A Calça e a emancipação feminina (trechos do livro: Modéstia| o Caminho da Beleza e da Santa Ordem)

by - março 29, 2021


A Calça e a emancipação feminina (trechos do livro Modéstia o Caminho da beleza e da Santa Ordem)




Aos que se interessam: 

"No fim do século XIX, as mulheres começaram a aderir à febre dos esportes, dos exercícios físicos e a andar de bicicleta. Começaram, assim, a usar um modelo de calça bem bufante, quase uma saia bifurcada, a chamada bloomer, cujo nome foi em homenagem à feminista Amélia Bloomer.

Essa peça que hoje é a segunda pele das mulheres e torna a todos como que operários em uniforme nessa grande fábrica chamada mundo, não foi bem recebida em seus primeiros anos de existência, mostrando mais uma vez como o trabalho contra a moral cristã foi e é uma das barreiras mais eficazes contra as feministas e todas as outras massas de manobra ideológicas.

Quem iria, entretanto, dar mais força ao uso da calça comprida feminina seria Coco Chanel. Atrizes como Marlene Dietrich, Katherine Hepburn e Greta Garbo ajudaram a popularizar a peça. Dietrich foi uma das primeiras mulheres a aparecer de calças compridas em público, nos anos 20, marcando época ao surgir vestindo um smoking impecável e cartola na estreia do filme Marrocos, em 1930 (veja que é o mesmo período dos textos papais apresentados anteriormente). Dizem que a atriz chegou a ser notificada por um chefe da polícia de Paris por circular às margens do Rio Sena com calças e paletó
masculino.

Com a II Guerra Mundial e a necessidade das mulheres assumirem os postos de trabalho deixados pelos homens, a calça comprida passou a ser usada pelas cidadãs comuns. Nos anos 50, os modelos diversificam-se, surgindo a calça cigarette, mais ajustada e curta. As mocinhas dos Anos Dourados começaram a circular com jeans, meias soquete e rabo de cavalo. A primeira calça jeans feminina foi lançada em 1934 pela Levi´s, ou seja, a peça até então usada pelas mulheres era a calça masculina, numa clara ação de revolta.

Após essa primeira abordagem sobre a história da calça, prosseguiremos analisando alguns pontos interessantes coletados de artigos de moda, psicologia e feminismo, visando com isso, um entendimento mais profundo da relação estabelecida entre o uso da calça e a chamada “emancipação feminina” e as “feministas da revolução do vestuário".

Segundo Stefani (2005), a moda é um aspecto indissociável da sociedade humana, estando intrinsecamente ligada aos valores políticos, culturais e morais desta mesma sociedade. Assim, a indumentária representa tudo aquilo que é idealizado, criado e valorizado coletivamente. ... a necessidade em ocultar o físico se intensificou a partir do momento em que as religiões - principalmente o catolicismo - se solidificaram não apenas como crenças, mas como estilos
de vida e padrões culturais.


Barthes (2005, p. 59) considera as vestimentas como um objeto ao mesmo tempo histórico e sociológico, sendo sempre percebido como o significante particular de um significado geral que lhe
é exterior...

"A vestimenta contém valores simbólicos que estão no seio das sociedades.” (SOWINSKI, 2017)

Vemos nesses trechos as atuais visões sobre moda e podemos concluir que a moda é uma expressão individual que, no entanto, tem uma relação com fatores exteriores, os valores e as crenças da sociedade e do indivíduo. Podendo ainda ultrapassar o limiar entre ser somente uma expressão e se tornar uma forma de inspiração, reflexão ou imposição.

A moda, portanto, é atualmente uma arma para influenciar de forma progressiva as massas em prol de uma dessensibilização de valores e princípios morais e religiosos, que são entendidos como barreiras
para o progresso das ideologias que os impulsionam e motivam. Tal processo é visível atualmente nos desfiles na inserção da ideologia de gênero, que é hoje parte integrante das coleções.

Vejamos alguns pontos que nos esclarecem tal intenção, na fala das próprias feministas.

“O uso da moda pelas feministas nos anos de 1910, ... moda e aparência se tornaram um fator importante na construção da imagem da Nova Mulher e parte integrante da ideologia feminista naquele período... adotar e adaptar o estilo oriental..." (RABINOVITCH-FOX, 2015).

“Em meados do século XIX, as mulheres começaram a fazer e usar o “vestido de reforma” - um traje composto de calças e saias leves, encurtadas"...(MAS, 2017)


Todas as virtudes se mantêm mediante a aplicação continua da coerência, dessa forma, quando tomamos uma decisão, é preciso vislumbrar todo o seu significado e não nos contentar com o
que dizem sobre as “exigências da modernidade”.

Vimos que boa parte da ação da mulher, do seu papel, está ligado ao símbolo, à capacidade de inspirar e de, por meio dessa inspiração, influenciar os comportamentos de toda uma sociedade - através da pequenez do cotidiano usado amplamente por ideologias contrárias aos pensamentos de Cristo - munidos desse entendimento e acima de tudo comprometidas em abraçar essa responsabilidade, que abarca muitas vidas, será possível entender o que vem adiante.


“O gesto exterior nunca é insignificante; emanando da substância das coisas, exprime-lhes a essência.” (VON LE FORT, Gertrud)

Segundo as próprias feministas: “Os reformadores do vestuário estavam comprometidos com um modelo de ação exemplar de mudança social que pressupunha que alguns indivíduos intrépidos que tinham a coragem de viver de acordo com o princípio poderiam inspirar outras pessoas a transformar o mundo. Os líderes dos direitos das mulheres, por outro lado, estavam determinados a construir um movimento capaz de mudar as instituições sociais, políticas e econômicas e acreditavam que os compromissos eram necessários para isso.” (KESSELMAN, 1991)

O uso da moda como instrumento em prol de uma mudança social faz parte dos motivos inspiradores das “mulheres da reforma do vestuário”, estas usavam uma tendência natural feminina para incutir, mudar e deturpar valores e conceitos morais e religiosos. Usando assim da moda e até mesmo de novas interpretações das Escrituras, incutem progressivamente uma forma de pensar, que faz com que as mulheres se voltem contra as bases “do ser mulher” ...

... mas mesmo que queira, a mulher não pode se livrar de si mesma, pode, no entanto, se deixar deturpar.

...

A Modéstia e o valor humano


Ao vivenciar as virtudes da temperança, do pudor, da modéstia e da castidade, rumo à pureza de corpo e da alma, podemos ser um sinal que atesta o valor humano.

No estudo realizado pela faculdade de Princeton, já citado, as mulheres que estavam seminuas eram vistas como objetos, no entanto, outro ponto observado pelos cientistas se refere ao fato que tal atitude também é desencadeada quando estamos diante de mendigos, moradores de rua, dependentes químicos e etc. Ou seja, nós seres humanos criamos um mecanismo para de fato não vermos tais pessoas, criamos um mecanismo que nos torna cegos ao valor humano daquela pessoa ali sentada na calçada, não vemos a dignidade daquela imagem de Deus desfigurada.


...

A modéstia é vista muitas vezes como um moralismo barato, alguns acreditam que existem discussões mais relevantes, mas se enganam, da mesma forma que uma avalanche começa com uma única pedra,
toda uma cadeia de imoralidade e dessacralização se inicia com a desordem na visão de cada um sobre a sua própria dignidade e a do próximo.


“A mulher representa um valor particular como pessoa humana e, ao mesmo tempo, como pessoa concreta, pelo fato da sua feminilidade. Isto se refere a todas as mulheres e a cada uma delas, independentemente do contexto cultural em que cada uma se encontra e das suas características espirituais, psíquicas e corporais, como, por exemplo, a idade, a instrução, a saúde, o trabalho, o fato de ser casada ou solteira.” (São João Paulo II, Mulieris Dignitatem, n. 29)


Não seria, portanto, mais inteligente começar pelo que é aparentemente menor e, ao mesmo tempo, a raiz do problema?

Ana Paula Barros


Trechos extraídos do capítulo II do Livro: Modéstia| O Caminho da Beleza e da Santa Ordem de Ana Paula Barros (aqui)


Referências de alguns dos artigos usados nesses pequenos trechos expostos:


RABINOVITCH-FOX, EINAV, [Re]fashioning the new woman: women’s dress, the Oriental style,
and the construction of American feminist, Journal of Women’s History, 06/2015, Volume 27, Issue 2.


MAS, CATHERINE, She Wears the Pants: The Reform Dress as Technology in Nineteenth-Century America. Technology and Culture, 2017, Volume 58, Issue 1


ROOKE, DEBORAH W; Feminist Criticism of the Old Testament: Why Bother, Feminist Theology,
01/2007, Volume 15, Issue 2


KESSELMAN, AMY. THE “FREEDOM SUIT”: Feminism and Dress Reform in the United States,
1848-1875, Gender & Society, 12/1991, Volume 5, Issue 4




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