas de trigo para seu uso e as colocara para fora, ao sol. Antes que elas estivessem devidamente secas, ele viu algo naquele lugar que lhe pareceu perigoso, então disse aos seus empregados: "Vamo-nos embora desse lugar." Porém, eles pareceram aflitos com isso. Vendo seu desalento, ele lhes disse: "É por causa dos pães que vocês estão tão tristes? Na verdade, tenho visto monges fugindo, deixando suas celas lavadas e também seus pergaminhos, e eles nem fecharam as janelas, mas deixaram-nas abertas."


Pai Abraão disse de um homem de Scete que era um escriba e não comia pão. Um irmão veio a ele para copiar um livro. O velho homem, cujo espírito estava absorto em contemplação, escreveu, porém omitindo algumas frases e sem pontuação. O irmão, tomando o livro e desejando pontuá-lo, notou que faltavam palavras. Então disse ao ancião: "Pai, faltam algumas palavras." O ancião disse a ele: "Vá e pratique primeiro o que está escrito, depois volte e eu escreverei o restante."


Havia nas celas um velho homem chamado Apollo. Se aparecia alguém chamando-o para ajudar em alguma tarefa, ele ia alegremente, dizendo: "Vou trabalhar com Cristo hoje, pela salvação de minha alma, pois esta é a recompensa que Ele dá."




Pai Doulas, discípulo de Pai Bessarion, disse: "Um dia, quando estávamos caminhando ao longo da praia, eu estava sedento e disse ao Pai Bessarion: 'Pai, estou com sede.' Ele rezou e disse-me: 'Beba um pouco da água do mar.' A água estava doce e eu bebi. Cheguei a pegar um pouco numa garrafa de couro, pois tive medo de ficar sedento mais tarde. Vendo isto, o velho homem perguntou-me por que eu estava levando água. Eu disse a ele: 'Perdoe-me, é por medo de ficar com sede mais tarde.' E o ancião disse: 'Deus está aqui, Deus está em todo lugar.'"


Um irmão perguntou ao Pai Poemen desta maneira: "Meus pensamentos me atormentam, fazendo com que eu deixe de lado meus pecados e me preocupe com as faltas de meus irmãos." O ancião contou-lhe a seguinte estória sobre Pai Dioscurus (o monge): "Na sua cela ele chorava por si mesmo, enquanto seu discípulo se sentava em outra cela. Quando este último veio ver o ancião, perguntou-lhe: 'Pai, por que choras?' 'Estou chorando pelos meus pecados' — respondeu-lhe o velho homem. Ao que o discípulo disse: 'Você não tem nenhum pecado, Pai.' O ancião replicou: 'É verdade, meu filho, se eu pudesse ver meus pecados, três ou quatro homens não seriam suficientes para chorar por eles.'"


Isto é o que disse Pai Daniel, o Faranita: "Nosso Pai Arsenius nos contou sobre um habitante de Scetis, de vida digna e fé simples; pela sua ingenuidade, ele foi enganado e disse: 'O pão que recebemos não é verdadeiramente o Corpo de Cristo, mas um símbolo.' Dois anciãos souberam que ele dissera aquilo. Conhecendo seu modo de vida correto, acreditaram que ele não falara por malícia, mas por simplicidade. Então, vieram a ele e disseram: 'Pai, ouvimos da parte de alguém uma proposição contrária à fé, que disse que o pão que recebemos não é verdadeiramente o Corpo de Cristo, mas um símbolo.' O ancião disse: 'Fui eu quem disse isso.' Então os outros dois o exortaram, dizendo: 'Não mantenha essa crença, Pai, mas aquela em conformidade com o que a Igreja Católica nos deu. Acreditamos, de nossa parte, que o pão, por si mesmo, é o Corpo de Cristo — como no início, Deus formou o homem à sua imagem, tomando do pó da terra, sem que ninguém possa dizer que ele não é a imagem de Deus, mesmo que não pareça. Do mesmo modo, com o pão do qual Ele disse: "Este é meu corpo", assim nós cremos que é verdadeiramente o Corpo de Cristo.' O ancião disse-lhes: 'Enquanto eu não for convencido pela coisa em si, não estarei completamente convicto.' Então eles disseram: 'Vamos rezar a Deus sobre este mistério por toda a semana e acreditamos que Deus vai nos revelar isto.' O ancião ouviu isso com alegria e rezou nessas palavras: 'Senhor, vós sabeis que não é por malícia que eu não creio e, de maneira que eu não erre por ignorância, revelai isto a mim, Senhor Jesus Cristo.' Os dois homens voltaram às suas celas e rezaram também a Deus, dizendo: 'Senhor Jesus Cristo, revelai esse mistério a esse homem, de modo que ele creia e não perca sua recompensa.' Deus ouviu suas preces. Ao final da semana, eles vieram à igreja no domingo e se sentaram todos os três no mesmo tapete, o ancião no meio. Em seguida, seus olhos se abriram e, quando o pão foi colocado na mesa sagrada, aparecia-lhes uma criança pequena, sozinha. E, quando o sacerdote estendeu a mão para partir o pão, viram um anjo descer do céu com uma espada e servir o sangue da criança no cálice. Quando o padre partiu o pão em pedacinhos, o anjo também cortou a criança em pedaços. Quando se aproximaram para receber os sagrados elementos, o ancião, sozinho, recebeu um pedaço da carne sangrenta. Vendo isto, ficou com medo e gritou: 'Senhor, eu creio que isto é vosso Corpo e este cálice, vosso Sangue.' Imediatamente, a carne que ele segurava em suas mãos se tornou pão, de acordo com o mistério, e ele o tomou, dando graças a Deus. Em seguida, os dois homens lhe disseram: 'Deus conhece a natureza humana e sabe que o homem não pode comer carne crua, e é por isso que Ele mudou Seu Corpo em pão e Seu Sangue em vinho, para aqueles que o recebem na fé.' Em seguida, deram graças a Deus pelo ancião, porque Ele não permitiu que o mesmo perdesse a recompensa pelo seu trabalho. Então, todos os três retornaram com alegria para suas celas."



Dizia-se que Pai Helladius passou vinte anos em sua cela, sem sequer elevar os olhos para ver o telhado da igreja.


Pai Epifânio acrescentou: "Um homem que recebe algo de outro por causa de sua pobreza ou sua necessidade tem aí sua recompensa; e, porque ele se envergonha, quando ele paga, ele o faz em segredo. Mas o oposto faz Deus: Ele recebe em segredo, mas paga na presença dos anjos, dos arcanjos e dos justos."


Era dito do Pai Agathon que alguns monges vieram procurá-lo, tendo ouvido falar de seu grande discernimento. Desejando ver se ele perdia a paciência, disseram-lhe: "Você não é aquele do qual dizem ser um grande fornicador e um homem orgulhoso?" "Sim, é verdade", ele respondeu. Eles continuaram: "Você não é aquele Agathon que está sempre dizendo bobagens?" "Sou eu." Novamente, eles disseram: "Você não é Agathon, o herético?" Ao que ele replicou: "Eu não sou um herético." Então eles perguntaram-lhe: "Diga-nos, por que você aceitou tudo que atiramos sobre você, mas repudiou este último insulto?" Ele replicou: "As primeiras acusações tomei para mim, pois é bom para minha alma. Mas heresia é separação de Deus. Vejam, eu nada tenho para ser separado de Deus." A este dito, eles ficaram surpresos pelo seu discernimento e retornaram, edificados.


Pai Evágrio disse: "Retirem-se as tentações, e ninguém será salvo."


Um irmão egípcio veio ao Pai Zeno, na Síria, e se acusou diante do ancião sobre suas tentações. Cheio de admiração, Zeno disse: "Os egípcios escondem as virtudes que possuem e acusam-se sem cessar de faltas que eles não têm, enquanto que os sírios e gregos fingem ter virtudes que não possuem e escondem as faltas das quais são culpados."


Numa vila, dizia-se que havia um homem que jejuava tanto que era chamado de "o jejuador". Pai Zeno ouviu falar dele e mandou chamá-lo. Ele veio alegremente. Rezaram e se sentaram. O ancião começou a trabalhar em silêncio. Não conseguindo falar com Pai Zeno, o jejuador começou a se aborrecer. Então ele disse a Pai Zeno: "Reze por mim, Pai, porque desejo ir." O ancião perguntou: "Por quê?" O outro retrucou: "Porque meu coração está como se estivesse em fogo, e eu não sei o que pode ser isso. Pois, em verdade, quando eu estava na vila e jejuava até a noite, nada disso me acontecia." O velho homem lhe disse: "Na vila você alimentava-se através de seus ouvidos. Mas vá embora e, de agora em diante, coma pela nona hora, e o que quer que faças, faça-o em segredo." Tão logo ele começou a seguir o conselho, o jejuador achou difícil esperar até a nona hora. E aqueles que o conheceram diziam: "O jejuador está possuído pelo diabo." Então ele foi contar isso ao ancião, que disse a ele: "Este caminho está de acordo com Deus."


Um dia, Pai Moses disse ao irmão Zacharias: "Diga-me o que devo fazer?" A estas palavras, o último jogou-se no chão aos pés do ancião e disse: "Você está me perguntando, Pai?" O velho homem disse a ele: "Creia-me, Zacharias, meu filho, eu vi o Espírito Santo descer sobre você, e desde então sinto-me inclinado a lhe perguntar." Então Zacharias arrancou o gorro de sua cabeça, jogou-o ao chão e pisoteou-o, dizendo: "O homem que se deixa tratar assim não pode se tornar um monge."


Pai Zeno disse: "Se um homem deseja ser ouvido por Deus rapidamente, antes de rezar por qualquer coisa — mesmo por sua própria alma — quando se elevar e estender suas mãos em direção a Deus, deve rezar de todo o coração por seus inimigos. Através dessa ação, Deus atenderá qualquer coisa que ele pedir."


Pai Gerontius de Petra disse que muitos, tentados pelos prazeres do corpo, cometiam fornicação não em seus corpos, mas em seus espíritos, e, enquanto preservavam a virgindade do corpo, cometiam a prostituição em suas almas. "Então, é bom, meus bem-amados, fazer o que está escrito, e cada um guardar seu próprio coração com todo cuidado possível." (Prov. 4,23)


Um dia, Pai Arsênios consultou um velho monge egípcio sobre seus próprios pensamentos. Alguém notou e disse a ele: "Abba Arsênios, como é que o senhor, com uma educação tão aprimorada em grego e latim, pergunta a um camponês sobre seus pensamentos?" Ele replicou: "Realmente aprendi grego e latim, mas não sei nem ao menos o alfabeto desse camponês."


Pai Elias, o ministro, disse: "O que pode o pecado onde há penitência? E de que adianta o amor onde há orgulho?"


Pai Isaías disse àqueles que começavam bem, colocando-se sob a direção dos santos Padres: "Como a coloração roxa, a primeira tintura nunca se perde." E: "Do mesmo modo que galhos jovens são facilmente envergados para trás e curvados, também é com os iniciantes que vivem em submissão."


Pai Isaías também contou que houve uma ceia, e os irmãos estavam comendo na igreja e falando uns com os outros. O padre de Pelúsia os repreendeu com estas palavras: "Irmãos, aquietem-se. Pois vi um irmão comendo com vocês e bebendo tanto quanto vocês, e sua oração subia até a presença de Deus como fogo."


Pai Isaías também disse: "Quando Deus deseja apiedar-se de uma alma, e ela se rebela, não suportando nada e fazendo sua própria vontade, Ele então permite que ela sofra o que não quer, de modo que volte a procurá-Lo novamente."


Pai Theodore disse: "Se você é amigo de alguém que cai na tentação da fornicação, ofereça-lhe sua mão, se puder, e tire-o disso. Mas, se ele cair na heresia e você não puder persuadi-lo a sair dela, saia de sua companhia rapidamente, para evitar que, no caso de você demorar, você também seja jogado nesse poço."


Um irmão veio procurar Pai Theodore e começou a conversar com ele sobre coisas que nunca tinha posto em prática. Então o ancião lhe disse: "Você ainda não encontrou um navio, nem colocou sua carga a bordo, e, antes mesmo de ter navegado, já regressou à cidade. Faça seu trabalho primeiro; depois, atinja a velocidade que você está fazendo agora."


Pai Theodore de Pherme disse: "O homem que permanece de pé quando se arrepende, não guardou o mandamento."



Referências

NICÓDEMOS, o Hagiorita; MACÁRIO de Corinto (Orgs.). Filocalia dos Santos Padres Népticos. Tradução de José Maria de Almeida. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005. 4 v.

NICÓDEMOS, o Hagiorita; MACÁRIO de Corinto (Orgs.). Pequena Filocalia da oração do coração. Tradução de José Maria de Almeida. Petrópolis: Vozes, 1993.






Estes apotegmas - ditos - são do Padre do Deserto Pai Antônio, O Grande. 


Muito temos a aprender com esses homens que enebriados pelos amor a Deus e pelo desejo de tornar real o motivo da nossa existência, ou seja, conhecer, amar e servir a Deus; foram para o deserto e lá se encontraram consigo mesmos e sua limitações, travaram inúmeras batalhas, principalmente com os maus pensamentos e comportamentos e por fim se tornaram grandes mestres. É realmente uma pena, que muitas tenham se esquecido da grande fonte de ensinamentos que os padres nos oferecem, ensinamentos fundamentados na experiência, em vivências reais de homens santos. 

É importante lembrar que os Padres viveram por volta de 300 depois de Cristo, o mais conhecido é Santo Antão, mas haviam muitos outros, padres e madres do deserto. Esse ponto faz com que a doutrina dos padres, quanto a espiritualidade, seja mais apurada e mística. Também devemos nos atentar para o fato de que esses homens e mulheres tinham uma dimensão muito elevada da sua decisão em viver no deserto, pois acreditavam que estavam se apresentando em nome dos homens para combater os inimigos dos homens e de Deus, eles fugiam do mundo e iam batalhar internamente e muitos externamentos com a concupiscência da carne e o demônio. É importante esse apontamento pois, muitos acham que eles eram fugitivos do mundo, num sentido pejorativo, mas não é o caso, eles eram homens muito corajosos, assim como o são os enclausurados de hoje - que também estão em um deserto - pois se entregam em nome dos homens para fazer oposição ao demônio e sua ação maligna no mundo. 

Assim os ditos dos Padres podem nos ajudar muito em nossa vida espiritual, pois os Padres sempre partiam da prática, do cotiano para guiar seus discípulo até Deus:

Se o ferro é negligenciado e não recebe a manutenção devida, à força de permanecer sempre abandonado sem servir a nada, acaba comido pela ferrugem e já não tem mais nem utilidade nem beleza. O mesmo acontece com a alma. Se ela permanece inerte, se não se dedica a viver na virtude e a se voltar para Deus, se ela se priva da proteção divina por causa de suas más ações, em sua negligência ela se destrói sob o efeito do mal que ataca a matéria do corpo como o ferro se destrói sob o efeito da ferrugem, e não possui mais nem beleza, nem utilidade em vista da salvação.
Deus é bom, impassível, imutável. Mas se nós consideramos razoável e verdadeiro que Deus não muda, podemos nos perguntar como Ele se alegra com os bons e se zanga com os maus, como se irrita com os pecadores e é benevolente quando homenageado. A resposta é que Deus não se alegra nem se irrita, pois alegrar-se e entristecer-se são paixões. Da mesma forma, não há como homenageá-lO com presentes, pois então Ele seria dominado pelo prazer. Ora, é impossível, a partir das coisas humanas, ver no Divino o bem e o mal. Deus é Bom, e Ele não nos faz senão o bem, jamais o mal, pois em tudo isto Ele permanece sempre igual. Também nós, se, por nossa semelhança, perseveramos no bem, também nós nos unimos a Deus. Mas se, por dissenso, nos entregamos ao mal, nós nos separamos de Deus. Vivendo na virtude, ligamo-nos a Deus; mas levados ao mal, fazemos dEle nosso inimigo, cuja irritação não é gratuita, uma vez que os pecados impedem a Deus de brilhar em nós e nos atiram aos demônios que nos castigam. Se, pelas orações e pelo bem que fazemos, obtemos a absolvição de nossas faltas, não é por termos honrado a Deus ou tê-lO feito mudar, mas porque, curando nosso próprio mal com nossas ações e nosso retorno ao divino, desfrutamos novamente de sua bondade. Isto equivale a dizer então que Deus se afasta dos desonestos, e que o sol se esconde diante dos que são privados de visão.


 

Padres do Deserto

A alma verdadeiramente dotada de razão, quando vê a felicidade dos bandidos e a prosperidade dos indignos, não se perturba imaginando aquilo que eles desfrutam nesta vida, como aqueles que, dentre os homens, são desprovidos de razão. Pois ela conhece claramente a instabilidade da fortuna, a incerteza da vida presente, a brevidade da existência e a integridade do Juízo. Esta alma crê que Deus não a esquecerá e lhe dará o alimento de que ela necessita.

A alma dotada de razão, que mantém firmemente sua boa resolução, conduz como um cavalo o ardor e o desejo, suas paixões privadas de razão. Se ela as domina, pressiona, se assenhora delas, ela é coroada e julgada digna da vida no céu. Ela recebe de Deus que a criou a recompensa por sua vitória e suas provações.

O bem não é visível, assim como as coisas do Céu. Mas o mal é visível, como as coisas da terra. O bem é aquilo que não se pode comparar. Assim, o homem que possui inteligência escolhe o melhor. 

O corpo unido à alma passa das trevas do seio materno à luz do dia. Mas a alma unida ao corpo permanece ligada às trevas do corpo. Assim, convém ter aversão e endireitar o corpo, na medida em que ele se mostra adversário e inimigo da alma. A abundância e o prazer das comidas despertam no homem as paixões do mal. Mas a temperança reabsorve as paixões e salva a alma.

Pelo corpo, o homem é mortal. Mas pelo intelecto e pela palavra, ele é imortal. Mesmo se você se cala, você pensa. E se você pensa você fala. Pois é no silêncio que a inteligência engendra a palavra. E a palavra de reconhecimento dirigida a Deus é a salvação do homem.

A alma está no corpo. A inteligência está na alma. E a razão está na inteligência. Quando é concebido e glorificado por ela, Deus imortaliza a alma atribuindo-lhe a incorruptibilidade e as delícias eternas, Ele que por sua simples bondade fez existir todas as criaturas.

Nosso Deus deu a imortalidade às coisas do Céu e fez mutáveis as coisas da terra. Ele colocou a vida e o movimento no universo. A tudo Ele criou para o homem. Assim, não se deixe cativar pelas imagens deste mundo que lhe chegam pelo demônio, quando ele introduz em sua alma maus pensamentos. Mas procure imediatamente os bens celestiais, e diga a si mesmo: “Se eu quiser, eu tenho em mim o poder de rechaçar também este ataque da paixão. Mas se eu não o fizer, é porque quero satisfazer meu desejo.” Continue assim com este combate, que pode salvar sua alma.

O mal anda de mãos dadas com a natureza, como a ferrugem com o ferro, ou as excreções com o corpo. Mas não foi o ferreiro quem fez a ferrugem, nem os pais que fizeram a excreção. Da mesma forma, Deus não criou o mal. Ao contrário, Ele deu ao homem o conhecimento e o discernimento, para que ele pudesse fugir do mal, sabendo que este é nocivo e condenável. Assim, quando você ver alguém feliz por ser rico e poderoso, cuidado para não invejá-lo. É o demônio que cria esta ilusão. Mas tenha imediatamente a morte diante dos olhos, e você não cobiçará jamais nem o mal, nem as coisas deste mundo.

Aquele que faz da piedade a companhia de sua vida não permite ao mal entrar em sua alma. E se o mal não penetra nela, a alma permanece ao abrigo do perigo e da infelicidade. Nem as enganações do demônio, nem os golpes da sorte prevalecerão nestes homens. Pois Deus os livra do mal. Eles vivem sob sua guarda, longe de toda infelicidade, semelhantes a Ele. Se os elogiarem, eles rirão de quem os elogia; se os ofenderem, não responderão aos insultos. Pois eles não se comovem com o que é dito ou não dito a respeito deles.

O mal é uma afecção da matéria. Deus não está em causa. Ele deu aos homens o conhecimento, o saber, o discernimento do bem e do mal, e a liberdade. É a negligência e a irresponsabilidade dos homens que engendram as paixões do mal. Portanto, Deus não é sua causa. Os demônios caíram na maldade depois de uma escolha deliberada. O mesmo acontece com a maior parte dos homens.

Conceba as coisas de Deus. Seja piedoso, sem inveja, bom, casto, doce, contente tanto quanto possível, afável, alheio às disputas. Possua estas virtudes e as que lhes assemelham. Pois esta é a fortuna inviolável da alma: agradar a Deus pelo exercício dessas virtudes, não julgar ninguém, não dizer de ninguém: “Fulano é mau, ele pecou”. É melhor nos ocuparmos de nossos próprios males e examinarmos se nossa própria conduta agrada a Deus. Porque afinal, que sentido faz nos preocuparmos se o outro é mau?

A alma se compadece do corpo, mas o corpo não se compadece da alma. Assim, quando o corpo está moribundo, a alma sofre com ele. E quando o corpo está vigoroso e se sente bem, a alma experimenta a mesma alegria. Mas quando a alma se põe a refletir, o corpo não acompanha esta reflexão. Ele permanece abandonado a si mesmo. Pois a reflexão é um estado da alma, assim como a ignorância, o orgulho, a perfídia, a cupidez, o ódio, a inveja, a cólera, o desdém, a vanglória, a estima, a discórdia, o sentido do bem. Tudo isto é suscitado pela alma.
Pai Antônio o Grande

Dentre aqueles que se encontram num albergue, alguns recebem um leito, outros não o obtêm e deitam-se no chão, onde roncam tanto quanto os que dormem em sua cama. Após passarem a noite e deixarem pela manhã os leitos, eles partem juntos, cada qual levando apenas o que possui. O mesmo acontece com todos os que chegam a este mundo. Tanto os que viveram pobremente quanto aqueles que passaram a vida entre a glória e a riqueza, todos saem da vida como do albergue. Eles não levam consigo nada daquilo que fazia as delícias e a riqueza do mundo. Eles não levam senão suas próprias obras, boas ou más: aquilo que fizeram durante a vida.

O homem dotado de razão é combatido pelos sentidos de sua natureza racional, por meio das paixões da alma. Ora, existem cinco sentidos no corpo: a vista, o olfato, a audição, o paladar e o tato. A infeliz alma é capturada pelos cinco sentidos quando ela se submete às quatro paixões que lhes correspondem. Estas quatro paixões são a vanglória, a loucura insensata, a cólera e a lassidão. Portanto, a partir do momento em que, com prudência e reflexão, o homem levou a bom termo o combate e dominou as paixões, ele não é mais combatido. Sua alma está em paz, e ele recebe a coroa de Deus por sua vitória.

Não convém que a alma que é dotada de razão e que combate, se deixe ficar facilmente apreensiva e medrosa diante das provas que lhe acontecem, se ela não quiser ser ridicularizada por sua preguiça. Pois a alma perturbada pela imaginação das coisas do mundo esquece o que ela deve a si mesma. São as virtudes da alma que nos abrem o caminho aos bens eternos. A causa dos castigos está no mal que os homens fazem a si mesmos.

Os sábios devem lembrar-se continuamente: se suportamos nesta vida as pequenas penas passageiras, nós os homens usufruiremos após a morte de um imenso prazer e de delícias eternas. Desde logo, aquele que combate as paixões e que quer ser coroado por Deus, se ele cair, não deve se desencorajar, nem permanecer em sua queda desesperando de si. Mas é preciso que ele se levante, retome o combate, e busque novamente a coroa. Até o último suspiro é preciso lembrar-se desta queda que lhe sucedeu. Pois os golpes que o corpo recebe são a armadura das virtudes e asseguram a salvação da alma.

Aqueles que participam dos Jogos Olímpicos não recebem a coroa por vencerem um, dois ou três adversários, mas após terem vencido a todos os que enfrentaram. O mesmo acontece com o homem que quer ser coroado por Deus. Sua alma deve dedicar-se à sabedoria, não somente nas coisas do corpo, mas em tudo o que se refere a perdas e ganhos, invejas, alimentos, a vanglória, as injúrias, a morte e as afecções análogas.

Saiba que as dores físicas são naturais do corpo, uma vez que este é corruptível e material. Diante de tais sofrimentos, a alma instruída deve armar-se de perseverança e paciência, e não reprovar a Deus por haver criado o corpo.

Os homens não devem adquirir nada de mais. Se por acaso eles têm muito, será bom para eles saber que tudo nesta vida é, por natureza, corruptível, tudo desaparece facilmente, se degrada e se destrói. Assim, eles não devem se inquietar com o que quer que aconteça.

Se você quiser, você será escravo das paixões. Se você quiser, e você é livre, você não será sujeito às paixões. Pois Deus o criou livre. E aquele que sobrepuja as paixões da carne recebe a coroa da incorruptibilidade. Pois se não houvesse paixões não haveria virtudes, nem as coroas dadas por Deus aos homens que delas são dignos.

Se nos esforçamos para cuidar das paixões do corpo para evitar a zombaria daqueles com quem encontramos, com mais razão devemos nos esforçar para curar as paixões da alma, uma vez que seremos julgados na presença de Deus, para que não sejamos submetidos à desonra e ao ridículo. Pois nós somos livres. Assim, mesmo quando sentimos em nós o desejo de más ações, não querer fazê-las é possível, está ao nosso alcance levar uma vida que agrade a Deus. Jamais alguém poderá nos forçar a fazer algo de mal, se não quisermos. Combatendo assim, seremos de fato homens dignos de Deus, e viveremos como anjos no céu.

 A gratidão e a conduta virtuosa são os frutos do homem que mais agradam a Deus. Ora, os frutos da terra não amadurecem em uma hora: é preciso tempo, a chuva, cuidados. Da mesma forma, os frutos do homem não brilham senão pela ascese, o estudo, o tempo, a perseverança, a obstinação e a paciência. Mas mesmo que, ao ver em você estes frutos, alguns o considerem um homem piedoso, desconfie sempre de si mesmo enquanto você viver em um corpo, e considere que nada daquilo que vem de você agrada a Deus. Saiba que, de fato, não é fácil um homem permanecer até o fim puro de toda falta.

Quando você fecha a porta de sua casa e fica só, saiba que um anjo designado por Deus a cada homem estará com você. É este anjo que os gregos chamam de daimon interior. Ele não dorme jamais. É impossível enganá-lo. Ele está sempre com você, ele vê tudo e a escuridão não o atrapalha. Com ele, Deus está em toda parte. Pois não existe lugar nem matéria aonde Deus não esteja, uma vez que ele é maior do que tudo e tem todos os seres em sua mão.

O que é conforme a natureza não é pecado. O pecado é a escolha do mal. Comer não é pecado. Pecado é comer sem dar graças, sem decência nem temperança. Pois convém guardar em vida o corpo fora de toda imaginação perversa. O olhar, se é puro, tampouco é pecado. O pecado está em olhar com inveja, com orgulho ou com indiscrição. É não escutar pacificamente, mas com hostilidade. É não guardar a língua para a ação de graças e a prece, mas deixá-la dizer não importa o quê. É não usar as mãos para socorrer os outros, mas servir-se delas para matar e roubar. Desta forma, cada um dos nossos membros peca por si só, fazendo mal em lugar do bem, contra a vontade de Deus.

As condições nas quais nos encontramos malgrado nós mesmos e sem que o desejemos são uma prisão e um castigo. Assim, ame aquilo que você possui atualmente. Pois se você o assumir de má vontade, você estará punindo a si mesmo por sua própria conta. Na verdade, não existe senão um caminho: o desprezo pelas coisas do mundo.

Quem não se satisfaz com o que possui presentemente para viver, mas quer sempre mais, sujeita-se às paixões que perturbam a alma e lhe impõem pensamentos e imaginações. Pois possuir mais é um mal em si. Assim como uma túnica grande demais atrapalha quem disputa uma corrida, também o desejo de aumentar as riquezas impede a alma de combater e ser salva.
Santos Padres do Deserto

Aqueles que conhecem a Deus enchem-se de todas as bem-aventuranças da bondade. Aspirando às coisas do céu, eles desdenham as coisas desta vida. Tais homens não agradam à maioria, nem tentam agradá-la. Assim, muitos dentre os que não compreendem nada, não apenas os detestam, como zombam deles. Em sua pobreza, eles aceitam suportar tudo isso, sabendo que o que parece um mal à maioria, aos seus olhos é o bem. Pois aquele cujo intelecto se abre às coisas celestes, crê em Deus e compreende que todas as coisas são criações de sua vontade, enquanto que aquele cujo intelecto não se abre, jamais acreditará que este mundo é obra de Deus e que ele foi feito para a salvação do homem.

Deus, com sua palavra, destinou as espécies animais a diferentes usos sucessivos. Algumas devem ser comidas, outras devem servir. E ele criou o homem para contemplar suas vidas e suas obras e para reconhecê-las e interpretá-las. Que os homens se apliquem, assim, a não morrer sem antes contemplar e entender Deus e suas obras, como os animais desprovidos de razão. O homem deve saber que Deus tudo pode, e que nada se opõe Àquele que pode tudo. A partir do nada ele fez, e fez tudo o que quis com sua simples palavra, para a salvação dos homens.

Quando você tiver que se haver com alguém que disputa e combate a verdade e a evidência, corte imediatamente a disputa e afaste-se deste homem cuja inteligência está petrificada. Da mesma forma, com efeito, com que uma água ruim estraga os melhores vinhos, também as conversas sem sentido corrompem aqueles que consagram a vida e o pensamento à virtude.

Não convém aos menos dotados dos homens, os que se desesperam de si mesmos, tratar com negligência e desdém a conduta virtuosa amada por Deus,  sob pretexto de ser-lhes inacessível e fora de alcance. Ao contrário, eles devem colocar nisso todas as suas forças e cuidar de si, pois mesmo que não possam atingir os cumes da virtude e da salvação, entretanto, por seu esforço e seu desejo, ou eles se tornam melhores, ou ao menos não se tornam piores, o que para a alma não é pouco benefício.

Os que consideram como uma infelicidade a perda de dinheiro, de filhos, de servidores ou de qualquer outro bem, saibam que devemos antes de tudo contentarmo-nos com o que Deus dá, e devolver-lhe com entusiasmo e gratidão, quando preciso, sem sermos afetados por esta privação, ou antes por esta restituição, pois aqueles que se servem daquilo que não lhes pertence não cessam de devolver.

Os homens bons e amados por Deus não denunciam o mal de outrem senão na sua presença, e cara a cara. Eles jamais reprovam os ausentes. E eles não aceitam escutar os que assim acusam os outros.

Os que se perderam por causa das esperanças desta vida e não sabem senão em palavras levar a vida mais bela, são um pouco como pacientes que buscam os remédios e os instrumentos da medicina, mas que não sabem servir-se deles nem se inquietam com isto. É por isso que, quando estamos em falta, não devemos jamais acusar nossos pais ou qualquer outra pessoa, mas apenas a nós mesmos. Pois se a alma se abandona à negligência, torna-se para ela impossível vencer.

A marca da alma dotada de razão e virtuosa está no olhar, no caminhar, na voz, no riso, nas ocupações e nas conversas. Pois tudo se transforma e se readapta para se tornar mais nobre. O intelecto amado por Deus guarda suas portas, vigilante e sóbrio, interditando a entrada à infâmia dos maus pensamentos.

É preciso que os homens se conduzam em verdade como convém a seu comportamento e sua conduta. Uma vez operado este redirecionamento, torna-se fácil conhecer as coisas de Deus. Com efeito, aquele que venera a Deus com todo seu coração e com toda sua fé, recebe da providência divina a possibilidade de dominar a cólera e a cobiça. Ora, a cobiça e a cólera são a fonte de todos os males.

Devemos chamar “criador de homens” àquele que é capaz de domar as naturezas incultas a ponto de fazê-las amar a instrução e a cultura. Da mesma maneira, aqueles que transformam os desviados inspirando-lhes uma conduta virtuosa que agrada a Deus, também devem ser chamados “criadores de homens”, pois eles remodelam os homens. Pois a doçura e a temperança são para as almas humanas uma felicidade e uma boa esperança.

Aqueles que desejam levar uma vida virtuosa, piedosa e louvável, não devem ser julgados por seu comportamento, que pode ser simulado, nem por sua conduta, que pode ser enganadora. Mas como os artistas, os pintores e os escultores, é por suas obras que eles revelam sua conduta virtuosa e amada por Deus, e que eles rejeitam como armadilhas todos os prazeres maus.

Não se deve dizer que é impossível ao homem alcançar uma vida virtuosa, mas sim que isto não é fácil. Esta vida não está ao alcance de qualquer um. Mas partilham a vida virtuosa aqueles, dentre os homens, que se consagram à piedade e cujo intelecto é amado por Deus. Pois o intelecto comum está voltado para o mundo, ele é mutante, ele nutre tanto bons como maus pensamentos, ele se altera por natureza e se dirige para a matéria. Mas o intelecto amado por Deus sabe preservar-se do mal que a negligência suscita no homem.

É examinando a si mesmo que o homem dotado de razão experimenta o que lhe convém e lhe é útil, o que é apropriado à alma e lhe é vantajoso, e o que lhe é estranho. E é assim que ele evita o mal que é nocivo à alma, por ser-lhe estranho e separá-la da imortalidade.

Se você pensa que ter dinheiro e mostrar opulência não passam de aparência ilusória e passageira, se você sabe que a vida virtuosa que agrada a Deus o resgata das riquezas, e se você refletir seriamente nisto e guardar na lembrança, você não mais gemerá, nem se lamentará, você não acusará ninguém, mas em tudo dará graças a Deus, vendo aqueles que são piores do que você apoiarem-se sobre a eloqüência e o dinheiro. Pois este é para a alma um mal tão grave como a cobiça, a ambição e a ignorância.

A temperança, a resignação, a castidade, a perseverança, a paciência e similares, são as correspondentes potências virtuosas consideráveis que recebemos de Deus para resistir às dificuldades do momento, fazer-lhes frente e nos socorrer. Se exercermos e mantivermos estas potências, perceberemos que daí em diante nada mais de difícil, doloroso e intolerável nos acontece, com o pensamento de que tudo é humano e pode ser dominado pelas virtudes que estão em nós. Os que não têm a inteligência da alma não pensam assim, pois eles não compreendem que tudo acontece para o bem e como se deve, para nosso benefício, a fim de que brilhem as virtudes, e que sejamos coroados por Deus.

O homem dotado de razão na verdade não tem senão uma coisa no coração: obedecer e agradar ao Deus do universo, e conformar sua alma com a única preocupação de Lhe ser agradável, dando-Lhe graças pela realidade e a força de sua providência por meio da qual Ele dirige todas as coisas, seja o que for que lhe aconteça durante a vida. De fato, seria fora de propósito agradecer pela saúde do corpo aos médicos que nos prescrevem remédios amargos e desagradáveis, enquanto recusamos a Deus a gratidão por coisas que nos parecem penosas, como se não soubéssemos que tudo o que acontece é como deve ser, e para nosso bem, pelos cuidados da providência. Pois o conhecimento de Deus e a fé nele são a salvação e a perfeição da alma.

Quando a idéia de um prazer se apoderar da sua imaginação, vigie para não se deixar invadir por ela. Apresse-se a se lembrar da morte e observe o quanto será melhor para você saber que superou mais esta perdição do prazer.

O homem conhece a Deus e é conhecido por Deus na medida em que se esforça para jamais separar-se dele. E o homem não se separa de Deus quando é bom e domina todo prazer, não por falta de recursos, mas por vontade e temperança.

O homem é o único ser capaz de receber a Deus. Ele é o único, dentre os seres vivos, com quem Deus conversa, à noite por meio dos sonhos, de dia através da inteligência. Assim, continuamente, Ele anuncia e apresenta previamente aos homens que são dignos disto os bens que os esperam.

É a providência divina que dirige o mundo. Nenhum lugar está privado dela. A providência é a razão absoluta que modelou a matéria para dela fazer o mundo. Ela é o criador e o artesão de tudo o que existe. Pois é impossível que a matéria tenha sido organizada sem o poder decisivo da razão, que é a imagem, a inteligência, a sabedoria e a providência de Deus.

A coroa da incorruptibilidade, a virtude, a salvação do homem, consiste em suportar as adversidades com coragem e gratidão. Dominar a cólera, a língua, o ventre e os prazeres, é também um grande auxílio para a alma.


Filocalia Tomo I Volume 1
ANTÔNIO
O GRANDE
330 dc


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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)




"Quem ama a disciplina, ama o conhecimento" - Provérbios 12, 1

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