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Salus in Caritate






Parece que ainda estamos em debates sobre "ser mulher", "ser homem" e tudo que poderia milagrosamente nos salvar. Quem escreve se digladia, e as ideias são várias:

Existe quem diz que eu sou feminista porque sou celibatária, escrevo e acho que existem diferenças entre uma mulher e uma árvore de Natal. Por outro lado, há quem diga que sou cristã porque sou celibatária, escrevo e acho que uma mulher não é uma árvore de Natal. Existe quem defenda que, na metafísica do feminismo, ainda estamos dançando a mesma dança revolucionária, mas com mais babados. Existe o discurso de que as feministas são todas imorais e, portanto, não deveriam ter tanto crédito. Outras acreditam que cabelo alinhado, regras de etiqueta, maquiagem e adornos são a própria beleza, e que o mundo será resgatado por essa beleza que se materializou num pó compacto. Outras acham que a feminilidade é uma matrona numa poltrona, que deixa os assuntos como política e economia, ou qualquer coisa que exija algum estudo, para os homens.

Talvez eu tenha esquecido alguns pontos — são tantos que é difícil lembrar de todos.

O interessante de todas essas narrativas é que elas formam grupos partidários que dividem as mulheres, mas eu não quero começar a escrever textos visando a paz mundial. Os discursos separam as pessoas, são uma grande peneira, e assim sempre será. Ingênuo é quem acredita que isso um dia cessará neste exílio. A Babel moderna só pode ser regulada pelo Pentecostes, mas, para isso, precisamos de uma primavera clerical e eclesiástica.

Voltando ao ponto interessante dessa temática: a divisão realizada pelo discurso acontece porque o Brasil é um país populista. Escutar a ideia de alguém e considerar seus pontos é visto como um apoio. O brasileiro — pois nunca chegamos a ser "brasilianos" — apoia pessoas porque vê nelas a si mesmo e a possibilidade de desfrutar do que fulano desfruta. Assim, quando alguém fala da ideia de fulano (e não de beltrano), está automaticamente falando da pessoa e, portanto, de todos que o apoiam. É uma guerra de egos, e o povo segue sempre a ideia mais predominante.

No que se refere às ideias sobre feminilidade atualmente assimiladas, elas foram gestadas numa ação antifeminista desesperada, uma ação que só foi bem-sucedida pela ajuda da Graça. Naquele período, entre 2016 e 2017, as feministas eram auratos bem mais adorados do que hoje e, ao meu ver, era, sim, necessária uma atuação que evidenciasse que não havia nada para admirar. A deputada Ana Campagnolo deu esse passo em sua publicação, e talvez ninguém pudesse fazê-lo de outra forma. É uma regra no mundo das imagens e reputações: se você quer descredibilizar alguém, atinja a imagem que as pessoas têm daquela pessoa. Como quase todas as feministas citadas eram praticamente adoradas — e quem é professor sabe disso — esse passo, considerando que estamos no Brasil, era necessário.

Mas é claro que toda ação tem uma reação, e isso não é necessariamente algo sob o controle do autor. As pessoas seguem não só o que leem, mas também interpretam conforme o que já têm dentro de si. Então, a narração antifeminista daquela época culminou na valoração da família, mas não considerou (e não havia como fazê-lo) que a ideia de família antifeminista e antimoderna ainda estava alicerçada no próprio feminismo.

O feminismo se tornou uma referência de atuação. E veja o problema: o que as feministas consideram como "feminilidade inimiga" é a mulher de vestido perfeito, numa casa perfeita, com um marido perfeito de pulôver e cabelo arrumado, filhos perfeitamente vestidos — uma família de comercial de margarina. Quando uma mulher vê a podridão por trás, não apenas da mentalidade, mas também dos ideólogos por trás do feminismo, pensa: "Bem, se as feministas têm essa imagem como errada, então ela deve ser a certa."

Então, essa mulher tomou esse modelo como o modelo tradicional. O modelo tradicional atual é embasado nas ideias do próprio feminismo sobre a família tradicional.

Acredito que não seja necessário dizer o problema, mas, como professora numa terra como o Brasil, prefiro não me arriscar: o problema é que ninguém questionou — mas será que isso é mesmo a família tradicional? O que é tradicional? E, baseado em quais referências, eu defino isso?

Isso não aconteceu porque ainda estamos, socialmente, num movimento reativo em quase todas as áreas sociopolíticas. As produções, discursos etc. são antifeministas. Estamos muito bem especializados no erro. O que fez com que o público — você, leitor — ficasse cheio de impressões sobre os sinais do erro. A mente humana funciona dessa forma: quando uma ideia é apresentada, ela tenta estabelecer padrões para delinear uma forma exata para essa ideia. Mas a ideologia não é assim; é uma massa de modelar diabólica que se autodefine conforme o ambiente e usa, em seu benefício, discursos que antes serviam para destruí-la.

E, para isso, as mentes não estão prontas. Esse é o motivo de as linhas serem tão díspares: estão lutando contra algo que se autodefine através das ofensas que recebe.

A maioria não tem a esperteza das serpentes para ver algo tão nítido, e, por isso, se organiza pelo populismo. Apoiar e endeusar uma pessoa é mais fácil do que buscar entender as ideias. Eu não critico — acredito que quem consegue escolher o mais fácil, sem peso, certamente assim fará, e ninguém questionará. O ponto é a atmosfera de caos que isso gera, impossibilitando a reflexão que este país precisa para finalmente sair do buraco em que está.

Aqui deixo alguns apontamentos para os que talvez tenham algum gosto pela reflexão, pois talvez vocês entendam que o pensamento — e a mudança do pensamento — ainda não aconteceram:

A maioria das famílias que hoje fazem um bom trabalho parece achar que está criando a roda. No entanto, o Trivium e a Ratio Studiorum que vocês usam foram escritos por celibatários.

A indústria rotulou a área de cosméticos como "beleza e autocuidado" para ganhar mais dinheiro. É por isso que você acha que maquiagem é beleza — é um trabalho de manipulação da massa pela propaganda, e a massa é você.

A feminilidade não é algo adquirido pelo que você compra e pendura em si mesma. A mulher nasce mulher e será mulher mesmo que não tenha nenhum dos objetos que são vistos como "femininos".

Essa ideia de construção do feminino com adereços externos é materialista e, veja só, feminista — que acredita que a mulher se constrói por uma imposição social através dos adereços, normas de comportamento etc. Ou seja, se você pensa assim, ainda é feminista, porque ainda pensa como feminista.

Por fim, leia a vida das santas. Não apenas aquelas que têm a mesma vocação que você — não torne a leitura das santas numa vivência velada de egoísmo, sim? Leia para perceber a variedade e profundidade dos talentos que Deus dá para suas filhas e as diversas áreas em que esses talentos são úteis. Se Deus lhe deu um talento, já está implícito, de forma imperativa, que você deve fazer uso dele — mas de maneira pessoal, distante do mimetismo.



Professora Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)

















Cafona versus Chique: Disputa Simbólica no Brasil

Professora Ana Paula Barros¹





Este artigo tem como objetivo analisar criticamente o uso do termo “cafona” como marcador simbólico de distinção social, investigando de que maneira sua aplicação contribui para a legitimação de padrões de imagem e aparência associados ao que se convencionou chamar de “chique” ou “sofisticado”. Pretende-se demonstrar como essa categorização opera como mecanismo de mundanização eclesial, que gera uma ação católica ineficaz, motivada pela vaidade e pela busca de aprovação social.

Palavras-chave: Cafona; Estética; Capital simbólico; Capital cultural



Introdução


O termo “cafona” ocupa um lugar peculiar no imaginário cultural brasileiro, sendo frequentemente utilizado para designar aquilo que é considerado de mau gosto, excessivo ou fora dos padrões de imagem e aparência legitimados socialmente. Mais do que uma simples avaliação estética — leia-se: avaliação da imagem e aparência resultante da apreensão pelos sentidos —, o uso da palavra carrega implicações simbólicas que residem no tecido cultural brasileiro, funcionando como instrumento de distinção social e exclusão cultural. Ao longo das décadas, “cafona” tornou-se um marcador que separa o “chique” do “popular”, o “refinado” do “brega”.

A escolha deste tema justifica-se pela relevância sociocultural que o julgamento da imagem e aparência assume na constituição das hierarquias simbólicas. O gosto, longe de ser uma expressão espontânea ou individual, é socialmente construído e politicamente operado, servindo como mecanismo de legitimação de determinados grupos sociais em detrimento de outros.

Este artigo propõe uma análise crítica do conceito de “cafona”, com o objetivo de compreender como o gosto é mobilizado como capital simbólico e como se articula aos processos de distinção social. Cabe salientar que, em um contexto católico moderno soterrado pela mundanização, o termo “cafona” é constantemente veiculado com uma ligação explícita ou implícita ao que é entendido como cafona no mundo secular — ou seja, ao mundano. Dessa forma, a própria imagem e aparência resultante do catolicismo vivido na vida religiosa, ou fora dela, recebe, em comparação com as diretrizes mundanas, o rótulo de “cafona”.

Assim, este estudo visa elucidar as amarras culturais, deterministas e restritivas que geram um nivelamento social que, na prática, mitiga a ação e a vivência do catolicismo no mundo secular, uma vez que a catolicidade passou a adotar como régua moral os padrões de imagem e aparência mundanos. A ação católica sadia, nesse sentido, consistiria em nomear como “cafona” aquilo que é mundano e contrário à virtude, promovendo, assim, uma purificação estética — ou seja, uma purificação da apreensão pelos sentidos. No entanto, o que se observa atualmente é o uso da palavra como reforço das distinções sociais, acentuando as distâncias simbólicas dentro do próprio meio eclesial.



Origem e evolução do termo “cafona”


O termo “cafona” possui uma origem controversa e pouco documentada, mas acredita-se que tenha emergido no Brasil entre as décadas de 1940 e 1950, inicialmente como uma gíria popular utilizada para designar indivíduos ou comportamentos considerados deselegantes ou fora dos padrões de imagem e aparência vigentes. Há registros que associam sua origem ao meio artístico e radiofônico, especialmente no contexto da música popular urbana, onde o termo era empregado de forma pejorativa para qualificar estilos musicais e visuais considerados excessivos ou vulgares.

Ao longo das décadas, o significado de “cafona” passou por diversas transformações semânticas. Nos anos 1960 e 1970, por exemplo, o termo foi amplamente utilizado para descrever o estilo musical conhecido como “brega”, marcado por letras românticas, melodramáticas e por uma imagem visual exuberante. Nesse período, “cafona” tornou-se sinônimo de um gosto popular frequentemente associado à classe trabalhadora, à periferia urbana e à cultura de massa.

Com o passar do tempo, o termo passou a incorporar nuances mais complexas, sendo utilizado não apenas para descrever o gosto popular, mas também para marcar distinções simbólicas entre o que é considerado “autêntico” e o que é visto como “exagerado”, “vulgar” ou “fora de moda”. Essa evolução semântica aponta como o julgamento de imagem e aparência é historicamente condicionado e socialmente operado, mostrando as disputas de poder simbólico entre diferentes grupos sociais.

A relação entre o “cafona”, o “kitsch” e o “brega” é fundamental para compreender os mecanismos de exclusão cultural que operam por meio da imagem e da aparência. O kitsch, conceito amplamente discutido por teóricos como Clement Greenberg e Umberto Eco, refere-se à imagem do excesso, da artificialidade e da reprodução massiva. Já o “brega”, expressão tipicamente brasileira, carrega uma conotação semelhante, mas com forte vínculo à cultura popular e à música romântica. O “cafona”, nesse contexto, funciona como um rótulo que sintetiza esses elementos, sendo mobilizado para desqualificar comportamentos. É frequentemente usado no eixo paulista-carioca como forma de descredibilizar pela desqualificação, e é usado para absolutamente tudo que tenha relação com imagem e aparência, de corpos a prédios. No entanto, o termo é constantemente ligado a diretrizes políticas e gostos do período, o que pode gerar ruídos sérios quando comparamos as diretrizes de imagem e aparência com a vida dos santos. Por exemplo, muitos deles seriam qualificados como cafonas; a própria doutrina católica, ensinada pelos doutores da Igreja, seria cafona.

Assim, compreender a origem e a evolução do termo “cafona” é útil, pois possibilita considerarmos os processos de construção simbólica do gosto. Trata-se de um conceito que, embora aparentemente banal, gera profundas tensões entre imagem e aparência, estética (leia-se: apreensão pelos sentidos), extratos sociais (acesso a determinadas coisas) e identidade (catolicidade).



O gosto como construção social

A compreensão do gosto como uma construção social é central para a análise crítica do termo “cafona”. Pierre Bourdieu, em sua obra A Distinção: crítica social do julgamento, demonstra que o gosto não é uma expressão espontânea ou meramente individual, mas sim um produto das condições sociais e históricas que moldam os sujeitos. O gosto, nesse sentido, funciona como uma forma de capital simbólico.

Capital cultural é um conceito desenvolvido por Pierre Bourdieu para descrever os conhecimentos, habilidades, competências e disposições culturais que os indivíduos acumulam ao longo da vida, especialmente por meio da educação formal, da convivência familiar e do acesso a bens simbólicos legitimados socialmente. Esse capital pode se manifestar de forma incorporada (como hábitos e modos de falar), objetivada (como livros, obras de arte e instrumentos culturais) ou institucionalizada (como diplomas e títulos acadêmicos). O capital cultural permite que determinados grupos mantenham sua posição privilegiada ao transformar seus hábitos e gostos em critérios de distinção e prestígio. Por isso, por exemplo, em termos de consumo e aquisição, aqueles que são ricos consomem somente o que é, de certa forma, inacessível. A partir do momento em que determinado produto, hábito ou qualquer outra coisa cai no gosto popular, eles mudam suas escolhas, pois aquele objeto ou comportamento ficou massificado. Isso certamente acontecerá com a etiqueta, por exemplo. Os ricos passarão então a escolher a demonstração de riqueza pela demonstração de que possuem tempo. O luxo, a partir de agora, não será mais um capital que se tem em objetos, conta bancária ou comportamento, mas em ter tempo para, por exemplo, fazer aula de equitação às três horas da tarde. Isso é um mecanismo do capital cultural, e a mudança, após massificação, é justamente sua característica: se um dia muitas pessoas puderem fazer equitação às três horas da tarde, isso não será mais luxo, e então exigirá uma mudança.

Capital simbólico, por sua vez, refere-se ao reconhecimento social que um indivíduo ou grupo recebe com base na posse de outros tipos de capital — econômico, cultural ou social — quando esses são legitimados por uma coletividade. Trata-se de uma forma de poder invisível, que opera por meio da aceitação e valorização de determinados atributos, comportamentos ou estilos de vida como superiores ou desejáveis. O capital simbólico é o que transforma o capital cultural em prestígio, o capital econômico em status e o capital social em influência. Ele é fundamental para compreender como certas práticas são naturalizadas como legítimas, enquanto outras são desqualificadas, como ocorre com o uso do termo “cafona” para marcar fronteiras entre o que é valorizado e o que é marginalizado culturalmente. É, portanto, fortemente ligado à cultura. Por exemplo, aqui no Brasil, via de regra, é visto como cafona usar uma camiseta ou blusa para fora da saia. No entanto, essa mesma pessoa, fashionista, ao pisar no Japão, em dois dias certamente já estará usando camisetas oversized para fora de saias de tule, simplesmente porque no Japão, culturalmente, isso é visto como estiloso e antenado. Outro exemplo é o coque baixo: no Brasil, é símbolo de cafona e também enquadrado em “evangélico”, de forma pejorativa. No entanto, na Inglaterra, é elegante, e na Coreia é o penteado de praticamente todas as mulheres. Ou seja, o que é visto como cafona para uma cultura não é para outra.

O que nos coloca em uma importante ação católica: não nos determinarmos pela cultura, mas pelo autoconhecimento e pelas vidas dos santos. A atitude católica exige uma libertação dessas percepções culturais restritivas que nada ajudam na vivência da virtude e da doutrina da Igreja, restringindo a mente e o coração (isso sim, é contra a doutrina católica). 




Estética e Moralidade

A construção do “chique” como ideal de imagem e aparência entra no território das normas sociais e dos mecanismos de nivelamento social. O “chique” não se refere apenas ao refinamento visual, mas também à ideia de comportamento adequado, discreto e alinhado a determinados valores. Apresenta-se como superior não apenas no gosto, mas também na conduta.

A mídia, a moda e a elite cultural desempenham papel central na consolidação desse ideal social. São esses agentes que definem e atualizam os padrões de gosto considerados legítimos, operando como curadores do que deve ser valorizado ou rejeitado. Revistas, programas de televisão, influenciadores digitais e marcas de prestígio atuam como mediadores entre o consumo e o desejo, estabelecendo fronteiras simbólicas entre o “chique” e o “cafona”. Nesse processo, o povo — nós — somos, em grande parte, apenas receptores passivos de algo construído segundo diretrizes contrárias ao evangelho. Nessa cristandade pós-moderna, as diretrizes de feio e bonito, chique e cafona, tomaram como referência o que a indústria da moda, imagem, aparência e mídia apresentam como tal. Não temos uma ação católica de crítica, apenas de adesão.


Para tal objetivo, até mesmo Sócrates foi acusado de ter sido morto porque não tinha alguém que cuidasse de sua imagem pública. Segundo esse raciocínio, esse filósofo foi morto não porque havia feito grandes e inquietantes reflexões, mas porque era cafona. O que isso aponta sobre o padrão moral e a apreensão pelos sentidos — ou seja, os padrões estéticos — dos cristãos brasileiros pós-modernos? Que basta parecer ser, basta ter uma imagem de.

Em vez de enfrentarmos a crise da verdade, estamos abraçando-a com entusiasmo. Os caminhos que escolhemos mostram que perdemos uma disputa moral: adotamos o gosto imposto pela moda, pela mídia e pela indústria de imagem e aparência, sem confrontá-lo com as diretrizes do Evangelho e o testemunho dos santos. Essa adesão acrítica é movida, em grande parte, por vaidade e pelo desejo de aprovação social.




¹Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)










A Revista Salutaris nasceu do meu desejo de registrar, de forma mais duradoura e acessível, alguns conhecimentos sobre arte e patrimônio — organizados de modo que também pudessem servir como material de apoio para minhas aulas de Educação Estética, ministradas no Educa-te.

Para dar espaço ao trabalho de curadoria e revisão, a revista foi idealizada como uma publicação trimestral. Com o tempo, uma edição especial chamada Pausa {caderno de ensaios} foi incorporada ao plano editorial.

Ser responsável por uma revista me faz lembrar das aulas de jornalismo cultural, em que estudamos as primeiras publicações lançadas no Brasil — como a Variedades e Ensaios de Literatura, de 1812. As revistas, naquela época, ocupavam o cotidiano e, tal como uma pintura de gabinete, cuja função era acompanhar o morador no cômodo mais frequentado da casa, elas foram pensadas para oferecer literatura e filosofia em doses diárias.

Foi dessa ideia, tão antiga, que nasceu a Salutaris: uma revista de Educação Estética, Arte e Patrimônio que engloba tudo aquilo que chamamos de cultura — literatura, filosofia, artes, enfim, tudo o que a alma humana produz e é capaz de amar.

A primeira edição de 2024, Arte na Igreja — Os Primeiros Mil Anos, tem 25 páginas e analisa 11 obras. 

A segunda, Espírito Gótico, conta com 85 páginas, 6 artistas e 71 obras. 

A terceira, O Renascimento, apresenta 99 páginas, 11 artistas e 65 obras.

Em 2025, a primeira publicação foi a Edição Especial Pausa {ensaios}, com 38 páginas e três ensaios sobre Subculturas Literárias e consumo literário — textos produzidos ao longo da minha trajetória acadêmica.

A segunda edição de 2025 será A  Arte Combate a "Reforma", com 101 páginas, 10 artistas e 58 obras - data de publicação 25 de junho de 2025.





Acesse as edições aqui





"Não apenas a rotinização da cultura, mas também a tentativa consciente de arrancá-la dos grupos privilegiados para transformá-la em fator de humanização." - Antônio Cândido






Sóror Maria do Céu (1658-1753), freira clarissa fez do claustro jardim fértil para a produção literária, assim como outras irmãs da árvore de São Francisco, tão rica em gerar artistas e escritores.

Antes de ingressar na vida religiosa, Maria da Eça — como era conhecida — já demonstrava grande aptidão para as letras. Ao adotar o nome de Sóror Maria do Céu, seguiu cultivando sua paixão pela escrita, explorando a poesia, a dramaturgia e o pensamento filosófico. Sob o pseudônimo de Sor Marina Clemência, publicou obras que hoje são consideradas verdadeiros monumentos do barroco lusitano, transitando entre o imaginário religioso e a teatralidade vibrante do período.

Seu talento, aliado a um profundo conhecimento da cultura clássica e religiosa, permitiu-lhe construir uma obra marcada pela musicalidade e pela riqueza de imagens, característica dos grandes poetas barrocos. Em suas comédias e autos religiosos, utilizou uma linguagem refinada, que combinava alegoria e espiritualidade, revelando-se uma das vozes mais singulares da época.




O Barroco Literário e a Epopeia


O Barroco Literário surgiu no final do século XVI e predominou até meados do século XVIII. Caracteriza-se pelo culto ao contraste, pela fusão entre o espiritual e o material, e pelo uso de figuras de linguagem como antítese, paradoxo e hipérbole. A literatura barroca reflete a crise entre o teocentrismo medieval e o antropocentrismo renascentista, criando uma estética marcada pela complexidade e pelo exagero.

Já a epopeia é um gênero literário que consiste em um poema narrativo extenso, geralmente versando sobre feitos heroicos ou históricos. Mistura elementos líricos e narrativos para engrandecer personagens e acontecimentos. Um dos exemplos mais famosos é Os Lusíadas, de Luís de Camões, que exalta as conquistas marítimas portuguesas.


Outros Escritores Barrocos


Além de Sóror Maria do Céu, destacam-se outros escritores barrocos portugueses, como:

Padre António Vieira – Conhecido por seus sermões conceptistas, que combinam retórica sofisticada e profundidade filosófica.

Francisco Rodrigues Lobo – Poeta e prosador que explorou temas bucólicos e amorosos.

D. Francisco Manuel de Melo – Autor de obras históricas e satíricas, como Carta de Guia de Casados.

Soror Violante do Céu – Poetisa e religiosa, cuja obra também se destacou pela espiritualidade e refinamento estilístico.




Lista de Obras de Sóror Maria do Céu



Manuscritos

Escarmentos de Flores (1681)
Agravo e Desagravo da Misericórdia
Cartas aos Duques de Medinaceli


Publicações

A Preciosa (1731, 1733)
Obras Várias e Admiráveis (1735, 1736)
A Fênix Aparecida na Vida, Morte, Sepultura & Milagres da Gloriosa S. Catarina (1715)
Enganos do Bosque, Desenganos do Rio (1736, 1741)
Triunfo do Rosário (1733, 1740)
Metáforas das Flores (1873)
Aves Ilustradas Em Avisos Para as Religiosas servirem os ofícios dos seus Mosteiros (1734, 1736, 1738)
La Preciosa (1791, 1792)


Comédias

En la cura va la flexa
Perguntarlo a las Estrellas
Clavel y Rosa
La flor de las Finezas
Las lágrimas de Roma
Las Rosas con las Espigas
Amor es fe
Mayor Fineza de Amor
Perla y Rosa
Tres redenciones del hombre
En la más escura noche (in: Desposorios de S. Joseph)


Obras Desaparecidas

A vida de Santa Petronila
Vida da Madre Elena da Cruz




A redescoberta da obra de Sóror Maria do Céu, principalmente após os estudos da pesquisadora Ana Hatherly, reforça sua importância no cenário cultural. 

Seu legado persiste como um testemunho da presença feminina na literatura barroca, um convite à contemplação da palavra e do espírito. Uma esposa do Senhor, uma autora de grande engenhosidade, cuja obra ainda ecoa nas reflexões sobre arte e literatura.




Crítica de Cultura Católica por Ana Paula Barros



Sempre desconfiei que o verdadeiro motivo pelo qual os nomes de algumas mulheres desaparecem é o desinteresse das próprias mulheres em valorizá-los, citá-los e mencioná-los sem inveja ou sensação de inferioridade.

É interessante notar que os livros da Irmã Marina são todos antecedidos por longas cartas de clérigos recomendando as obras. Ela foi uma grande autora que conseguiu viver sua vocação seguindo o que Deus lhe deu como talento.

Talento, eis a grande questão atual, que faz os estereótipos surgirem tão rapidamente e a inveja se tornar o obstáculo em que muitas tropeçam, quando uma ou mais mulheres não seguem a cartilha do comercial de margarina.

O talento é a grande seta que Deus nos dá, mas existem tantas forças executadas para desviar as pessoas do aprimoramento de seus dons. Alegam que são os mosteiros que fazem isso, mas é muito mais fácil que o Instagram e seus discursos sejam os verdadeiros agentes dessa influência.

Irmã Marina é um exemplo de como os estereótipos são falsos e de como os discursos atuais, dentro e fora do nicho católico, apenas buscam afastar as mulheres da descoberta e do aprimoramento de seus talentos.

Talento não segue receita.








Vittoria Colonna, Marquesa de Pescara, foi uma das figuras literárias mais influentes do Renascimento italiano. Nascida em 1490 em Marino, foi filha de Fabrizio Colonna e Agnese de Montefeltro, crescendo em um ambiente aristocrático e intelectualmente estimulante. Casou-se jovem com Fernando de Ávalos, Marquês de Pescara, cuja morte na Batalha de Pavia marcou profundamente sua trajetória.

Reconhecida por sua poesia refinada e por seu papel de destaque na tradição petrarquiana, Colonna não se limitou ao mundo das letras. Foi uma mediadora política e uma reformadora religiosa, atuando com firmeza e originalidade em um tempo de grandes transformações. Sua obra poética, admirada por contemporâneos e por estudiosos posteriores, reflete uma intensa busca espiritual e um talento literário excepcional.





Obras

Rime spirituali – Uma coleção de poemas religiosos que refletem sua profunda espiritualidade e influência reformista.


Rime amorose – Poemas dedicados ao seu falecido marido, Fernando de Ávalos, seguindo a tradição petrarquiana.


Correspondência com Michelangelo – Cartas e poemas trocados entre os dois, revelando uma amizade intelectual e espiritual intensa.

Entre suas amizades mais célebres, destaca-se sua ligação com Michelangelo, que lhe dedicou poesias e desenhos. A relação entre os dois se aprofundou a partir de 1542, unida por discussões sobre arte e religião. Seus poemas dirigidos ao artista revelam não apenas um respeito mútuo, mas uma troca intelectual profundamente marcada pela espiritualidade e pelo questionamento interior.




Curiosidades

Amizade com Michelangelo – O artista dedicou-lhe vários poemas e desenhos, e esteve ao seu lado em seus últimos momentos de vida.


Influência na Reforma Católica – Colonna foi próxima de pensadores reformistas como Juan de Valdés e teve suas obras analisadas pela Inquisição. A Reforma Católica, também chamada de Reforma no interior da Igreja, refere-se aos esforços de renovação espiritual e institucional dentro do próprio catolicismo. Ela já estava em curso antes da eclosão da Reforma Protestante de Lutero em 1517 e envolvia figuras que buscavam uma fé mais autêntica e uma moral mais rigorosa, como o movimento devocional do século XV e os humanistas cristãos. Foi um resultado da Devotio Moderna do século XV analisada na aula Alienação e Intolerância ministrada em 26 de julho de 2022 (acesso aberto - Acervo Midiateca Salus aqui). 


Casamento arranjado – Seu casamento com Fernando de Ávalos foi arranjado desde a infância, mas se tornou uma relação de grande afeto.


Primeira mulher a publicar poesia na Itália – Foi uma das primeiras mulheres a ter suas obras impressas e amplamente divulgadas no século XVI.



Vittoria Colonna faleceu em 1547 no convento de Santa Ana (embora não tivesse feito votos formais), onde passou seus últimos anos. Sua vida e obra continuam a ser objeto de estudos e interpretações, reafirmando seu papel como uma das mulheres mais notáveis do século XVI. Seu legado poético e sua presença ativa nos debates políticos e religiosos da época fazem dela uma figura essencial para a compreensão do Renascimento italiano.





Amostra para Apreciação



Se um pequeno punhado de terra guarda (tradução nossa)


Se um pequeno punhado de terra guarda,

por graça de Deus, a alma eterna e imensa,

não encontra igual ao seu desejo

nem repousa em guerra tão incessante.



Do abrigo fiel fecha-se por dentro,

sobe e desce em mesma medida;

e entre vãos degraus, ilusões enganosas,

pelo labirinto humano vaga e delira.



Não vê o fim do fio que a vida tece,

mas urde e planeja, segura e solta,

afrouxa e puxa de sua trama frágil.



E ao desejo apenas redime

e liberta da névoa mortal que o enfraquece,

a fé nas coisas altas e divinas.






Crítica de Cultura – Professora Ana Paula Barros



A amizade, vista pela tradição católica como um dom de Deus, é uma semente que encontra um terreno árido na percepção moderna dos sexos. A amizade entre homens e mulheres parece carregar o sinal da corrupção e da inevitável distorção moral. Isso se deve à perda da pureza – um coração e uma mente impuros estabelecem a impureza como norma. Neste cenário, é realmente inesperado encontrar histórias de amizades tranquilas em épocas consideradas antigas.

O enriquecimento seguro é possível quando há complementariedade, mas, para isso, seria necessário um coração mais puro. O que soa como uma esperança frágil em um mundo tomado pelo ciúme, pela inveja e por relacionamentos quase sempre fundamentados em interesses físicos, seja sexuais ou financeiros.

Michelangelo era 15 anos mais velho que Vittoria. Eles iniciaram sua amizade já em idade avançada, e sua relação se aprofundou por volta de 1542, quando ele tinha 67 anos e ela, 52. Talvez a idade realmente traga sabedoria.

Amizades que transcendem o interesse físico e sexual, como as de Michelangelo e Vittoria, Santa Teresa e São João da Cruz, São Francisco e Santa Clara, talvez tenham adquirido um tom mitológico devido às limitações impostas pela segregação dos sexos, reforçada por frases como “homens se formam com homens e mulheres com mulheres”. Grupos assim segregados tendem a reforçar suas próprias fraquezas e limitações, tornando-se incentivos para o confinamento mútuo. Por outro lado, uma dinâmica complementar permite a influência do olhar do outro, do pensamento do outro – e certamente favorece o fortalecimento, não a fragilidade.

Entretanto, essa relação complementar foi reduzida ao erótico, tornando-se comum encontrar mulheres que não conseguem conversar sobre temas relevantes entre homens, e homens que não sabem conduzir conversas interessantes com mulheres — a menos que haja um interesse sexual, romântico ou financeiro envolvido.

Mas nós, segundo alguns, evoluímos.



Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025). 




Cultura Católica II - O Poder dos Ritos e a Catarse na Ordem Social e Espiritual
Foto: Antonio Calanni/AP - Maio de 2025



Existem duas linguagens no mundo: a verbal e a não verbal. Ambas são constituídas por símbolos, e esses símbolos não são insignificantes; carregam um poder sobre a humanidade, sobre cada indivíduo, para o bem ou para o mal. São norteadores sociais, portais para o transcendente, receptáculos dos anseios dos mesmos seres humanos que os recebem e atuam nessa comunicação.

Estão por toda parte, mas encontram sua expressão mais condensada nos ritos. Os ritos são uma sucessão de símbolos, cada um deles importante, pois comunicam em uma linguagem silenciosa, capaz de transformar a atmosfera social ao tocar a alma.

Assim acontece também com as grandes obras de arte—elas geram catarse, purificam a alma. Os ritos possuem essa mesma essência. E quanto mais antigos, mais simbólicos; quanto mais simbólicos, mais poderosos; e quanto mais transcendentes, mais efetivos.




A catarse, conceito amplamente discutido na filosofia e na arte, representa um processo de purificação e transformação interior, muitas vezes desencadeado por uma experiência estética (entende-se por experiência de apreensão pelos sentidos) ou ritualística. Aristóteles, ao abordar a tragédia em sua Poética, descreveu-a como um mecanismo que permite aos espectadores liberar emoções intensas, especialmente medo e piedade, conduzindo-os a um estado de renovação emocional e intelectual.

Diversos estudiosos e artistas exploraram essa ideia ao longo dos séculos. Essa noção encontra eco na arte, onde a imersão profunda em uma obra pode provocar um efeito libertador, capaz de modificar a percepção e o estado de espírito do indivíduo.

Na esfera social e cultural, os ritos religiosos também desempenham um papel fundamental nesse processo. Conforme argumentam teóricos da antropologia, os ritos são estruturados para promover a catarse coletiva, permitindo que grupos vivenciem momentos de intensa conexão espiritual e comunitária. Essa experiência pode restaurar a ordem interna, renovar valores e reafirmar identidade coletiva. Como ressaltam estudiosos da estética (entende-se estuosos da apreensão pelos sentidos) e da psicologia, seu impacto transcende o indivíduo, influenciando sociedades inteiras e redefinindo narrativas culturais ao longo da história.



Por isso, nesta semana do abençoado mês de maio, podemos viver, após os ritos do conclave—liturgicamente e culturalmente—uma intensa catarse. A euforia diante do reset cultural provocado pela escolha de um novo papa ressoa dentro e fora da Igreja.

O silêncio, tingido pela fumaça da espera. Orações. Expectativa. Uma fumaça branca. Suspense. Uma voz. Latim. Um nome comum. Um nome de Papa. Surpresa. E, enfim, o papa.

Todas essas reações, em resposta, fazem parte da catarse gerada por um rito tão grandioso que até mesmo os desinteressados se voltam para ver.

O resultado de uma sucessão tão rica e poderosa de ritos e catarse gera um tipo de paz. Uma calma que, sem palavras, declara: "É, somos nós. Nós somos assim".

Os ritos da Igreja são, em sua essência, remédios para a alma e, por isso, remédios sociais. Foram criados para curar, para trazer paz e refrigério. Servem para, em maior ou menor grau, resetar a cultura pessoal ou social daquilo que é nocivo—numa catarse ora mais intensa, ora mais sutil, dependendo da magnitude do rito. E, por serem próprios da Igreja, enraizados na Tradição, carregam um poder especial em si.

Somos abençoados por sermos católicos, por termos à mão tantas bênçãos—uma cultura que nos alinha mentalmente e espiritualmente. Somos imensamente agraciados por receber essa riqueza vinda do coração salutar de Jesus.





Cultura I: A catolicidade é também uma cultura 

Via Pulchritudinis: a busca da Verdade, a necessidade do Bem, a fome de Liberdade, a nostalgia do Belo 




Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia, Graça & Beleza.

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A estética (como a capacidade cognitiva de apreensão pelos sentidos, como já sinalizado aqui) sempre desempenhou um papel fundamental na construção da identidade humana. No entanto, nas última década, a pressão de imagem imposta pelas redes sociais e pela cultura de massa tem gerado impactos profundos na saúde mental, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. A educação estética, que deveria promover uma relação saudável com a imagem e a arte, enfrenta um ambiente de caos diante da crescente crise estética, ou seja, crise da apreensão.


O Brasil é um dos países com maior uso de redes sociais no mundo, e estudos indicam que há uma diferença significativa entre os sexos na utilização dessas plataformas. As mulheres representam uma parcela maior dos usuários, o que pode estar relacionado à pressão de imagem que recai sobre elas, impulsionando o consumo de produtos cosméticos e procedimentos de imagem e aparência (Vermelho et al., 2020). A venda de cosméticos no Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, evidenciando o impacto das redes sociais na busca por atender aos padrões de imagem e aparência (Fernandes et al., 2021).


Nos Estados Unidos, pesquisas científicas apontam que o uso excessivo do celular afeta a percepção da própria imagem, contribuindo para o aumento da ansiedade e da comparação social (Nicolaci-da-Costa, 2019). A exposição constante a filtros e edições digitais reforça padrões inatingíveis de imagem, levando muitos jovens a recorrer a cirurgias plásticas e tratamentos de imagem e aparência para se adequar a esses modelos, mesmo sendo tão jovens (Kataoka et al., 2021).

A arte e a literatura, assim como todas as boas produções culturais, têm um papel fundamental na promoção do bem-estar emocional. Estudos mostram que a exposição à arte pode reduzir os níveis de estresse e ansiedade, além de estimular a criatividade e a autoestima equilibrada (Fancourt & Finn, 2020). A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que produções culturais ajudam na prevenção de transtornos mentais e promovem uma melhor qualidade de vida (Jardim et al., 2021).


A série "Adolescente" aborda temas como comparação social, raiva e a dificuldade de aceitar pontos de vista discordantes, além da vivência não mundana, mas infrutífera, do celibato. Além disso, evidencia o perigo de um ambiente que apresenta ao indivíduo apenas aquilo de que ele gosta, gerando uma microcultura baseada em códigos e linguagens próprias. No contexto da série, isso pode ser prejudicial ao restante da sociedade. No entanto, esses mesmos fatores podem formar microgrupos que trazem benefícios à comunidade, utilizando as mesmas portas de acesso. Uma faca de dois gumes.


A África do Sul é o segundo maior usuário de internet, com uma taxa de penetração de 68,2% da população. Assim como no Brasil, a cultura de massa influencia a percepção da imagem e o consumo de produtos de imagem: cosméticos e maquiagem (Silveira, 2020). A globalização dos padrões de beleza, impulsionada pelas redes sociais, tem gerado impactos semelhantes em diferentes países, reforçando a necessidade de uma abordagem educacional que promova uma relação mais saudável com a imagem que vemos. Estamos constantemente expostos a conteúdos que nos levam a desejar determinadas coisas, muitas vezes beneficiando economicamente alguém à custa da saúde mental de muitos (Nanque, 2021).




A educação estética poderia atuar como um contraponto no que se refere à imagem e à aparência, ensinando a valorização da apreciação da beleza natural e a desconstrução de padrões irreais.




O livro Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, explora como a hiperconectividade e a exposição precoce às redes sociais têm gerado uma epidemia de ansiedade entre os jovens. Os homens são incentivados à "raiva masculina" e à atitude clubista de se fecharem em grupos exclusivamente masculinos. Embora isso possa ser edificante até certo ponto, se feito virtuosamente, socialmente gera uma falha, pois a sociedade é composta por homens e mulheres.

Essa construção impede a educação mútua e amplifica comportamentos nocivos de cada sexo, a saber: nos homens, o egoísmo soberbo da autoadmiração; e nas mulheres, a vaidade soberba ou a vaidade carente. Quando há a presença do sexo oposto em um ambiente virtuoso, esses pontos nocivos são educados e remediados, enquanto que, entre pares, tendem a ser fortalecidos—salvo na presença de alguém altamente virtuoso e de forte presença, capaz de remediar os demais, o que é raro.




As mulheres são particularmente afetadas, pois enfrentam uma pressão mais intensa relacionada à imagem e à aparência, muitas vezes promovida pelas próprias mulheres. Esse fenômeno contribui para o aumento de transtornos mentais femininos (Anjos & Ferreira, 2021).

A comparação constante com influenciadores digitais e celebridades reforça sentimentos de inadequação e deslocamento, oriundos da mesma dinâmica das bolhas, que dificulta a assimilação de desigualdades, dado que essas questões são apresentadas de forma tão constante (como um bombardeio digital) e, muitas vezes, apelativa (Brugiolo et al., 2021). Além disso, esse cenário incentiva preocupações com temas que podem não ser relevantes para todos ou mesmo saudáveis para todos.




Nos últimos meses, por exemplo, a lista de "mais vendidos"—sem considerar o próprio método de criação dessas listas—apresenta livros sobre alcançar a prosperidade "passando a perna no diabo". Vale notar que o objetivo parece ser ganhar dinheiro, e não ser astuto como as serpentes em prol do Reino do Senhor.

Além disso, os três primeiros lugares são ocupados por livros para colorir. Essa lista pode nos dar indícios sobre a capacidade de apreensão geral, o padrão estético-social (ou seja, o padrão de apreensão social) e os desejos e ambições da sociedade.

Para onde está olhando a maioria dos consumidores-leitores? O que estão contemplando e expressando? Podemos inferir que essa lista talvez diga: "quero ser rico e vou surtar", "preciso de dinheiro e estou exausto" ou "valorizo a riqueza, mas quero descansar".

A lista reflete a tensão da sociedade brasileira, que não suporta mais tanta pressão sem alicerce humano, educativo e espiritual.




Conclusão


A crise estética contemporânea (entende-se como crise de apreensão pelos sentidos na contemporaneidade) exige uma reflexão profunda sobre o papel da educação estética na formação da identidade e na promoção da saúde mental. A ação cristã nessa área não pode ignorar os efeitos nocivos da escravidão da imagem em prol de ganhos pessoais, especialmente para aqueles que servem a Deus na área da saúde.

A valorização da arte, a desconstrução de padrões irreais e o incentivo ao pensamento crítico são ferramentas valiosas para enfrentar os desafios impostos pela cultura de massa e pelas redes sociais. Somente por meio de uma abordagem educativa e consciente será possível construir uma sociedade cristã equilibrada, menos vulnerável à pressão da imagem e mais sensível à verdadeira virtude.

A estética (entende-se como apreensão pelos sentidos) alinhada ao evangelho promove o decoro e o polimento no comportamento sem perder a naturalidade, mantendo o bom gosto compatível com o processo de conversão cristã, que rejeita o mundano. Além disso, há um empenho em evitar que a beleza se torne um produto manipulado por setores da indústria que visam apenas ao lucro, afirmando vender beleza.


A beleza é um traço concedido a toda alma criada por Deus e se torna ainda mais bela à medida que se aproxima do Criador.

Tal ação exige uma conversão maior por parte do grupo de cristãos ativos em ações católicas pelo país.




Professora Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).



Referência deste artigo: BARROS, Ana Paula. A educação estética como ferramenta de saúde mental. Salus in Caritate, seção Educação e Filosofia, 08 maio 2025. Disponível em: <https://www.salusincaritate.com.br>.




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Referências

ANJOS, Larissa Alves dos; FERREIRA, Zâmia Aline Barros. Saúde estética: impactos emocionais causados pelo padrão de beleza. 

BRUGIOLO, Alessa Sin Singer; SANTOS, Eveliny Rodrigues; RIBEIRO, Pâmella Cristina Soares; CARNAÚBA, Fabiana Roberta Nunes. Insatisfação corporal e procedimentos estéticos em adolescentes. SciELO. 

FANCOURT, Daisy; FINN, Saoirse. Evidências sobre o papel das artes na melhoria da saúde e do bem-estar. Arte Despertar. 

FERNANDES, Manuela Luiza de Souza; PARAÍSO, Alanna Fernandes; RODRIGUES, Augusto César Evelin; SILVA, Amanda Tauana Oliveira e; Diniz, Sara Cristina Saraiva Batista; BEZERRA, Lana Vitória Santana; BORGES, Luna Viana. Os impactos das redes sociais na busca por procedimentos estéticos. Revista FT. 

JARDIM, Viviane Cristina Fonseca da Silva; VASCONCELOS, Eliane Maria Ribeiro de; VASCONCELOS, Célia Maria Ribeiro de; ALVES, Fábia Alexandra Pottes; ROCHA, Karyanna Alves de Alencar; MEDEIROS, Eduarda Gayoso Meira Suassuna de. Contribuições da arteterapia para promoção da saúde e bem-estar. SciELO. 

KATAOKA, Alexandre; MENDES, Camila Cristina Silva; LELLO, Nikole Guimarães Soares; SAADA, Ruaida Chahine; KAPRITCHKOFF, Maria Rita dos Reis. A influência das mídias sociais na decisão pela cirurgia plástica. SciELO. 

NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Impactos psicológicos do uso de celulares: uma pesquisa. SciELO. 

NANQUE, Manuel. A África sob diferentes olhares: do epistemicídio colonial à tecitura estética digital. Repositório UNILAB.

SILVEIRA, Marcelo Deiro Prates da. Efeitos da globalização e da sociedade em rede via Internet na formação da identidade estética. SciELO. 

VERMELHO, Sônia Cristina; VELHO, Ana Paula Machado; BONKOVOSKI, Amanda; PIROLA, Alisson. Refletindo sobre as redes sociais digitais. SciELO.




Educa-te - Paideia Cristã



A educação estética é um dos pilares fundamentais para a formação do espírito humano, pois, como nos ensina São Tomás de Aquino, "o belo é aquilo cuja contemplação agrada". Essa contemplação não ocorre de maneira superficial, mas exige um olhar educado, uma alma moldada pela tradição e pela verdade. Afinal, uma alma com vícios se agrada de coisas diferentes de uma alma que busca a virtude; logo, a agradabilidade está intrinsecamente ligada ao processo de conversão. Sócrates foi o primeiro a questionar o aspecto relativo dessa agradabilidade. 


A beleza é um atributo apreendido pelos sentidos; a essa apreensão damos o nome de estética. Assim, a estética é uma capacidade cognitiva, não um atributo, e pode ser educada. A beleza, por sua vez, é um atributo interior que pode se manifestar exteriormente, mas não obrigatoriamente, pois sua presença exterior não comprova sua existência interior, assim como sua ausência exterior não comprova sua inexistência interior.


A tradição, os artigos e referências sobre Beleza e Estética disponíveis no site Salus in Caritate nos mostram que a educação estética não é um luxo, mas uma necessidade para a alma que busca a Verdade. Sem uma formação estética que contemple o belo como manifestação de ordem e harmonia, corre-se o risco de ensinar uma percepção fragmentada da realidade, distorcida pelo imediatismo e pela comercialização da "beleza" que dissemina a ideia da aquisição da beleza mediante transação financeira, ou seja, a compra da beleza.


Nougué nos lembra que "as artes do belo visam a fazer o homem propender ao bom e ao verdadeiro". Assim, a educação estética deve ser conduzida de modo a levar o indivíduo a reconhecer e amar o Belo Verdadeiro, afastando-se das ilusões modernas que buscam substituir a ordem pela feiura, o conteúdo pelo artifício e Deus pela própria imagem.


A educação clássica enfatiza que "a memória, a leitura e o maravilhamento são essenciais para a formação do intelecto". O maravilhamento diante da beleza é o primeiro passo para a verdadeira educação estética, pois ensina a alma a reconhecer a ordem divina presente na criação e nas obras humanas que refletem essa ordem.


Considerando que Sócrates argumenta que o verdadeiro belo deve ter um fundamento mais profundo, ligado à essência das coisas e não apenas à sua forma sensível; que Platão vê a beleza como uma Ideia eterna e imutável no mundo das Formas; que Aristóteles tem uma abordagem mais concreta e ligada à experiência sensível; e que os estoicos consideravam que a verdadeira beleza não estava na aparência física, mas no caráter e na virtude; São Tomás de Aquino ensina que a beleza é um dos transcendentais do Ser, juntamente com a Verdade e a Bondade. Ao que tudo indica, parece que não podemos comprar um transcendental. Mas podemos educar a nossa capacidade de apreensão. 


Que possamos educar nossos olhos e nossos corações para contemplar o Belo e, por meio dele, aproximar-nos da Verdade e do Bem, sem afrontas veladas ao Sumo Belo, mas com respeito genuíno.




Professora Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).


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A literatura tem um papel fundamental na construção do conhecimento, na construção da cultura e na ampliação da percepção sobre o mundo. Ela permite que as pessoas entrem em contato com diferentes épocas, lugares, emoções e ideias, facilitando reflexões.


A literatura não é apenas um conjunto de palavras organizadas em páginas; é um reflexo da alma humana. Os grandes escritores buscaram traduzir, em suas obras, as inquietações do espírito e os dilemas morais que atravessam gerações. Assim como as melhores virtudes humanas. Cada época espelha aquilo que é na literatura que produz. 


Os estudos literários são o campo de pesquisa que analisa as obras literárias, seus contextos históricos e culturais, estilos, estruturas e impactos sociais. Eles englobam diversas abordagens, como crítica literária, teoria da literatura e história da literatura, buscando entender a profundidade das narrativas e seus significados. Estudar literatura não é apenas ler histórias; é interpretar textos, compreender simbolismos e analisar o papel da escrita na sociedade. São um caminho para a sabedoria, uma forma de compreender a história da humanidade por meio de suas narrativas.


Tolstói acreditava que a literatura deveria acompanhar o amadurecimento da pessoa. Portanto, ele recomenda as leituras bíblicas até os 20 anos, enquanto Homero é citado para ser lido após os 20 anos. No entanto, vale salientar que a idade do acervo literário nem sempre corresponde à idade cronológica. Uma pessoa pode ter 35 ou 40 anos e possuir um acervo literário equivalente ao de alguém entre 14 e 20 anos, simplesmente por não ter tido contato com determinadas obras, como os livros bíblicos. Da mesma forma, alguém com 25 anos pode ter uma bagagem literária robusta por ter lido tanto os livros indicados para sua faixa etária quanto outros mais complexos.


O primeiro passo, portanto, é identificar a idade exata do seu acervo literário e, a partir daí, buscar suprir eventuais defasagens. Mesmo que essa bagagem esteja desorganizada, com leituras de diferentes períodos da vida, vale a pena estruturar o repertório.


As aulas dos estudos literários são disponibilizadas em três etapas: a primeira, com duração de 40 minutos, para os membros do Clube de Leitores Salutares (aqui); e as aulas extensas destinadas exclusivamente aos alunos do Educa-te (aqui), que já possuem a bagagem das obras estudadas nos Estudos Literários I – Virtudes e Literatura. O objetivo das aulas é favorecer a leitura dos símbolos, facilitar análises, encorajar releituras com novas perspectivas e promover a maturação da relação com o enriquecimento do acervo literário de forma ordenada e fomentar o uso dos clássicos de forma católica.




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Professora Ana Paula Barros
Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).







Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).
Por Isabel Molina Estrada.
Pintura: Paseo a orillas del mar, Joaquín Sorolla




Para o resgate da elegância. 
"A roupa é uma linguagem que transmite ideias e convicções"




"Você não nasce elegante." 


Embora algumas pessoas tenham aquele "algo" inato que lhes dá uma certa nobreza e refinamento ao seu porte, a autora brasileira Ana Paula Barros explica a Misión que a elegância é adquirida praticando virtudes como simplicidade e modéstia, e exercitando "a arte de escolher o melhor". 



Aprenda o que é a verdadeira elegância e por que praticá-la.

Muitos hoje se vestem mal, não apenas em suas vidas diárias, mas também para participar de eventos memoráveis, como uma formatura ou um evento oficial ou para ir a lugares sagrados (para a missa ou um casamento, uma comunhão ou um funeral). O que aconteceu? Esta geração desistiu da elegância?

Ana Paula Barros, autora do livro Modéstia: o caminho da Beleza e da Santa Ordem (disponível na Editora Salus in Caritate, 2023), explica que as modas atuais fazem parte de uma grande "fábrica social" em que todos são obrigados a usar jeans e camiseta. E isso não é acidental, porque as roupas, como posturas e gestos, comenta a autora, "fazem parte do discurso social, são mais uma linguagem para transmitir ideias e convicções que pertence ao quadro dos símbolos". E, como alertou a baronesa Gertrude von Le Fort, filósofa e teóloga católica, "o símbolo nunca é insignificante". Para que as ideologias se enraízem na cultura, garante Barros, é preciso "silenciar ou perverter os ensinamentos cristãos, também na forma como se vestem, e fazer com que os crentes deixem de prestar atenção ao discurso que pronunciam com seu comportamento".


Os gestos e o vestido pronunciam um discurso cheio de valores


 


A Marca do Horrendo


Barros afirma que a boa postura, o vestuário harmonioso e os gestos medidos e amigáveis criam uma atmosfera cordial que hoje está quase extinta. "Com a descristianização do Estado e da escola e a renúncia à educação moral, não era mais considerado importante educar na elegância. Esses aspectos da educação foram considerados restritivos. O resultado é um aumento crescente no "culto da feiura", do descuido e um esforço para construir uma aparência que esteja em conformidade com os modismos passageiros. As indústrias da moda e da arte, incentivadas por ideologias, querem imprimir nas pessoas – a imagem e semelhança de Deus e, portanto, bela – a marca do horrendo", diz ela.

Barros evoca Gustavo Corção, um de seus autores favoritos, em Conversação em Sol Menor. Compilação de memórias (disponível em português no VIDE Editorial, 2018): "A cidade era linda como as meninas daquela época. Quando eram pequenos, cantavam em círculos, e em todos os bairros os cantos das crianças marcavam o crepúsculo [...]. A rua da cidade ajudava as pessoas a viver. […] Quem ousou tocar levemente o corpo sagrado de uma jovem? […]. As pessoas se vestiam melhor, a postura do corpo era mais ereta, mais resoluta, mais enérgica do que hoje. Folheie você mesmo o álbum de seus avós, leitor, e observe que eles eram mais determinados e firmes. O que aconteceu com os homens, com as cidades? O que foi que aconteceu?..."



A arte de saber escolher


A palavra elegância vem do latim eligere que significa "fazer uma escolha". Portanto, como explica Barros, elegância é a arte de optar pelo melhor no campo moral. E acrescenta que "quando uma pessoa faz suas escolhas de acordo com razões transcendentes, a elegância se manifesta em suas posturas, em seu tom de voz, em seus gestos e no refinamento de sua maneira de se vestir".

Muitas vezes, acredita-se que a elegância seja cumprir certos códigos sociais para ter uma boa aparência ou ser apreciada pelos outros. Mas uma pessoa elegante e de bom gosto, adverte a autora, é aquela que "sabe escolher levando em conta a vontade de Deus, a Tradição Católica e a beleza que emana da evangelização silenciosa".

Os seres humanos são gentil e naturalmente atraídos pela beleza porque ela irradia luz, não apenas física, mas também espiritual. "A beleza é o resultado da harmonia, integridade e clareza", diz Barros, que distingue três formas de beleza: estética, moral e espiritual. "A beleza estética é capturada pela observação da pureza, que é o resultado da harmonia na forma. A moralidade surge do equilíbrio da alma. E o espiritual é a capacidade de chegar à Verdade, que é Jesus Cristo. Só é possível que algo seja belo se a beleza estética estiver subordinada à beleza moral e espiritual. Portanto, a elegância só leva à beleza quando as escolhas estão subordinadas à moral e à verdade cristãs. Caso contrário, torna-se uma mera adesão a regras de etiqueta (que significa pequena ética) que podem não ter valor eterno."



"A elegância [vivida desta forma] ajuda a recristianizar, pois reflete a beleza da alma unida a Deus"



O auge da elegância


Uma pessoa pode ser elegante sem a necessidade de usar joias ou acessórios, simplesmente vestindo trajes modestos e expressando-se com gestos harmoniosos. Para alcançar esse refinamento, Barros sugere buscar a assistência de São José, por sua presença viril e modesta, e da Santíssima Virgem, o ápice da elegância e "senhora da elegância espiritual", como Santo Ildefonso sabiamente a chamou.

Barros adverte que fomos levados a acreditar que, para ter uma boa aparência, é necessário construir um "rosto no rosto" [maquiagem excessiva], um "cabelo no cabelo" [penteados elaborados] e um "corpo no corpo" [roupas excessivamente vistosas ou procedimentos], e esquecemos que a beleza é espiritual e esta ligada à simplicidade. "Em geral, a quantidade e intensidade de acessórios e o esforço para usar roupas e objetos atraentes geram ruído para a beleza natural da pessoa", diz ela.

Em síntese, segundo a autora, a elegância é um atributo indispensável para a recristianização, pois atualiza na pessoa diferentes verdades cristãs: a beleza de ser imagem e semelhança de Deus, o respeito pelo corpo dos outros e pelo próprio, o valor da beleza da alma unida a Deus, as bênçãos e responsabilidades da filiação divina (que variam de acordo com a missão e os dons que cada um recebeu), o valor dos lugares consagrados ao culto, o dever de adorar a Deus de corpo e alma e a capacidade de olhar de perto a beleza que nos rodeia.



MODÉSTIA E ELEGÂNCIA


"Se a elegância é a arte de escolher bem, a modéstia é a prática da moderação em tudo", diz Ana Paula Barros. E explica que a relação entre as duas virtudes é que uma escolhe e a outra coloca em prática, o que é essencial, porque às vezes é difícil para nós realizar as decisões que tomamos. Além disso, a modéstia e o pudor são virtudes irmãs." Um protege os sentidos (e a noção de privado) e o outro protege o corpo. Portanto, se a elegância é considerada de forma cristã: a elegância, a modéstia e o pudor andam juntas", explica. No entanto, se o padrão de elegância é apenas o da etiqueta social, um vestido chique pode não ser virtuoso ou elegante porque seleciona peças que expõem o corpo e o tornam vulnerável. Portanto, a elegância supõe o exercício da temperança, juntamente com as virtudes que dela emanam: sobriedade, mansidão, continência e modéstia, além de outras como cordialidade e respeito pelos outros.




Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).
Por Isabel Molina Estrada.

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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)




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