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Salus in Caritate

Cultura Católica

Devocional 44 Dos vícios opostos a caridade e seus atos ódio, tédio ou preguiça espiritual, inveja, discórdia, obstinação, cisma, guerra, rixa, sedução e escândalo (Segundo São Tomás de Aquino)
Pintura em detalhe de Frederick Sandys. "Love's Shadow", 1867

Textos anteriores Devocional aqui


O homem que trata com seus semelhantes deve ter o coração isento de ódio. Este é o vício mais funesto e diametralmente oposto ao ato principal da caridade, o amor de Deus e o do próximo. O ódio de Deus existe nos corações dos que não consideram Deus como Bem Infinito, mas sim o juiz que irá julgar os seus atos e que os castigará, já que não desejam arrepender-se e mudar de procedimento. O ódio de Deus é uma espécie de obstinação diabólica e não há pecado maior do este.  


Por outro lado, nunca é lícito odiar o próximo. Mesmo os homens maus, que de fato existem, devemos detestar o pecado e não a pessoa, isso em atenção ao amor que devemos ter-lhes em nome de Deus. Não podemos, portanto, jamais desejar-lhes algum mal, embora (ensina Santo Tomás) podemos desejar-lhes alguns males e castigos para que busquem se emendar no bom caminho, reparar os males à sociedade e honrar a justiça divina. 


No entanto, não devemos nunca, desejar a condenação eterna a alguém, exceto aos demônios e os réprobos (réprobos são os condenados, ambos já no inferno), devemos desejar a bem aventurança eterna a todos. 


No que se refere ao segundo ato da caridade, ou seja, o gozo ou alegria temos um vício que lhe é particularmente oposto, que é a tristeza. Esta tristeza é um fastio (aversão, falta de gosto) nas coisas de Deus e nos bens eternos, isso ocorre porque o nosso gosto espiritual está tão depravado que podemos, com frequência, não achar prazer em Deus e a até desenvolver uma aversão às coisas divinas. Tal ato é pecado mortal, quando degrada o apetite sensitivo (perde-se o gosto da vida) e invade a razão, já que Deus é a origem de todas as coisas e portanto a fonte da alegria. 


Esta tristeza é pecado capital, ou seja, origina outros pecados. Quando assim é chama-se tédio ou fastio espiritual. Uma espécie preguiça espiritual (temos animo para tudo: série, vídeos aleatórios... mas para a vida espiritual não).


Os pecados derivados da preguiça são: desesperação, pusilanimidade (falta de energia, de firmeza, de decisão), indolência (indiferença) para observar os mandamentos, rancor, malícia e divagações pelos campos do ilícito. 


Além deste vício (preguiça) existe um outro vício que é oposto a alegria da caridade, que é a inveja. A inveja se diferencia da preguiça pois esta se opõem a alegrar-s em Deus e no bem divino que está nEle, já a inveja se opõem a alegrar-se no bem do próximo. A inveja é um pesar do bem alheio, não porque nos prejudique, mas porque outro o possuí. A inveja é pecado pois o bem do próximo lhe causa incomodo e desgosto, enquanto deveria causar alegria. E é sempre pecado mortal, por ser contra à caridade, só é venial quando se limita aos primeiros movimentos indeliberados (sem intenção) da sensibilidade. 


É pecado capital e dele derivam: a murmuração, a maledicência ou difamação, a alegria na adversidade do próximo, a tristeza na sua prosperidade e o ódio. 


Outros vícios são opostos à caridade por se oporem à paz, são eles a: discórdia, que reside no coração, a porfia (disputa, discussão) nas palavras e na ação, como o: cisma, duelo, a sedição (revolta, motim) e a guerra. 


A discórdia consiste na atitude do que, deliberadamente e conscientemente do seu erro, se opõe ao parecer e ditame dos outros, em coisas que pertencem a honra de Deus ou ao bem do próximo, em manter a dita atitude ainda que seja de boa fé, em matéria indispensável para salvação, e em qualquer circunstância, sustentá-la com obstinação e pertinácia. 


A porfia consiste em contender (criar discussão) com palavras. É pecado de porfia ou contenção quando se porfia (se discute) pelo prazer de contradizer; também o é, com maioria de razão, quando se prejudica o próximo, ou os privilégios da verdade; também o é finalmente, quando, ainda que se defensa a verdade, se faz em tom imoderado e com palavras mortificantes. 


Já o pecado de cisma é a ruptura ou cisão com que alguém, livre e espontaneamente, se aparta da unidade eclesiástica, recusando obstinadamente submeter-se à autoridade do Soberano Pontífice, ou conviver com os demais fiéis, como membro da mesma Igreja. 


Por fim, a guerra também é enumerada entre os pecados opostos à caridade porque a guerra injusta é um dos maiores crimes que se podem cometer contra o próximo. No entanto, é lícito fazer guerra quando existe causa suficiente e sem cometer injustiças em seu desenvolvimento. A causa suficiente é a dura necessidade de fazer respeitar pelas armas os direitos essenciais para as boas relações entre os homens, que foram rompidas por uma nação que se nega a desagravar suas más ações e a remediar os males que fez. Sem essas duas condições ( causa suficiente e justiça no desenvolvimento) não é lícito fazer guerra. 


Os que por sua vez pelejam em guerra justa e não fazem atos injustos no processo, praticam um ato de virtude, porque se expõem a maiores perigos para defender a causa de Deus e de seus irmãos. Tais guerras não tem o intuito de matar, mas antes pela disposição de morrer pelo que se ama e isso é virtude. 


Outro pecado oposto a paz é o duelo ou rixa, que é uma espécie de guerra particular estabelecida sem mandato público e já por isso é falha grave para quem o provoca. O duelo é ainda mais nocivo pois sendo feito com hora marcada se combina a sangue frio e sem os impulsos do momento de ira o mau do outro. 


O vício da sedição consiste na formação de partidos ou bandos, com a intenção de promover arruaças e tumultos, uns contra os outros, ou contra a autoridade e o poder legítimo. Este pecado tem especial gravidade porque assim como não pode haver bem mais apreciado num povo do que a ordem pública, que é a base e condição para a prosperidade, assim também não se pode cometer contra ele maior crime do que o da guerra interna (civil), de certo modo, a sedição é um ato de pecado maior do que a guerra injusta. 


Por fim, o ato de pecado chamado escândalo é oposto ao ato de caridade chamado beneficência. O escândalo consiste em dizer ou fazer alguma coisa capaz de ocasionar a ruína espiritual do próximo, ou em tirar das palavras e feitos dos outros, ocasião de pecar; no primeiro caso se dá escândalo e no segundo se recebe. Cabe, no entanto, lembrar, que se escandalizam somente os imperfeitos, os que possuem virtudes podem ter uma turbação passageira do animo mas isso não lhes abala os fundamentos da fé. 


Os justos não podem dar escândalo e se alguém retira de seus atos e feitos motivos de escândalo deve-se à malícia  e perversidade deste alguém. 


O justo pode (sem a isso se obrigar) abrir mão de alguma coisa, que não esteja ligada a salvação eterna, para não escandalizar os fracos, indecisos e sem firmeza. Mas não tem nenhuma obrigação de abandonar algo para não "escandalizar" os maus. 

 


Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino



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Devocional 43| Dos efeitos da Caridade: alegria, paz, misericórdia, beneficência, esmola e correção fraterna
Pintura: Beggar Children por Johann Georg Meyer


Textos anteriores do Devocional aqui


O exercício da virtude da caridade produz alguns efeitos na alma, os primeiros, são o gozo ou alegria. Este gozo pode vir acompanhado de alguma tristeza, como quando nos alegramos em Deus, nossa bem aventurança futura mas inda não possuída, este é o caso das almas do Purgatório e de quantos vivem na terra. Anda o gozo acompanhado desta tristeza porque há ou pode haver algum obstáculo físico ou moral que se oponha à união íntima com Ele. Em tal caso predomina a alegria, que tem por objetivo e causa principal a felicidade e o gozo eterno, pacífico, seguro, que , na contemplação de sua essência, desfruta o divino Amigo. 


O ato principal da caridade produz paz. A paz consiste na tranquilidade que desfruta o espírito quando todos os nossos pensamentos e afetos, e os de todas as criaturas intelectuais, se orientam e dirigem a Deus, fim supremo da felicidade. 


A caridade produz ainda outro fruto que é a misericórdia. A misericórdia é uma virtude especial, fruto da caridade, ainda que distinta dela, que inclina o ânimo a compadecer-se das misérias e desgraças do próximo, considerando-as, de algum modo, como próprias, visto que afligem ao nosso irmão, e tendo em conta que podemos ver-nos em idênticas condições. A virtude da misericórdia possui um nobreza especial, pois é por excelência a virtude de Deus, não porque Ele seja capaz de sentimentos afetivos de dor ou tristeza, mas pelos benefícios que concede por impulsos do seu amor. É também entre os homens a virtude própria dos perfeitos, quanto mais um ser se aproxima de Deus, tanto mais compassivo e inclinado está para remediar desgraças e miséria, por todos os meios espirituais e temporais ao seu alcance. É de de grande proveito a prática desta virtude para restabelecer e garantir a paz social. 


O primeiro ato que é efeito da caridade é a beneficência, que consiste em fazer algum bem a outrem. Este ato é sempre ato da virtude da caridade. No entanto, por vezes exercer a beneficência é um ato de obrigação (como os filhos aos pais ou os pais aos filhos), neste caso une-se à virtude da caridade a virtude da justiça. 


O ato de caridade de beneficiar o próximo, mediante a virtude da misericórdia, chama-se esmola. Há duas classes de esmolas: espiritual e corporal. 


As esmolas corporal são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, visitar os enfermos, remir os cativos e sepultar os mortas. 


As esmolas espirituais são: rogar a Deus por vivos e defuntos, ensinar os ignorantes, dar bom conselho, consolar os tristes, castigar os que erram e perdoar as injúrias. 


Deus dá tanta importância a esmola que no dia do Juízo, segundo o Evangelho, ela servirá de critério para fundamentar a sentença de prêmio ou condenação eterna. Temos obrigação grave de dar esmola quando o próximo se ache em necessidade espiritual ou corporal grave e não haja quem o socorra. E mesmo que não haja necessidade grave nós temos a obrigação de empregar os bens, espirituais e corporais, supérfluos em proveito do próximo e da sociedade. 


Dentre todas as esmolas, no entanto, existe uma que tem uma particular importância: a correção fraterna. Que é o remédio espiritual destinado a ordenar os pecados do próximo. Esta esmola espiritual é ato da virtude da caridade e constitui obrigação de preceito se existem as circunstâncias e a ocasião oportunas. Estão obrigados a corrigir todos os que se sentem animados pelo espírito de caridade e que não possuam as faltas ou pecados em si mesmos que desejam emendar no irmão (não significa que devam ser isentos de falhas e defeitos, significa que não devem possuir o erro que se dispõem a corrigir); sendo assim, estão obrigados a corrigir, quem quer que seja, ainda que seja superior, com a obrigação de guardar as devidas atenções e considerações (o respeito ao cargo exige que se mantenha o decoro no trato), e contanto que possam abrigar a esperança do efeito da correção (não se deve corrigir só pelo gosto de corrigir, se deve corrigir com o intuito e esperança da salvação do próximo), em caso contrário, estão dispensados, e devem abster-se de corrigir. 


Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino


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Resenha e Comentários: O ideal da alma fervorosa (Augusto Saudreau)


Introdução



Esta resenha é um material de apoio do Clube de Leitura Salus in Caritate feito em parceria com a Editora Cultor de Livros. Temos o intuito de lhe ajudar a conhecer boas obras católicas e a realizar uma leitura efetiva, que lhe ajude em seu crescimento e amadurecimento como cristão (veja a lista de livros e cupons de desconto aqui).

Este projeto é um dos ramos de uma árvore de conteúdos planejados especificamente para o seu enriquecimento. Os projetos que compõem esta árvore são: Projeto de Leitura Bíblica com textos de apoio dos Doutores da Igreja (baixar gratuitamente aqui), Plano de Vida Espiritual (baixar gratuitamente aqui) e o Salus in Caritate Podcast (ouça em sua plataforma preferida aqui). 



Resenha



Nome do livro: O ideal da alma fervorosa
Autor: Augusto Saudreau
Data da leitura: julho de 2020
Editora: Cultor de Livros
Total de páginas: 335
Nível de dificuldade da leitura: fácil leitura (mas os temas são mais avançados)




 Sobre a autor 

Mons. Augusto Saudreau (1851-1946) foi sacerdote e um profícuo escritor, que durante sua vida adquiriu uma reputação internacional como diretor espiritual através de seus livros e artigos em periódicos. Muitas de suas obras foram traduzidas para vários idiomas. Saudreau seguiu as doutrinas de São Tomás de Aquino e São João da Cruz sobre a estrutura da vida espiritual e o crescimento da alma na graça. Durante boa parte de seu ministério foi capelão das Irmãs do Bom Pastor, em Angers, na França.




 Qual o contexto histórico do livro? 


O que segue abaixo é um material de apoio, não se trata de spoiler, pois são informações adicionais aos episódios do livro (levantadas por pesquisa independente), para melhor contextualiza-los: 

O livro foi escrito em 1951. Para lhe oferecer um quadro geral deste ano: 

Aqui no Brasil Getúlio Vargas iniciou o seu segundo mandato, foi também o ano em que o mesmo apresentou o projeto da Petrobrás. O nordeste apresentou uma das maiores secas registradas, gerando a maior migração nordestina para o sudeste do Brasil, até então. Em julho os Clérigos Regulares (Teatinos ou Ordem de São Caetano) chegaram em nossa país, dentre os fundadores desta Ordem (1524) está o Cardeal Cafassa que viria a ser o Papa Paulo IV, uma ordem muito importante no período da Contra Reforma Católica (já explicada aqui)


Em Portugal falece a Rainha D. Amélia de Orleans. E Churchill é reeleito Primeiro Ministro da Inglaterra.


Santos vivos nesta época:


Padre Pio de Pietrelcina, nascido Francesco Forgione, morreu em 1968, foi um frade e sacerdote católico italiano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, elevado a santo pela Igreja Católica como São Pio de Pietrelcina.

Foi, ainda em vida, alvo de uma veneração popular de grandes proporções, principalmente em razão de muitos carismas e dons espirituais que lhe são atribuídos: o dom da bilocação, o dom da levitação, das curas milagrosas, dos perfumes que exalava, entre outros.


São João Paulo II, nascido Karol Józef Wojtyła (Wadowice, 18 de maio de 1920 — Vaticano, 2 de abril de 2005), foi o papa e chefe da Igreja Católica de 16 de outubro de 1978 até à data de sua morte. Teve o terceiro maior pontificado documentado da história, liderando por 26 anos, 5 meses e 17 dias, depois dos papas São Pedro, cujo pontificado durou cerca de 37 anos, e Pio IX, que liderou por 31 anos. Foi o único Papa eslavo e polaco até a sua morte, e o primeiro Papa não italiano desde o neerlandês Adriano VI, em 1522.

Em 1967, ele foi importante na formulação da encíclica Humanae Vitae, que trata das mesmas questões que impedem o aborto e o controle de natalidade por meios não naturais. Até esse ano, 1967, (um ano antes da edição deste livro que estamos a tratar) Karol já tinha publicado mais de 300 ensaios em revistas e livros.


Madre Teresa de Calcutá foi uma religiosa católica de etnia albanesa naturalizada indiana, fundadora da congregação das Missionárias da Caridade, cujo carisma é o serviço aos mais pobres dos pobres por meio da vivência do Evangelho de Jesus Cristo. Em 2015, a congregação fundada por ela contava com mais de 5 mil membros em 139 países. Por seu serviço aos pobres, tornou-se conhecida ainda em vida pelo codinome de "Santa das Sarjetas". 

Em 1968 (data da edição do livro que estamos a tratar)  a Congregação Missionárias da Caridade e estabeleceu a sua presença missionária em países como Albânia, Rússia, Cuba, Canadá, Palestina, Bangladesh, Austrália, Estados Unidos da América, Ceilão, Itália, antiga União Soviética e China.


Venerável Fulton John Sheen (8 de maio de 1895 —  9 de dezembro de 1979), foi um bispo (depois arcebispo) católico da diocese de Rochester entre 1966 e 1969. Lema episcopal: Da per matrem me venire (Conceda que eu possa ir [a Vós] através da mãe [Maria]. Quase todos os seus livros foram publicados antes do episcopado, após, 1970, escreveu o livro Marcas de Passos na Floresta Sombria. 


Estavam vivos, mesmo que já muito idosos: Coco Chanel, Tarsila do Amaral, Pablo Picasso, J.R.R Tolkien, Martin Luther King. 




 O que esse livro acrescentou na minha vida pessoal? 


Provavelmente este livro está na lista das melhores leituras de 2020. Eu gostei muito das abordagens feitas sobre o purgatório, a virtude da caridade e a perfeição cristã. 





 Para quem você indicaria este livro 


Pensa numa leitura "uau", pois é... Acredito que se propagou uma ideia muito estranha sobre o fervor... me lembro que há uns dez anos, o fervor me fora apresentado como um certo jeito de ser e de falar que eu nunca tive... vocês sabem, eu sou do chá, do livro, da fala baixa, da contemplação da abelha na flor... então eu nunca poderia almejar o fervor que me apresentavam, sofri muito por isso, pois me sentia muito deslocada, parecia que na igreja não havia um lugar além desse que me falavam... Tudo mudou quando li Santa Teresa e me lembrei dos Padres do Deserto. Talvez você também tenha essa inquietação, embora agora, acredito, que isso não aconteça tanto.


Este livro fala sobre isso! Ele é tão maravilhoso, que queria tê-lo descoberto naquele tempo, mas Deus me deu inclinação natural e tudo foi bem.


Mas isso não me impede de indica-lo para toda alma como quem indica um remédio milagroso. Ele é baseado num pilar que me é muito caro: o mais perfeito. Ou seja, buscar fazer o melhor; e depois o melhor do melhor; e depois o melhor, do melhor, do melhor.


O autor fala muito sobre a perfeição cristã, sobre a diferença das almas no céu, sobre o caminho depois de sair do pecado, sobre não se contentar com uma prática de virtude vulgar.


Ele de fato não é um livro para iniciantes, o próprio autor diz isso logo nas primeiras páginas, mas antes para quem já está no caminho e por diversos motivos pode vir a ter uma postura laxa na oração, na conduta ou no posicionamento na busca pelas virtudes. Não é uma leitura pesada, é bem agradável, mas trás em si o cerne do evangelho: para o cristão a leveza é a cruz, a cruz é a leveza. E guiado por esse entendimento verdadeiro e eficaz do evangelho o autor nos leva a contemplar o ideal da alma que busca a Deus.


Os alunos do Educa-te tem acesso (aqui), lá na plataforma, aos cupons de desconto exclusivos de 30% neste e em outros livros.



 Algumas citações favoritas (somente das primeiras páginas) 



A alma unida não tem necessidade de tantas considerações antes mesmo de raciocinar, já sente em si mesma, na parte superior, uma alegria de amor, ou ao menos uma satisfação de amor. 


A penitência e a Eucaristia, cujos efeitos variam segundo as disposições de cada um, derramam nas almas unidas uma quantidade de graça imensamente superior àquela que recebem os cristãos bons e piedosos, mas que não se deram inteiramente a Deus. 


... a alma perfeita tem todas as delicadezas do amor... seus atos de amor são mais generosos, mais intensos, mais nobres; são também mais ternos e mais delicados, são principalmente mais numerosos. 


... o zelo, a pontualidade fazem sofrer aqueles que não possuem tais virtudes, porque o fervor lhe condena a fraqueza... acham o que censurar no merecimento dos outros porque não tem a coragem de os imitar... (citação de São Vicente de Paula, em Vida, Cap. XXIV)


[essas almas amantes] conservam algum defeito exterior, em que a vontade não toma parte... por causa dessas imperfeições, não lhes devemos desconhecer a pureza, a firmeza, a generosidade do amor. Mas quantas outras poderiam elevar-se até aí, permaneceram num estado inferior. 


Alimentemo-nos, pois, nós mesmos de santas ambições e saibamos inspirá-las aos outros. 


Glorificar a Deus pelas nossas virtudes, eis o fim da nossa vida, eis a razão de tantas graças com que Deus nos cumulou, eis o que Deus espera de nós em troca de seus inúmeros benefícios.


A alma virtuosa é bela porque quer ser bela; essa beleza, por ser o fruto da sua liberdade, é ainda mais admirável. 


Deus opera maravilha muito maior, fazendo a criatura inteligente praticar um ato de virtude, quando tem liberdade de não o praticar. 


Glória também a Jesus que, por suas humilhações e por seus sofrimentos, mereceu a todas essas almas as graças que as santificaram, cada alma é um troféu para o Salvador, cada alma santa é uma vitória do seu amor. 


Toda alma em estado de graça dá alguma glória a Deus. Mas quanto o glorifica aquela que não se limita aos desejos humanos, e cuja vida se passa na prática do puro amor!


Ora, na alma perfeita que não cede mais voluntariamente às inclinações da natureza, os mínimos atos são valorizados pela união completa de sua vontade à vontade de Deus e reproduzem, com fidelidade mais exata, as perfeições divinas. 


Elas são muito mais caras aos seu Coração, pois, sendo Ele justo e santo, mais ama aqueles que mais o amam. 


Essas almas fervorosas fazem muitas vezes mais para o bem das paróquias e das comunidades, do que aquelas que trabalham diretamente e que, aos olhos dos homens, obtêm maior glória. De fato, quanto mais sobrenatural for uma obra, tanto maior será a parte do Senhor e menor a da natureza. 


Na verdade, já neste mundo, quem teve a coragem de lutar corajosamente contra suas inclinações naturais e de morrer a si mesmo, já encontra a sua paga. 


A alma amante, que conserva apegos naturais, desejos puramente humanos, sofre, não somente em sua natureza, mas também em sua vontade, que é muitas vezes contrariada, melindrada, irritada, e precisará fazer esforços para resignar-se. A resignação a acalmará, sem, porém, lhe causar alegria alguma. 


Quanto as almas incompletamente fiéis, fazem muitas vezes falhar os desígnios de Deus a seu respeito. Nas provações, se impacientam ou não se resignam senão em parte, e acontece-lhes, às vezes, repassar no espírito as suas penas. Ficam então descontentes e irritadas. Outras vezes, só resistem às tentações com certa moleza, e deixam passar inúmeras ocasiões de praticar a virtude, porque não tem coragem de oferecer a Deus todos os sacríficos que Ele lhes pede. A alma plenamente fiel se aproveita de tudo, e cada dia acumula para eternidade novas e imensas riquezas. 



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Devocional 42 Natureza da Caridade ato principal da caridade e sua fórmula (São Tomás de Aquino)


Textos anteriores clique do Devocional aqui


A Caridade é uma virtude que nos proporciona comunicação e amizade íntima com Deus, fundada na participação do mesmo Deus como objeto que é da sua bem-aventurança e da nossa. Caridade não é somente ajudar as pessoas, dar coisas para as pessoas, é possível fazer tal coisa em pecado mortal, portanto, sem amizade com Deus, tal ato não é ato de caridade. 


A amizade íntima com Deus, primeiramente, requer em nós uma participação da natureza de Deus, capaz de deificar a nossa, de elevar-nos acima de tudo o que é criado, seja homem ou anjo, até equiparar-nos em nobreza com Deus, de fazer-nos seus filhos, verdadeiros deuses; em segundo lugar, querer faculdades operativas proporcionadas à dignidade de deuses e filhos de Deus, para conhecê-lO como Ele se conhece, amá-lO como Ele se ama, e, como Ele, gozar da sua própria bem aventurança. 


Eis a altura do nosso chamado!


Assim todo aquele que possui a virtude da caridade, necessariamente tem graça santificante, virtude e dons. A caridade é a rainha das virtudes. Porque, só sob seu império, executam as virtudes atos meritórios de vida eterna. 


A caridade nos une a Deus por meio do amor. 


O ato de amor consiste em amá-lO por ser quem é, Bem infinito, e em querer unir-se a Ele para participar da sua eterna felicidade. 


Esses dois amores se diferenciam da seguinte forma: o primeiro é um amor de complacência em Deus por ser o que é em si mesmo, e o segundo se compraz em que o acúmulo de perfeição divinas esteja destinado a fazer o homem feliz. 


Estes dois amores não se separam na virtude da caridade. E cada um destes amores é um ato de amor puro e perfeito. 


Este amor estende-se para os outros: os já O gozam (os anjos e os justos no Céu) ou os que se acham em estado de O gozar algum dia (as almas do Purgatório e todos os homens que vivem na terra). Logo devemos amar a todos os homens com amor de caridade. 


A ordem do amor é: primeiramente amar a Deus, depois a nós mesmos e depois o próximo (neste grupo a ordem é: primeiro os que estão próximos a Deus, depois os que estão ligados a nós por laços de sangue, de amizade ou de comunidade e etc.).


Podemos, também , em virtude da caridade, querer bens temporais para nós e para o nosso próximo e em determinadas condições devemos querê-los. Devemos querê-los quando tais bens são indispensáveis para viver e para praticar a virtude. E podemos quando, mesmo sem serem indispensáveis, são úteis e convenientes. 


No entanto, se os bens temporais desejados são obstáculo para as virtudes não devemos desejá-los.


Para exercitarmos a virtude da caridade, podemos usar a seguinte fórmula: 


"Deus e Senhor meu; amo-vos sobre todas as coisas; não quero outra recompensa mais do que a Vós mesmo, e amo-a, primeiramente, porque vós com ela sois ditoso, e depois por ser a bem aventurança de todos os que Vos possuem e dos chamados a possuir-Vos algum dia". 


Baseado no Catecismo da Suma Teológica de São Tomás de Aquino. 



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Comentário de São João Crisóstomo à I e II Carta a Timóteo

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Introdução

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Primeira Carta a Timóteo



Timóteo era um dos discípulos do Apóstolo. Lucas, de acordo com os testemunhos dos irmãos de Listra e de Icônio (At 16,2), atesta que era um jovem admirável. Foi, ao mesmo tempo, discípulo e mestre. Era de tal forma prudente que, ouvindo dizer que Paulo anunciava o evangelho aos incircuncisos e sabendo que por isso se opôs a Pedro, preferiu não anunciar o contrário e também submeter-se à circuncisão. Foi circuncidado (At 16,3) naquela idade, e assim foi-lhe confiado todo o ministério. Certamente bastava para indicar quem ele era, o seu amor a Paulo, o qual em toda parte o atesta, por escrito e oralmente: “Sabeis que prova deu: como um filho ao lado do pai, ele serviu comigo à causa do evangelho” (Fl 2,22); e aos coríntios ainda escreve: “Enviei-vos Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor”; e mais uma vez: “Ninguém o menospreze! Pois trabalha na obra do Senhor, como eu” (1Cor 4,17; 16,11; 16,10). Escreve também aos hebreus, nesses termos: “Sabei que o nosso irmão Timóteo foi libertado” (Hb 13,23). Em toda parte é possível encontrar sinais dessa amizade. E os milagres então realizados demonstram o grande crédito de que gozava.



Se alguém quisesse saber por que se dirigiu somente a Tito e a Timóteo, apesar de Silas e Lucas serem igualmente virtuosos, responderia o próprio Paulo, ao escrever: “Somente Lucas está comigo” (2Tm 4,11). Dentre os que lhe faziam companhia achava-se também Clemente, do qual ele declara: “Em companhia de Clemente e dos demais colaboradores meus” (Fl 4,3). Por que motivo, então, se dirige apenas a Tito e a Timóteo? Porque já lhes entregara o governo de Igrejas; quanto aos outros, ainda os levava consigo nas viagens. Nesses trechos trata de alguns tópicos importantes. Timóteo era tão virtuoso que sua juventude não lhe ocasionava impedimento. Por isso escreve o Apóstolo: “Que ninguém te despreze por seres jovem”; [e ainda: “Às moças, como a irmãs” (1Tm 4,12; 5,2)]. Quando há virtude, há superabudância e nada se torna obstáculo. Ao dissertar a respeito dos bispos e abordar várias questões a eles relacionadas, jamais alude à idade. Se escreve: “Mantendo os seus filhos na submissão”; e: “Esposo de uma única mulher” (1Tm 3,4; 32), não quer dizer precisarem de mulher e filhos, mas tem em vista que se um secular for elevado a este múnus, saiba governar a casa, os filhos etc. Se ele se mostrar incapaz nestas funções, será possível confiar-lhe o governo de uma Igreja?



No entanto, por que envia a Carta ao discípulo, ao qual já confiara o múnus de ensinar? Acaso não importava fosse ele primeiro perfeitamente instruído e só depois enviado? Em verdade, ele não precisava dos conhecimentos de um discípulo, mas dos que competiam a um mestre. Observa, portanto, que, em toda a Carta, o Apóstolo emite ensinamentos convenientes aos mestres. E logo no início não declara: Não dês atenção aos que ensinam de outra maneira; mas, o que exige? “Admoestares a alguns a não ensinarem outra doutrina” (1Tm 1,3).



É forçoso que o mestre se sujeite a muitos perigos, bem mais do que os discípulos. Com efeito, “ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão” (Zc 13,7; Mt 26,31). Sendo assim, o diabo com maior violência insufla sobre eles, porque, de fato, ferido o pastor, o rebanho se dispersa. Em verdade, matar as ovelhas diminui o rebanho, mas eliminar o pastor causa a ruína do rebanho inteiro. Por conseguinte, uma vez que ele com menos trabalho consegue resultado melhor, e por meio de uma só alma perde o todo, ataca especialmente os mestres. Por este motivo, o Apóstolo logo de início estimula, dizendo: Temos um Salvador que é Deus, e Cristo, nossa esperança. Sofremos muito, mas possuímos firme esperança; incorremos em perigos, em insídias, mas temos um Salvador, não homem apenas, mas Deus. O Salvador não é fraco, porque na realidade é Deus, e por maiores que forem os perigos, não haverão de nos vencer. Nem a esperança confunde, pois é Cristo.



Por que nas outras cartas nunca precede a misericórdia, mas somente nesta? Vem do grande afeto. Formula vários votos em favor do filho, com temor e tremor. Preocupa-se a tal ponto que, embora jamais o tenha feito alhures, escreve acerca da saúde corporal, nesses termos: “Toma um pouco de vinho por causa de teu estômago e de tuas frequentes fraquezas” (1Tm 5,23). Os mestres precisam de maiores cuidados. “Da parte de Deus, nosso Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.” Novamente um conforto. Pois Deus é Pai e cuida dos filhos seus. Escuta a palavra de Cristo: “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?” (Mt 7,9).



 "...te recomendei permanecer em Éfeso". Ele passara muito tempo naquela cidade, onde havia o templo de Diana e onde padecera graves tribulações. Após ter se esvaziado o teatro e ele haver exortado os discípulos que convocara, embarcou; no entanto retornou. É razoável perguntar se então havia estabelecido ali Timóteo como chefe, pois diz: “Para admoestares a alguns a não ensinarem uma outra doutrina”. Não os cita nominalmente, a fim de não perderem o recato, uma vez que eram repreendidos publicamente. Ali havia dentre os judeus falsos apóstolos... Agiam desta forma ... por vanglória e pela ambição de possuírem discípulos; eram movidos a disputar com São Paulo por inveja. É o que significa a expressão: “Ensinarem uma outra doutrina”.



Nada prejudica tanto o gênero humano quanto desprezar a amizade, e não conservála com grande empenho, como, ao invés, nada tanto orienta bem a vida quanto por ela aspirar com vigor. Cristo o indica, dizendo: “Se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isto lhes será concedido”; e ainda: “E pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt 18,19; 24,12).



Foi esta a origem de todas as heresias. Por não serem amados, os irmãos felizes eram invejados; da inveja, porém, originou-se a ambição do domínio; e da ambição do domínio, as heresias. Por isso, Paulo, após dizer: “Para admoestares a alguns a não ensinarem uma outra doutrina”, sugere o modo de agir que o possibilita. Qual? A caridade. Assegura: “A finalidade da Lei é Cristo” (Rm 10,4), isto é, a plenitude, e estão de acordo; de igual modo, a este preceito une-se a caridade. A finalidade da medicina é a saúde, e onde existe saúde não se precisa de tratamento; assim, onde há caridade, não são necessários muitos preceitos. A qual caridade se refere o Apóstolo? À sincera, não apenas de palavras, mas de afetos, de sentimentos e de comiseração. “De um coração puro”, oriundo de uma vida reta, e de amizade sincera. Com efeito, uma vida impura produz divisões. “Pois quem faz o mal odeia a luz” (Jo 3,20). Existe também amizade entre os malvados, por exemplo, os ladrões amam os ladrões, o homicida aos homicidas, contudo não têm por origem “uma boa consciência”, mas uma perversa; nem “um coração puro” e sim um impuro, nem “uma fé sem hipocrisia”, mas uma fé simulada. A fé, de fato, exibe a verdade, da fé nasce a caridade sincera. De fato, quem acredita em Deus, jamais desiste desta fé. “Desviando-se alguns desta linha, perderam-se num palavreado frívolo.” Com razão declara: “Desviando-se”. Em verdade, precisa-se de arte para retamente visar o alvo e não errar; de igual modo necessita-se da orientação do Espírito. Com efeito, há muitas coisas que nos desviam do caminho reto e é necessário olhar para um só escopo. “Pretendendo passar por doutores da Lei.” Notas outra causa, a ambição de domínio. Por isso dizia Cristo: “Não vos façais chamar Rabbi” (Mt 23,8); e ainda o Apóstolo: “Nem eles observam a Lei. Mas querem se gloriar na vossa carne” (Gl 6,13).



Quando se propõem às crianças modelos de letras, aquela que não as faz segundo os modelos, mas de cor, possui maior perícia, e melhor utiliza as letras. Assim, quem transcende a lei não é orientado por ela. Pois quem não a cumpre por medo, mas por amor à virtude, melhor a cumpre. Não cumpre a lei de modo semelhante, portanto, quem tem medo do suplício e aquele que ambiciona honrarias; nem igualmente quem está sob a lei e aquele que se encontra acima da lei. De fato, viver acima da lei é usá-la “segundo as regras”. Usa bem a lei e a guarda aquele que realiza mais do que ela preceitua e não se guia por ela. A lei, quando muito, proíbe os crimes. Não é isso que constitui o justo, e sim as boas obras. Por conseguinte, quem se abstém do mal como os escravos, não realiza o escopo da lei, estabelecida para punir a transgressão. Pois, eles a cumprem por temor do suplício. “Queres então não ter medo da autoridade? Pratica o bem” (Rm 13,3). Seria como se alguém dissesse: A lei ameaça com o suplício apenas os maus, mas onde está a utilidade da lei para aquele que pratica obras dignas de coroa? À semelhança do médico que é útil ao ferido ou ao doente, não, porém, ao de boa saúde.




Somos ungidos com tal unguento quando fomos batizados; então exalamos bom odor. Em seguida, a conservação do bom odor depende de nossos esforços. Por isso, antigamente, eram ungidos os sacerdotes, símbolo da virtude, porque o sacerdote deve emitir o bom odor. Nada é mais fétido do que o pecado. Vê como o profeta pinta sua natureza: “Minhas chagas estão podres e supuram” (Sl 37,6). Com efeito, o pecado é mais fétido do que qualquer espécie de podridão. 



O que, pergunto, mais fétido do que a luxúria? Se não o sentes ao cometer o pecado, depois de cometido, reflete, no que é, e então perceberás o mau cheiro, a imundície, a vergonha, a abominação. 



Tal é o pecado. Antes de cometido, causa certo prazer; depois de perpetrado, cessa o gozo, fenece, e aparecem a dor e a tristeza. Ao invés, a justiça no início é laboriosa, no fim ocasiona prazer e repouso. No primeiro caso, o prazer não é prazer, pela expectativa da vergonha e do castigo; neste, o labor não é labor, pela esperança da retribuição. O que é, pergunto, a embriaguez? O prazer não dura somente enquanto se bebe? Ou antes, nem enquanto se bebe. Qual o prazer de cair na insensibilidade, perder a visão das coisas presentes, e tornar-se pior do que os loucos? Ou ainda, a própria fornicação não é prazer. Qual o prazer de ficar a alma privada do juízo, devido à paixão? Se constitui prazer, a sarna também causa prazer. Diria que é verdadeiro prazer a alma não ser tomada por alguma paixão corporal nem se desviar. Que prazer existe em ranger os dentes, virar os olhos, sentir cócegas, irritar-se inconvenientemente? Não há prazer, uma vez que nos esforçamos por disso nos libertar rapidamente, e após nos libertarmos sentimos pesar. Se é prazer, não te livres, mas conserva-o. Vês que de prazer tem apenas o nome? Ora, os nossos não são desta espécie, mas são realmente suaves; não são ardorosos, mas deixam a alma livre, cheia de alegria e suavidade. Tal era o prazer de Paulo, que dizia: “Com isso eu me regozijo. Mas eu me regozijo... Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4,18; 4,4). Aqueles prazeres incluem torpeza e condenação, serpeiam ocultamente, repletos de inúmeras tristezas. Estes, porém, estão isentos de todos esses males. Vamos ao encalço destes, para também alcançarmos os bens futuros, pela graça e amor aos homens de nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual com o Pai, na unidade do Espírito Santo glória, império, honra, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém. 





Constatamos que a humildade traz muito lucro, mas não a encontramos facilmente. A humildade só em palavras é frequente, mais que suficiente, enquanto a verdadeira humildade, nunca. São Paulo, porém, de tal modo a buscava, que sempre excogitava ocasiões de se humilhar. Naturalmente aqueles que estão cientes de terem realizado grandes obras devem lutar pela aquisição da humildade; por isso é verossímil que ele teve de esforçar-se, exaltado pelo influxo na consciência do bem praticado.




Por que, então, os outros judeus não conseguiram misericórdia? Porque não agiram por ignorância, mas com conhecimento e bem cientes. E para o conheceres com exatidão, ouve o evangelista: “Muitos chefes creram nele, mas, por causa dos fariseus não o confessavam, pois amaram mais a glória dos homens do que a de Deus” (Jo 12,42-43). E Cristo diz ainda: “Como podereis crer, vós que recebeis glória uns dos outros”; e ainda: “Os pais (do cego) assim disseram por medo dos judeus”, para não serem expulsos da sinagoga. Os próprios judeus ainda diziam: “Vede. Nada conseguimos. Todo mundo vai atrás dele!” (Jo 5,44; 9,22; 12,19).





Vês que nada se faz por temor de Deus, nem por seu amor, mas a uns por amizade, a outros por hábito? Se vemos um amigo partir em viagem, choramos, gememos; morto, o pranteamos, embora saibamos que não estará separado de nós perpetuamente, mas na ressurreição haveremos de recuperá-lo. Mas, quando Cristo diariamente se afasta de nós, ou antes o repelimos cada dia, não lastimamos, nem pensamos cometer falta grave, em ação injusta, por afligi-lo, irritá-lo, fazer o que lhe desagrada. Mas ainda não é tão detestável se não o tratarmos qual amigo. Mostrarei que o temos por inimigo. De que modo? “O desejo da carne é inimigo de Deus” (Rm 8,7), diz Paulo. Sempre o trazemos conosco, mas afastamos o Cristo que vem ao nosso encontro, e bate à nossa porta (é o que acontece pelas más obras). Tratamos diariamente de ofendê-lo pela ambição, pelas rapinas. Elogia-se um homem que se destaca na eloquência e é útil à Igreja? Invejamo-lo, porque realiza as obras de Deus; aparentemente é a ele que invejamos, mas a inveja atinge a Cristo. Não, replicas, mas queremos ser úteis por nós mesmos e não por intermédio de outros. Não agimos por causa de Cristo, mas por nossa causa. Com efeito, se fosse por causa de Cristo, seria indiferente realizar a obra por outros ou por nós. Dizeme. Se um médico tem um filho em perigo de cegueira e não possui a faculdade de evitá-la, mas encontra outro médico que pode curá-lo, acaso o rejeita? Absolutamente, não.




Glorifiquemos, portanto, a Deus; exaltemo-lo corporal e espiritualmente. E de que forma é glorificado pelo corpo e pelo espírito? Aqui denomina espírito a alma, em oposição ao corpo. Como é glorificado pelo corpo? Como pela alma? Pelo corpo glorifica quem não comete fornicação, não se embriaga, não é glutão, não cuida de ornamentarse, só se preocupa com o suficiente para a saúde, não comete adultério. A mulher que não se perfuma com unguentos, que não usa pintura, que se contenta com o que Deus plasmou e nada sobrepõe. Por que, pergunto, acrescentas algo ao que Deus criou tão perfeito? Não te basta aquela formação? Tentas decorar a obra, como se fosses artífice mais hábil. Certamente não é isso; mas te adornas e injurias o Criador, para atraíres inúmeros amantes. E o que fazer? Perguntas. Não o quero, mas sou obrigada a agir dessa forma por causa do marido. Não costuma ter amantes aquela que não o quer. Deus te fez formosa para ser admirado também por esse motivo, não a fim de ser ofendido. Não lhe retribuas os dons desse modo, mas pela continência e honestidade. Deus te fez formosa para aumentar os prêmios da honestidade. Não é igual o procedimento da mulher que é cobiçada e guarda a castidade e a daquela que não é assediada e faz o mesmo. Ouves o que a Escritura diz de José? “Era belo de porte e tinha um rosto bonito” (Gn 39,6). O que nos adianta saber que José foi belo? Para serem mais admiradas sua beleza e honestidade. Deus te fez formosa, por que te fazes disforme? As que usam pintura assemelham-se a alguém que unja de lodo uma estátua de ouro. Colocas terra, um tanto vermelha e em parte branca. Mas as mulheres feias, respondes, o fazem com razão. Por quê? Dize-me. Para cobrir a fealdade? É inútil. Onde, pergunto, o que é natural é superado pelo produto dos esforços e da arte? Por que a fealdade entristece, se não é malvada? Escuta a palavra de determinado sábio: “Não detestes uma pessoa por sua aparência, e não elogies um homem por sua beleza” (Eclo 11,2). Antes admira a Deus, ótimo artífice, e não o que não é obra sua. Qual, pergunto, é o lucro da beleza? Nenhum, mas ocasiona muitas disputas, maiores incômodos, perigos, suspeitas. Ninguém suspeitará da mulher que não se destaca pela beleza; mas a formosa, se não tiver grande honestidade, logo terá má fama. Seu marido viverá com suspeitas. Quantos aborrecimentos! Não terá tanto prazer pela beleza, quanto tristeza pelo ciúme. O prazer fenece pelo costume, enquanto a mulher terá a nota de lascívia, dissolução, luxúria, e a mente se torna vã e assaz arrogante. A beleza acarreta tudo isso. Não se encontram esses obstáculos naquela que não é formosa. Os cães não atacam e ela apascenta-se tranquila qual ovelha, sem que o lobo perturbe ou assalte, enquanto o pastor fica sentado perto. Não há vantagem em ser formosa, ou em não ser; mas muito dano provém da que fornicar embora não seja formosa, e da que for malvada. Dize-me. O que importa nos olhos? Que sejam suaves, bem traçados, arredondados e azuis, ou que sejam agudos e penetrantes? Diriam que importam mais estes últimos, e evidencia-se por este exemplo: Qual o préstimo da lâmpada? Que resplandeça clara e ilumine toda a casa? Ou que seja bem traçada e arredondada? Diria que é a primeira que se deseja; a segunda é inútil. Por isso sempre dizemos à criada disto encarregada: Preparaste mal a lâmpada; a função da lâmpada é iluminar. Por conseguinte, não interessa que o olho seja tal e tal, contanto que preencha, como é justo, a sua função. E diz-se que é fraco se for obtuso, sem as devidas condições. Dizemos que tem olhos doentes quem não enxerga com os olhos abertos. Afirmamos ser péssimo quem não preenche suas funções; tais são os olhos péssimos. Dize-me. Que importa relativamente ao nariz? Que seja reto, bem proporcionado e simétrico, ou apto ao olfato, logo capte o odor e envie a sensação ao cérebro? É evidente a qualquer um. Vamos, pois. Examinemos a questão por meio de um exemplo. Dize-me. Quando diremos que foi bem-feito um instrumento fabricado para captar? Quando pode captar e reter bem, ou quando for belamente arranjado? Sem dúvida o primeiro. Quanto aos dentes, quais dizemos que são ótimos? Os que trituram e cortam o alimento, ou os que estão bem alinhados? Certamente os primeiros. Se examinarmos todo o corpo, e cada membro segundo este raciocínio, descobriremos que todo membro sadio é ótimo, contanto que possa cumprir exatamente sua função. Assim dizemos que um vaso é bom, e bons os animais e as plantas, não pela forma, nem pela cor, mas pelo serviço que prestam. Assim dizemos que o criado é bom quando nos é útil para o serviço, não quando é formoso e suave. Vês o que é ser bela? Uma vez que usufruímos em comum das coisas maiores e admiráveis, em nada somos inferiores.





É grande e admirável a dignidade da doutrina e do sacerdócio, que verdadeiramente é necessário o sufrágio de Deus para se escolher pessoa capaz. Assim acontecia antigamente e também agora acontece, se elegermos sem paixões humanas, sem considerações mundanas, nem por amizade ou ódio. Embora não sejamos tão participantes da graça do Espírito, basta o bom propósito para invocar a instituição do próprio Deus. De fato, os apóstolos não eram participantes do Espírito, quando escolheram Matias, mas assumindo o problema pela oração, incluíram-no no número dos apóstolos; não levavam em conta uma amizade humana. Assim devemos nós também fazer agora. Mas, por extrema covardia, rejeitamos até os fatos bem manifestos; se negligenciamos os manifestos, Deus nos revelará os obscuros? Se não fostes fiéis no pouco, foi dito, quem vos entregará o que é grande e verdadeiro?



Atualmente sucede muita coisa semelhante. Visto que os sacerdotes não conhecem todos os pecadores, nem os que indignamente participam dos mistérios, Deus frequentemente faz com que sejam entregues a Satanás. É por isso que advêm doenças, insídias, lutos, calamidades, ou coisas semelhantes. Paulo igualmente o declara, nesses termos: “Eis por que há entre vós tantos débeis e enfermos e muitos morreram” (1Cor 11,27). E de que modo, perguntas, nos aproximaremos (dos mistérios) uma vez por ano? É péssimo não medires a dignidade do acesso pela pureza da alma, e sim por intervalo de tempo, considerando provir da piedade não te aproximares mais frequentemente. Ignoras que macula o acesso indigno, até mesmo que seja uma só vez; aceder dignamente, porém, com maior frequência, causa salvação. Aceder com frequência não é audácia, e sim o acesso indigno, até mesmo se for uma vez por ano. Nós, contudo, somos malvados e míseros, perpetrando inúmeros pecados durante o ano, sem o cuidado de apagá-los, julgando bastar que não o ousemos sempre e não ultrajemos o corpo de Cristo. Não pensamos que os que crucificaram a Cristo, só uma vez o fizeram. Acaso o crime é menor por ter sido uma vez apenas? Judas igualmente traiu uma só vez. E então? Ficou livre do suplício? Por que medimos esta questão pelo tempo? A pureza de consciência seja para nós ocasião de nos aproximarmos.




O sacerdote é pai comum do mundo inteiro. Efetivamente, deve cuidar de todos, à semelhança de Deus, ao qual serve, enquanto sacerdote. Por isso diz o Apóstolo: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações”. Daí originam-se dois bens: de um lado, dissipa-se a aversão que temos aos estranhos. Ninguém poderá odiar aquele em favor do qual emite preces. De outro lado, estes se tornam melhores, por causa das orações em seu favor e desistem das atitudes ferozes. Nada contribui tanto para a difusão da doutrina quanto amar e ser amado. Pondera como é grandioso ouvir menção de homens pérfidos, e de uns que flagelavam, expulsavam, matavam, enquanto as vítimas de tais tormentos oravam intensamente a Deus em prol dos que tais crimes cometiam. Viste que desejava fosse o cristão superior a tudo isto? As criancinhas no colo do pai batem-lhe na face, mas com isso não diminui o afeto paterno.




Não vês a quantidade de blasfêmias diárias contra Deus? Quanta injúria lhe infligem infiéis e fiéis, por palavras e obras? E então? Por este motivo ele extingue o sol? Interrompe o curso da lua? Rasga o céu? Faz tremer a terra? Seca o mar? Exaure a fonte das águas? Contém os ventos? Absolutamente, não. Ao contrário, faz com que o sol desponte, caia a chuva, germinem os frutos e os alimentos anuais para os blasfemos, os insensatos, os abomináveis, os perseguidores; não um dia só, dois ou três, mas por toda a vida. 



Imita-o também tu; imita-o à medida das forças humanas. Não podes fazer com que desponte o sol? Abstém-te das maldições. Não fazes a chuva cair? Não injuries. Não podes alimentar? Não sejas violento. Quanto às dádivas, bastam estes dizeres! Deus exibe sua benevolência aos inimigos através das obras; tu, ao menos manifesta-a por palavras, reza pelo inimigo. Assim serás semelhante a teu Pai que está nos céus. Inúmeras vezes dissertamos a este respeito e não cessamos de dissertar; algo seja observado. Nós não nos entregamos ao torpor, não nos cansamos, nem nos enfastiamos de dar explicações; vós, ao menos, não vos mostreis fatigados de ouvir. Fica aborrecido quem não cumpre o que foi dito; quem segue, quer ouvir de boa vontade e com frequência, porque não é atacado, e sim elogiado. Com efeito, exaspera-se apenas quem não põe em prática o que foi falado. Daí vem que o orador se torna oneroso.


Se o Apóstolo quer pôr termo às guerras, às lutas e aos tumultos das nações, e exorta o sacerdote a dirigir preces pelos reis e príncipes neste sentido, muito mais desta forma procedam os particulares. Três espécies de guerras são muito graves: Uma é a guerra em geral, em que nossos soldados são atacados pelos bárbaros; a segunda espécie consiste em nos atracarmos mutuamente mesmo em tempo de paz; a terceira, a guerra que declara cada qual a si próprio. É a pior de todas. A travada com os bárbaros não nos prejudica tanto. O que, pergunto, eles te causarão? Massacram, matam, mas não arruínam a alma. Nem a segunda espécie de guerra, se o quisermos, poderá nos causar dano. Embora os outros nos ataquem, podemos ser pacíficos. Escuta o profeta: “Em troca de minha amizade me acusam, e eu fico suplicando”; e ainda: “Com os que odeiam a paz, eu sou pela paz”; e novamente: “Quando lhes falo, combatem-me sem motivo” (Sl 109,4; l20,7; 109,3). Da terceira espécie não podemos fugir sem incorrer em perigo. Se o corpo discorda da alma, excita graves concupiscências, fornece armas aos prazeres corporais, à ira, à inveja. Se esta guerra não terminar, não conseguiremos os bens prometidos. Quem não reprime esse tumulto necessariamente cairá e receberá ferimentos que geram a morte na geena. Diariamente, portanto, precisamos de muito cuidado e solicitude para que esta guerra não se declare em nós; ou não continue se declarada, mas seja reprimida e mitigada. Qual o proveito de todo o orbe gozar de profunda paz, enquanto lutas contra ti mesmo? Importa possuir a paz interior. Se dela gozarmos, nada do exterior poderá nos prejudicar. A paz de todos em comum contribui bastante para ela. Por isso diz o Apóstolo: “A fim de que levemos uma vida calma e serena”. Quem se perturba, enquanto reina a tranquilidade, é sumamente infeliz. Viste que o Apóstolo menciona a paz que classifico de terceira? Por isso, tendo dito: “A fim de que levemos uma vida calma e serena”, não se interrompe, mas acrescenta: “Com toda piedade e dignidade”. Quem não se firma nessa paz não pode viver “com toda piedade e dignidade”.



“A fim de que levemos uma vida calma e serena” apenas da vida do comum dos homens, acrescentou: “Com toda piedade e dignidade”. De fato, é possível que levem uma vida calma e serena os gentios e também os impudicos, os pródigos e os que se revolvem nos prazeres; entre eles talvez encontrarás os que levem tal vida. No entanto, para saberes que não é isto, acrescentou: “com toda piedade e dignidade”. Aquela vida contem insídias, lutas, e a alma cotidianamente é ferida pelas perturbações dos pensamentos. Evidencia-se pelo suplemento, porém, que indica esta vida; é claro, porque não disse simplesmente: Com piedade, mas aditou as palavras: “Com toda”. Com esses termos parece que não só requer uma vida formulada na doutrina, mas também a que se firma no modo de praticá-la; pois em ambas se requer piedade. Qual a vantagem de ser piedoso segundo a fé, e na realidade ser ímpio? Escuta aquele santo em outra passagem, para que se entenda que é possível ser ímpio nas ações: “Afirmam conhecer a Deus, mas o negam com os seus atos” (Tt 1,16); e ainda: “Renegou a fé e é pior do que um incrédulo” (1Tm 5,8); de novo: “Alguém que traga o nome de irmão e, não obstante, seja impudico ou avarento ou idólatra” não honra a Deus (cf. 1Cor 5,11) e ainda: “O que odeia seu irmão” (1Jo 2,9) ignora a Deus. Viste quantas são as formas de impiedade? Por isso diz: “Com toda piedade e dignidade”. O fornicador não só é desonesto, mas também impudico. Igualmente o cobiçoso é dito desonesto e intemperante. A cupidez não é menos grave do que a concupiscência corporal. Quem não contém a cobiça é intemperante; quem não contém a concupiscência é intemperante. Por conseguinte, chamaria de intemperante também o irascível; e denominaria intemperante, desonesto e impudico o invejoso, o ambicioso de dinheiro, o doloso e todo pecado. “Eis o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” O que significa: “Eis o que é bom”? Rezar por todos. Eis o que é agradável a Deus, o que ele quer, pois “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”.



Imita a Deus. Se “quer que todos os homens sejam salvos”, é justo rezar por todos. Se “quer que todos os homens sejam salvos”, tu também deves desejá-lo. Se o desejas, reza, pois rezar é próprio dos que o querem.



Sobre Orações Públicas



Diz Cristo: “Quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora ao teu Pai ocultamente; e o teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” (Mt 6,5-6). Por que, então, diz Paulo: “Quero, portanto, que os homens orem em todo lugar, erguendo mãos santas, sem ira e sem animosidade”? Não são preceitos opostos? De forma alguma; ou melhor, concordam inteiramente. De que maneira? Primeiro, explique-se o que significa: “Entra no teu quarto”, e a razão da ordem de orar “em todo lugar”, não na igreja, e não ser lícito orar em outra parte da casa, senão no quarto. Qual o sentido da locução? Cristo, ao ensinar que se deve fugir da vanglória, não diz simplesmente: Não em público, e sim: Reza ocultamente. Ao dizer: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mt 6,3) não está se referindo apenas às mãos, mas ensina principalmente que se fuja da vanglória. Assim sugere igualmente nosso trecho. Não determinou, portanto, onde rezar, mas somente preceituou que se escape da vanglória. Paulo, contudo, exprime-se de forma diversa sobre a oração dos judeus. Vê o que diz: “Orem em todo lugar, erguendo mãos santas”, o que não era lícito aos judeus. Não podiam aproximar-se de Deus, imolar e prestar culto em todo lugar, mas congregados de várias partes do mundo num só local, faziam as purificações no templo. O Apóstolo inclui advertência oposta e liberando desta obrigação, afirma: Entre nós não acontece como entre os judeus. Ordena que se façam orações por todos (uma vez que Cristo morreu por todos, e por todos o apregoo), portanto, em toda parte é bom orar. Doravante nenhum preceito existe a respeito do lugar, e sim relativo ao modo de rezar. Rezar em toda parte, ordena ele, em qualquer lugar levantar mãos santas. Tal a exigência. O que quer dizer: “Santas”? Puras. O que significa: Puras? Não lavadas, mas isentas de avareza, morticínios, rapinas, golpes. “Sem ira e sem animosidades.” O que é isto? Reza alguém com irritação? Significa: Sem recordação das injúrias. Seja puro o ânimo do orante, livre de paixão. Não te aproximes de Deus, trazendo inimizades. Ninguém venha com aversão e animosidade. Qual o sentido da expressão: “Sem animosidade”? Ouçamos. Não duvidemos de que seremos ouvidos. “E tudo o que pedirdes com fé, em oração, o recebereis” (Mt 21,22); e ainda: “E quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe” (Mc 11,23). Eis em que consiste orar “Sem ira e sem animosidade”. E de que maneira, perguntas, posso ter confiança de conseguir o que suplico? Não peças o oposto daquilo que ele está disposto a dar, nada de indigno do Rei, nada de mundano, mas tudo espiritual, aproximando-te sem ira, “erguendo mãos puras e santas”. Santas ao distribuírem esmolas. Se te aproximares deste modo, alcançarás aquilo que pedires. Pois, diz o evangelho: “Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 7,11). Dá aqui o nome de “animosidade” à dúvida.




De modo semelhante, quero que as mulheres se aproximem de Deus “erguendo mãos santas, sem ira e sem animosidade”, não atendam às concupiscências, não roubem, não sejam avaras. O que importa não furtarem elas próprias, se roubarem por intermédio do marido? Paulo exige algo mais das mulheres. O quê? “Que tenham roupas decentes, se enfeitem com pudor e modéstia; nem tranças, nem objetos de ouro, pérolas ou vestuário suntuoso; mas que se ornem, ao contrário, com boas obras, como convém a mulheres que se professam piedosas.” De que roupas ele fala? Da túnica que cobre e orna tudo decentemente e não da indiscreta. A primeira é verdadeiro ornato, esta não. O que dizes? Vens suplicar a Deus e usas ornamentos de ouro e tranças? Vieste participar de um coro? Acaso de uma festa de casamento, de cortejos? Nestas ocasiões utilizam-se objetos áureos, tranças, magníficas vestimentas. Aqui não é necessário. Vieste rezar, suplicar perdão de teus pecados e ofensas, pedir ao Senhor que se torne propício; por que te ornamentas? Não é traje de um suplicante. Como poderás gemer? Chorar? Como orar intensamente enfeitada com tal vestimenta? Se chorares, tuas lágrimas serão ridículas. Não se deve chorar carregado de ouro. Seria encenação e hipocrisia. Não seria teatral derramar lágrimas enquanto a mente concebe tanta magnificência, tanta ambição? Renuncia a esta hipocrisia. De Deus não se zomba. É próprio dos palhaços e dançarinos que passam o dia no teatro. À mulher honesta nada disto convém. “Que se enfeitem com pudor e modéstia.”



Não imites as meretrizes. Pelo aspecto elas enredam os amantes. Muitas mulheres, por causa dos ornamentos, frequentemente se tornaram suspeitas, nada lucraram. Prejudicaram a muitos com esta aparência. Se a impudica se apresentar igual a uma mulher casta, nada lucra, porque um dia tudo tornará público quem julga o que está oculto. Também a mulher casta nada lucrará com a castidade, se pelo ornato das vestes procurar parecer impura. Causará grande dano para muitos. O que me importam, perguntas, as suspeitas alheias? Tu lhes proporcionas uma oportunidade, por causa da veste, do aspecto, dos movimentos. Por isso Paulo falou com insistência a respeito do traje, do pudor. Rejeita o que constitui apenas indícios de riqueza: ouro, pérolas, vestimentas suntuosas; quanto mais o produto de uma arte ociosa, como a pintura, o sombreado dos olhos, o andar elegante, a voz suave, o aspecto flexível e impuro, a apurada forma dos mantos e da túnica, o cinto artificioso, os calçados caprichosamente confeccionados. Ele o deu a entender, nesses termos: “Que se enfeitem com modéstia”, e ao enunciar: “Com pudor”. As atitudes acima não revelam pudor nem modéstia. Tolerai-me, eu vos peço. Se a repreensão consta de palavras claras, não é no intuito de ferir, de entristecer, mas para apartar do rebanho o que lhe é estranho. O apóstolo o proíbe às casadas, às que se entregam aos prazeres, às ricas e ainda mais às que abraçaram a virgindade. E qual a virgem, replicas, que se cobre de ouro? Qual a que usa tranças? Uma veste simples pode ser mais refinada do que outra espécie de traje. É possível que uma veste simples orne mais que a carregada de ouro. Quando a veste for de tal modo cerúlea e com muito cuidado ajustada pelo cinto ao peito quanto a dos dançarinos no teatro, de tal forma que nem seja folgada, nem apertada, mas justa, e drapeada junto do esterno, não será mais apta a seduzir do que muitas vestes de seda? E se as sandálias pretas brilharem assaz, forem ponteagudas, à imitação do belo nas pinturas, de sorte que não atinjam muito o calcanhar? E se não pintares os olhos, mas os lavares com diligência e cuidado, colocares na fronte um véu muito mais alvo que o rosto, sobrepuseres uma mantilha, para que a brancura por meio da cor negra se destaque de forma mais agradável? O que dizer das inúmeras rotações dos olhos? Do cinto, que ora se oculta, ora aparece, cingindo o peitoral? Pois também a este muitas vezes se descobre, mostrando a beleza do cinto, e joga-se a mantilha ao redor da cabeça. As mãos, à semelhança do que usam os atores, tão perfeitamente se cobrem de luvas que estas parecem inatas. O que dizer do andar, e de belos gestos, que mais do que todo ouro podem atrair os espectadores? Temamos, caríssimos, ouvir a palavra do profeta dos hebreus às mulheres, entregues às vaidades exteriores: “Em lugar de cinto, uma corda, em lugar do cabelo encrespado, a calvície” (Is 3,24). Mais atraentes do que os ornatos de ouro são estes, e muitos outros excogitados a fim de serem contemplados e cativarem os espectadores. Não é pecado leve, ou antes, muito grave, que provoca a ira de Deus e arruína o labor da virgindade.


Não nos referimos a todas; ou antes, a todas: às culpadas para se arrependerem; às inocentes, para tentarem corrigir as demais. Mas acautelai-vos! A emenda atinja as obras. Não tencionamos provocar tristeza, e sim corrigir, gloriar-nos por vossa causa. Oxalá todos pratiquemos o que a Deus agrada, e vivamos a fim de glorificá-lo e alcançarmos os bens prometidos, pela graça e amor aos homens de nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual com o Pai, na unidade do Espírito Santo glória, império, honra, agora e sempre e nos séculos dos séculos. Amém.



Educação


Ouvi, pais e mães! Não faltará a recompensa devida à educação dos filhos. Ele o assevera na sequência: “Se tiver em seu favor o testemunho de suas boas obras” (1Tm 5,10), se educou os filhos. Entre outras, refere-se a esta exigência. Não é sem importância consagrar ao próprio Deus os filhos que Ele deu. Com efeito, terão grande recompensa se lançarem bons fundamentos e boa base, bem como terão castigo se forem negligentes. Efetivamente, Eli pereceu por causa dos filhos. Devia repreendê-los. Admoestou, mas não à medida do necessário; como não queria aborrecê-los, causou-lhes a ruína a eles e a si próprio. Ouvi, pais! Instruí vossos filhos na disciplina e avisos do Senhor, com suma diligência.


A juventude é dura e difícil, e precisa de muitos instrutores, mestres, pedagogos, acompanhantes, nutritícios. Mal poderás contê-la apesar de tantos cuidados. A juventude é semelhante a um cavalo indômito e a uma fera selvagem. Se, portanto, colocarmos ótimos limites desde o princípio, desde a tenra idade, não precisaremos depois de muito labor, mas o hábito lhes servirá posteriormente de lei. Não deixemos que empreendam algo que seja agradável e prejudicial ao mesmo tempo, nem os acariciemos como a crianças. Conservemo-los principalmente na castidade, pois o vício oposto é o que mais arruína a juventude. Para tal fim empreguemos muito labor, máxima atenção.


Novamente sobre o sacerdócio e episcopado


Vivamos de modo que o nome de Deus não seja blasfemado. Nem glória humana, nem má fama; em ambas mantenhamos a correta medida. 



“No seio da qual brilhais como astros no mundo” (Fl 2,13). Ele nos deixou para sermos como astros, sermos constituídos mestres dos outros, sermos fermento, viver como anjos no meio dos homens, como homens entre crianças, como espirituais entre carnais, para os lucrarmos, sermos sementes, darmos muito fruto. Não há necessidade de sermão se nossa vida brilhar; são desnecessárias palavras se praticarmos boas obras. Não haveria pagãos se fôssemos verdadeiros cristãos, se observássemos os preceitos de Cristo, suportássemos injúrias, rapinas, abençoássemos quando amaldiçoados, se pagássemos o mal com o bem; ninguém seria tão feroz que não acorresse à verdadeira religião, se todos se portassem desta forma. Para vossa informação, Paulo era um só e atraiu a tantos. Se todos fôssemos assim, quantos mundos não atrairíamos? Eis que os cristãos são mais numerosos do que os pagãos. Nos ofícios, é possível uma só pessoa ensinar a cem crianças; em nosso caso, muitos são os doutores, e bem mais os discípulos, contudo ninguém adere. Com efeito, os discípulos observam se existe virtude nos mestres. Verificando que são idênticos os desejos, que tendemos a igual meta, a saber, o domínio e a honra, de que maneira haverão de admirar o cristianismo? Veem que a vida de muitos é repreensível, e a alma se apega à terra. Admiramos igualmente o dinheiro, ou antes, muito mais; temos com eles horror da morte, medo da pobreza, pavor das doenças, ambição da glória e do poder; atormentamo-nos com o amor do dinheiro, captamos as oportunidades. Donde induzi-los a crer? Pelos milagres? Mas já não acontecem. Pela vida? Mas está estragada. Pela caridade? Mas nem vestígio se encontra. Por essa razão prestaremos contas não só de nossos pecados, mas ainda do dano causado ao próximo. Enfim, arrependamo-nos, sejamos vigilantes, manifestemos na terra cidadania celeste, digamos: “Mas a nossa cidade está nos céus” (Fl 3,20), e aqui mostremo-nos combatentes. Mas, houve entre nós, diz-se, grandes homens. Como posso acreditar? – dirá o pagão. Não vos vejo agindo como eles. Se importa recenseá-los, nós também, dizem eles, temos grandes filósofos, de vida admirável. Ora, apresenta-me outro Paulo, outro João; certamente não é possível. Não se rirá de nós o gentio ao nos expressarmos desta forma? Não persevera em sua ignorância, vendo que nosso raciocínio se baseia em palavras, não em obras? Agora cada um de vós se prontifica a morrer ou matar por causa de uma moeda. Por uma gleba de terra compareces a inúmeros tribunais; pela morte do filho revolves tudo. Omito atos lastimáveis: augúrios, vaticínios, consultas aos astros, horóscopos, emblemas, amuletos, oráculos, encantamentos, artes mágicas. Em verdade, é grave e pode provocar a ira de Deus ousarmos cometer tais pecados depois que ele enviou seu Filho. O que fazer? Nada, a não ser gemer; dificilmente uma minoria resta preservada. Os que se perdem alegram-se ao ouvir que não são os únicos a serem atingidos, e sim a maioria. Mas, que alegria é esta? De fato, por causa desta alegria são punidos.



Os mesmos cuidados às mulheres com a dignidade de diaconisas [São João Crisóstomo, fala de dignidade e não de ordenação (não parece se tratar - somente- da mulher do diácono, de fato, antes remete a alguém com o carisma de servir que ganha respeito - dignidade- com o tempo, munida de uma mente bem instruída na doutrina), em seus comentários, parece ser algo atribuído pelo papel dessa mulher na comunidade com o passar do tempo, à fidelidade no serviço e isso faz com que as pessoas a respeitem pois são sóbrias e fiéis]. 



Em tudo revela-te modelo de boas obras, isto é, sê um exemplo pela vida, um tipo, uma lei viva, uma norma, um exemplar de vida bem vivida. Seja o mestre: “Um modelo na palavra” para falar facilmente; “Na conduta, na caridade, na fé, na pureza” íntegra, na prudência. “Esperando a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, à instrução.” Ordena a Timóteo aplicar-se à leitura. Ouçamos todos, decididos a não negligenciarmos a meditação das divinas Escrituras. Eis ainda: “Esperando a minha chegada” disse. Vê como o consola; é possível tenha ele se queixado de orfandade. “Esperando a minha chegada, aplica-te à leitura” das divinas Escrituras, “à exortação” recíproca, “ à instrução” de todos. “Não descuides do dom da graça que há em ti, que te foi conferido mediante profecia.” Aqui dá à doutrina o nome de profecia.




E depois de dizer isso, adicionou o mais oportuno, que congrega principalmente a Igreja, a saber, as ordenações. “A ninguém imponhas apressadamente as mãos, não participes dos pecados de outrem.” O que significa: “Apressadamente”? Não depois da primeira, nem da segunda ou terceira prova, mas após teres frequentemente observado e examinado com exatidão, porque a questão não é isenta de perigo. Com efeito, terás também tu que lhe conferiste a dignidade, castigo de seus pecados, tanto passados quanto futuros. Por teres de modo inoportuno perdoado os primeiros, serás culpado também dos futuros, de sorte que respondas por eles, visto que lhe conferiste a dignidade; e dos passados, porque não lhe deste tempo de chorá-los e arrepender-se. Partícipe das boas obras, também participas dos pecados. “A ti mesmo, converva-te puro.” Refere-se à castidade. “Não continues a beber somente água; toma um pouco de vinho por causa de teu estômago e de tuas frequentes fraquezas.” Se, porém, exorta a um homem tão dado a jejuns que durante tanto tempo bebera só água a ponto de se enfraquecer, e frequentemente se sentira mal, que seja casto, e ele aceita o aviso, muito mais nós, ao recebermos alguma advertência, não devemos levar a mal. Por que o Apóstolo não lhe fortificou o estômago? Não por impossibilidade, mas por planejar algo de grande. Aquele cujo manto ressuscitava mortos, é claro que teria tal poder. Por que, então, não o fez? A fim de não nos escandalizarmos agora pela doença de pessoas importantes e virtuosas. Seria de proveito a Timóteo. Quando o próprio Paulo foi entregue a um anjo de Satanás, a fim de não se encher de soberba (cf. 2Cor 12,11), muito mais Timóteo. Poderiam os milagres levá-lo à arrogância. Permitiu que recebesse o remédio das normas, para ser humilde. Os demais não se escandalizassem e entendessem que homens de natureza igual à nossa realizavam obras preclaras. Além disso, parece-me que esteve sujeito à doença ainda por outro motivo. Paulo o indica, relembrando as frequentes fraquezas do estômago e outras, sem no entanto permitir que ele se fartasse de vinho, mas apenas quanto favorecesse à saúde e não ao prazer.




Estando a dissertar sobre as ordenações, disse: “Não participes dos pecados de outrem”. E se eu os ignorar? – pergunta. “Existem homens cujos pecados são evidentes, antes mesmo do juízo, ao passo que os de outros só o são após.” Alguns são evidentes porque precedem; outros não, mas vêm em seguida.



O mestre precisa não apenas de autoridade, mas também de grande suavidade, não só de suavidade, mas também de autoridade. 



Sê amigo de todos, manso, amado por todos, a ninguém ofendas em vão e inutilmente, honra o pai, honra a mãe, goza de boa fama, não seja homem, mas anjo. Nada profiras de torpe, nada de falso; nem penses nisto. Auxilia o indigente, não roubes nos negócios, não sejas injurioso, nem ousado; e ninguém ouve. Acaso não é justo infligir a geena? Não é merecido o fogo e o verme que nunca morre? Como nos jogaremos num precipício? Até quando andaremos sobre espinhos? Até quando nos fixaremos com cravos e agradeceremos? Somos submissos a cruéis tiranos, rejeitamos o Senhor benigno, que nada diz de molesto, nada de bárbaro, nada de duro, de inútil, mas tudo útil, conferindo-nos muito lucro e emolumentos. Levantemo-nos enfim, convertamo-nos, arrependamo-nos, amemos a Deus, como devemos, para sermos dignos dos bens prometidos àqueles que o amam, pela graça e amor aos homens de nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual com o Pai, na unidade do Espírito Santo, glória, império, honra, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.  




Segunda Carta a Timóteo


Por que escreveu Paulo a Segunda Carta a Timóteo? Havia dito: “Espero encontrar-te dentro em breve” (1Tm 3,14), mas não lhe foi permitido. Consola-o por carta, quando ele estava triste talvez por ter falhado o encontro, e já assumira o governo. Mesmo os grandes homens, ao assumirem o leme e o governo de uma Igreja passam por novas provações, de toda parte submersos nas ondas dos problemas, principalmente quando se acham no início da pregação, em terreno ainda inculto, cheio de inimigos, e oposição. Não só, mas ainda havia heresias da parte dos mestres judeus, conforme se subentende da primeira Carta. Não apenas o consola por carta, mas o chama para junto de si, nesses termos: “Procura vir me encontrar o mais depressa possível”. E: “Traze-me, quando vieres, os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4,9.13). A meu ver, escreveu esta Carta próximo do fim, pois disse: “Já fui oferecido em libação”. “Na primeira vez em que apresentei a minha defesa ninguém me assistiu” (2Tm 4,6.16). Após, consola-o por meio de suas provações: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus”. Logo desde o início o anima. Não relembres os perigos presentes. Eles nos granjeiam a vida eterna, onde não existem e a qual afugenta a dor, a tristeza e os gemidos. Cristo não nos nomeou apóstolos somente em vista de enfrentarmos perigos, mas também de morrermos, e padecermos. Tendo em mira que a menção de seus males não ocasionava consolo, mas acrescia a dor, começa pelo primeiro: “Segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus”. Se é promessa, não procures a realização aqui na terra: “Ver o que se espera, não é esperar” (Rm 8,24). “A Timóteo, meu filho amado.” Não apenas: “Filho”, mas: “Filho amado”. Existem filhos não amados, mas não és um destes; nem te denomino filho apenas, mas filho amado. Chama os gálatas de filhos, mas a respeito deles se condói: “Meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto” (Gl 4,19). Presta o máximo testemunho sobre a virtude de Timóteo, denominando-o: “Amado”. De que modo? Se o amor não provém da natureza, vem da virtude. Nossos filhos são amados não somente pela virtude, mas também por dever natural. Os filhos amados, segundo a fé, são queridos por causa da virtude. E como ainda? Paulo especialmente nada fazia por inclinação natural. Além disso, ao dizer: “Filho amado”, indica que não foi por ira, desprezo ou reprovação que deixou de ir ter com ele.


Quando o mestre naufraga e se salva, o discípulo adquire confiança de viajar por mar; não imaginará que as tempestades provêm de imperícia, mas da natureza das coisas, proporcionando-lhe não pequeno conforto. Na guerra igualmente, ao tribuno estimula ver o general ferido recuperar as forças. Assim também constitui consolo para os fiéis ver o Apóstolo, em meio a grandes padecimentos, não desfalecer. Se assim não fosse, Paulo não teria narrado o que sofreu. Na realidade, Timóteo ouviu dizer que aquele que tivera tanto poder e submetera todo o orbe estava preso com cadeias e em aflições, e suportava sem irritação o abandono dos seus; se ele próprio houvesse sofrido de igual forma, não consideraria efeito da fraqueza humana, nem de ser discípulo e inferior a Paulo, visto que o mestre tolerava tais males, mas que tudo acontecera segundo a natureza das coisas. Paulo agia assim e narrava suas provações para animá-lo e reconfortá-lo. Uma vez que procedia por isso, tendo narrado tribulações e provas, acrescenta: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus”. O que dizes? Incutindo-nos temor, dizes que estás preso, em aflições, abandonado por todos; e como se dissesses que nada sofreste, e que ninguém te abandonou, retomas: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te”? Certamente, porque recebeste mais força do que o próprio Paulo. Se eu, Paulo, sofro deste modo, muito mais tu deves suportar; se padece o mestre, muito mais o discípulo. E com grande afeto dá avisos, ao dizer: “Filho”; e não só, mas: “Meu filho”. Se és filho, imita o pai; se és filho, fortifica-te com o que eu disse; ou antes, não só pela narração, mas pela graça de Deus: “Fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus”, isto é, pela graça de Cristo. Quer dizer: Sê corajoso, conheces a fileira em batalha. De fato, em outra passagem, ao dizer: “O nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne” (Ef 6,12), não quer assustar, mas incitar. Por isso, diz ele, sê vigilante, alerta, tem contigo a graça do Senhor para lutar e combater; com muito zelo e constância faze a tua parte.





Trechos do livro: Patrística, Vol 27, tomo 3






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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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