Catecismo da Educação - A Autoridade é um direito e uma ciência

by - domingo, maio 14, 2017






"Faltando autoridade e respeito, já não há educação possível." (Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. II, p. 249)

"Depois de longo estudo e de uma laboriosa experiência, indaguei, por meio de uma reflexão mais profunda, quais eram as duas coisas fundamentais na educação e descobri que essas duas coisas são: a autoridade e o respeito." (Ibid., t. I, p. 1)




A AUTORIDADE

Que veremos nesta seção relativa à autoridade? Veremos que todos aqueles que são responsáveis pela educação:

1º – Gozam do direito de mandar e de ser obedecidos;
2º – Têm o dever de exercer esse direito, porque é necessário ao cumprimento de todas as suas obrigações; 
3º – São obrigados a adquirir a ciência prática dos princípios que regulam o exercício desse direito e o cumprimento desse dever.






A autoridade é um direito

"O princípio da autoridade é a base de toda a sociedade bem organizada." (Imbert de Saint-Amand, A Corte de Luís XIV (Mame), p. 58)


Qual é a origem desse direito? Procuremo-la na própria etimologia da palavra autoridade. Autoridade (em latim: auctoritas) vem do substantivo (em latim: auctor). A autoridade é, portanto, uma prerrogativa de autor.

Há alguma autoridade legítima que possa ter outra origem? Não, porque a uma outra autoridade que não fosse a do autor poderiam dizer:

"Quem é o senhor? Não o conheço; não lhe devo nada; devo tudo Àquele que me fez; mas nada devo senão a Ele e àqueles que O representam." (Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. II, p. 14)


Pelo contrário, ao seu autor responde-se naturalmente:

"És Vós? Aqui estou eu. Vós fizestes-me aquilo que eu sou; acaba a Vossa obra; ordena: eu obedeço." (Ibid.)

Quais são os benefícios desse direito? 

1º – Deus, em primeiro lugar. Ele é o autor necessário e universal; tem, portanto, uma autoridade plena e pessoal sobre todas as coisas. É por isso que todas as criaturas se voltam para Deus para Lhe dizer: "Aqui estamos. Adsumus" (Jó XXXVIII, 35). O próprio homem, o rei da criação, se aproxima do Criador e diz-Lhe: "Tuus sum ego; eu sou Vosso" (Salmo CXVIII, 94). — "Deus meus es tu: in manibus tuis sortes meae. Vós sois o meu Deus; os meus destinos estão nas Vossas mãos." (Salmo XXX, 15)

2º – Os pais, em segundo lugar. Deus fez mais que comunicar-lhes Sua autoridade; deu-lhes algo da própria fonte de toda a autoridade, constituindo-os autores da vida de seus filhos e autores da sua educação, que é como a segunda criação da sua alma. Por isso, os pais são os preceptores naturais, necessários e providenciais de seus filhos.

3º – Todos aqueles em quem Deus e os pais delegaram uma parte da sua autoridade. Os preceptores secundários não têm nenhum direito natural: só o pai e a mãe os podem associar à obra da educação. Não há poder humano que possa impor um preceptor à criança contra a vontade do pai e da mãe; haveria, nesse constrangimento, algo que ofenderia a natureza.

Estes princípios são importantes? Mgr. Dupanloup, o grande educador, considerava-os como tais. Eis o que dizia e repetia às crianças que educava:

"Foi dos vossos pais e de Deus que recebi o direito de vos educar; mas este direito receberam-no os vossos pais de Deus e de Deus somente. A nossa autoridade sobre vós é passageira; dentro em breve, apenas nos ficará a do nosso afeto e do vosso reconhecimento, ao passo que a autoridade dos vossos pais é inalienável. Nós podemos deixar de nos consagrar à vossa educação; mas eles devem ensinar-vos até os derradeiros dias, e vós devereis ouvi-los sempre com respeito, até o fim.

Numa palavra, aqui mesmo, em todo o curso da vossa educação, os vossos pais são os primeiros educadores; e, se receberdes com docilidade os nossos ensinamentos, os vossos pais serão sempre, em toda a vossa vida, os vossos preceptores mais venerados e mais queridos.

Foi por estar tão convencido destes princípios que, um dia, julguei do meu dever expulsar do Seminário Pequeno de Paris um jovem de quem era amigo e que sempre me estimava e respeitava, mas que, no mesmo ano, faltou duas vezes, e gravemente, ao respeito à sua mãe. Não o podendo corrigir, não me julguei no direito de continuar a sua educação." (Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. II, p. 164)


Qual é a extensão desse direito? Em Deus, esse direito é absoluto; apenas tem por limites os atributos divinos. Mas, para as criaturas, este direito — emprestado em sua origem — é limitado em seu exercício: é circunscrito pela lei de Deus e pelos ditames da verdadeira razão.

Qual é o dever correlativo desse direito? É a obrigação de submissão e obediência por parte daqueles sobre quem esse direito se exerce legitimamente.





A autoridade é uma ciência


Por que se pode dizer que a autoridade é uma ciência? 

Porque o exercício do direito e o cumprimento do dever da autoridade exigem o conhecimento (a ciência) e o respeito de um certo número de princípios. Uns são remotos, outros imediatos: examiná-los-emos sucessivamente.



Os princípios remotos


Quais são os princípios remotos a que está ligada a autoridade? São cinco:

1º - É preciso começar a exercê-la muito cedo. 
2º - É preciso que os pais sejam os primeiros a respeitar a fonte de toda a autoridade: Deus. 
3º - É preciso que os pais apoiem sua autoridade em Deus. 
4º - É preciso que os pais mostrem em tudo um procedimento digno e nobre. 
5º - É preciso que os pais evitem tudo que os possa colocar no mesmo pé de igualdade com os filhos.



1º - É preciso começar muito cedo

"Curva a cabeça de teu filho na sua mocidade" (Eccli.)

Por que é preciso que os pais afirmem muito cedo sua autoridade? 
Porque a experiência ensina que “se a criança não for dominada dos três aos quatro anos, é quase certo que nunca o será.” (F. Nicolay, As Crianças Mal Educadas, p. 140)

Que sucederá se os pais se descuidarem na afirmação da autoridade logo nos primeiros anos dos filhos? A criança cresce: sua independência desenvolve-se com ela; as insubmissões são frequentes; tornam-se escandalosas; sua arrogância é uma vergonha; os pais abrem enfim os olhos e decidem reagir. É muito tarde.

Se o pai e a mãe quiserem usar de rigor, encontram em face deles tal obstinação de resistência que, com receio das consequências, renunciam à luta. Se, apesar de tudo, quiserem impor-se pela força, a criança irrita-se, revolta-se interiormente, procura a causa daquela mudança de atitude, maldiz o lar onde é castigada depois de ter sido mimada: não aceita, nunca aceitará a autoridade.



2º - É preciso que os pais respeitem a fonte de toda a autoridade: Deus

"Que todo o homem seja submisso às autoridades superiores, porque não há poder que não venha de Deus" (S. Paulo, Rom. XIII, 1)

Por que é preciso que os pais respeitem a autoridade? Porque a autoridade é uma: não há a autoridade deste ou daquele; há simplesmente a autoridade; e tudo o que a ofender, seja neste ou naquele superior, enfraquece-a em todos os outros.

E depois, a criança — já tivemos ocasião de notar — é de uma lógica implacável: não se submeterá por muito tempo à autoridade dos pais se eles próprios não se submeterem à autoridade de Deus.

"A autoridade não impõe seu direito quando aqueles que a exercem vivem de maneira diferente da que recomendam aos outros." (Santo Agostinho)



3º - É preciso que os pais apoiem sua autoridade em Deus

"Se o Senhor não edifica a casa, é em vão que trabalham aqueles que a constroem" (Salmo CXXVI)

Por que os pais devem apoiar sua autoridade em Deus? Porque Deus é a única base lógica, imutável e durável da autoridade.

Como farão os pais para convencer a criança da verdade deste ponto de apoio? Evitarão, no exercício da autoridade, toda consideração egoísta ou apaixonada; inspirados sempre na ideia do dever, manifestarão por ele um apreço profundo e afetivo.



4º - É preciso que os pais mostrem em tudo um procedimento digno e nobre

Por que devem os pais demonstrar um procedimento digno e nobre

1º - Porque o exercício da autoridade é fácil quando aqueles que são depositários dela merecem estima. Ora, a estima só se obtém pela nobreza, dignidade e virtude. Um domínio de si mesmos, uma firmeza sempre calma, uma atitude virtuosa elevam os pais aos olhos dos filhos, atraem a estima e afirmam a autoridade. Dom Bosco, de Turim, dirigia em passeio, durante um dia, 300 prisioneiros. (J.B. Francesia, Vida de Dom Bosco, p. 158)

2º - Pelo contrário, tudo o que rebaixa o homem — como palavras grosseiras, pragas, excesso na bebida, acessos de cólera etc. — são como pequenos escândalos que fatalmente deprimem a autoridade de quem os comete.

Não há faltas que prejudicam mais gravemente a autoridade dos pais? Podemos apresentar como principais: a mentira e as preferências.

Quais são as formas de mentira, em geral mais abundantes na educação? 
1º - Fazer falsas promessas; 
2º - Iludir a boa-fé; 
3º - Servir-se de flagrantes contradições da verdade. (Nicolay, ob. cit., p. 98 e seg.)

Em que consistem as falsas promessas? 

Em explorar os desejos conhecidos ou supostos da criança, prometendo satisfazê-los se obedecer; e, obtido o resultado, esquecem-se, como por encanto, das promessas feitas… A criança, naturalmente confiante, acaba por se convencer de que zombam dela e abusam da sua credulidade.

Qual é o resultado dessas situações? 

1º - A criança pensa que a mentira não é uma falta, pois sua mãe a emprega constantemente. 
2º - Depois, mais desconfiada por ser sempre enganada, deseja ver o que lhe prometem ou, escandalizada, revolta-se e diz: — “Há quantos anos me prometem recompensas que nunca vejo… Já chega de troça!”

Nada mais insolente — nada mais justo.

Como se ilude a boa-fé da criança? 
Utilizando sua sinceridade para obter docilidade e voltando contra ela própria o ato de boa vontade praticado.

Exemplos: — “Porque fizeste isso muito bem, vou te levar ao cinema.” E leva-se ao dentista.

— “Dá-me teu comboio e verás como o faço manobrar.” E depois: “Agora, não o verás mais!”

Existe algo pior? Sim: servir-se de flagrantes contradições da verdade. Exemplo: para fazer a criança tomar um remédio desagradável — “Oh! não imaginas como isto é bom” — diz a mãe, fingindo provar. A criança, iludida, toma e logo percebe que foi enganada. Isso marca.

Se toma o remédio, pior ainda: à humilhação junta-se a indignação e o desejo de vingança.

Consequências desses métodos odiosos: 

1º - Os pais rebaixam-se a si próprios, fazendo papel de mentirosos.
 2º - Ensinam, com seriedade, a arte de enganar. 
3º - Destruíram, para sempre, a confiança da criança.


São frequentes as preferências? Sim, infelizmente.

Algumas apoiam-se na semelhança física; outras nas qualidades exteriores: graça, inteligência, amabilidade.

Como se manifestam as preferências? 

O preferido tem mais preponderância, é mais acarinhado, poupado de trabalhos, seus desejos são atendidos, defeitos tolerados ou exaltados, é tido como modelo — mesmo sem mérito — e a mãe declara: — “Gosto mais dele que de todos.” — “Vê teu irmão como é bonito, obediente, comportado… É por isso que gosto mais dele. E tu bem o sabes…”

Estragos causados por isso: O preferido torna-se mimado, soberbo, preguiçoso, sensual… Os outros, invejosos e amargurados, desenvolvem ódio.

Sim, ódio. Recordai-vos da história de José, pais e mães imprudentes: foi para vós que essa história se escreveu.


5º - É preciso que os pais evitem tudo o que os coloque no mesmo pé de igualdade com os filhos

"As crianças devem ter por amigos os companheiros, e não os pais e as mães" (Jaubert, Pensamentos)

Por que essa recomendação? 
Porque a igualdade exclui a autoridade.

Liberdades na linguagem, familiaridades, à-vontade nos divertimentos geram igualdade, e isso prejudica a autoridade.


"Adula teu filho, e ele te causará desgostos; brinca com ele e te entristecerás. Não te divirtas a rir com ele: receia que daí venha uma dor e que, por fim, te arrependas." (Eccli. XXX, 9-10)

E quanto aos pensadores de todos os tempos? 

Platão:

"Quando nas famílias domina a igualdade insolente, tudo, até os animais, parece respirar anarquia. O pai teme o filho e este trata o pai como igual. Já não há respeito nem temor. Querem dizer sempre: sou livre." 



E de Bonald:

"Afetos já fora da influência da razão, e uma educação doméstica, mole e sem dignidade, tomaram o lugar das relações de autoridade e submissão entre os pais e os filhos, das quais a geração passada viu, na sua mocidade, os últimos vestígios. Crianças que tinham no espírito ideias de igualdade com seus pais, e no coração, sentimentos de insubordinação contra suas vontades, praticavam o abuso de tratá-los por 'tu' — maneira de falar que, na nossa língua, exprime consciência da sua fraqueza. Não ousavam dominar os filhos pela sua autoridade, aspirando tão somente a serem seus amigos, confidentes e, muitas vezes, cúmplices. Havia, na França, pais, mães, filhos — mas faltava autoridade na família, e a sociedade política foi abalada até os alicerces."




BETHLÉEM, René de. Catecismo da educação. 1. ed. São Paulo: Castela, 2023.
















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2 comments

  1. Amei o texto! e confirmo a sua visão sobre aprofundarmos na intimidade com Deus, especialmente no mundo atual onde relacionamentos profundos perderam o sentido.

    Deus abençoe seu apostolado

    bjs

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