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Salus in Caritate

Pintura: Louisa Hammond. Angelica Kauffman (austríaca de origem suíça, 1741–1807). Óleo sobre cobre. The Fitzwilliam Museum. Esta é uma ilustração da Carta XXXIV na obra Emma Corbett, de Samuel Jackson Pratt.






AS Três Vias


Quando nos arredores de Hebron se espalhou a alviçareira notícia do nascimento de S. João Baptista, acorreu todo o vizindário para felicitar o venturoso casal, Joaquim e Anna. Acercavam-se daquele berço e, com a curiosidade natural em tais ocasiões, todos indagavam do futuro daquela criança que tantos prodígios ocasionava ao nascer: Quis puer iste erit — Que virá a ser esta criança?

Senhorita, não sei se o mesmo se terá dado junto ao vosso berço. É de presumir que não; o vosso nascimento, como o meu e os demais, nenhuma particularidade trouxe consigo. Apenas os vizinhos, e de preferência as vizinhas, punham-se a contemplar as minúsculas dimensões do recém-nascido e, para serem agradáveis aos pais, prodigalizavam elogios sem se preocuparem muito com a sinceridade dos mesmos.


Agora, o caso é outro. Passaram os anos, crescestes e, hoje, não há duvidar, muitos perguntam a si mesmos ou aos vossos pais: Mas, enfim, que rumo tomará aquela moça tão distinta? Casará? É tão piedosa, tão recatada... Eu tenho para mim que vá ser freira; aquela piedade na igreja, aquela reserva quanto aos divertimentos profanos bem lhe atraiçoam as intenções... como se, para casar, fosse necessário ser leviana.

 E os pais?

Esses não dizem nada; quiçá nem suspeitam. Creio, porém, que prefeririam vê-la casada.

Como essas pessoas que por vós se interessam e fazem, de vosso respeito, um juízo tão lisonjeiro, também eu ignoro o vosso futuro. Sei que, em todas as donzelas cristãs, há de que fazer grandes e excelentes coisas, quer Deus as escolha exclusivamente para si, como plantinhas humildes e aromáticas de seu jardim — na vida religiosa; quer as destine ao casamento, para fazer delas excelentes esposas e mães de família, de que temos tão grande necessidade nesta hora de deliquescência moral; quer, enfim, as reserve para humildes e devotadas auxiliares, nas paróquias, para a salvação de muitas almas e alívio de muitas misérias físicas e morais do próximo, no mundo.

As que escolhem este último partido, chamam alguns de “solteironas”, e chamo-lhes eu anjos da Providência, se souberem honrar o seu celibato no mundo. Em outro capítulo desta obra, darei a razão da minha divergência.




Muitos pais há que temem ver seus filhos enveredarem pelo primeiro e terceiro destes caminhos e, quando lhes notam piedade um pouco fora do comum, tornam-se apreensivos, fazem todo o empenho para casá-los ou, quando menos, para que fiquem em casa — mas freira ou padre, isso nunca... Tudo o que quiserem, menos padre ou freira.

Com efeito, a maior aspiração dos pais — e notadamente, das mães — e nisto pensam dia e noite, é poderem, mais tarde, embalar os netinhos, com exceção de algumas que também gostam de abraçar os pobres orfãozinhos que não têm outros pais senão os sacerdotes e as religiosas.

Como quer que seja, às mães daquelas que se casam, desejo que Deus lhes conceda muitos anos de vida para que possam embalar os netinhos; mas não devem esquecer que, se o soberano Senhor reservar para si algum dos filhos, não lhes faz injúria alguma — antes, muita honra lhes dá.

A grande questão, porém, aqui — o problema a resolver, antes de mais nada — é este: Qual é a vossa vocação?


O futuro vos inquieta — é natural; nele vistes a vossa felicidade temporal e eterna. Tendes diante de vós três caminhos: o casamento, o celibato no mundo ou o claustro. Trata-se aqui de escolher — e escolher bem e não deveis arriscar-vos por nenhum deles sem madura reflexão. Já pensastes nisso, já refletistes, examinastes e não animas a vos decidir. ‘Se ao menos uma voz do céu me dissesse: casa-te, ou vai para o convento, ou fica onde estás. Porém, nada disso; esses três estados, esses três caminhos vêm a solicitar-me e a assustar-me sucessivamente; enchem-me de angústias, atormentam-me, e eu sofro.’

O casamento não vos sorri. Conheceis talvez lares infelizes, famílias destruídas, esposas enganadas, abandonadas, martirizadas; rapazes levianos, devassos, hipócritas, sem religião, sem moral; moças bonitas, piedosas, ingênuas e inocentes, miseravelmente exploradas, em sua boa-fé; famílias sem moral, onde se ignoram, desprezam e blasfemam os preceitos religiosos.

Esse triste espetáculo vos atemoriza, vos assusta. Ainda assim, porém, o casamento não vos é antipático. Se um rapaz correto se vos apresentasse, dando-vos todas as garantias de vir a ser um bom esposo, estou em que havíeis de proclamar o casamento como o melhor partido a que pode aspirar uma moça.

Mas esse rapaz ideal, onde está? Encontrá-lo-eis? Virá algum dia? Eu não sei. Quer-me parecer até que, se tendes medo ao casamento, é porque o desejais. Note bem: é uma simples suposição minha; não lhe ligueis grande importância. Só vos advirto: não vos caseis unicamente para fazer a vontade aos outros, nem mesmo aos pais. Poderíeis vir a ser muito infeliz. Quem se casa, como quem vai para o convento, deve fazê-lo por vocação, nunca por vontade alheia; o contrário é condenar-se alguém a ser escravo.



Infeliz de vós se vos casardes só para ser agradável a vossos pais. Quando houverdes saboreado as amarguras dessa escravidão, que só acaba com a morte; quando naquele a quem, impelida, vos entregastes, descobrirdes uma criatura essencialmente egoísta; quando, uma após outra, se forem dissipando todas as ilusões da mocidade; quando verificardes que aquele castelo tão bem arquitetado não passa de uma miserável vivenda, onde o enfado e a soledade são os vossos únicos companheiros — ai, então, minha filha, não sei que vos diga... parece-me até que vos estou vendo, debulhada em pranto, a suspirar como se Deus vos houvera abandonado.

É para vos livrar dessa desgraça que torno a repetir-vos: não decidais da vossa vida unicamente para ser agradável aos demais, por maior acatamento que vos mereçam.



Mas prossigamos.



O celibato no mundo não deixa de ter seus atrativos. Ama-se a liberdade, a fraternidade e, quiçá, até mesmo a igualdade. A mulher celibatária no mundo não tem que separar-se dos seus, pode servir a Deus como bem lhe aprouver; pode, à vontade, desvelar-se no alívio das misérias do próximo; sua alma, cheia de zelo e piedade, pode livremente correr para a chama da caridade. Tem, entretanto, contra si aquela palavra envenenada que faz rir a muitos e serve de argumento às mães quando querem afastar as filhas daquela vida intermediária entre o matrimônio e o claustro — aquele nome que vos assusta: “solteirona”.

É incrível o poder dessa palavra malsinada. Se, como muitas solteiras o merecem, lhes chamassem devotas, heroicas, anjos tutelares dos pobres e das boas obras, arrimo de pais velhos, mães dos orfãozinhos — então, não haveria tanto horror a esse estado. Antes, muitas o haviam de abraçar, para não caírem nas garras dos caçadores de dotes.



A vida religiosa tem para vós maiores atrativos, quiçá. Cuidais que lá estareis mais segura, que sereis mais feliz; mas... traz consigo a separação dos entes queridos. Tudo e todos os que vos rodeiam parecem pedir-vos que não enveredeis por esse caminho.

Aliás, se vos inclinais para aquele estado, é talvez apenas porque, no convento, cantastes os que amais e vos amam, ou porque vos pintaram a vida religiosa com belas cores, como se lá houvesse rosas sem espinhos.

Como quer que seja, ainda desorientada, inclinada a perguntar — sem obter resposta: Que farei?

Sossega, minha filha: sereis o que Deus aprovar. E, enquanto Deus não se manifestar, enquanto não chegar a hora feliz, não vos fieis no que haveis de fazer.

Orai. O momento mais propício é o da santa missa e da sagrada comunhão. Aproveitai esses momentos para oferecer a Deus a vossa vida, pedindo-lhe que vos aceite ao seu serviço, quando e como Ele melhor o entender e o julgar útil para sua glória e vossa felicidade eterna — duplo fim que nunca deveis perder de vista.

2º — Escolhei um bom guia ou diretor espiritual e exponde-lhe, com ingênua sinceridade também, as vossas aspirações, dúvidas e temores, inclinações e perplexidades. Cedei-lhe o lema de vossa alma e averiguai se entre os escolhidos da vida: confiai-vos à sua prudência e piedade.

3º — Não vos deixeis influenciar demasiadamente por pessoas estranhas à vossa missão, mais interessadas do que pensais, quer essa influência provenha de uma mãe, quer de uma amiga casada ou religiosa. Sede senhora de vós mesma e não tomeis nunca uma resolução definitiva só para ser agradável a outros.

4º — Refleti seriamente e, para que o possais fazer com pleno conhecimento de causa, lede algum bom livro que vos instrua convenientemente sobre os três estados a que pode aspirar uma moça. Deixastes há pouco o colégio e vindes com um grande sortimento de prêmios. Suponho que as vossas preceptoras vos terão dado algum livro que vos sirva de guia e vos ilumine a inteligência, na escolha do vosso futuro. Assim o suponho, pois não posso crer que elas julguem do valor de um livro pela encadernação mais ou menos rica, mas pelo conteúdo. Não creio que vos hajam atraído ao torvelinho do mundo, cegas e inconscientes, ignorando tudo quanto uma moça deve saber para que possa defender-se das astúcias diabólicas que, lá fora, as esperam.

Mas, se não vos deram esse livro, peço ao vosso diretor e suppri, vós mesma, essa lacuna — esse esquecimento imperdoável de vossas preceptoras, que preferiram dar-vos livros insípidos, artisticamente encadernados, que nunca abris... e fazeis bem.




5º — Esperai com paciência e sofrei resignadas, em silêncio.


Não confieis as vossas mágoas senão a Nosso Senhor, à Santíssima Virgem e ao vosso diretor espiritual. A vossa cruz é pesada e não me admira que, por vezes, vos arranque lágrimas. Carregai-a com resignação, fazendo a vontade de Deus, para merecerdes a graça de seguir generosamente a Nosso Senhor Jesus Cristo.


Sim, se é vontade de Deus que vos santifiqueis — que vos salveis desse modo — dizei de todo o coração: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra. Umas conquistam o céu trabalhando; outras, gemendo enfermas no fundo de uma cama; outras, como esposas e mães dedicadas; e ainda outras, como religiosas, em um convento. Vós, minha filha, santificai-vos esperando com paciência e repetindo muitas vezes:

Senhor, não se faça a minha vontade, mas a vossa.

Assim seja, não é, minha filha?

Pobre alma aflita, tende coragem e ânimo; amanhã o sol aparecerá mais claro, dissipar-se-ão as nuvens, ou serão, quando menos, mais transparentes, permitindo-vos contemplar o céu.


NYSTER, J. Quando eu for moça. Porto Alegre: Centro da Boa Imprensa, 1925.

Escrito como pseudônimo. É possível que se trate de um sacerdote, educador ou escritor católico da primeira metade do século XX, vinculado ao movimento de imprensa católica no Brasil — especialmente considerando o estilo da obra, seu conteúdo formativo e a editora responsável (Centro da Boa Imprensa, ligada à Arquidiocese de Porto Alegre).





Orientação da Preceptora

Segue a lista de livros úteis, que devem ser lidos obrigatoriamente (independentemente da sua inclinação pessoal para uma das três vias vocacionais) antes da decisão:


AGOSTINHO, Santo. Dos bens do matrimônio; Da santa virgindade; Dos bens da viuvez: cartas a Proba e a Juliana. Tradução de Gelson Silva. São Paulo: Paulus, 2001. (Coleção Patrística, v. 16). Disponível aqui.


AGOSTINHO, Santo. A virgindade consagrada. Tradução do original latino De sancta virginitate por Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Edições Paulinas, 1990. ISBN 85-05-01119-8. Disponível aqui.


BARROS, Ana Paula. Consagrados: sobre o celibato leigo. [S.l.]: Salus in Caritate, 2021. Disponível em: Consagrados: sobre o Celibato Leigo – Salus in Caritate. Disponível aqui. 


CHAVEUT, Maria Luiza. A virgem cristã na família e no mundo. [S.l.]: [s.n.], 1927. > Obra rara sobre celibato leigo feminino. Recomendável consultar bibliotecas especializadas ou acervos digitais católicos.


Professora Ana Paula Barros






São Jerônimo e o Anjo. Ribera, 1626.



Compêndio de Teologia Ascética e Mística de Adolphe Tanquerey - Estrutura Literária e Formação Espiritual na Tradição Cristã

Professora Ana Paula Barros¹



1 – Introdução

A produção literária de cunho espiritual no período do Renascimento e da Idade Moderna caracteriza-se pela elaboração de tratados voltados à orientação do fiel na busca da perfeição cristã. Nesse escopo, Ascética e Mística constitui uma síntese de reflexão teológica e prática moral.

Sua linguagem possui uma estrutura pedagógica. A clareza expositiva da obra favorece sua recepção como instrumento formativo, o que contribui para sua relevância acadêmica e pastoral.

Nesse sentido, a complementaridade entre ascese e mística – conforme destaca Garrigou-Lagrange ao afirmar que “a ascese prepara o terreno, a mística é a flor que desabrocha” – estrutura a proposta do tratado. A obra será analisada a partir de duas dimensões principais: os aspectos estilísticos da escrita e os princípios pedagógicos da leitura espiritual.




2 – O Estilo Literário




A obra Ascética e Mística insere-se em uma tradição literária que, entre os séculos XVI e XVIII, apresenta uma linguagem marcada por clareza expositiva e pedagógica. Destaca-se, ainda, pelo uso da linguagem mística. Conforme Velasco (2000), essa linguagem emerge da experiência e busca expressar o inefável por meio de imagens discursivas. Nesse sentido, expressões como “noite dos sentidos” e “matrimônio espiritual” não apenas ilustram estados espirituais, mas funcionam como mediações entre o divino e a mente do leitor. O símbolo, segundo Le Fort (1953), ao contrário do conceito abstrato, preserva a densidade do mistério e favorece a abertura à transcendência.

Por fim, a obra adota estratégias retóricas que asseguram sua conformidade com os parâmetros doutrinários da época. Timoner (2013) destaca que os autores místicos frequentemente recorriam a construções discursivas que legitimavam suas exposições diante da autoridade eclesiástica, mantendo a fidelidade teológica durante a narração de acontecimentos espirituais.


“A linguagem mística é subversiva por natureza, pois expressa um conhecimento individual do divino” (TIMONER, 2013, p. 82).


3 – Estrutura Temática da Obra


A leitura espiritual pode ser compreendida como uma “prática de si”, na medida em que opera como um exercício. Nesse contexto, o texto sagrado ou doutrinal deixa de ser apenas objeto de decodificação e passa a atuar como mediador de um processo formativo contínuo.

A leitura espiritual, desse modo, configura-se como um processo dialético entre texto e leitor, no qual o conteúdo doutrinal é assimilado não apenas como conhecimento, mas como princípio ativo e efetivo de mudança interior.

A obra Ascética e Mística apresenta uma organização sistemática que reflete a tradição da teologia espiritual clássica. Sua estrutura é dividida em dois grandes blocos doutrinários — a teologia ascética (teologia sobre a firme disciplina) e a teologia mística (teologia do indecifrável) —, os quais se desdobram em capítulos temáticos que acompanham o desenvolvimento progressivo da vida interior.



3.1 – Parte I: Teologia Ascética


A seção sobre ascética compreende os fundamentos da vida espiritual e os meios ordinários de santificação. Os capítulos estão organizados de forma a conduzir o leitor desde a conversão inicial até a maturidade nas virtudes cristãs. Os principais temas abordados incluem:

  • Fundamentos da vida espiritual: natureza da graça, finalidade da vida cristã, papel da vontade e da liberdade.
  • Combate espiritual: luta contra o pecado, domínio das paixões, tentação e vigilância.
  • Prática das virtudes: fé, esperança, caridade, humildade, obediência, mortificação e pureza de intenção.
  • Meios de santificação: oração vocal e mental, exame de consciência, direção espiritual e frequência aos sacramentos.

Essa parte da obra tem caráter formativo-pedagógico, sendo destinada à purificação da alma e à conformação da vontade aos princípios evangélicos.




3.2 – Parte II: Teologia Mística



A seção sobre mística trata das etapas superiores da vida espiritual, caracterizadas pela ação direta da graça e pela experiência da união com Deus. Os capítulos abordam:

  • Graças místicas: contemplação infusa, dons do Espírito Santo, consolações e aridezes espirituais.
  • Fenômenos extraordinários: êxtases, visões, locuções interiores, discernimento dos espíritos.
  • União: estado de perfeição, abandono à vontade divina, vida em Deus.

Essa parte da obra exige maior maturidade espiritual e teológica, pois trata de experiências que ultrapassam a capacidade discursiva e requerem discernimento e o acompanhamento de um diretor espiritual.



3.3 – Considerações Didáticas


A divisão temática da obra permite sua utilização tanto em contextos formativos (seminários, noviciados, cursos) quanto em estudos acadêmicos de teologia e literatura religiosa. A progressão dos capítulos visa conduzir o leitor da disciplina ascética à contemplação mística, ao menos no conhecimento teórico, respeitando o ritmo da graça e a liberdade interior, no nível prático.

A liberdade interior corresponde à capacidade do sujeito de pensar e agir de forma coerente, sem submissão a pressões externas ou condicionamentos sociais. Constitui-se como um estado de autonomia psíquica, em que o indivíduo identifica e supera limitações internas, como medos, impulsos ou vícios. Essa liberdade depende do desenvolvimento da consciência, da autorreflexão e do autoconhecimento. Epicteto e Viktor Frankl evidenciam que, mesmo sob coerções severas, o ser humano mantém a faculdade de decidir sua postura diante dos fatos. Portanto, a liberdade interior, que também pode ser nomeada como independência intelectual, é um componente de radical importância no que tange ao caminho ascético-místico.



4 – Considerações Finais



A obra Ascética e Mística é um manual de teologia espiritual estruturado em duas partes complementares: a disciplina espiritual e a união mística com Deus. Sua contribuição se dá na sistematização clara e didática dos percursos da vida espiritual, com base em fundamentos doutrinários da tradição cristã.

O estilo adotado, marcado por clareza expositiva e uso controlado de simbolismo teológico, favorece a leitura educacional. O texto mantém alinhamento com tratados clássicos da espiritualidade, como os de São João da Cruz e Fray Luis de León, ao mesmo tempo que apresenta organização e linguagem adequadas à formação pastoral e acadêmica.

A articulação entre ascese e mística, ou seja, entre firme disciplina e união mística, entre educação do corpo e elevação espiritual, representa o eixo da proposta espiritual desenvolvida na obra, contribuindo para sua permanência como referência nos estudos teológicos e literários.

A citação de Karl Rahner — “o cristão do futuro será um místico ou não será cristão” — reforça o valor da obra, independentemente da linha teológica e pastoral (moderna ou tradicional) adotada pelos mais variados grupos dentro do catolicismo.





Referências:


EPICTETO. Manual de Epicteto. 

FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 2008.

GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. As três idades da vida interior: prelúdio da vida eterna. São Paulo: Cultor de Livros, 2013.

LE FORT, Gertrud von. A mulher eterna. Tradução de Emérico da Gama. Rio de Janeiro: Agir, 1953.

RAHNER, Karl. O cristão do futuro será um místico ou não será cristão. In: ____. Espiritualidade e liberdade. São Paulo: Paulus, 2005.

TIMONER, Gerard Francisco. A linguagem mística como subversão: entre o inefável e o simbólico. In: Mística e Teologia: desafios contemporâneos e contribuições. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2013. p. 78–83.

VELASCO, Juan Martín. El fenómeno místico: estudio comparado. Madrid: Trotta, 2000.






¹Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

Totus Tuus, Maria (2015)





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Quais são os meios imediatos de adquirir e de conservar a autoridade? São seis os princípios:

1º – É preciso falar pouco. 
2º – É preciso usar de autoridade com discrição. 
3º – É preciso ser claro. 
4º – É preciso tomar a sério o que se diz. 
5º – É preciso exigir uma obediência imediata. 
6º – É preciso manter a firmeza até ao fim.


Qual o sentido desta fórmula: é preciso falar pouco? 
É preciso intervir raramente.

Seria, com efeito, desastroso não permitir e não deixar passar nada. Alguns pais falam sem descanso, tanto para mandar quanto para proibir ou aconselhar:

– Pedro, tem cuidado, não caias. 
– Olha bem. 
– Olha para a frente.
 – Não vás tão depressa.
 – Aí vem um carro. Etc.

A criança acaba por não prestar atenção às recomendações que se lhe fazem. Os próprios pais não dão importância ao que dizem e, quando querem fazer valer sua autoridade, compreendem que esta está irremediavelmente perdida.



2º – É preciso usar da autoridade com discrição

"Todo o excesso é um erro. Eis uma afirmação que se faz a cada passo, e cujo sentido nunca se põe em prática." (La Fontaine)

O que é preciso fazer para praticar a discrição no exercício da autoridade? 

1º – É preciso que a autoridade intervenha raras vezes.

“É preciso mandar poucas vezes, mas formalmente, a fim de deixar à criança, sem risco para ela e sem perigo para a autoridade dos pais, o máximo de liberdade possível. Afrouxam-se as rédeas ao cavalo quando se sabe que se pode segurar a tempo, ao passar ao longo dos precipícios do caminho; não se tem constantemente preso, nem sob a ameaça do látego, o cão fiel, acostumado a obedecer à voz do dono.” (F. Nicolay, ob. cit., p. 142)

2º – É preciso não empregar a autoridade senão com conhecimento de causa: quer dizer, em casos que valham a pena e em ordens cuja sensatez e oportunidade sejam indiscutíveis.

É uma situação lamentável, difícil e geralmente sem saída honrosa a de alguns pais obrigados, pela imprudência, a recuar, se quiserem ser razoáveis, ou a comprometer-se seriamente por bagatelas ou erros, se quiserem salvaguardar sua autoridade.



3º – É preciso ser claro

Em que sentido se deve tomar esta recomendação? Em dois sentidos:

1º – Quando se ordena, é absolutamente necessário saber claramente o que se quer.
2º – Quando se ordena, é indispensável exprimir a vontade em termos claros, que não deem margem a equívocos nem erros de interpretação. Muitas vezes, num grupo de crianças, a obediência não é pronta nem rigorosa porque as ordens não foram claras: elas não compreenderam.
4º – É preciso tomar a sério aquilo que se diz.


Há, então, pais que não tomam a sério aquilo que dizem? Pode ser que o tomem a sério, mas um certo número deles não o demonstra.

Ordenam e ameaçam de tal forma que nem eles próprios, nem – com mais razão – as crianças, prestam atenção às ordens dadas; e assim, não se dá importância ao que se diz, promete ou ameaça.

Fala-se com aquele tom de indiferença usado ao cumprimentar alguém casualmente: 
– "Como tem passado?" Pensa-se tão pouco no que se diz que, se a pessoa cumprimentada tivesse estado doente, julgar-se-ia indelicado não ter perguntado por sua saúde.



5º – É preciso exigir uma obediência imediata

O que se deve pensar da obediência demorada? 
A obediência que obriga à repetição da ordem já não é obediência; deve ser tratada como desobediência.

Quantos pais, entretanto, resignam-se a repetir duas, três ou mais vezes as ordens que dão aos filhos. E, acompanhando as repetições com as palavras “imediatamente” e “depressa”, não percebem – ou não querem perceber – que estão em contradição consigo próprios, perdendo a autoridade.

É verdade que há nisso uma aparência de vantagem: pois, sendo a obediência à quinta intimação considerada ainda uma obediência imediata, não há motivo para castigo. Mas é pura ilusão: falta-lhe uma qualidade essencial – a prontidão.

Tiago é mal mandado e choraminga constantemente. A mãe, agastada: 
– "Se não te calas num minuto, comerás sobremesa no prato de sopa!" (É o castigo que Tiago mais teme.) 
– "Não me ouviste?" 
– "Sim, mas sei bem quanto é um minuto, e que posso chorar ainda mais um bocado..."


Esse exemplo, absolutamente autêntico, mostra que as crianças abusam da fraqueza dos pais.

Que outro inconveniente há na obediência que discute? 
É ainda mais grave do que a obediência demorada. É o vício da educação sentimental:

– Luís, leva tua capa.
 – Não vale a pena, mamãe.
 – Olha: o céu está se nublando; o vento sopra de oeste; o barômetro baixa; faz o que te digo. 
– Mamãe, tenho certeza de que não chove.
– Na quinta-feira, foste ver teu tio sem capa; choveu, e voltaste todo molhado.
 – Sim, mas no domingo a mamãe me obrigou a levá-la, e o tempo estava lindíssimo.

E se a mãe, por fim, se impõe:

– "Sabes que me mortificas com as tuas reflexões? Leva a capa, que mando eu."

Para quê todas as divagações meteorológicas? (Nicolay, ob. cit., p. 170)




6º – É preciso ir até ao fim

Como proceder praticamente para tirar proveito deste conselho? Nunca se devem fazer concessões ou transigir. A criança deve saber, sem sombra de dúvida, que aquilo que foi ordenado deve ser cumprido sempre, custe o que custar.

Qual é a importância desta firmeza? É capital. O sistema das concessões compromete ou arruína a autoridade.

Se uma recusa não for definitiva, se um “não” puder tornar-se um “sim”, a criança empregará todos os meios – até os mais violentos – para apressar a submissão do pai ou da mãe.

Que ninguém se iluda. Não se trata de brinquedos ou guloseimas. Trata-se, acima de tudo, da própria autoridade dos pais. É sobre isso que a luta se trava nos pequenos incidentes da vida cotidiana.

Se os pais cedem, caminham para a impotência. A criança se encorajará a cada concessão conquistada. Se forem firmes, se domarem a criança e a constrangerem com resolução, manterão sua autoridade e serão obedecidos.

Qual é o risco dessa firmeza? 
1º – São as lágrimas e os arrufos. Mas é preciso não ceder nunca.

 “Não se receiem as lágrimas nem as cóleras das crianças. Conheceis o provérbio inglês: ‘Ventos de março e chuvas de abril trazem flores de maio’. E eu acrescentarei que as flores de maio trazem os frutos de setembro.”  (Mademoiselle Thérèse Alphonse Karr).

2º – São também as meiguices. A criança percebe que a mãe é sensível a beijos, abraços, palavras carinhosas… Usa disso como moeda de troca pela sua independência. E nisso encontra, como a própria mãe, uma satisfação de afeto e delicadeza.


*Mademoiselle Thérèse Alphonse Karr, leiga celibatária, foi uma escritora francesa do século XIX, ativa por volta de 1835 a 1897. Ela é conhecida principalmente por sua obra Contre un proverbe, publicada em 1865 e obra Dieu et ses dons: cours d'instructions religieuses offert à la jeunesse (“Deus e seus dons: curso de instruções religiosas oferecido à juventude”, publicada em 1864. O conteúdo do livro é voltado à formação religiosa cristã de jovens, com forte ênfase na doutrina católica.




BETHLÉEM, René de. Catecismo da educação. 1. ed. São Paulo: Castela, 2023.


Abade René Bethléem, um sacerdote católico francês nascido em 1850 e falecido em 1950. Ele foi ordenado padre em 1895, na Diocese de Lille, e é conhecido por sua atuação como educador e autor de obras religiosas voltadas à formação moral e pedagógica da juventude
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Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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