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Salus in Caritate






Parece que ainda estamos em debates sobre "ser mulher", "ser homem" e tudo que poderia milagrosamente nos salvar. Quem escreve se digladia, e as ideias são várias:

Existe quem diz que eu sou feminista porque sou celibatária, escrevo e acho que existem diferenças entre uma mulher e uma árvore de Natal. Por outro lado, há quem diga que sou cristã porque sou celibatária, escrevo e acho que uma mulher não é uma árvore de Natal. Existe quem defenda que, na metafísica do feminismo, ainda estamos dançando a mesma dança revolucionária, mas com mais babados. Existe o discurso de que as feministas são todas imorais e, portanto, não deveriam ter tanto crédito. Outras acreditam que cabelo alinhado, regras de etiqueta, maquiagem e adornos são a própria beleza, e que o mundo será resgatado por essa beleza que se materializou num pó compacto. Outras acham que a feminilidade é uma matrona numa poltrona, que deixa os assuntos como política e economia, ou qualquer coisa que exija algum estudo, para os homens.

Talvez eu tenha esquecido alguns pontos — são tantos que é difícil lembrar de todos.

O interessante de todas essas narrativas é que elas formam grupos partidários que dividem as mulheres, mas eu não quero começar a escrever textos visando a paz mundial. Os discursos separam as pessoas, são uma grande peneira, e assim sempre será. Ingênuo é quem acredita que isso um dia cessará neste exílio. A Babel moderna só pode ser regulada pelo Pentecostes, mas, para isso, precisamos de uma primavera clerical e eclesiástica.

Voltando ao ponto interessante dessa temática: a divisão realizada pelo discurso acontece porque o Brasil é um país populista. Escutar a ideia de alguém e considerar seus pontos é visto como um apoio. O brasileiro — pois nunca chegamos a ser "brasilianos" — apoia pessoas porque vê nelas a si mesmo e a possibilidade de desfrutar do que fulano desfruta. Assim, quando alguém fala da ideia de fulano (e não de beltrano), está automaticamente falando da pessoa e, portanto, de todos que o apoiam. É uma guerra de egos, e o povo segue sempre a ideia mais predominante.

No que se refere às ideias sobre feminilidade atualmente assimiladas, elas foram gestadas numa ação antifeminista desesperada, uma ação que só foi bem-sucedida pela ajuda da Graça. Naquele período, entre 2016 e 2017, as feministas eram auratos bem mais adorados do que hoje e, ao meu ver, era, sim, necessária uma atuação que evidenciasse que não havia nada para admirar. A deputada Ana Campagnolo deu esse passo em sua publicação, e talvez ninguém pudesse fazê-lo de outra forma. É uma regra no mundo das imagens e reputações: se você quer descredibilizar alguém, atinja a imagem que as pessoas têm daquela pessoa. Como quase todas as feministas citadas eram praticamente adoradas — e quem é professor sabe disso — esse passo, considerando que estamos no Brasil, era necessário.

Mas é claro que toda ação tem uma reação, e isso não é necessariamente algo sob o controle do autor. As pessoas seguem não só o que leem, mas também interpretam conforme o que já têm dentro de si. Então, a narração antifeminista daquela época culminou na valoração da família, mas não considerou (e não havia como fazê-lo) que a ideia de família antifeminista e antimoderna ainda estava alicerçada no próprio feminismo.

O feminismo se tornou uma referência de atuação. E veja o problema: o que as feministas consideram como "feminilidade inimiga" é a mulher de vestido perfeito, numa casa perfeita, com um marido perfeito de pulôver e cabelo arrumado, filhos perfeitamente vestidos — uma família de comercial de margarina. Quando uma mulher vê a podridão por trás, não apenas da mentalidade, mas também dos ideólogos por trás do feminismo, pensa: "Bem, se as feministas têm essa imagem como errada, então ela deve ser a certa."

Então, essa mulher tomou esse modelo como o modelo tradicional. O modelo tradicional atual é embasado nas ideias do próprio feminismo sobre a família tradicional.

Acredito que não seja necessário dizer o problema, mas, como professora numa terra como o Brasil, prefiro não me arriscar: o problema é que ninguém questionou — mas será que isso é mesmo a família tradicional? O que é tradicional? E, baseado em quais referências, eu defino isso?

Isso não aconteceu porque ainda estamos, socialmente, num movimento reativo em quase todas as áreas sociopolíticas. As produções, discursos etc. são antifeministas. Estamos muito bem especializados no erro. O que fez com que o público — você, leitor — ficasse cheio de impressões sobre os sinais do erro. A mente humana funciona dessa forma: quando uma ideia é apresentada, ela tenta estabelecer padrões para delinear uma forma exata para essa ideia. Mas a ideologia não é assim; é uma massa de modelar diabólica que se autodefine conforme o ambiente e usa, em seu benefício, discursos que antes serviam para destruí-la.

E, para isso, as mentes não estão prontas. Esse é o motivo de as linhas serem tão díspares: estão lutando contra algo que se autodefine através das ofensas que recebe.

A maioria não tem a esperteza das serpentes para ver algo tão nítido, e, por isso, se organiza pelo populismo. Apoiar e endeusar uma pessoa é mais fácil do que buscar entender as ideias. Eu não critico — acredito que quem consegue escolher o mais fácil, sem peso, certamente assim fará, e ninguém questionará. O ponto é a atmosfera de caos que isso gera, impossibilitando a reflexão que este país precisa para finalmente sair do buraco em que está.

Aqui deixo alguns apontamentos para os que talvez tenham algum gosto pela reflexão, pois talvez vocês entendam que o pensamento — e a mudança do pensamento — ainda não aconteceram:

A maioria das famílias que hoje fazem um bom trabalho parece achar que está criando a roda. No entanto, o Trivium e a Ratio Studiorum que vocês usam foram escritos por celibatários.

A indústria rotulou a área de cosméticos como "beleza e autocuidado" para ganhar mais dinheiro. É por isso que você acha que maquiagem é beleza — é um trabalho de manipulação da massa pela propaganda, e a massa é você.

A feminilidade não é algo adquirido pelo que você compra e pendura em si mesma. A mulher nasce mulher e será mulher mesmo que não tenha nenhum dos objetos que são vistos como "femininos".

Essa ideia de construção do feminino com adereços externos é materialista e, veja só, feminista — que acredita que a mulher se constrói por uma imposição social através dos adereços, normas de comportamento etc. Ou seja, se você pensa assim, ainda é feminista, porque ainda pensa como feminista.

Por fim, leia a vida das santas. Não apenas aquelas que têm a mesma vocação que você — não torne a leitura das santas numa vivência velada de egoísmo, sim? Leia para perceber a variedade e profundidade dos talentos que Deus dá para suas filhas e as diversas áreas em que esses talentos são úteis. Se Deus lhe deu um talento, já está implícito, de forma imperativa, que você deve fazer uso dele — mas de maneira pessoal, distante do mimetismo.



Professora Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)


















Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).
Por Isabel Molina Estrada.
Pintura: Paseo a orillas del mar, Joaquín Sorolla




Para o resgate da elegância. 
"A roupa é uma linguagem que transmite ideias e convicções"




"Você não nasce elegante." 


Embora algumas pessoas tenham aquele "algo" inato que lhes dá uma certa nobreza e refinamento ao seu porte, a autora brasileira Ana Paula Barros explica a Misión que a elegância é adquirida praticando virtudes como simplicidade e modéstia, e exercitando "a arte de escolher o melhor". 



Aprenda o que é a verdadeira elegância e por que praticá-la.

Muitos hoje se vestem mal, não apenas em suas vidas diárias, mas também para participar de eventos memoráveis, como uma formatura ou um evento oficial ou para ir a lugares sagrados (para a missa ou um casamento, uma comunhão ou um funeral). O que aconteceu? Esta geração desistiu da elegância?

Ana Paula Barros, autora do livro Modéstia: o caminho da Beleza e da Santa Ordem (disponível na Editora Salus in Caritate, 2023), explica que as modas atuais fazem parte de uma grande "fábrica social" em que todos são obrigados a usar jeans e camiseta. E isso não é acidental, porque as roupas, como posturas e gestos, comenta a autora, "fazem parte do discurso social, são mais uma linguagem para transmitir ideias e convicções que pertence ao quadro dos símbolos". E, como alertou a baronesa Gertrude von Le Fort, filósofa e teóloga católica, "o símbolo nunca é insignificante". Para que as ideologias se enraízem na cultura, garante Barros, é preciso "silenciar ou perverter os ensinamentos cristãos, também na forma como se vestem, e fazer com que os crentes deixem de prestar atenção ao discurso que pronunciam com seu comportamento".


Os gestos e o vestido pronunciam um discurso cheio de valores


 


A Marca do Horrendo


Barros afirma que a boa postura, o vestuário harmonioso e os gestos medidos e amigáveis criam uma atmosfera cordial que hoje está quase extinta. "Com a descristianização do Estado e da escola e a renúncia à educação moral, não era mais considerado importante educar na elegância. Esses aspectos da educação foram considerados restritivos. O resultado é um aumento crescente no "culto da feiura", do descuido e um esforço para construir uma aparência que esteja em conformidade com os modismos passageiros. As indústrias da moda e da arte, incentivadas por ideologias, querem imprimir nas pessoas – a imagem e semelhança de Deus e, portanto, bela – a marca do horrendo", diz ela.

Barros evoca Gustavo Corção, um de seus autores favoritos, em Conversação em Sol Menor. Compilação de memórias (disponível em português no VIDE Editorial, 2018): "A cidade era linda como as meninas daquela época. Quando eram pequenos, cantavam em círculos, e em todos os bairros os cantos das crianças marcavam o crepúsculo [...]. A rua da cidade ajudava as pessoas a viver. […] Quem ousou tocar levemente o corpo sagrado de uma jovem? […]. As pessoas se vestiam melhor, a postura do corpo era mais ereta, mais resoluta, mais enérgica do que hoje. Folheie você mesmo o álbum de seus avós, leitor, e observe que eles eram mais determinados e firmes. O que aconteceu com os homens, com as cidades? O que foi que aconteceu?..."



A arte de saber escolher


A palavra elegância vem do latim eligere que significa "fazer uma escolha". Portanto, como explica Barros, elegância é a arte de optar pelo melhor no campo moral. E acrescenta que "quando uma pessoa faz suas escolhas de acordo com razões transcendentes, a elegância se manifesta em suas posturas, em seu tom de voz, em seus gestos e no refinamento de sua maneira de se vestir".

Muitas vezes, acredita-se que a elegância seja cumprir certos códigos sociais para ter uma boa aparência ou ser apreciada pelos outros. Mas uma pessoa elegante e de bom gosto, adverte a autora, é aquela que "sabe escolher levando em conta a vontade de Deus, a Tradição Católica e a beleza que emana da evangelização silenciosa".

Os seres humanos são gentil e naturalmente atraídos pela beleza porque ela irradia luz, não apenas física, mas também espiritual. "A beleza é o resultado da harmonia, integridade e clareza", diz Barros, que distingue três formas de beleza: estética, moral e espiritual. "A beleza estética é capturada pela observação da pureza, que é o resultado da harmonia na forma. A moralidade surge do equilíbrio da alma. E o espiritual é a capacidade de chegar à Verdade, que é Jesus Cristo. Só é possível que algo seja belo se a beleza estética estiver subordinada à beleza moral e espiritual. Portanto, a elegância só leva à beleza quando as escolhas estão subordinadas à moral e à verdade cristãs. Caso contrário, torna-se uma mera adesão a regras de etiqueta (que significa pequena ética) que podem não ter valor eterno."



"A elegância [vivida desta forma] ajuda a recristianizar, pois reflete a beleza da alma unida a Deus"



O auge da elegância


Uma pessoa pode ser elegante sem a necessidade de usar joias ou acessórios, simplesmente vestindo trajes modestos e expressando-se com gestos harmoniosos. Para alcançar esse refinamento, Barros sugere buscar a assistência de São José, por sua presença viril e modesta, e da Santíssima Virgem, o ápice da elegância e "senhora da elegância espiritual", como Santo Ildefonso sabiamente a chamou.

Barros adverte que fomos levados a acreditar que, para ter uma boa aparência, é necessário construir um "rosto no rosto" [maquiagem excessiva], um "cabelo no cabelo" [penteados elaborados] e um "corpo no corpo" [roupas excessivamente vistosas ou procedimentos], e esquecemos que a beleza é espiritual e esta ligada à simplicidade. "Em geral, a quantidade e intensidade de acessórios e o esforço para usar roupas e objetos atraentes geram ruído para a beleza natural da pessoa", diz ela.

Em síntese, segundo a autora, a elegância é um atributo indispensável para a recristianização, pois atualiza na pessoa diferentes verdades cristãs: a beleza de ser imagem e semelhança de Deus, o respeito pelo corpo dos outros e pelo próprio, o valor da beleza da alma unida a Deus, as bênçãos e responsabilidades da filiação divina (que variam de acordo com a missão e os dons que cada um recebeu), o valor dos lugares consagrados ao culto, o dever de adorar a Deus de corpo e alma e a capacidade de olhar de perto a beleza que nos rodeia.



MODÉSTIA E ELEGÂNCIA


"Se a elegância é a arte de escolher bem, a modéstia é a prática da moderação em tudo", diz Ana Paula Barros. E explica que a relação entre as duas virtudes é que uma escolhe e a outra coloca em prática, o que é essencial, porque às vezes é difícil para nós realizar as decisões que tomamos. Além disso, a modéstia e o pudor são virtudes irmãs." Um protege os sentidos (e a noção de privado) e o outro protege o corpo. Portanto, se a elegância é considerada de forma cristã: a elegância, a modéstia e o pudor andam juntas", explica. No entanto, se o padrão de elegância é apenas o da etiqueta social, um vestido chique pode não ser virtuoso ou elegante porque seleciona peças que expõem o corpo e o tornam vulnerável. Portanto, a elegância supõe o exercício da temperança, juntamente com as virtudes que dela emanam: sobriedade, mansidão, continência e modéstia, além de outras como cordialidade e respeito pelos outros.




Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).
Por Isabel Molina Estrada.

 

livro-digital-a-mulher-catolica-ana-paula-barros


Ensaio: A Mulher Católica: Graça & Beleza
Autora: Ana Paula Barros
Revisão de texto: Jarbas

Páginas: 100
Ano de publicação: 2025
R$: 25,00




Formato 1: livro digital acervo Salus (aqui)
Formato 2: livro digital acervo Amazon para os leitores digitais Kindle e app Kindle em celular e tablet (aqui)





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A tríade A Mulher Católica começa com o livro Modéstia, publicado em 2018:


Modéstia: O Caminho da Beleza e da Santa Ordem
Autora: Ana Paula Barros
Prefácio: Carlos Nougué
Designer: Tiago Múrcia
Revisão de texto: Marluce Servinhani


Páginas: 209
Ano de publicação: 2018
R$: 27,00


Formato 1: livro digital acervo Salus (adquira aqui).
Formato 2: livro digital acervo Amazon (adquira aqui) para os leitores digitais Kindle e app Kindle em celular e tablet
Formato 3: livro físico na Amazon (adquira aqui)


Um ensaio literário é um texto escrito em prosa que explora um tema ou uma ideia de maneira reflexiva. Ele combina análise crítica e expressão artística, permitindo que o autor apresente seus pensamentos, argumentos e insights de forma estruturada e eloquente. Os ensaios literários são frequentemente usados para discutir obras de literatura, temas filosóficos, eventos históricos, questões sociais ou culturais, entre outros tópicos.








Literato Católico 2025 (aqui)



Ficha de Leitura

Título: A última Cadafalso

Autor(a): Gertrud von le Fort

Ano de Publicação: 1931

Gênero: Novela

Tema: Metafísica e Teologia Mística



Crítica de Cultura (por Professora Ana Paula barros)


Um artigo da Universidade de Chicago diz: "Gertrud von le Fort foi uma proeminente literata católica do século XX, autora de mais de 20 romances, contos e poemas. Seu emprego do realismo sacramental exerceu uma influência significativa, embora muitas vezes inadvertida, mas frequentemente explícita, sobre obras de escritores como O’Connor, Greene, Bernanos e outros.


Le Fort cresceu no norte da Alemanha no final do século XIX. Em 1907, aos 21 anos, visitou Roma pela primeira vez e manteve-se lá por quatro meses, aproximando-se da Igreja Católica e da freira Irmã Marie de Maylis. Contudo, a experiência levou alguns anos para convencer totalmente le Fort a se converter. Sua obra poética magna, "Hinos à Igreja", indicou um movimento definitivo em direção à Igreja Romana em 1924. Ela se converteu ao catolicismo em 1926 e viveu e publicou até 1971, quando faleceu no Dia de Todos os Santos, aos 95 anos."




Em 1931, Gertrud von le Fort publicou a novela Die Letzte am Schafott (A Última ao Cadafalso), baseada na execução em 1794 das Mártires Carmelitas de Compiègne. Uma tradução em inglês, intitulada The Song at the Scaffold, apareceu em 1933. Com base nesta novela, Georges Bernanos escreveu um guião em 1947 para um filme de Philippe Agostini que, contudo, jamais foi filmado. Após a morte de Bernanos, em discussão com Albert Béguin, executor literário de Bernanos, von le Fort concedeu permissão para a publicação em janeiro de 1949 e doou a sua fração das royalties, que lhe eram devidas enquanto autora, à viúva e aos filhos de Bernanos. Von le Fort solicitou que a obra de Bernanos recebesse um título diferente de sua própria novela, ao que Béguin optou por Dialogues des Carmélites, que viria a ser a base para a ópera de Francis Poulenc, de 1956.


Seus escritos lhe conferiram o título de "a maior poetisa transcendente contemporânea." Ela escreveu sobre sua novela: "O contexto histórico era meramente um traje para vestir um problema muito agudo." Ela foi nomeada por Hermann Hesse ao Prêmio Nobel de Literatura e agraciada com um Doutorado Honorário em Teologia, em reconhecimento às suas contribuições à questão teológica em suas obras.


No que diz respeito à sua produção literária, tanto os ensaios quanto os romances de Gertrud von le Fort perpassam a metafísica e, como seria de se esperar, a teologia mística. Uma autora verdadeiramente grandiosa, abertamente decidida a proporcionar reflexões profundas e a transformar até mesmo o medo em objeto de análise filosófica e teológica de grande profundidade.


O artigo da já citado afirma a esse respeito: "Le Fort colocou suas teorias de medo existencial cristão em diálogo com a imaginação literária católica."


E continua: "Gertrude von Le Fort foi a primeira autora a tratar dos aspectos psicológicos e metafísicos do medo em uma obra de ficção: o medo das criaturas indefesas, o medo de todas as criaturas, que é o medo da agonia de Cristo no Monte das Oliveiras. Aqueles que leram este livro nos anos trinta na Alemanha compreenderam claramente o seu significado."




Considerando que a temática do medo, pavor e pânico, bem como os avanços das ideias modernistas em relação ao feminino, crescem desenfreadamente, torna-se evidente a necessidade desta obra como uma fonte de reflexão profunda sobre a temática e, acima de tudo, sobre as respostas. Esta filósofa e teóloga católica não se contenta apenas em analisar o problema, mas também em trazer à luz a posição de resposta, ou seja, para onde devemos voltar nosso olhar e em que estado deve se manter nossa mente em relação a essas temáticas.

Esta estudiosa de notável capacidade nos favorece com uma visão clara das limitações em que a mente moderna se encontra. Aplicando-se à nossa época: inclusive os mais devotos trilham um caminho sem se desvencilharem das armadilhas escondidas nas ilusões que se apresentam sob diferentes disfarces. Por exemplo, a crença feminista na superioridade das mulheres sobre os homens é análoga à convicção de que as mulheres piedosas podem, sozinhas, elevar a sociedade. Ambas são ilusões que excluem o papel masculino de se responsabilizar e se tornar mais semelhante ao Senhor, livrando-se das limitações, preconceitos e clubismo, características maléficas realmente existentes por conta do pecado original. Ambas percepções atribuem uma supercapacidade às mulheres em detrimento dos homens e, acima de tudo, negligenciam a verdadeira complementaridade entre a ação feminina e masculina.

Essa complementaridade não reside em dividir tarefas estereotipadas — uma lavar a louça e o outro carpir, uma fazer bolo e o outro estudar — mas em cada um fazer tudo que sabe fazer, o homem como homem e a mulher como mulher. Estranhamente, parece muito complexo aplicar esta realidade. Passamos de ilusão em ilusão, ilusões excludentes que não fazem o homem e a mulher trabalharem juntos, mas, mesmo piedosamente, acreditarem infantilmente que podem fazer algo: os homens num clubismo masculino e as mulheres numa roda feminina. Dessa forma, todos permanecem confortavelmente numa falsa contra-revolução, que apenas preparará o terreno para uma nova revolução ideológica contrária.



A Universidade de Cambridge aponta sobre a autora: "A celebração do octogésimo quinto aniversário de Gertrud von le Fort, ocorrida em outubro passado em Oberstdorff, Baviera, passou praticamente sem comentários neste país. Embora o nome desta autora católica não seja desconhecido do público inglês — sua obra mais conhecida, Die Letzte am Schafott, foi a fonte de uma ópera de Poulenc apresentada no Covent Garden em 1958 e de um filme roteirizado por Georges Bernanos produzido em 1960 — é verdade que grande parte de seu trabalho permanece literalmente um livro fechado. Trata-se de um estado de coisas lamentável, uma vez que seus escritos abordam diversos temas tratados por figuras literárias amplamente celebradas internacionalmente, como Mauriac e nosso próprio Graham Greene.

De ascendência huguenote, Gertrud von le Fort nasceu em 1876 em Minden, Vestfália, e pode traçar uma rica história familiar que remonta aos tempos da Reforma. Três membros da família Le Fort lutaram como oficiais de Luís XVI nas Tulherias, enquanto o mais famoso de seus ancestrais, François le Fort, foi almirante e companheiro de Pedro, o Grande."







Como acontece com todos os trabalhos filosóficos que são expostos à luz, inevitavelmente são submetidos ao esquartejamento moderno, e com esta escritora alemã não é diferente. Na Alemanha, surgem linhas e grupos com o objetivo de desmantelar o texto e inserir interpretações contemporâneas, num esforço solenemente vergonhoso.

No entanto, todos os que escrevem ou falam em público estão cientes de que suas palavras podem ser descredibilizadas, pisoteadas, alteradas e "interpretadas". Por isso, é especialmente importante garantir a preservação mais pura de uma obra tão sublime, sem buscar imprimir nela os devaneios modernos de inexatidão.





Contexto Histórico: Política, economia e comportamento


Nos anos de 1930 e 1931, o mundo testemunhou eventos significativos que se destacaram tanto no cenário internacional quanto no contexto brasileiro.

Internacionais:

Em 1930, a Grande Depressão continuou a devastar as economias globais, resultando em elevadas taxas de desemprego e falências generalizadas. Na esfera cultural, a primeira Copa do Mundo de Futebol foi realizada no Uruguai, onde o país anfitrião obteve a vitória. A indústria cinematográfica lançou filmes notáveis que refletiam a tensão e as esperanças da sociedade em meio à crise econômica. Na ciência e tecnologia, ocorreram avanços substanciais, como o autogiro de Juan de la Cierva, precursor do helicóptero moderno.

Em 1931, a conjuntura internacional foi marcada por uma série de eventos políticos significativos. Na Espanha, a monarquia foi abolida e a Segunda República Espanhola foi proclamada em abril. Na esfera artística e cultural, "The Star-Spangled Banner" foi oficialmente adotado como hino nacional dos Estados Unidos em março, enquanto Luis Buñuel lançou "A Idade Dourada", uma obra-prima do cinema surrealista. Além disso, desastres naturais, como as inundações na China, causaram devastação e resultaram em inúmeras perdas.

Brasil:

No Brasil, em 1930, a Revolução de 1930 culminou na deposição do presidente Washington Luís em 24 de outubro, com Getúlio Vargas assumindo a presidência. Esse evento significou uma mudança radical no panorama político brasileiro.

Em 1931, o Brasil viveu um ano de "consolidação" sob a liderança de Getúlio Vargas, que continuou a implementar várias reformas políticas importantes. Além disso, a inauguração do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, em 12 de outubro, foi um marco significativo do período.


Em 1930, Bertha Lutz, uma das principais líderes feministas do Brasil, estava ativamente engajada na luta pelos direitos das mulheres. Foi em 1932, pouco após este período, que as mulheres brasileiras conquistaram finalmente o direito de voto com a promulgação do Código Eleitoral. Os debates internos entre diferentes abordagens feministas também eram intensos. Algumas vertentes, influenciadas pelo Partido Comunista do Brasil, viam o feminismo como um movimento "pequeno-burguês" e inadequado para as reais necessidades das mulheres trabalhadoras, enfatizando a luta de classes como o verdadeiro caminho para a "emancipação feminina." Isso explica as características peculiares e regionais do feminismo brasileiro e por que, de certa forma, as ações antifeministas (mesmo as piedosas) tendem à atitude burguesa, pois esta foi colocada como antagônica histórica, não por ser boa, mas por ser capitalista. O que, para a resolução da questão sobre respeito genuíno, definitivamente não traz respostas.




Perceba que este estado de ânimo antecedeu à Segunda Guerra Mundial, que recebeu pessoas recém-saídas dos loucos anos 20 já citados (aqui: Literato Católico: Maria Luiza Chaveut e sua Teologia Educacional ) e embevecidas por mudanças políticas, econômicas e ideológicas.






Livros da Literatura do Século XX 



No modernismo, autores como James Joyce, com Ulysses (1922), e Marcel Proust, com À Sombra das Raparigas em Flor (1919), introduziram inovações como o fluxo de consciência. Na literatura existencialista, obras como O Estrangeiro (1942), de Albert Camus, e A Náusea (1938), de Jean-Paul Sartre, exploraram a liberdade e a alienação.


O realismo mágico emergiu com força na América Latina, com escritores como Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão (1967), e Juan Rulfo, com Pedro Páramo (1955), que mesclaram o cotidiano ao fantástico. No cenário pós-colonial, autores como Chinua Achebe, com O Mundo se Despedaça (1958), e Salman Rushdie, com Os Filhos da Meia-Noite (1981), abordaram a  independência cultural.


A poesia modernista também se destacou, com T.S. Eliot publicando A Terra Desolada (1922), uma obra repleta de alusões fragmentadas, enquanto Pablo Neruda publicava sua poesia romântica e política, como em Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada (1924). No teatro, Samuel Beckett desafiou as convenções com Esperando Godot (1953), representativo do Teatro do Absurdo, enquanto Federico García Lorca explorou as tensões sociais em peças como A Casa de Bernarda Alba (1936).


A literatura distópica também floresceu com obras como 1984 (1949), de George Orwell, que lançou uma poderosa crítica ao totalitarismo, e Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley, que examinou os perigos de uma sociedade controlada. Simone de Beauvoir publicou O Segundo Sexo (1949), enquanto Virginia Woolf publicou Uma Janela para o Amor (1927).


No Brasil, Clarice Lispector se destacou como uma das maiores escritoras do século, trazendo uma linguagem introspectiva e poética em obras como sua obra A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Por outro lado, autoras afro-americanas como Zora Neale Hurston, com Seus Olhos Viam Deus (1937), e Toni Morrison, ganhadora do Prêmio Nobel em 1993, trouxeram narrativas sobre a experiência afrodescendente, como em Amada (1987).


O mercado também abriu espaço para narrativas de suspense, como as de Agatha Christie, a "Rainha do Crime", cujas obras, como Assassinato no Expresso do Oriente (1934) e E Não Sobrou Nenhum (1939). 



Gertrud von Le Fort destacou-se com Hymnen an die Kirche (1924), um tributo à Igreja Católica, e Die Letzte am Schafott (1931), que narra o martírio das Carmelitas de Compiègne. Edith Stein, filósofa e santa católica, deixou importantes escritos como On the Problem of Empathy (1916) e The Science of the Cross. Maria Luiza Chaveut publicou o seu A virgem cristã na família e no mundo em 1930.


Na África, Margaret Ogola contribuiu com The River and the Source (1994), uma celebração de gerações de mulheres quenianas, além de I Swear by Apollo (2002) e Place of Destiny (2005). Flannery O'Connor, uma renomada escritora americana, trouxe contos e romances que abordam a graça divina e a complexidade humana, como em Wise Blood (1952). Alice Thomas Ellis explorou a fé e a moral em obras como The Sin Eater (1977), enquanto Caryl Houselander destacou-se por seus escritos espirituais, como The Reed of God (1944), que reflete sobre a Virgem Maria.


Ademais, Irmã Miriam Joseph, acadêmica e autora católica, deixou um importante legado com The Trivium: The Liberal Arts of Logic, Grammar, and Rhetoric (1937), uma obra que revitaliza as artes liberais na educação, e Shakespeare's Use of the Arts of Language (1947), que analisa o uso da retórica nas obras de Shakespeare. 





para apreciação

Gertrud von le Fort | Blackfriars | Núcleo de Cambridge
Gertrud von Le Fort
Le Fort, Gertrud von – PHTE · Portal digital sobre a História da Tradução na Espanha





Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025). 




Literato Católico 2025 (aqui)


Ficha de Leitura

Título: A Virgem Cristã

Autor(a): Maria Luiza Chaveut

Ano de Publicação: 1927

Gênero: Instrução Católica

Tema:  Teologia Prática, Teologia Moral, Teologia Educacional, Celibato leigo



Crítica de Cultura (por professora Ana Paula Barros)


Maria Luiza Chaveut escreveu o livro "A Virgem Cristã em Família e no Mundo". Apesar de pouco se saber sobre a autora, é notável que ela tenha publicado este guia valioso sobre o celibato leigo em 1927, muito antes de existirem os variados locais de consagração que temos hoje nesta modalidade.


Este é um dos livros mais admirados sobre o tema. A autora se destaca pela clareza, gentileza e firmeza na medida certa, sendo uma verdadeira pedagoga das celibatárias. A leitura de seus escritos traz felicidade e esperança de que um dia ele seja novamente publicado. Acredita-se que Maria Luiza escreveu com base em sua própria experiência, o que torna o livro um excelente manual para celibatárias, especialmente aquelas que vivem fora de uma comunidade consagrada.


O livro impressiona por sua riqueza de detalhes e orientações práticas, revelando a influência de um bom padre na vida diária da autora, combinada com sua determinação. É surpreendente que, em 1927, o celibato leigo fora de uma comunidade religiosa já fosse um tema de destaque.


Com uma escrita elegante e espirituosa, a autora apresenta uma estrutura para a vida cristã celibatária que, sem dúvida, pode ser de grande proveito para muitas pessoas. O livro transcende barreiras, preconceitos e obtusidades ao explorar um tema pouco abordado no Brasil, inclusive nos meios religiosos.




Com seu característico humor francês, permeia de maneira exemplar a Teologia Prática. Esta área da Teologia Sistemática possui diversas subdivisões, incluindo a Teologia Moral e a Teologia Educacional.

A Teologia Prática é a aplicação concreta dos princípios teológicos na vida cotidiana, preocupando-se com a maneira como a fé é vivida, expressa e transmitida. Englobando desde a pregação e educação até a devoção pessoal e a vida comunitária.

Dentro da Teologia Prática, encontramos a Teologia Moral, que focaliza questões de comportamento, ética e valores cristãos. A Teologia Moral abrange diversos temas, como vocação e moralidade, fornecendo uma base sólida para decisões e ações alinhadas com a fé católica.

A Teologia Educacional é outro ramo crucial da Teologia Prática. Esta área dedica-se à formação espiritual e intelectual, através de métodos e práticas educacionais que integram a fé à vida cotidiana. A Teologia Educacional inclui a catequese, a educação formal e programas de formação contínua, de todas as idades.

Os temas abordados por Maria Luiza, como vocação, moral e instrução, pertencem ora à Teologia Moral, ora à Teologia Educacional, abrangendo, de modo satisfatório, os múltiplos aspectos da Teologia Prática.
Este livro é de inestimável valor para celibatários devotos e convictos, tão raros em um mundo hedonista – um mundo que, aliás, é mais hedonista do que o da autora.





Reflexões secundárias 

De fato, existe um paralelo entre o celibato e a esperança, o qual se conecta à segunda vinda do Messias. O celibato simboliza a espera da Esposa – a Igreja – pelo Cristo reinante – o Esposo. No reino de Cristo, tão ansiosamente esperado, ninguém se casará ou se dará em casamento. Nenhum estado permanecerá, exceto aquele que se comprometeu com Cristo em noivado. Os outros relacionamentos seguirão seus próprios cursos, conforme descrito no "até que a morte nos separe".


O celibato, como estado de noivado, culminará em glória e esplendor, sendo o único vínculo construído na terra que se torna eterno. No Céu, no reinado de Cristo, não existirão mais os cargos e ofícios que conhecemos hoje no clero, nem os laços do casamento; mas o laço devoto e concreto do celibatário permanecerá: o laço do casamento celestial. Isso concede ao celibato uma vida per se em Cristo e em Seu reinado, não como algo acessório numa execução de trabalho temporal, mas como um estado que antecipa a condição da Igreja no reinado eterno do Messias e imita a vida terrena do próprio Messias.


Portanto, o celibatário está intimamente unido à segunda vinda de Cristo, e ambos estão ligados à esperança que, por fim, não existirá mais no Céu. Desde os primeiros tempos do cristianismo, os celibatários foram revestidos de respeito e justa admiração por suas orientações, independentemente das vocações dos ouvintes. Isso se deve ao compromisso com o Senhor, que é superior, como ensinam os santos da Igreja, pois superior é o Esposo, Seu poder e influência, e superior é, portanto, a vocação e o laço de compromisso com Ele.




Contexto Histórico 

No que concerne à época de publicação, podemos apontar os acontecimentos da década de 1920. Os "Loucos Anos 20", também conhecidos como Roaring Twenties ou Années Folles, foram um período de grande efervescência cultural, social e econômica que se seguiu à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Essa década foi marcada por uma explosão de modernidade e inovação em diversas áreas, incluindo moda, música, arte e estilo de vida. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, muitos países experimentaram um período de rápida recuperação econômica. As indústrias cresceram, a produção em massa se tornou comum e houve uma grande expansão do consumo. O jazz se tornou extremamente popular, especialmente em cidades como Nova York, Nova Orleans e Chicago. O jazz clubs e a música ao vivo proliferaram, e artistas como Duke Ellington, Louis Armstrong, Billie Holiday e Ella Fitzgerald se tornaram ícones dessa nova era musical. Também foi o período em que surgiram as danças vibrantes como o Charleston, que conquistou jovens e entusiastas da dança.


Na moda, Coco Chanel revolucionou o vestuário feminino, introduzindo vestimentas que contrastavam com os estilos anteriores. As mulheres começaram a usar roupas mais soltas, saias mais curtas e cabelos curtos. As flappers simbolizavam essa nova liberdade, adotando um visual com lábios vermelhos, pálpebras pintadas de escuro, vestidos na altura dos joelhos e uma atitude desafiadora.


A disseminação do automóvel, do rádio, do cinema e da eletricidade transformou vidas e facilitou o crescimento das cidades. Após a restrição e o sofrimento da guerra, as pessoas buscavam prazer e indulgência, levando a uma época de festas glamorosas e excessos.


Lançar um livro sobre o celibato leigo em meio a este cenário exigia muita coragem. Maria Luiza Chaveut, ao publicar "A Virgem Cristã" em 1927 na França (veja bem!), apresentava um contraste fascinante com o espírito da época, que estava mergulhado em novidades e abusos. Os Loucos Anos 20 terminou abruptamente com o crash da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, que deu início à Grande Depressão, uma época de grande sofrimento e dificuldades econômicas que se seguiu na década de 1930. No entanto, essa devassidão enfraqueceu as pessoas, que diante de uma crise se virão, mas uma vez, diante de uma guerra.




Política, Economia e comportamento


A Grande Depressão foi uma grave crise econômica mundial que teve início com o crash da Bolsa de Valores de Nova York em 29 de outubro de 1929, evento que ficou conhecido como Terça-Feira Negra. Durante essa época, houve uma queda dramática na produção industrial, um aumento massivo do desemprego e uma queda brusca no produto interno bruto (PIB) de diversos países. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego saltou de 3,2% em 1929 para 24,9% em 1933, exemplificando a severidade da crise.

Essa crise não se limitou aos Estados Unidos, mas teve repercussões globais, impactando duramente a Europa, em especial a Alemanha, que ainda se recuperava dos efeitos do Tratado de Versalhes imposto após a Primeira Guerra Mundial. A economia alemã, já fragilizada pelas severas sanções e reparações exigidas pelo Tratado, foi devastada pela Grande Depressão. Isso resultou em elevadas taxas de desemprego e hiperinflação, aprofundando o sofrimento econômico da população.

A crise econômica criou um ambiente propício para o crescimento de ideologias extremistas e movimentos políticos radicais. Na Alemanha, Adolf Hitler e o Partido Nazista capitalizaram a insatisfação popular, prometendo revitalizar a economia, restaurar o orgulho nacional e anular o Tratado de Versalhes. O desespero econômico e a instabilidade política facilitavam a ascensão de Hitler ao poder em 1933, circunstâncias que foram decisivas para o desenvolvimento dos eventos subsequentes.

A necessidade de melhorar a economia e enfrentar os desafios impostos pela Grande Depressão levaram muitos países, especialmente a Alemanha, a investirem na rearmamentação e na indústria bélica. Isso teve o efeito de criar empregos e revitalizar a produção industrial, ao mesmo tempo em que preparava o cenário para futuros conflitos.

Assim, a Grande Depressão e suas consequências políticas e sociais estabeleceram um percurso inexorável em direção à Segunda Guerra Mundial. As tensões geradas durante esses anos de crise, aliadas à ascensão de regimes totalitários e à mobilização massiva para o conflito bélico, formaram uma ligação indelével entre esses dois eventos históricos.




Comportamentalmente, as pessoas vivenciaram um abalo sísmico. Aqueles que haviam dançado nas festas luxuosas e desfrutado da efervescência cultural de repente se encontravam num deserto de incerteza. A euforia cedeu lugar ao pragmatismo; o consumismo desenfreado foi substituído pela austeridade. A confiança na prosperidade infinita foi desafiada, forçando uma reavaliação dos valores e prioridades.

Quando a crise econômica parecia insuperável, as ideologias extremistas encontraram um terreno fértil. Em meio ao desespero e à busca por soluções rápidas, muitos foram seduzidos por promessas de redenção e renovação nacional.

Na década de 1930, o otimismo dos anos 20 se converteu em resignação e preparação para uma nova conflagração global. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) materializou-se como um desdobramento trágico dessas décadas anteriores, onde os sonhos de progresso foram hipotecados pelas realidades brutais de um conflito total.

As pessoas que atravessaram esses períodos de crise econômica e guerra foram forjadas em um cadinho de luta e sobrevivência. Que, por sua vez, não durará muito nos ciclos de acontecimentos mundiais.




Rompendo limitações de entendimento e conhecimento



Na presente conjuntura, testemunhamos a injusta vinculação do celibato leigo às práticas da ala modernista da Igreja, como se esse setor fosse o gerador do celibato leigo. Contudo, conforme detalhado no estudo "Celibato Leigo", essa análise é profundamente obtusa tanto do ponto de vista teológico quanto histórico. O celibato não é, de forma alguma, um legado de grupos progressistas, nem tampouco está vinculado ao Concílio Vaticano II. Este estado de vida é, na verdade, resultado direto do influxo do Sagrado Coração do Senhor Jesus e de Seu corpo puríssimo e santo em Sua Igreja, que, em última análise, produz esse fruto em imitação e vivência escatológica do que há de vir.

Reduzir a augusta vida celibatária a meras bagatelas políticas clericais e eclesiais constitui uma grave ofensa ao poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo provê àqueles que a Ele consagram alma e corpo em resguardo. É também um desrespeito a um dos frutos mais nobres da Santa Tradição Católica. O celibato leigo, devoto e convicto, é um raio terreno da Glória de Deus.





Panorama do século XX



O século XX foi um período de grandes transformações e acontecimentos históricos que moldaram a sociedade como a conhecemos hoje. Foi marcado pelas duas Guerras Mundiais, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que trouxeram devastação e mudanças geopolíticas significativas, incluindo o colapso de impérios e o surgimento de novas superpotências como os Estados Unidos e a União Soviética. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo mergulhou na Guerra Fria (1947-1991), uma disputa ideológica, tecnológica e militar entre o capitalismo e o socialismo, que influenciou profundamente a política global e levou à corrida espacial, com momentos marcantes como o lançamento do satélite Sputnik pela União Soviética em 1957.

O século também viu o processo de descolonização, intensificado após a Segunda Guerra Mundial, com diversos países da África, Ásia e Oriente Médio conquistando sua independência ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970, como a independência da Índia em 1947.

Ao mesmo tempo, os avanços tecnológicos e científicos revolucionaram todos os aspectos da vida humana, desde a medicina, com o desenvolvimento de vacinas como a da poliomielite nos anos 1950, e antibióticos como a penicilina na década de 1940, até as comunicações, com a invenção do rádio (década de 1920), da televisão (anos 1930), do computador (década de 1940) e, mais tarde, da internet (década de 1980). A exploração espacial tornou-se uma realidade, culminando com a chegada do homem à Lua em 1969.

Socialmente, o século XX foi palco de movimentos transformadores em busca de direitos civis, "igualdade de gênero" e inclusão de grupos marginalizados, como o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1960 e as ações feministas ao longo de todo o século. Na cultura, o modernismo (início do século XX), o surrealismo (década de 1920) e outras correntes artísticas redefiniram as fronteiras da criatividade, enquanto a globalização conectou as nações como nunca antes, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.





Livros da Literatura do Século XX 



No modernismo, autores como James Joyce, com Ulysses (1922), e Marcel Proust, com À Sombra das Raparigas em Flor (1919), introduziram inovações como o fluxo de consciência. Na literatura existencialista, obras como O Estrangeiro (1942), de Albert Camus, e A Náusea (1938), de Jean-Paul Sartre, exploraram a liberdade e a alienação.


O realismo mágico emergiu com força na América Latina, com escritores como Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão (1967), e Juan Rulfo, com Pedro Páramo (1955), que mesclaram o cotidiano ao fantástico. No cenário pós-colonial, autores como Chinua Achebe, com O Mundo se Despedaça (1958), e Salman Rushdie, com Os Filhos da Meia-Noite (1981), abordaram a  independência cultural.


A poesia modernista também se destacou, com T.S. Eliot publicando A Terra Desolada (1922), uma obra repleta de alusões fragmentadas, enquanto Pablo Neruda publicava sua poesia romântica e política, como em Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada (1924). No teatro, Samuel Beckett desafiou as convenções com Esperando Godot (1953), representativo do Teatro do Absurdo, enquanto Federico García Lorca explorou as tensões sociais em peças como A Casa de Bernarda Alba (1936).


A literatura distópica também floresceu com obras como 1984 (1949), de George Orwell, que lançou uma poderosa crítica ao totalitarismo, e Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley, que examinou os perigos de uma sociedade controlada. Simone de Beauvoir publicou O Segundo Sexo (1949), enquanto Virginia Woolf publicou Uma Janela para o Amor (1927).


No Brasil, Clarice Lispector se destacou como uma das maiores escritoras do século, trazendo uma linguagem introspectiva e poética em obras como sua obra A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Por outro lado, autoras afro-americanas como Zora Neale Hurston, com Seus Olhos Viam Deus (1937), e Toni Morrison, ganhadora do Prêmio Nobel em 1993, trouxeram narrativas sobre a experiência afrodescendente, como em Amada (1987).


O mercado também abriu espaço para narrativas de suspense, como as de Agatha Christie, a "Rainha do Crime", cujas obras, como Assassinato no Expresso do Oriente (1934) e E Não Sobrou Nenhum (1939). 



Gertrud von Le Fort destacou-se com Hymnen an die Kirche (1924), um tributo à Igreja Católica, e Die Letzte am Schafott (1931), que narra o martírio das Carmelitas de Compiègne. Edith Stein, filósofa e santa católica, deixou importantes escritos como On the Problem of Empathy (1916) e The Science of the Cross. Maria Luiza Chaveut publicou o seu A virgem cristã na família e no mundo em 1930.


Na África, Margaret Ogola contribuiu com The River and the Source (1994), uma celebração de gerações de mulheres quenianas, além de I Swear by Apollo (2002) e Place of Destiny (2005). Flannery O'Connor, uma renomada escritora americana, trouxe contos e romances que abordam a graça divina e a complexidade humana, como em Wise Blood (1952). Alice Thomas Ellis explorou a fé e a moral em obras como The Sin Eater (1977), enquanto Caryl Houselander destacou-se por seus escritos espirituais, como The Reed of God (1944), que reflete sobre a Virgem Maria.


Ademais, Irmã Miriam Joseph, acadêmica e autora católica, deixou um importante legado com The Trivium: The Liberal Arts of Logic, Grammar, and Rhetoric (1937), uma obra que revitaliza as artes liberais na educação, e Shakespeare's Use of the Arts of Language (1947), que analisa o uso da retórica nas obras de Shakespeare. 





Trechos para apreciação

"Não profaneis o título de "Virgem". Não o deis indistintamente a todas que não abraçaram o estado de matrimônio. Não deis, também, este título tão nobre àquelas que, por não terem achado a quem dar seu coração, vivem desgostosas, despeitadas, procurando agradar a todos em compensação por não terem sabido agradar a um só. Nunca deis, também, o título de "Virgem" àquelas que levam sobre a terra uma existência inútil e egoísta, e que aviltam seu amor, até o ponto de consagrá-lo aos irracionais; que vivem inquietas por causa de seu gato, de seus passarinhos, tendo, no entanto, para os infelizes, um coração de gelo. Dai este belíssimo título somente àquela que, não tendo senão um amor - Deus; uma preocupação - sua glória; um desejo - a salvação e o bem das almas, vive afastada das vaidades do mundo, desapegada dos bens da terra, e não quer ornar-se com outra joia a não ser sua angélica modéstia, nem ter outro diadema senão sua caridade.

Chamai Virgem àquela que na primavera da vida, na flor da sua juventude, renuncia às doçuras da maternidade, às alegrias de um lar, às esperanças de um futuro brilhante para se imolar, para sempre, ao grande e santo amor de Cristo. Àquela a quem Deus, por favor especial e por um especial chamamento, inspira este irresistível desejo de amá-Lo sem reserva e sem medida. Entre Deus e a Virgem não há intermediários: nem esposo, nem filhos, nem criatura alguma. Deus só ocupa todo o seu coração, e a Ele só ela pertence! Deus e a terra apresentaram-se à sua contemplação, e a Deus só ela quis pertencer, embora para esse fim tivesse de renunciar a todos os bens da terra. A bondade infinita, a beleza divina, por uma espécie de sedução, fascinou-a e apossou-se dela para sempre! Àquela que não tem na terra senão os desejos do Céu por alegria, Jesus Cristo por Esposo e a geração das almas por maternidade. Chamai Virgem só àquela que, por livre vontade, renuncia a toda e qualquer aliança terrena, para poder, livre de afeições humanas e dos cuidados da família, consagrar seu coração a Jesus Cristo e trabalhar mais eficazmente para a glória de Deus."





A Obra dos Catecismos

Nas circunstâncias dolorosas que atravessa a Igreja, parece-nos muito importante insistir mais particularmente na obra dos catecismos ou da instrução religiosa que se deve dar às crianças.

É necessário que a Virgem cristã de nossos dias seja um apóstolo, como o era a da primitiva Igreja. É, com efeito, um espetáculo tocante e digno de admiração, o que nos oferecem as Virgens dos primeiros séculos do cristianismo, devoradas pelo zelo de espalhar por toda parte os tesouros da verdade. Iluminadas pela fé, sentiam-se devorar pelo desejo de esclarecer todas as almas que viviam mergulhadas nas trevas do paganismo. Quem poderia contar as conquistas que faziam no seio da família, entre os seus amigos, seus criados, e mesmo seus algozes? Muitas vezes, a prisão e o martírio foram para elas as ocasiões mais fecundas para ganharem as almas para o amor de Cristo.

Aqui vemos Marta, a irmã de Maria Madalena e de Lázaro, que traz as primeiras luzes da fé à Provença.

É Catarina de Alexandria, que não receia entrar em discussão com os mais sábios filósofos de seu país em presença do próprio imperador romano, e força-os a reconhecerem seus erros, leva-os a abraçar a religião do Salvador e a derramar o sangue pouco depois por amor a Ele.

É Cecília, a quem o papa Urbano chamava a ovelha eloquente, e que converteu Valeriano, seu irmão Tibúrcio e os outros moços que extasiados a escutavam, e que, apenas saídos da fonte batismal, voaram com ela ao martírio. Conduzida à morte, Cecília falava de Jesus Cristo aos soldados que a cercavam e que pediram o batismo; foi no meio deste triunfo do apostolado que a ovelhinha eloquente ofereceu a cabeça ao seu algoz e, como dizem os atos de sua canonização, emigrou para o Senhor.

É Eulália, que contando apenas 13 anos, no meio dos mais atrozes tormentos, falava de Jesus Cristo e da eternidade, com tal convicção que chamou à vida da graça as testemunhas de seu suplício, semelhante ao aloé que morre ao dar as primeiras flores.

Columba tira milagrosamente das garras de um urso furioso o libertino que quisera atentar contra a sua pureza e anuncia-lhe o Evangelho, faz dele um generoso discípulo da Cruz e, mais tarde, um glorioso mártir.

Santa Tecla acompanha São Paulo em suas primeiras excursões apostólicas e passa todos os dias, até à idade de noventa anos, no exercício de um zelo tal que os doutores a apelidaram o apóstolo e o evangelista de seu sexo.

Santa Beneditina conquista onze de suas companheiras ao amor de Jesus Cristo e da santa virgindade e faz delas missionárias que de Roma trazem as luzes da fé aos territórios de Soissons e de Beauvais.

Ao nome de Patrício, o apóstolo da Irlanda, está eternamente ligado o nome de Santa Brígida, cuja ciência e caridade enchiam de pasmo os reis e grandes senhores, como ao nome de São Bonifácio, o apóstolo da Germânia, une-se o nome de Lioba, a predileta que consegue reunir, por meio de suas lições e exemplos, inúmeras discípulas.

Ainda poderíamos citar cenas não menos admiráveis que vos lembrariam os esforços e os sucessos das primeiras Virgens cristãs, que com todo ardor trabalhavam para o aumento do reino de Jesus Cristo nas almas. O divino Esposo comunicou-lhes esse fogo sagrado com que Ele veio abrasar a terra: por toda parte, elas arrancam as almas da escuridão do pecado, preparam os corações, incutindo-lhes o amor à religião, e os conduzem aos Apóstolos, aos seus sucessores que as batizam e confirmam na fé.

O Senhor, diz a Escritura, chama as estrelas das profundezas do firmamento e elas respondem: "eis-nos aqui". Obedientes, espalham por toda parte o seu doce fulgor. Assim foram as Virgens dos primeiros séculos. Quando a noite do paganismo envolvia o mundo, elas brilhavam no firmamento da Igreja como puríssimas estrelas, iluminando milhares de almas.

Em nossos dias, ó Deus, para quantos cristãos a luz do dia ainda não despontou no horizonte!

O Soberano Pontífice e os Bispos clamam contra a educação que as sociedades civis querem dar à infância. O nome de Deus deve ser proscrito das escolas: Jesus Cristo deve ser desconhecido, sua imagem tirada da vista dos alunos, sua Cruz adorável deve ser retirada das paredes da escola, para ser muitas vezes calcada aos pés dos sectários.

Chama-se a isto neutralidade: neutralidade falsa, mentirosa e que termina necessariamente no ateísmo e no mais grosseiro materialismo.

Que será desta geração educada assim fora dos princípios religiosos que são a única salvaguarda das sociedades?

As famílias ricas poderão ainda dar a seus filhos professores católicos. A escola livre talvez ainda se possa abrir em alguns lugares favorecidos, e com as esmolas dos fiéis, receber um certo número de alunos que aprenderão a conhecer a Deus, a amá-Lo e a servi-Lo.

Mas que será dos meninos que frequentam as escolas públicas? É possível que os filhos do operário, do pobre, fiquem completamente privados do ensino religioso? Quem lhes falará de Deus, de sua alma, de seus deveres, de seus imortais destinos? Quem os preparará para o grande ato da primeira comunhão? As explicações do catecismo que se faz na paróquia serão suficientes para eles? Poderão eles aprender tudo que se contém nesse precioso livro e que não lhes será explicado nem na escola, nem na casa paterna? Na escola é proibido falar-se de Deus: em casa, os pais, em geral, não têm nem o tempo, nem a necessária instrução para darem essas explicações. Os padres, apesar do seu zelo, são poucos, e vivem muito absorvidos pelas outras funções de seu ministério e não podem se ocupar desta nova obra.

Quem se encarregará de instruir esses pobrezinhos que são batizados, são filhos de Deus e membros da Santa Igreja, Esposa de Jesus Cristo? Pedem o pão da vida, e é possível que ninguém lhes queira distribuir com abundância?

Não o ignoramos; obras admiráveis se organizam em nossas cidades: o apelo do Papa e dos Bispos foi ouvido. Inúmeras cristãs, fervorosas donzelas, viúvas, e mesmo mães de família, se unem, se põem à disposição dos párocos, distribuem entre si as crianças que lhes são confiadas, e fazem-se suas dedicadas professoras.

É muito bom; esse concurso é precioso, mas será suficiente? Para tornar-se eficaz é necessário que seja constante, regular... essa regularidade é fácil de manter por moças, por senhoras a quem os deveres domésticos, a falta de saúde ou as exigências da sociedade retêm muitas vezes em casa?

É a Virgem cristã que deve estar sempre pronta para preencher esses vazios e assegurar a continuidade do ensino. Deve estar à disposição dessas crianças, sobretudo nos lugares do interior, nas pequenas freguesias onde é tão difícil manter uma escola paroquial, onde há um só padre ou onde muitas vezes não há sacerdote algum. Deveis receber essas crianças nas quintas-feiras, nos domingos e mesmo nos outros dias da semana, nas horas em que as escolas públicas não funcionam. Deveis atraí-las pela vossa bondade, pela vossa dedicação e por meio dessas pequenas recompensas que ganharão esses coraçõezinhos, e os tornarão mais dóceis e aplicados. Deveis continuamente redobrar de esforços; não vos fatigueis jamais, não desanimeis diante da inconstância, e talvez da ingratidão dessas crianças, nem diante da aparente esterilidade de vossas palavras. A colheita não se faz logo após a semeadura. São necessários longos meses para que os grãos germinem, que cresçam e que produzam depois as belas espigas. As obras de zelo exigem grande paciência. A ovelha reconduzida ao aprisco ainda pode fugir, e o bom pastor não deixará de procurá-la, para reconduzi-la de novo para o bem.

Tereis que lutar contra a indiferença e muitas vezes contra a hostilidade dos pais dessas crianças. Servi-vos, para vencer a ignorância ou a má vontade deles, de todos os recursos de vossa industriosa caridade e vosso ardente amor por Nosso Senhor e pelas almas vos inspiram. Em breve encontrareis inesperadas compensações no afeto que vossos discípulos vos testemunharão, e sentireis inefáveis consolações no dia em que os virdes, recolhidos e alegres, aproximarem-se pela primeira vez da mesa da comunhão e ali receberem o pão da verdadeira vida. Ah! então sentireis a necessidade de guiar ainda durante algum tempo seus passos incertos, e de assegurar a sua perseverança, dando-lhes ainda algumas lições de doutrina cristã.

Deveis, entretanto, contar com o mau êxito, com o abandono de muitos, mas conservai sempre a esperança de que vossos esforços não serão baldados, e que um dia essas almas voltarão para Deus, que para o futuro haverá conversões, devidas talvez às vossas lições de catecismo que, a princípio, pareceram ineficazes. Como diz o profeta, tereis algumas vezes de semear entre lágrimas: mas tereis em seguida a consolação de recolher uma abundante colheita, que oferecereis ao Pai celeste, para os seus eternos celeiros.

Armai-vos, pois, Virgem cristã, com o catecismo, para conquistar as almas das criancinhas, cujos anjos veem constantemente a face de Deus."



Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025). 







William Dyce, A Madona e o Menino, 1845




“É principalmente por dois instrumentos que alguém adquire o conhecimento: a leitura e a meditação.” (HUGO DE SÃO VÍTOR, Didascalicon).


Dentre leigos e clérigos, ainda existe, assustadoramente, a ideia preconcebida de que as filhas do Altíssimo não devem estudar ou falar em público. Como se a sequela da ignorância, vinda do pecado original, nelas não devesse ser combatida pelo estudo e a boa direção do intelecto. Sem recorrer a argumentos de que tais pensamentos se baseiam em uma teologia fraca, resolvi usar a vida das santas como resposta, já que esta é a resposta do próprio Deus aos declínios, limitações, deturpações e enganações de cada tempo ou pessoa individualmente.

Normalmente, essa linha de pensamento vem da aversão ao feminismo, como se tudo fosse reduzido a fazer o oposto das feministas e então estaríamos salvos. Elas não depilam, nós depilamos; elas estudam, nós cozinhamos; elas falam em público, nós não; elas são líderes, nós somos mandadas e, pronto, tudo está resolvido. Seria até bonitinho tanta ilusão, se não fosse satânica. Outro motivo é a linha de leitura da crise da Igreja por alguns clérigos; segundo eles, tudo se deve à ação dos leigos, e, quando os leigos aumentam a sua ação, eles diminuem em autoridade. Ou seja, é uma reação para não perder um suposto poder de influência... ora, isso já está perdido há tempos e quem plantou isso foram os próprios padres; os leigos só estão tentando sobreviver ao que eles plantaram. No fim, o clero deve resolver os seus problemas, responsabilizando-se a si mesmos.

Dito isso, cabe elencar vidas santas que são mais seguras que achismos temporais e limitações humanas fantasiadas de "tradição", sem nenhum pingo de autenticidade, que é Santa e Verdadeira nos Santos:

Segundo a Santa Tradição, a Santíssima Senhora vivia no Templo e a rotina dentro do Templo incluía seis horas de estudo.

Flávio Josefo, em sua obra "Antiguidades Judaicas", menciona que “as mulheres no templo eram responsáveis por ensinar a Torá e outras disciplinas religiosas às crianças e a outras mulheres da comunidade”. De acordo com a Enciclopédia Judaica, “as virgens do templo passavam cerca de quatro a seis horas diárias estudando e ensinando a Torá e outras escrituras sagradas”. Também é descrito que a rotina de estudo das virgens do templo era bem estruturada. Elas dedicavam cerca de quatro a seis horas diárias ao estudo da Torá e outras escrituras sagradas. Esse tempo era dividido entre sessões de leitura, discussão e meditação sobre os textos. Pela manhã, após as orações iniciais, elas passavam duas a três horas estudando. No período da tarde, após suas tarefas no templo, dedicavam mais duas a três horas ao estudo e reflexão. Já a "História dos Hebreus" destaca a importância do papel educativo das virgens do templo. Segundo o texto, “as virgens eram vistas como guardiãs do conhecimento religioso, e seu ensino era altamente valorizado pela comunidade”.


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Muitas grandes santas eram versadas no estudo. Não citarei Santa Hildegarda, que é sempre a mais mencionada. Mencionarei outras santas, começando pelos primeiros séculos, para evitar alegações de feminismo:

  • Santa Marcelina: educou com muito estudo o grande Santo Ambrósio, seu irmão, que escreveu sobre a educação das mulheres inspirado nela.
  • Santa Bárbara: no início das lições, não gostava de estudar com os tutores, mas, posteriormente, foi o estudo que a fez interessar-se pelas ciências e cogitar a existência de um Criador (sua família e tutores eram pagãos).
  • Santa Catarina de Alexandria: padroeira dos filósofos (isso já seria um motivo para emudecer alguns... que tempos, meus caros, que tempos), estudou e teve uma ótima formação católica (Alexandria era a sede da maior Escola Catequética dos primeiros séculos). Era considerada uma das mais belas e sábias de Alexandria, confundindo 50 filósofos com a filosofia e teologia católica.

Os livros de São Basílio e São Jerônimo falam sobre a educação intelectual das mulheres, com um capítulo todo dedicado a isso. São Jerônimo dizia que se sentia feliz e orgulhoso em educar a "pequena Paulinha" como Aristóteles em educar Alexandre, que viria a ser O Grande; pois ela era uma filha do Criador. Paulinha era a menor de uma linha de filhas espirituais do Santo, já que sua mãe e avó também eram orientadas e encorajadas nos estudos por São Jerônimo. Um trabalho sacerdotal realmente notável.






Borgognone. A Madonna, 1500-1523



Outros nomes ilustres em sabedoria e inteligência incluem:

Santa Ângela Mérici, que fundou as Ursulinas, uma congregação de professoras.
Santa Maria Mazarello, que fundou o ramo feminino do Dom Bosco; Santa Paula Frassinetti, também professora, que fundou a Congregação de Santa Doroteia, dedicada ao ensino.
Santa Teresinha do Menino Jesus era assídua nos estudos, dava aulas no convento e explicava de forma profunda a teologia de São João da Cruz, impressionando as irmãs pela agudeza e dedicação, fato registrado nos autos de seu processo de canonização.
Santa Teresa de Ávila dispensa apresentações, já que a padroeira dos professores legou ensinos teológicos que são estudados até hoje.
Santa Gertrudes de Helfta, chamada a Grande, também deixou tratados teológicos que são motivo de estudo até os dias atuais.

E ainda temos:

Beata Guadalupe Ortiz, professora de química e pesquisadora acadêmica; 
Beata Natalia Tułasiewicz, professora polonesa martirizada em um campo de concentração; 
Santa Benedita da Cruz (Edith Stein), judia convertida ao catolicismo, professora e filósofa, também martirizada em um campo de concentração; 
Santa Elena Guerra, professora e fundadora da Ordem de Lucca; 
Beata Madalena Caterina, professora que fundou 19 casas salesianas, 12 oratórios, 6 escolas, 5 jardins de infância, 4 internatos e 3 escolas religiosas; 
Serva de Deus Virginia Blanco Tardío, leiga consagrada e professora de religião no ensino médio, na Bolívia; 
Beata Karolina Gerhardinger, conhecida como Madre Maria Teresa, que trabalhou como professora na Baviera e fundou a Ordem das Irmãs Escolares de Notre Dame.

É lamentável que, depois de tantos anos, tantos marcos de santidade e doação até o sangue, ainda precisemos voltar a pautas tão óbvias devido à pura limitação na profundidade do catolicismo. Isso vem, inclusive, de padres que deveriam ser o sinal da paternidade Divina, como foram os encorajadores de suas filhas espirituais: São Basílio, Santo Anselmo, São Clemente, São Jerônimo, Santo Agostinho e São Francisco de Sales.

As filhas de Deus são belas, inteligentes e sábias, dotadas de virtude e graça. Sigam em frente, com coragem, pois a corte dos santos nos protege e guia, suprindo as faltas terrenas de encorajamento e boa direção. Estudar e ensinar é um ato virtuoso que edifica e faz edificar.


"O princípio da sabedoria é: adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o conhecimento." - Provérbios 4, 7.

"Ela abre a boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua." - Provérbios 31, 26.




















































Obra: Anunciação por Jean Bourdichon e seu ateliê, França, século XV



Transcrição da aula: A vida intelectual e a mulher ministrada pela professora Ana Paula Barros em 21 de maio de 2023. Aula disponível na íntegra aqui. Sugerimos fortemente que assista a aula na íntegra e em seguida a leitura complementar do estudo Sedes Sapientiae: A Virgem Maria e a Dedicação ao Estudo e à Educação .


Muito bem, espero que todos estejam me ouvindo bem. O itinerário que separei para vocês está dividido em seis partes. À medida que eu for falando, mencionarei os autores em que me baseei e, ao final, também deixarei as referências bibliográficas. Os seis pontos são:

  1. O Intelectual Cristão

  2. Dons e Virtudes

  3. Pensar Bem

  4. A História da Instrução Feminina

  5. Educação Feminina

  6. Percepção Correta e Reações Equivocadas


O primeiro tópico que gostaria de abordar é sobre o intelectual cristão. Obviamente, baseei-me no livro do Padre Sertillanges.

Existem alguns pontos que serão tratados de forma geral, aplicáveis tanto para homens quanto para mulheres. A partir do ponto quatro, falarei mais especificamente sobre a educação feminina e a vida de estudos para mulheres. Acredito que isso seja de importância não só para as mulheres, mas também para os rapazes que, eventualmente, terão filhas e precisarão educá-las, entendendo a distinção entre o homem e a mulher e a dedicação de cada um aos estudos.

A primeira parte do meu discurso baseia-se em um versículo que gosto muito: "Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade". Estamos saindo de um período que se assemelha muito ao que o Padre Sertillanges descreveu na terceira edição de "A Vida Intelectual". Ele escreveu: "Quando o universo está em chamas, a sensação que se tem é de esmagadora impotência. O presente só traz tormento e desconcerto".

Ao escrever esse trecho, ele descrevia a necessidade de formar um verdadeiro exército de intelectuais católicos que possam responder a essa atmosfera de tormento. Esse chamado é reflexivo, para que possamos entender não apenas as origens físicas das crises, mas também suas raízes espirituais e intelectuais — o que chamamos de estudar as origens das ideias. Parte do trabalho dos intelectuais é trazer essas origens à tona.

No entanto, focar apenas na base da decadência não é suficiente. Pode gerar o que chamo de "especialistas do erro". Sabemos absolutamente tudo sobre os erros, mas não conseguimos encontrar um caminho para trazer soluções. O objetivo deste tópico é justamente abordar isso: não adianta apenas conhecer os detalhes dos erros; é necessário agir de forma conjunta para encontrar um caminho que possa iluminar o momento em que vivemos.

Quando o Padre Sertillanges diz "concentrar forças não apenas nas causas da decadência", ele também afirma que o próprio intelectual, a pessoa que está na vida de estudo, precisa ter competência e virtudes morais. Aqui entramos em um ponto crucial: o tipo de intelectual que temos hoje e que reconhecemos como intelectuais no Brasil. Precisamos entender se eles correspondem ao critério estabelecido pelo Padre Sertillanges.

Não basta apenas identificar os erros e falar sobre eles; é necessário ter um conjunto de virtudes morais e competência. A vida de estudo é uma vocação em que você não consegue falar sem ser; é preciso ser, e só então o ato de produzir qualquer obra intelectual funcionará. Este primeiro critério das virtudes morais é inegociável; não há como abrir brechas a esse respeito.

Partindo desse princípio, a vocação é um chamado para nos tirar desse momento de tormenta ou tentar encontrar uma resposta para isso. A pessoa deve ter virtudes morais, competência, e é um chamado à generosidade, para que outros também possam engajar-se nessa meta.

Claro que não é simples, pois temos uma ideia muito arraigada do "homem da torre", separado, que não se mistura com as outras pessoas. Isso tem diminuído, mas ainda existe um pouco dessa visão que limita, especialmente as mulheres, a se engajarem nos estudos, pois parece algo fora da realidade delas.

Visto que é um chamado à generosidade, é importante notar que, além das virtudes morais e competência, também é necessária uma harmonia entre fé e razão. Cito um trecho do Padre Sertillanges que ajuda a solucionar um desafio da vida intelectual. Muitas vezes, achamos que a vida de estudo é isolada, ou que quem estuda não reza e quem reza não estuda. Pode ser que isso seja apenas uma ideia pré - concebida.

Padre Sertillanges diz: "Querem compor uma obra intelectual? Comecem por criar em seu interior uma zona de silêncio, um hábito de recolhimento, uma vontade de desapego, despojamento, que os deixem disponíveis para a obra. Sem essa disposição das faculdades mentais, nenhuma obra intelectual será frutífera."

Nada farão ou nada que valha. Perceba que este chamado à vida de estudo ordenada nada tem a ver com essa onda enorme de opinismo, onde muitas vezes não sabemos nem para onde vão nem de onde vieram e que não têm objetivos específicos.

Esta vivência ordenada precisa vir de um comprometimento com a vida contemplativa. A separação entre a vida de estudo e a vida de oração não deve existir. Na verdade, foi uma separação que mantemos com muita frequência, e há dificuldades diárias em relação a isso que não deveriam existir, pois a vida de estudo só existe se houver uma vida contemplativa por trás.

É claro que Platão e Aristóteles já afirmavam que a vida contemplativa é uma forma de vida superior. Isso não é uma informação nova. Mas por que é tão difícil para nós fazer essa escolha? Porque achamos que a vida contemplativa é algo apartado da realidade cotidiana. Veja que parece que estou indo por uma questão muito espiritual, mas é justamente aí que estão as nossas maiores dificuldades. As ideias estão ficando cada vez mais desconectadas, as coisas estão ficando cada vez mais sem sentido quando as pessoas propagam os seus interesses. Isso vem justamente desse agir intelectual que não sai de um lugar de silêncio e contemplação. Não é ordenado e, portanto, pouco tem a ver com a forma de vida intelectual fomentada e gestada no seio da Igreja.

A vida intelectual, fomentada e gestada no seio da Igreja, parte dessa premissa da contemplação. E o que a contemplação gera? Ela nos faz articular os dons do Espírito Santo com as virtudes. A bagagem intelectual, o que lemos e aprendemos, é um agregado a esse esforço de articulação entre o que recebemos do Espírito Santo e as virtudes que nos esforçamos para viver.  "O sábio é o virtuoso".

Quando partimos deste ponto, toda a nossa percepção da vida de estudo muda. Ela se torna um caminho de santificação absolutamente possível e extremamente abnegado, pois, obviamente, algumas coisas precisam ser deixadas de lado para que aquele processo de estudo aconteça. É um momento que costumo chamar de cultivo. Temos pouca prática em ver o momento de oração e o momento de estudo como um momento de cultivo interior que gera uma ordenação. E, como estamos todos inseridos no Corpo Místico, é importante também avaliar que, se eu estou ordenada, você está ordenado, e o outro está ordenado, a chance de caminharmos para um lugar mais salutar e edificante é maior.

Prosseguindo nessa articulação dos dons do Espírito Santo com as virtudes, vale lembrar que, por mais que usemos o termo vocação intelectual, este é um chamado. Mas, para nós, católicos, ele já está inserido no cumprimento do primeiro mandamento da Lei de Deus, pois todos precisamos saber minimamente sobre a nossa fé e ter alguma prática de estudo. Precisamos ter o mínimo, mas esse chamado, que é lapidador, pode ser feito com uma dose de esforço, foco e disciplina para exercitar mais a virtude de estudo.

Então, é importante entender a vocação intelectual não só como algo que vem como uma luz do céu, onde você é chamado a ser um intelectual. Isso tira muito da nossa própria missão e do nosso próprio comprometimento de participar de algo que, mesmo que não seja a nível grandioso, pode ser viveciado com a própria família, com os ciclos de formação, com as pessoas que estão inseridas em nossas relações. Há como vivenciar essa generosidade que provém da virtude.

É importante lembrar que aqueles que são pais têm este dever radical de educar seus filhos e que isso lhes será cobrado depois. Lembrando desta questão, São Josemaria Escrivá diz: "O cristão deve ter fome de saber, desde o cultivo dos saberes mais abstratos até as habilidades do artesão. Trabalhar assim é oração, estudar assim é oração, investigar assim é oração." A última parte é a mais importante: "deste modo, a alma se enrijece numa unidade de vida simples e forte."

Existe um outro livro do Padre Sertillanges que não é tão famoso, chamado "Deveres", no qual ele aborda a integridade em praticamente dois capítulos. É a parte mais importante do livro que ele escreveu. Estamos vivendo uma desintegração do catolicismo e da nossa própria existência. A maior parte das pessoas é uma pessoa no trabalho, outra na igreja, outra no grupo de amigos; são pessoas fragmentadas. Esse tipo de fragmentação impede qualquer tipo de estudo e torna impossível existir de forma integrada.

Quando ele fala da integridade numa vida simples e forte, isso me faz lembrar de outro trecho: "A integridade consiste precisamente em unificar-se a si próprio em toda a sua plenitude e em revestir, por assim dizer, a sua forma sagrada." Esta parte da integridade é tão profunda porque, sem ela, não conseguimos sequer trilhar o tão almejado caminho de santificação, que se tornou um discurso muito cotidiano para nós, mas tão distante de se tornar real justamente porque estamos todos desintegrados. A desintegração é o sinal externo do caos interior.

Estou abordando este ponto para dizer que, como o próprio Padre Sertillanges fala, o insucesso dos nossos esforços depende fundamentalmente da nossa dispersão espiritual, do esquecimento dos valores primários e das nossas capacidades. A dispersão espiritual é que leva ao fracasso de qualquer tentativa de estudo que não avança ou não se desenvolve, e isso é falta de integridade. Por isso, não basta comprar uma série de livros e estabelecer uma série de metas. Se, ao estudar, a pessoa estiver completamente desintegrada, não adianta nada; não vai funcionar. A pessoa entrou numa vida falsa. Isso é seríssimo porque ela pode acreditar que está evoluindo, pela quantidade de livros que leu, quando não está.

Veja bem, não estou dizendo que não é para ler, pelo amor de Deus, mas a quantidade de livros deve aumentar a nossa unidade, integridade e a sensação de que, quanto mais se lê, mais firme e nobre se torna. Esse é o resultado da bagagem de estudo. Para isso, existem algumas exigências: uma vida de estudo constante — talvez a palavra "constante" seja a mais difícil de realizar —, ascética e oração. Esta tríade está interligada. Para quem se dedica à vida de estudo, se a ascética não estiver funcionando, a vida de estudo também não funcionará, nem a oração.

Isso nos leva a falar sobre a fuga que devemos fazer da perspectiva moderna do estudo, que é uma perspectiva da praxis. Já falei um pouco sobre essa sede produtiva e numérica. Na verdade, a vida de estudo tem mais relação com o período de cultivo. Falaremos um pouco mais adiante sobre a importância do número e das metas, mas também sobre a realidade de que ainda estamos com um problema sério: as leituras mudaram, mas a forma de pensamento continua revolucionária. Enquanto não mudarmos a mentalidade, corremos o risco de criar híbridos de ideias com mais de uma cabeça, piores que os anteriores.

"Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade." As reações muitas vezes são revolucionárias diante das ideias e das coisas. Temos que nos esforçar para que a vida de estudo nos faça reagir como São Tomás, com clareza e cortesia, com verdade, mas de forma extremamente ponderada. Uma diferença que se faz notar entre um estudioso católico e um não católico. Perdemos absolutamente este espaço, e isso pode gerar um problema muito pior no futuro. A maior tentação do estudioso é criar híbridos, unir ideias. Hoje, estamos sofrendo as consequências de uniões de ideias feitas no passado, que hoje não sustentam o ser católico. Tentamos solucionar isso, mas quem estuda hoje pode criar um híbrido amanhã. Este temor deve nos acompanhar: o pensamento deve ser claro e reto para evitar essa chance. 


"Sem mim nada podeis fazer."

Por isso, coloquei o segundo ponto deste itinerário: dons e virtudes. O Padre Sertillanges fala sobre várias virtudes. A virtude que escolhi falar é a virtude da perseverança, por motivos óbvios. Provavelmente é a que temos mais tendência a patinar por diversos motivos. Nossa sociedade é muito imediatista; temos a ideia de que a vida de estudo será como um download, mas não é assim que acontece. Pode demorar anos para se terminar um estudo, se é que se termina, e saber disso desde o começo é fundamental.

A virtude da perseverança tem uma importância enorme. Por exemplo, se falarmos das moradas do "Castelo Interior", só se passa da terceira para a quarta morada com a perseverança. Mas vamos focar na vida de estudo. O Padre Sertillanges diz: "Evitem a agitação do homem com pressa. Apressem-se lentamente. No âmbito do Espírito, a calma vale mais que a afobação. Trabalhem com Espírito de eternidade." A proposta é que o estudioso católico viva num ritmo diferente do que todos os outros estão vivendo, pois todos estão afobados, correndo atrás de coisas terrenas e passageiras, e se destruindo com isso. Ter certa lentidão no ritmo é importante até para conseguir pensar melhor e esclarecer as ideias.

É preocupante essa tendência que temos de formar rapidamente ideias sobre tudo sem parar para pensar. Não estou falando de coisas de fé, pois para isso já existe a Doutrina, mas há assuntos em que é prudente parar e refletir um pouco, e esse pensar pode demorar dias. Isso é normal.

Falo isso com seriedade porque, por mais que saibamos que isso é uma exigência, a maior parte de nós não o faz isso calmamente e constantemente. A virtude da perseverança nos ensina a nos instalar em Deus, em Seu tempo e ordem, e não renunciar a isso prematuramente. O estudo já tem suas dificuldades; a maior parte de nós, em algum momento, fica decepcionada com a pilha de livros a serem lidos, com os estudos a serem feitos, e com os que gostaríamos de fazer, mas provavelmente não conseguiremos. Isso é normal. É preciso ter uma relação saudável com esse volume de conhecimento. Está tudo bem não estudar tudo, desde que o que for estudado seja feito de forma adequada, equilibrada e profunda.

Eu não sei se vocês imaginavam que eu ia falar sobre os dons do Espírito Santo, mas acho fundamental relembrá-los, pois, pela raiz própria da questão da vocação, o estudo muitas vezes parece distante do agir espiritual, mas na verdade está muito próximo.

Primeiro, é importante lembrar que os dons do Espírito Santo são recebidos no batismo. Nós já os temos; não é algo que vem efusivamente do céu. Os dons relacionados à inteligência são entendimento, sabedoria e ciência. Eles aperfeiçoam a inteligência e robustecem a fé. Isso quer dizer que a pessoa só cresce na fé se consegue harmonizar e despertar a inteligência.

Um dos motivos de a maior parte das catequeses ser extremamente infrutífera é esse: são pessoas com a inteligência embotada que não terão fé forte nunca. E se sabemos que é assim que acontece, mais ainda é para o estudioso católico, que precisará da ação do Espírito Santo para mostrar aquilo que não consegue ver humanamente. São muitas coisas, um conjunto enorme de coisas.

Como é que os dons do Espírito Santo trabalham, não só na questão espiritual, mas na própria atividade do estudo? O entendimento clareia a inteligência, faz compreender o sentido das coisas, não a razão das coisas, mas o sentido das coisas, e faz discernir se algo que está escrito é neste sentido ou noutro. Uma coisa que falta muito e que nos foi encorajado pela forma de educação que recebemos no Brasil é a mania de tentar ler as coisas sob uma ótica pessoal. Não estou lendo o que está escrito, o que o autor disse; estou lendo o que na minha realidade, no meu coração, na minha atmosfera, o meu eu interior está dizendo. Isso é uma dificuldade enorme no processo de estudo, porque quando se estuda, é preciso estudar o que o autor está dizendo, não o que você está sentindo a respeito do que o autor     está dizendo.

O dom do entendimento nos livra um pouco disso e nos dá discernimento para que não caiamos nesse esquema que nos foi imposto. O entendimento gera harmonia entre as ideias, o que é importante, pois estamos num tempo em que as ideias são soltas, principalmente por conta de diversos aplicativos. Você não tem as ideias fazendo um circuito, o que já é um problema.

São Tomás de Aquino diz: "O Dom do entendimento dirige-se primeiramente à fé para logo se estender a tudo quanto se relaciona com a fé. Isto é, as ações e a vida prática, enquanto recebem direção das eternas verdades em cujo conhecimento a inteligência é aperfeiçoada." A inteligência se aperfeiçoa com o dom do entendimento.

O último ponto em relação ao dom do entendimento é a questão das ideias vagas. Existe uma dificuldade muito grande quando temos essa inexatidão de ideias tanto dentro quanto fora da Igreja. As palavras já não são ditas com o significado que têm. Um exemplo é o estado de graça. Se você está fora do estado de graça, você está em desgraça. Usar as palavras e o conjunto das ideias como elas realmente são é fundamental, porque a inexatidão das ideias gera uma vontade fraca.

Isso nos leva ao próximo dom: o dom da ciência. A explicação dele é um pouco menor porque basicamente é a percepção da verdade. É a ajuda, pela realidade concreta, a aderir a uma verdade. Nos faz ver a harmonia da criação em relação ao Criador. Além disso, é como uma intuição político-religiosa que nos faz apreciar, segundo alta filosofia, nos acontecimentos da história e os da história da Igreja, o que chamamos de Providência. É uma visão entre o que os homens fazem e o que Deus faz. O dom da ciência pode ser exemplificado pelo venerável Fulton Sheen, que tinha uma clareza muito peculiar para a época. Ele conseguia ver algumas coisas que outras pessoas não estavam vendo; ele tinha uma ciência político-religiosa e antecipava eventos simplesmente lendo a realidade.

Entre os dons que devemos pedir, este é um dos mais necessários, pois até santos leram a realidade de forma equivocada. São Vicente Ferrer fez isso, e outros santos também. A leitura da realidade faz parte da matéria de estudo do estudioso católico: ler o que está acontecendo, decodificar o que está acontecendo ou tentar decodificar. Esses dois dons precisam de uma premissa: a pureza de coração. Manter a pureza de coração é difícil no momento atual porque tantas coisas erradas acontecem que nosso estado interior fica perturbado. É importantíssimo manter vigilância sobre o estado interior para que o coração se mantenha puro, mesmo que ao nosso redor exista uma tormenta com diversos tipos de ideias. Se o coração não se mantiver puro, o julgamento já começa corrompido.

O último dom, que normalmente é o mais requisitado, é o dom da sabedoria. Muitas vezes pensamos no dom da sabedoria como se fosse uma percepção extremamente elevada da realidade. Mas não é bem assim. A prática do dom da sabedoria ilumina a inteligência e nos faz acreditar que aquela ideia e aquela linha de pensamento são as melhores por razão divina, não mais porque a realidade aponta aquilo pelo dom da ciência. Pela forma do pensamento divino, parece que essa ideia é a melhor. Estou escolhendo essa ideia por razão divina. Por isso, normalmente o sábio não é muito bem entendido, porque muitas vezes a realidade diz exatamente o oposto do que ele está dizendo que é o correto. Ter esse tipo de coragem só é possível debaixo do dom do Espírito Santo, e é extremamente necessário, pois haverá momentos em que isso será a única forma de manter alguma sanidade.

Terminei os dons e virtudes. "Sem mim, nada podeis fazer."

O terceiro tópico é sobre pensar bem. Existem alguns pré-requisitos que coloquei aqui, daquele livro "Critério" do Padre Balmes, que considero importantes na prática. Falamos a respeito da vida interior do estudioso católico, falamos a respeito dos dons do Espírito Santo e das virtudes. Agora vem o ato mesmo: o que se faz depois de estudar? O que se faz com essa bagagem?

Papa Pio XI diz o seguinte: "A educação cristã abraça toda a extensão da vida humana: sensível, espiritual, intelectual e moral; individual, doméstico e social; para elevar, regular e aperfeiçoar segundo a doutrina de Cristo." Portanto, o local de ação do estudioso é bem amplo, e da educação cristã também.

Por que coloquei esse tema aqui? Porque existem três pontos necessários para prestar atenção na hora de executar o ato que podemos chamar de ato do estudioso, ato do filósofo, ato do intelectual. O primeiro é averiguar a verdade da realidade das coisas. A realidade é a realidade das coisas. Quando temos essa visão, entendemos algumas questões interessantes. Um estudioso que vê nitidamente é como um espelho: ele vê e transmite aquilo que viu de forma exata e nítida, como um espelho. Quando ele não está alicerçado no que falei anteriormente, está um pouco bambo; é como um caleidoscópio: é uma parte da realidade, mas ela é lúdica, não é exatamente a realidade e, portanto, não é a verdade.

Quando não está nada alicerçado, é um espelho distorcido. Estamos vivendo em meio a espelhos distorcidos, como aquelas salas de circo, só que o mundo todo virou aquela sala de espelhos e todos os espelhos estão distorcidos. Portanto, exige de nós um comprometimento maior de conseguir ser um espelho límpido que consiga passar as ideias de forma clara.

O segundo ponto é que a vontade de estudar pode até existir, mas normalmente as pessoas tendem a achar que o que falta é capacidade. Ah, eu não sou capaz...

Na verdade, na maior parte das vezes, falta dedicação, não capacidade. Ter a percepção de que a dedicação só é possível quando a atenção está no objeto certo é fundamental. Um espírito atento é forte; um espírito que não está atento amontoa ideias desconexas. Por exemplo, assistir a uma live aqui, outra ali, e assim por diante, é um conjunto de ideias que podem até ser positivas, mas é um amontoado de coisas sem objetivo nenhum, sem ordem nenhuma. É um conhecimento que serve para quê? Para nada, pois está completamente desordenado e dá a sensação de incapacidade. Mas não é incapacidade; é falta de dedicação e de ordem.

O terceiro ponto são os traços necessários para a execução do agir intelectual ou do estudioso: clareza, juízo com verdade, discorrer com rigor e firmeza. Aqui, o que mais costuma gerar inquietação é o juízo com verdade. O estudioso julga, sim, é seu dever julgar. Julgar, no sentido de avaliar se a ideia é prudente ou não, é sensato ou não, está compatível com o que a doutrina ensina ou não, está compatível com as bases filosóficas saudáveis ou não. Faz parte da ação do estudioso julgar. Julgar faz parte da vida humana; na verdade, você julga se tomar suco é melhor do que tomar refrigerante — você fez um julgamento.

Mas esse julgamento tem três premissas: partir de uma boa definição, que são raras. Portanto, o ideal é escolher a melhor definição ou a menos ruim e partir dela, sempre de uma definição, nunca partir de ideias soltas ou termos sem definição. Segundo, não usar expressões imprecisas; sempre usar as palavras com o significado que elas realmente têm. E, por último, fugir de ideias pré - concebidas. Fazendo um link com o que falamos anteriormente: ler o que realmente está escrito, escutar o que realmente está sendo dito e não a sua impressão pessoal. Só assim o julgamento consegue ser feito de forma correta, equilibrada e prudente. Se algum desses itens falha, a percepção fica equivocada; portanto, a conclusão daquele estudioso também fica equivocada.

O último ponto neste tópico é a questão do número de ideias. O Padre Balmes fala bastante a respeito da nossa união com Deus, à medida que a vida de estudo se torna quase como uma unidade com a vida espiritual. O número de ideias se torna menor e é mais fácil chegar com precisão a esta ou aquela conclusão sem se desviar por muitos assuntos. Fica também mais fácil detectar onde exatamente está o erro. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais apurada fica a nossa visão a respeito de determinadas realidades e ideias, tanto para encontrar os erros quanto para encontrar as ideias que formam a estrutura de determinado pensamento.

Fecho este tópico, que foi muito rápido, apenas para fazer este apontamento a respeito de pensar bem. Uma vez que estamos passando por um redescobrimento do que seria o estudo, do que um estudioso católico deve ser, vale lembrar que existem critérios e certos passos para trilhar esse caminho e para apresentar um pensamento minimamente razoável. Isso serve não só para conceber ideias, mas também para assimilar ideias. Se não passou por esses critérios, pode-se desconfiar do que está sendo apresentado.

Agora entramos no quarto ponto, mais específico, sobre a instrução feminina. Régine Pernoud fala sobre a instrução feminina de uma forma muito abrangente, abordando como se estabeleceu a ideia de que, na verdade, só recentemente as mulheres ganharam alguma dose de inteligência, como se todas as mulheres anteriores fossem emburrecidas.

Para mostrar que não foi assim que aconteceu, farei uma breve revisão histórica sobre a instrução feminina. Os primeiros mosteiros, que foram erigidos, tinham uma distinção muito significativa. Os mosteiros femininos eram destinados à educação e à oração, enquanto os mosteiros masculinos eram destinados à penitência. Isso significa que a percepção que temos hoje de mosteiro é completamente diferente dos primeiros mosteiros, que eram uma espécie de escola. Os primeiros mosteiros recebiam crianças que ficavam lá, a depender da regra do mosteiro, entre 5 e 13 anos. Elas eram educadas nesses mosteiros e, depois, os meninos passavam para o mosteiro masculino para completar sua educação.

Essa ideia que temos dos mosteiros atuais surgiu depois de um decreto chamado "Periculoso", em 1298, pelo Papa Bonifácio VIII. Ele fez esse decreto pedindo para que as irmãs não mais saíssem do mosteiro. Houve uma comoção no mundo monástico por conta disso, pois ele queria preservar as irmãs, mas isso acabou dificultando a ação dos mosteiros como escola. O Papa Bonifácio teve várias questões em relação à temporalidade; ele agia muito na Igreja temporal, não só espiritual. Inclusive, ele está no ciclo do inferno de Dante, porque Dante não gostou dele; brigaram, e Dante colocou-o entre os simoníacos que vendem cargos.

Além disso, antes dos mosteiros, algumas moças se uniam em grupos. São Jerônimo tinha uma filha espiritual chamada Paula, que ele elogiava muitíssimo porque era versada em hebraico e várias outras línguas. Ela incentivou muito São Jerônimo a fazer a maioria de seus comentários, pois ela fazia perguntas e ele escrevia. Ela estudava muitíssimo.

Nos mosteiros, a irmã salmista educava as crianças com os salmos. Elas aprendiam a ler e a escrever com os salmos, o que hoje chamamos de educação clássica católica, que é a educação pelas Sagradas Escrituras. A irmã salmista era extremamente responsável pela evolução dessas crianças.

Até o momento, só falei de pessoas consagradas, mas a própria Régine Pernoud nos dá o presente de saber que, no século IX, existia uma mãe leiga chamada Duoda. Ela escreveu o primeiro tratado de pedagogia, cujo nome significa algo como "Manual para o Meu Filho". Duoda era uma nobre que viveu na época do reinado de Carlos, o Calvo, e Luís, o Germânico, que brigaram entre si pela França, Alemanha e Itália. Duoda precisou deixar seu filho mais velho, Guilherme, com o rei Carlos, o Calvo, para comprovar sua fidelidade. Ela ficou preocupada com esse menino adolescente na corte, então escreveu um tratado.

Nesse tratado, havia poemas, enigmas e problemas matemáticos, todos baseados na Bíblia, grego e hebraico, relembrando lições que ela tinha dado ao filho enquanto estavam juntos. Ela pedia encarecidamente que ele nunca deixasse de ler e fazer os exercícios. Esse tratado nos dá uma noção de que existiam mulheres muito cultas, casadas, que educavam os próprios filhos dentro da doutrina católica e de toda a riqueza que possuímos.

Além de Duoda e das religiosas, também temos leigas e religiosas copistas. Alguns historiadores afirmam que, na verdade, a maior parte dos copistas eram mulheres. Na Idade Média, as cópias eram frequentemente assinadas apenas com a primeira letra do nome, se fossem assinadas. A maior parte era deixada anônima.

Como descobriram isso? As pessoas que pediam essas cópias mandavam cartas para o mosteiro e, na carta, solicitavam que a abadessa fizesse a cópia de determinado salmo com a letra inicial específica para o dia da Anunciação. As religiosas faziam muitas cópias e eram em número significativo.

Régine Pernoud faz uma afirmação que contraria tudo o que aprendemos: que as mulheres na Idade Média liam mais do que os homens. Faz sentido, pois elas tinham o Livro dos Salmos, e a maior parte dos homens trabalhava fora. A chance de a mulher ficar em casa e ler os salmos era bem maior. As que eram letradas, dentro da realidade da Idade Média, tinham essa possibilidade. Existe uma chance significativa de que quase tudo o que aprendemos sobre a educação das mulheres é baseado em uma fatia só da sociedade. Não estou dizendo que todas eram letradas, mas que não é exatamente como nos ensinaram.

Além disso, existem registros do século XII que apontam escolas diocesanas dirigidas por professoras, com comprovações notórias. Existiam fiscais diocesanos nessas escolas e cartas dirigidas às "Senhoras das Artes da Gramática", que eram as professoras que ensinavam gramática. Cada uma recebia uma orientação específica do fiscal diocesano. As escolas eram praticamente uma casa com vários quartos e funcionavam quase como um internato, onde as crianças ficavam e eram educadas por essas professoras e outros professores, assim permanecendo por muito tempo.

Outro aspecto importante a ser lembrado é que a ideia de educação separada — escola para meninos e escola para meninas — só começou em 1338. As escolas diocesanas eram mistas. Isso [escolas separadas] começou no Renascimento. A crítica sobre se as meninas deveriam estudar ou não, não veio do catolicismo nem da Idade Média; veio da ideia renascentista, racional e afastada de Deus, de que elas deveriam se dedicar apenas às artes domésticas, pintura e outras atividades, e não necessariamente ao estudo, exceto se fossem nobres.

Quem iniciou essa linha de pensamento foi o Renascimento. Abraçamos essa ideia como se fosse uma realidade católica, mas não é verdade. Não há distinção de instrução [entre meninos e meninas] na história da Igreja. Isso só acontece a partir do Renascimento, quando o racionalismo começa a invadir as mentes e o afastamento de Deus se torna notório.

A partir daí, podemos então entrar no tópico da educação feminina, considerando que o que temos é um resquício dessa ação do Renascimento.


Afinal, a educação feminina se pauta em quê, já que tudo o que sabemos é baseado em uma falsa ideia? Para isso, utilizo Edith Stein, com as devidas reservas pertinentes a alguns assuntos ali expostos, focando apenas na parte da educação feminina.

Ela diz o seguinte: "Na alma feminina, é muito forte o anseio natural por valores que sirvam de alimento à alma." Quando ela fala isso, há uma ligação com outra autora de quem gosto muito, chamada Gertrud von Le Fort. Ela afirma que a mulher transmite quem ela é, enquanto o homem consegue transmitir um pensamento um pouco separado de quem ele é. A mulher, não; se ela não se preenche de algo, aquilo não se torna parte dela. Ela não consegue necessariamente ensinar aquilo.

Esta é uma distinção muito importante, porque, dependendo do papel que você tenha como mãe, por exemplo, você só ensinará aquilo que assimilou e que se tornou parte de você. Partindo desse ponto, é importante lembrar outro aspecto: a receptividade ao belo.

Quando Edith Stein fala sobre isso, ela diz: "É uma receptividade entusiasmada com a grandeza moral, com os valores terrestres elevados." Ela cita as artes que poderiam ser estudadas: literatura, arte propriamente dita e história. São as três áreas que ela acredita serem mais nutritivas para o feminino. Isso não significa que sejam restritivas, mas são áreas boas para a formação feminina, a serem alicerçadas e aprofundadas.


De nada vale ler e ter acesso às artes e à história se não houver uma boa assimilação. Tem que se tornar como uma mão, um braço, um dedo. É assim que se sabe se a leitura e o estudo deram certo: se eles fazem parte de quem você é. Se não houve assimilação, é preciso um pouco mais de esforço nisso.

Outro cuidado específico que Edith Stein menciona é sobre a receptividade ao belo. Lembram-se do livro "O Retrato de Dorian Gray"? É um livro sobre um rapaz muito belo que é retratado por um artista. Uma coisa espiritual muito estranha acontece, e a alma de Dorian fica no retrato enquanto ele permanece jovem para sempre. Moralmente, ele se torna decadente, e o retrato mostra todos os seus pecados e o envelhecimento.

Dorian gostava de coisas belas, colecionava coisas belas, ia a lugares belos, escutava coisas belas, mas era horrendo por dentro. A receptividade ao belo e o apreço pelo belo podem se deturpar, assim como qualquer outra coisa no mundo. Portanto, é importante saber que é uma janela, um portal, mas precisa ser mantida sob vigilância séria, pois pode se tornar pura e simplesmente afetação, um apreço pelo belo vazio que não gera nenhum tipo de alta educação ou edificação.

Depois de abordar a boa assimilação e o cuidado com o belo, Edith Stein diz: "O intelecto é a chave do reino espiritual." Ela menciona isso em uma pequena contenda nas suas conferências, porque antes dela, uma senhora chamada Alma Schneider afirmou que a mulher basta amar e não precisa questionar o quê e para quê. Edith Stein, ao ouvir isso, diz: "Nesta atitude, esconde-se um grande risco de desvio e desorientação." Se a mulher ama coisas erradas, pode acontecer tudo; pode se desvirtuar, e ela precisa ser orientada.

Edith questiona essa tendência de achar que a vida de estudo para uma mulher não é importante. Segundo ela, o intelecto é a chave para o reino espiritual. O intelecto existe e deve ser obrigado a funcionar; quanto mais vivo, melhor.

Estamos vivendo uma confusão em relação aos papéis do homem e da mulher, por isso essas percepções ainda existem entre nós. Já falaremos sobre por que isso aconteceu, mas na prática do estudo, um homem consegue estudar um volume grande de material. Eles normalmente têm um nível de resistência considerável. Não todos, a depender da internet, vícios e outras coisas, mas, de uma forma geral, eles têm uma resistência maior. Para a mulher, não é assim. A mulher precisa de descanso, ações curtas, tempos de leitura com pausas necessariamente. Não dá para ser igual. Os temas não serão iguais, a forma de estudo não será igual. Isso é infinitamente importante para os pais quando educam os filhos, mas também para não ficarem se cobrando algo que não faz parte da nossa natureza.

A alma feminina precisa de refrigério. Se não houver refrigério, o estudo parece um mar de páginas intermináveis. Precisa haver essa pausa e uma noção clara de que, para nós, este tempo não é um tempo de folga necessariamente só para ficar pensando em nada. É para colocar em prática aquilo que foi estudado. É necessário colocar em prática. Se não colocar em prática, o estudo não funcionará.

Então, estudo, tempo de assimilação, prática; volta ao estudo, tempo de assimilação, prática. Aí você perceberá que aprenderá de fato o que está lendo. Além disso, é necessária uma purificação das escolhas feitas durante o dia, das decisões e valores. Falar de coisas elevadas é muito bonito, mas só se vê se a pessoa realmente escolheu essas coisas elevadas no ato concreto, quando chega a circunstância, a situação.

A tendência da mulher à superficialidade existe. Mesmo que não gostemos de falar sobre isso, não deixará de existir. A superficialidade é uma tendência absurda; precisa ser combatida com força. Superficialidade não é para ser acalentada: unhas, cabelo, maquiagem pela manhã, paleta de cores — isso é um objeto terreno e baixo. Não viverá uma vida de estudo nunca, porque o objeto está baixo e terreno. Isso gera fragmentação. Existe o desejo do estudo, mas o ato concreto é o oposto do que a pessoa diz querer. Não funcionará nunca.

Por isso, estudo, assimilação e prática tiram da superficialidade.


Se for educar uma menina, já saiba que precisa afastá-la da superficialidade, pois isso é uma tendência constante, seja no apreço pelo belo ou por qualquer outra coisa. Há uma tendência a gerar uma ação extremamente caricata e falsa.

Um dos últimos apontamentos que tenho é a questão do inteligir masculino e feminino. Existe uma diferença significativa. O inteligir masculino é combativo; enquanto eu falo, a maior parte dos homens já está pensando em algo que rebate o que estou dizendo ou em algo que já leram que tem relação com o que estou falando. É uma mente combativa, que já está julgando automaticamente.

A mente feminina, por outro lado, funciona diferente. A maioria das mulheres consegue estabelecer um link de "já escutei isso em algum lugar" ou "já vi isso em algum lugar", mas precisa de um tempo para receber o conteúdo e inteirar-se dele. Depois, ela faz uma escolha, que chamo de "catar feijão". Ela começa a escolher as ideias que mais apetece, mas isso pode ser simplesmente afetivo e não ter nada a ver com a verdade. Muitas vezes, a verdade não apetece, mas precisa ser acolhida.

O inteligir feminino tem esse ponto de atenção. O masculino, por outro lado, tem dificuldade no inteirar-se. Normalmente, os rapazes, ao receberem uma informação, já julgaram e fecharam a ideia, sendo mais difícil para eles se abrir a uma outra percepção. A moça, não; ela vai se inteirar de absolutamente tudo. Por isso o reino dos Stories é o reino feminino. É o reino da pura interação; não aprofunda em nada, mas você se inteira sobre todos os assuntos. Já os homens se aprofundam, mas depende de certo esforço para se inteirarem de outra janela que possa ser aberta.

Quais são os cuidados então? Ser um pouco mais criteriosa. Se não for criteriosa, você só vai ficar inteirada em vários assuntos e não vai aprofundar em nada. Veja que não estou falando sobre especializar-se, mas simplesmente sobre não se contentar em ver as coisas superficialmente, sem pegar nada, nem três livros para ler sobre o assunto para ver se o que foi dito condiz com a realidade.

Outro ponto é focar no fim último. A superficialidade vem justamente porque não se foca no fim último. O fim último não é conseguir um marido, não é conseguir a família do Instagram. Estou falando isso porque a maior parte das moças coloca como fim último arranjar um marido. É bom arranjar um marido, acredito que sim, mas "Buscai as coisas do alto e tudo mais vos será acrescentado". Provavelmente, o marido também deve estar junto aí, na Providência. Se a intenção está corrompida, tudo mais será corrompido. Focar no fim último e fazer com que isso seja refletido nas práticas cotidianas é crucial.

Estamos lidando com venenos diários que merecem remédios diários. Não adianta ter uma ideia elevada e não colocá-la em prática no dia a dia. Não vai adiantar nada. As matérias a serem estudadas, como falei antes, incluem literatura, história, arte, e lapidar um talento. Isso é importante.

Descubra o talento e lapide-o. Mas, acima de tudo, use o exemplo que dei anteriormente de Duoda e das Escrituras Sagradas. Aprofundar-se nas Escrituras Sagradas é bom no nosso processo de autoeducação e é fundamental ao educar. Eu não coloquei versículos bíblicos aqui à toa, começando e terminando com versículos, coloquei porque essa é a educação católica. Você parte da Verdade Revelada e, a partir dali, faz os desdobramentos de ideias e aprofundamentos. Por isso, isso é necessário para todos, mas principalmente para a mulher, especialmente aquela que é mãe ou qualquer um que exerça qualquer atividade de educação formal.

---------

Existe uma necessidade de complementariedade. Talvez este seja o maior motivo de todo este caminho que fiz com vocês. Depois da revolução sexual, tudo ficou muito confuso, tanto os lugares como as ações do homem e da mulher na sociedade, na igreja e em todos os outros aspectos. Isso criou também um ruído sobre qual seria a contribuição feminina nos assuntos, fazendo-nos cair na percepção renascentista de que existem assuntos de mulheres e assuntos de homens que não se misturam.

Não é assim. A forma complementar que a Igreja nos ensina — como vemos no Carmelo de Santa Teresa e São João da Cruz, em São Francisco e Santa Clara — é uma complementariedade inerente. Por que defendemos a família tradicional? Porque Deus quis e quer assim. Não é só por isso. Quando uma criança está sendo educada, seja pela família, pai e mãe, ou num orfanato onde ela tem as irmãs e o padre, ela precisa ter a percepção de mundo tanto feminina quanto masculina. Ela precisa saber que isso existe e precisa receber a realidade do mundo por esses dois prismas.

Diante do mesmo assunto, com as mesmas virtudes, o mesmo valor e a mesma fé, o papai vê de um jeito que é igual, mas ao mesmo tempo diferente da mamãe. A mamãe fala de outro jeito, se situa de outro jeito, e isso faz com que a criança tenha uma noção mais clara da realidade que a cerca. Isso também é real nas ordens religiosas, no processo de educação e autoeducação, e na ação da Igreja, social ou na sua própria dinâmica eclesiástica.

Os temas devem ser abordados pelo prisma masculino e feminino. Estamos a anos-luz disso acontecer? Talvez. Acho que sim. Mas cabe a nós falar o que é correto e para onde deveríamos estar caminhando.

O último ponto é o seguinte: essa participação tem que ser sem intimidação nem acanhamento, uma participação como mulher, com fala de mulher, com exemplo de mulher, com gesto de mulher, com voz de mulher, com argumento de mulher. Ainda carregamos uma mania vinda das feministas de nos apropriarmos de um tom masculino, gesto masculino, porte masculino, porque isso nos dá segurança para nos apresentar. Mas não é isso que as pessoas precisam, não é isso que a Igreja precisa, não é isso que o mundo precisa. Precisam de argumento feminino, mente feminina, gesto feminino, o que somos de verdade: uma participação como mulher e não como uma mulher tentando argumentar ou pensar como um homem.

E nem estou falando das feministas propriamente dita. Às vezes, com bagagem de boas leituras, ainda podemos adotar essa forma de comportamento, achando que essa é a maneira de sermos escutadas. Está longe da verdade. Eles falam alto e forte; nós falamos mais baixo, mais calmo, mais ponderado, com outros assuntos e exemplos. Isso é normal e tem que ser assim.


Último Ponto: Percepções e Reações Equivocadas

Eu sei, já disse que era o último ponto várias vezes, mas agora é para valer! Quero falar sobre as feministas e as percepções e reações equivocadas.

As feministas não estavam equivocadas em sua percepção; a reação é que foi equivocada. Explico: elas perceberam que existe um mundo masculino e um mundo feminino. Isso é verdade. Mas, ao contrário de Duoda, das irmãs, das leigas e das religiosas que conseguiam tirar o melhor do feminino e do masculino, as feministas viram que estavam trancadas no mundo feminino e quiseram ser aceitas no mundo masculino.

Então, elas iniciaram um processo — que é bem anterior à década de 60 — para conseguir ser aceitas. O que é um objetivo muito medíocre, se me permite dizer. Sair do seu mundo apenas para ser aceito, em vez de conquistar e ampliar territórios, é limitado. A percepção estava correta: existem esses dois mundos, e eles são separados. Porque, via de regra, nós entramos no mundo dos homens, mas eles não entram no nosso.

O que aconteceu foi que todo mundo notou que o feminismo estava errado. Estudamos o feminismo, nos tornamos especialistas no erro, e dissemos: "Vamos voltar. Voltar para onde?" Ninguém sabia. A maior parte ficou mais perdida que cego em tiroteio. O que aconteceu foi o retorno a uma coisa aburguesada — e digo burguesia no sentido de alpinismo social, de uma personalidade burguesa.

Fizemos isso porque a única bagagem que ficou como referência de uma articulação entre feminino e masculino foi uma moça afetada e um rapaz forte e firme. Isso é o correto? Obviamente que não. E, se não mudarmos o caminho, veremos problemas com essa afetação, porque não é saudável. Alimenta muito as próprias falas feministas, porque não há como manter tanta afetação. Uma pessoa em sã consciência não consegue manter tanta afetação, tantas necessidades.

A tendência é repetir erros do passado ou criar híbridos piores do que os anteriores. Se não houver um puxão conjunto, principalmente das moças, para não acontecer algo pior do que já aconteceu historicamente, teremos problemas.

Eu ainda guardo a esperança de termos um mundo complementar, cristão e católico, rico e fértil, assim como foram as ordens religiosas. Mas entendo que falar com sinceridade sobre a realidade em que estamos é mais efetivo para chegarmos a algum lugar. Talvez não cheguemos lá, mas com alguma clareza sobre para onde estamos indo e com mais inspiração para trilhar esse caminho com sensatez, podemos contribuir mais com a Igreja.

Era isso que eu tinha a dizer. Espero ter contribuído e que Nossa Senhora nos ajude.



Referências

1) SERTILLANGES, A.D. A vida intelectual. É Realizações, 2020. 440 p. 2) SALES, V. O Mínimo sobre Filosofia. O Mínimo Editora, 2023. 124 p. 3) SERTILLANGES, A.D. Deveres – Dez minutos de Cultura Espiritual. Cultor de Livros, 2020. 218 p. 4) BALMES, J. O Critério – Filosofia Prática. Cultor de Livros. 302 p. 5) MESCHLER, M. O Dom de Pentecostes. Cultor de Livros, 2016. 466 p. (1850-1912) 6) WILDE, O. Diário de Dorian Gray. Penguin. 245 p 7) PERNOUD, R. A Mulher no Tempo das Catedrais. Quadrante. 380 p. 8) STEIN, E. A Mulher. Ecclesiae. 244p. 9) SÃO VÍTOR, H. A Instrução dos Principiantes. Kírion. 90 p.


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Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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