Parece que ainda estamos em debates sobre "ser mulher", "ser homem" e tudo que poderia milagrosamente nos salvar. Quem escreve se digladia, e as ideias são várias:
Existe quem diz que eu sou feminista porque sou celibatária, escrevo e acho que existem diferenças entre uma mulher e uma árvore de Natal. Por outro lado, há quem diga que sou cristã porque sou celibatária, escrevo e acho que uma mulher não é uma árvore de Natal. Existe quem defenda que, na metafísica do feminismo, ainda estamos dançando a mesma dança revolucionária, mas com mais babados. Existe o discurso de que as feministas são todas imorais e, portanto, não deveriam ter tanto crédito. Outras acreditam que cabelo alinhado, regras de etiqueta, maquiagem e adornos são a própria beleza, e que o mundo será resgatado por essa beleza que se materializou num pó compacto. Outras acham que a feminilidade é uma matrona numa poltrona, que deixa os assuntos como política e economia, ou qualquer coisa que exija algum estudo, para os homens.
Talvez eu tenha esquecido alguns pontos — são tantos que é difícil lembrar de todos.
O interessante de todas essas narrativas é que elas formam grupos partidários que dividem as mulheres, mas eu não quero começar a escrever textos visando a paz mundial. Os discursos separam as pessoas, são uma grande peneira, e assim sempre será. Ingênuo é quem acredita que isso um dia cessará neste exílio. A Babel moderna só pode ser regulada pelo Pentecostes, mas, para isso, precisamos de uma primavera clerical e eclesiástica.
Voltando ao ponto interessante dessa temática: a divisão realizada pelo discurso acontece porque o Brasil é um país populista. Escutar a ideia de alguém e considerar seus pontos é visto como um apoio. O brasileiro — pois nunca chegamos a ser "brasilianos" — apoia pessoas porque vê nelas a si mesmo e a possibilidade de desfrutar do que fulano desfruta. Assim, quando alguém fala da ideia de fulano (e não de beltrano), está automaticamente falando da pessoa e, portanto, de todos que o apoiam. É uma guerra de egos, e o povo segue sempre a ideia mais predominante.
No que se refere às ideias sobre feminilidade atualmente assimiladas, elas foram gestadas numa ação antifeminista desesperada, uma ação que só foi bem-sucedida pela ajuda da Graça. Naquele período, entre 2016 e 2017, as feministas eram auratos bem mais adorados do que hoje e, ao meu ver, era, sim, necessária uma atuação que evidenciasse que não havia nada para admirar. A deputada Ana Campagnolo deu esse passo em sua publicação, e talvez ninguém pudesse fazê-lo de outra forma. É uma regra no mundo das imagens e reputações: se você quer descredibilizar alguém, atinja a imagem que as pessoas têm daquela pessoa. Como quase todas as feministas citadas eram praticamente adoradas — e quem é professor sabe disso — esse passo, considerando que estamos no Brasil, era necessário.
Mas é claro que toda ação tem uma reação, e isso não é necessariamente algo sob o controle do autor. As pessoas seguem não só o que leem, mas também interpretam conforme o que já têm dentro de si. Então, a narração antifeminista daquela época culminou na valoração da família, mas não considerou (e não havia como fazê-lo) que a ideia de família antifeminista e antimoderna ainda estava alicerçada no próprio feminismo.
O feminismo se tornou uma referência de atuação. E veja o problema: o que as feministas consideram como "feminilidade inimiga" é a mulher de vestido perfeito, numa casa perfeita, com um marido perfeito de pulôver e cabelo arrumado, filhos perfeitamente vestidos — uma família de comercial de margarina. Quando uma mulher vê a podridão por trás, não apenas da mentalidade, mas também dos ideólogos por trás do feminismo, pensa: "Bem, se as feministas têm essa imagem como errada, então ela deve ser a certa."
Então, essa mulher tomou esse modelo como o modelo tradicional. O modelo tradicional atual é embasado nas ideias do próprio feminismo sobre a família tradicional.
Acredito que não seja necessário dizer o problema, mas, como professora numa terra como o Brasil, prefiro não me arriscar: o problema é que ninguém questionou — mas será que isso é mesmo a família tradicional? O que é tradicional? E, baseado em quais referências, eu defino isso?
Isso não aconteceu porque ainda estamos, socialmente, num movimento reativo em quase todas as áreas sociopolíticas. As produções, discursos etc. são antifeministas. Estamos muito bem especializados no erro. O que fez com que o público — você, leitor — ficasse cheio de impressões sobre os sinais do erro. A mente humana funciona dessa forma: quando uma ideia é apresentada, ela tenta estabelecer padrões para delinear uma forma exata para essa ideia. Mas a ideologia não é assim; é uma massa de modelar diabólica que se autodefine conforme o ambiente e usa, em seu benefício, discursos que antes serviam para destruí-la.
E, para isso, as mentes não estão prontas. Esse é o motivo de as linhas serem tão díspares: estão lutando contra algo que se autodefine através das ofensas que recebe.
A maioria não tem a esperteza das serpentes para ver algo tão nítido, e, por isso, se organiza pelo populismo. Apoiar e endeusar uma pessoa é mais fácil do que buscar entender as ideias. Eu não critico — acredito que quem consegue escolher o mais fácil, sem peso, certamente assim fará, e ninguém questionará. O ponto é a atmosfera de caos que isso gera, impossibilitando a reflexão que este país precisa para finalmente sair do buraco em que está.
Aqui deixo alguns apontamentos para os que talvez tenham algum gosto pela reflexão, pois talvez vocês entendam que o pensamento — e a mudança do pensamento — ainda não aconteceram:
A maioria das famílias que hoje fazem um bom trabalho parece achar que está criando a roda. No entanto, o Trivium e a Ratio Studiorum que vocês usam foram escritos por celibatários.
A indústria rotulou a área de cosméticos como "beleza e autocuidado" para ganhar mais dinheiro. É por isso que você acha que maquiagem é beleza — é um trabalho de manipulação da massa pela propaganda, e a massa é você.
A feminilidade não é algo adquirido pelo que você compra e pendura em si mesma. A mulher nasce mulher e será mulher mesmo que não tenha nenhum dos objetos que são vistos como "femininos".
Essa ideia de construção do feminino com adereços externos é materialista e, veja só, feminista — que acredita que a mulher se constrói por uma imposição social através dos adereços, normas de comportamento etc. Ou seja, se você pensa assim, ainda é feminista, porque ainda pensa como feminista.
Por fim, leia a vida das santas. Não apenas aquelas que têm a mesma vocação que você — não torne a leitura das santas numa vivência velada de egoísmo, sim? Leia para perceber a variedade e profundidade dos talentos que Deus dá para suas filhas e as diversas áreas em que esses talentos são úteis. Se Deus lhe deu um talento, já está implícito, de forma imperativa, que você deve fazer uso dele — mas de maneira pessoal, distante do mimetismo.
Professora Ana Paula Barros
Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.
Totus Tuus, Maria (2015)