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Salus in Caritate

Cultura Católica





Transcrição em partes da aula: Letras, mercado e política ministrada pela professora Ana Paula Barros em 23 de nov. de 2024 .Aula disponível na íntegra aqui com link para o mapa mental na descrição da aula (sugerimos fortemente a escuta da aula na íntegra).



Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.


Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.


Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.


Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.


Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.


Guardar - Antônio Cícero




Gostaria de conversar sobre alguns assuntos que, à primeira vista, podem parecer aleatórios, mas que, na verdade, estão interligados e são de grande relevância. Minha intenção é gerar reflexões e, quem sabe, promover uma mudança de conduta.


Para começar, quero destacar que boa parte deste cenário se desenrola no campo da produção cultural. Esse campo abrange livros, filmes, séries, documentários e, inevitavelmente, a questão editorial e cinematográfica. Quem sabe, no futuro, também incluamos produções culturais em museus e algo relacionado à arte e ao patrimônio, mas ainda não chegamos a esse ponto.

É importante observar o cenário editorial no Brasil. Este tema está em alta por causa da lei que estabelece um preço fixo para os livros durante um ano, sem que nenhuma plataforma possa alterá-lo.

Nos anos 2000, vivemos a era das Meg Stores. Trabalhei em uma Meg Store de grande porte, cuja sede de referência estava na minha cidade. Era uma rede de franquias onde as lojas deveriam ser mais ou menos iguais, mas esta, em particular, era grandiosa. Para vocês terem uma ideia, havia um Gollum em tamanho real e uma árvore feita por um artista plástico. Tudo ali era mágico, bonito e empolgante.

Cresci dentro dessa livraria, começando a trabalhar lá aos 15 anos e saindo apenas ao final da minha primeira faculdade. Isso me deu uma noção do que é o livro no contexto do antigo livreiro, que via o livro como algo nobre. A dona da loja sempre dizia: "livro é nobre". Esse respeito pelo livro permeava tudo, inclusive a dinâmica que os leitores seguiam para consegui-los. Pertenci ao setor de encomendas de livros, onde buscávamos volumes tanto para quem sabia todos os detalhes quanto para quem dizia: "É um livro de capa azul, de mais ou menos tal autor".

O que me interessava profundamente era a dinâmica dos pesquisadores. Eles não eram apenas leitores, mas pessoas que faziam mestrado e doutorado e precisavam de livros específicos para suas pesquisas, às vezes sem saber se seriam úteis, mas aos quais precisavam ter acesso. Lembro-me de encomendar livros para capuchinhos e para pessoas que desenvolviam projetos de pesquisa, tanto em editoras nacionais quanto internacionais.

Minha primeira formação ocorreu em um contexto de extremo respeito ao leitor, ao livro e, principalmente, ao autor. O livro não existe sem o autor. E nesse cenário de Meg Store, havia um comprometimento genuíno dos proprietários em transformar aquele espaço em um lugar de formação e enriquecimento, tanto para os frequentadores quanto para os funcionários. Sei que nem todos tiveram experiências positivas em Meg Stores, mas essa foi a minha realidade.

Para mim, era um ambiente desafiador devido ao grande fluxo de pessoas. A Meg Store, integrada ao shopping, permitia que pessoas de diferentes condições financeiras tivessem contato com livros e materiais de forma acessível. Isso, para mim, representa um benefício social significativo.




Sei que há toda uma discussão sobre o dinheiro envolvido. Era muito dinheiro. Muitos daqueles livros eram consignados. Aqui, acho que posso entrar na questão administrativa da Meg Store para que você, que talvez seja mais jovem, compreenda melhor...

Entenda como funcionava: o livro chegava consignado. A editora emprestava o livro para a livraria, que o vendia e depois repassava o valor para a editora referente ao que tinha sido vendido, devolvendo os livros que sobravam. Dentro dessa dinâmica de uma Meg Store que recebia muitas pessoas, muitas delas com o péssimo hábito de roubar, podia-se perder exemplares. Muitas vezes, algumas dessas Meg Stores não repassavam o valor dos livros perdidos e, às vezes, sequer repassavam o valor dos livros vendidos.

Assim, muitas editoras ficavam reféns da Meg Store. Você perceberá adiante na minha reflexão que essa dinâmica mudou um pouco, mas ainda permanece em parte. A editora era refém da Meg Store, e o autor era refém da editora. Hoje, a editora não é refém de nenhuma Meg Store, graças às plataformas online e à possibilidade de construir uma imagem própria, mas o autor continua sendo refém da editora. Quando digo refém, refiro-me a um refém financeiro, não criativo, onde este agente pode tanto retribuir quanto ludibriar ou enganar no sistema.

Então, veja bem: a Meg Store era, para quem nunca conheceu, uma estrutura grandiosa que combinava livraria, games e papelaria. A livraria se dividia em várias áreas, incluindo um setor dedicado ao público infantil, que normalmente tinha um ar mais mágico do que o restante da Meg Store. Não era toda Meg Store que tinha esse aspecto mágico, mas a que eu trabalhei tinha, por causa do interesse de um dos donos pelo mundo fantástico. Essa árvore que saía do chão e entrava pelas paredes lembrava um pouco a árvore do Castelo Rá-Tim-Bum, algumas árvores de histórias como "O Senhor dos Anéis" ou a árvore onde Alice se reclinou para dormir antes de cair no buraco. Eram lugares e elementos que remetiam a portais que sempre apareciam em algum nível dentro do mundo fantástico. A área infantil também era assim. Depois, essa área foi transformada em um lugar com vários setores coloridos, onde cada cor representava uma faixa etária, e os materiais, livros e brinquedos eram separados nesses nichos enormes e coloridos que ocupavam um setor inteiro. O consumidor podia chegar e solicitar um material por idade, e teria um setor inteiro dedicado a essa faixa etária.

Os brinquedos desse setor... Posso compartilhar o quanto esse empresário estava à frente de seu tempo. No começo dos anos 2000, ele trouxe brinquedos que tinham a característica dos brinquedos europeus: feitos de madeira, educativos, com cores suaves e um forte caráter artesanal. Ele trouxe várias dessas empresas, muitas delas estrangeiras, e também conseguiu contato com várias empresas de artesãos de brinquedos brasileiros para fazer uma curadoria importante e abrangente de brinquedos dessa categoria para todas as idades. Não eram apenas brinquedos das grandes empresas já estabelecidas, como os americanos, que muitas vezes ainda hoje são caros e ultrapassados. Ele conseguiu quebrar isso, trazendo tanto novos lançamentos americanos quanto brinquedos com características europeias ou brinquedos brasileiros artesanais de alta qualidade. Era uma administração muito além do que uma Meg Store comum oferecia.





Agora, vale fazer uma pequena viagem pelo mercado editorial e pela precificação dos livros. Eu disse que comecei a trabalhar nessa livraria aos 15 anos e, até hoje, trabalhei em todas as áreas imagináveis do cenário editorial. Já trabalhei na edição, como chefe de editora, na revisão, tradução, como autora, enfim, tanto no físico quanto no digital. Então, acredito ter uma bagagem sólida. Tenho 37 anos e posso oferecer algumas orientações e informações a respeito desse setor.


O preço do livro é estabelecido da seguinte forma, e isso não mudou; o que mudou foram os agentes que participam da precificação. A editora pode ter uma gráfica própria ou contratar uma gráfica. Se a editora possui uma gráfica, essa dinâmica se torna mais barata, já que não precisa terceirizar o serviço. De modo geral, até 2017, algumas edições de capa mole com orelhas, imagens coloridas dentro do livro, de tamanho convencional (nem pocket, nem grande), poderiam sair de uma gráfica com 150 a 200 páginas, por cerca de R$ 9 a R$ 12. Se o livro fosse de capa dura, com muitas imagens, o custo seria maior. Esse preço é o preço de custo. A editora, então, acrescenta 100% em cima. Se o livro saísse a R$ 9, a editora vendia por R$ 18.

É importante considerar que, se o valor do livro aumenta na gráfica, por exemplo, se a editora precisar pagar mais pelo papel, esse valor pode aumentar ainda mais. Isso ocorre porque a editora continua aplicando a margem de 100% em cima do novo custo. Portanto, o valor do livro aumentou não só porque o preço do papel aumentou, mas também porque todos na cadeia de produção e venda mantêm a dinâmica de acrescentar 100% ou mais em cima.

Por exemplo, suponha que o custo de R$ 9 aumente para R$ 10. A editora pode vender o livro por R$ 20 para compensar o aumento do custo do papel. Quando a editora passa o livro para a livraria ou distribuidor (que pode ser um gestor de sites ou um site específico), esse site ou livraria acrescenta mais 100% em cima. A livraria pode adicionar até mais que 100%, como 120%. Alguns sites aplicam 120% ou 130% de margem em cima do custo original, para cobrir o valor de custo mais a margem de lucro desejada.

Então, com o preço que está sendo vendido hoje, um livro simples de 150 a 200 páginas, que sai da gráfica entre R$ 9 a R$ 12, pode ser vendido ao consumidor final por R$ 40 ou mais. O que vale a pena considerar é que, em nenhum momento, mencionamos a pessoa que fez esse material: o autor. Isso significa que a cadeia está ganhando, mas o valor pago ao autor não mudou significativamente desde os anos 2000. O autor continua recebendo uma margem muito pequena do preço que você paga por um livro físico.

Para esclarecer, vou fazer um comparativo entre o digital e o físico. Se um autor vende seu material pela Hotmart, por exemplo, ou qualquer site similar (existem vários), a Hotmart fica com uma porcentagem. Vamos supor que um livro digital seja vendido por R$ 27; a Hotmart fica com R$ 9 e o autor com R$ 18. O mesmo valor aplicado na Amazon: um livro digital vendido a R$ 27, a Amazon fica com R$ 18 ou R$ 17,80 e o autor com R$ 9 ou R$ 8,20.

Agora, considere a diferença entre um setor e outro. Um livro físico, vendido pelo preço que você vê nos sites, dá ao autor uma margem muito menor. Hoje, quando um livro é vendido por R$ 58 a R$ 60, o autor ganha entre R$ 4 a R$ 6 por livro, ou às vezes menos, como R$ 2. Além disso, o autor é frequentemente induzido a fazer uma "caixinha de doação" para a editora, que já está lucrando bastante. Por quê? Porque, já que o autor recebe tão pouco, ele é induzido a deixar essa margem para a editora em prol da alta cultura, da vida intelectual, da propagação da educação e do livro. O autor tem que amar seu trabalho e trabalhar por amor, enquanto o restante da cadeia trabalha por dinheiro.

Estou contando isso para que você possa ter algumas informações e reflexões sobre o ato de comprar o livro de um autor, achando que está beneficiando o autor, mas na verdade está enriquecendo alguém no meio do caminho que não valoriza o autor. E aqui chegamos ao meu ponto.

O cenário, tanto católico como não católico, tende a nos apontar que devemos valorizar a alta cultura e a elite produtora dessa alta cultura. Devemos ter uma vida intelectual e incentivar outros a também terem uma vida intelectual. Mas quem realmente faz a alta cultura? Se voltarmos a Platão, veremos que os verdadeiros políticos da pólis são os autores, filósofos, escritores, artistas e poetas. Isso significa que os verdadeiros políticos são aqueles que produzem a alta cultura. Veja bem, não é o setor administrativo, muito menos o setor de negociação, que faz a alta cultura. É aquele que cria o material.

Dentro dessa dinâmica, tanto no meio secular quanto no cristão, o autor, o artista, o poeta e o escritor são desvalorizados. Muitas vezes, não paramos para pensar o quanto é grave quando existe um nicho que diz ter metas cristãs, mas na verdade replica as injustiças do meio secular. Essa réplica tem várias camadas. Uma delas é a questão não só da desvalorização, mas da superexploração do autor e não só do autor, mas também do revisor, do tradutor, enfim.

A maioria das editoras fatura em cima de autores mortos. Cecília Meireles falou sobre essa dinâmica das editoras de superfaturar em cima de autores mortos. Não é difícil lembrar de alguém que faleceu e, de repente, surgem biografias, relatos, livros de frases, memórias e cartas. O mercado editorial usufrui e suga o autor enquanto ele está vivo, pagando mal ou não pagando, e depois usufrui dele morto. Nesse momento, você consegue perceber com clareza o quanto o mercado é desleal, cretino e injusto.

Isso me leva ao tópico de que talvez seja importante saber que boa parte do que você vê nas redes sociais e dessa sensação de que o meio está cristianizado, e que os valores estão sendo propagados, é um engodo. Na verdade, muitas dessas dinâmicas são baseadas e replicadas do secular. Não aconteceu o aspecto importante, que é o sinalizador da verdadeira cristianização, da verdadeira catolicidade, que é cristianizar todos os processos.





Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?


Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.


Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.


Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.


Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.


Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com êle me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.


Sua côr não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


A flor e a náusea - Drummond







Nossa, esse processo tem toda a aparência de ser uma canalice. É uma boa maneira de começar essa reflexão. Gostaria de pontuar que são raríssimos os lugares que fazem esse tipo de reflexão. Se você tem uma percepção baseada nesse verniz de catolicidade, acreditando que as dinâmicas mudaram de verdade e profundamente, talvez seja importante refletir sobre isso com base em outras informações que possam te conduzir a um lugar um pouco mais seguro dentro dessa realidade.

Digo isso como alguém que sempre foi católica. Percebo que, muitas vezes, a dinâmica dos recém-convertidos tem aspectos que precisam ser corrigidos, e talvez vocês não consigam alcançar ou ter acesso a alguém que faça essa correção, que normalmente seria o diretor espiritual. Muitas vezes, esse verniz de catolicidade é criado pelo número de pessoas envolvidas nas redes sociais, e muitas delas também são recém-convertidas. Então, muitos de vocês, recém-convertidos, se espelham em outros recém-convertidos. Isso pode parecer lógico em um primeiro momento, mas, ao refletir um pouco mais, perceberão que não tem lógica alguma e não é prudente.

É importante escutar e seguir a Sagrada Escritura e a Santa Tradição da Igreja. Já disse isso anteriormente, mas se eu apontasse as pessoas que estavam em alta em 2012, quando a internet ainda estava em crescimento, muitos de vocês desconheceriam completamente. Isso porque essas pessoas ou saíram dessa forma de servir a Deus, ou se dedicaram exclusivamente a algum tipo de vocação específica, ou seguiram outro caminho que nada tinha a ver com aquilo que estavam propagando. É importante que haja uma maturação dentro dessa visão, e talvez isso possa ser fortalecido com acesso a algumas ações.

Essa nova leva católica traz consigo traços do brasileiro - populismo, polemismo e famosismo - traços que já existiam no cenário de TV, rádio, etc., e foram aplicados ao nicho que cresceu com a rede social. Não sou contra a rede social, mas preciso apontar como ela mudou as dinâmicas de comportamento. Dada a área da minha atuação, preciso pontuar as realidades.

O nicho católico passou a existir. Era um nicho que não existia, e claro que o fato de existir é melhor do que não existir. Ter materiais, produtos e coisas feitas com essa intenção é positivo. Porém, corremos o risco de nos tornarmos uma réplica digital das barracas em frente ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Criar um nicho saudável é uma coisa; tornar-se um vendilhão no templo é outra. Aos meus olhos, já estamos à beira de estabelecer esse perigo como uma realidade. É por isso que vale a pena falar sobre números na pesquisa anual Salus, que é um dos objetivos desta aula.




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A questão é até que ponto vocês conhecem a dinâmica digital. Concluí que muitos de vocês ou desconhecem a dinâmica ou têm uma visão ingênua dos processos. A primeira pergunta foi em relação ao tamanho do site Salus in Caritate. A maioria conhece algumas coisas que falo no site, que é um site de nicho de médio alcance. O que isso significa? Foi a matéria da segunda pergunta: quantas pessoas atingiria mensalmente um site de médio alcance. Percebi que vocês não têm ideia numérica das coisas, talvez por desconhecimento ou preconceito. Algo do tipo "eu conheci agora, logo passou a existir agora". Portanto, só pode ser desse tamanho.


O site tem um alcance de mais de 60.000 visitas mensais. Um site de nicho de pequeno alcance teria 30.000 ou 10.000 visitas mensais. Usando isso como gancho quero fazer uma reflexão sobre a rede social mais visualizada, que no caso atual (2024) é o Instagram. Pode ser que você, vindo do futuro, tenha outra rede em mãos. Agora, em 2024, é o Instagram. No Instagram, suponha que alguém tenha 900.000 seguidores. O layout da rede é feito para que o número seja maior que a pessoa. Se você olhar o número de seguidores e postagens, ele é maior que o nome da pessoa dona da conta. Os números são maiores que a identidade e a personalidade, o que coloca em cheque muitas das falas propagadas na mesma rede de que a identidade importa. O que é a identidade imposta por essa rede?

O Instagram fez com que nossa identidade fosse atrelada a esse número, maior que nosso próprio nome na plataforma. Antigamente, apresentávamos um currículo com projetos, realizações e conhecimentos. Hoje, aquele número define quem você é, aqui no Brasil. Na França e em Portugal, não é assim, mas aqui é assim. Você é definido pelo número. Muitas vezes, pessoas que não têm capacidade são lidas como capazes porque têm números elevados. Isso é uma dinâmica estabelecida pela própria ferramenta para que isso seja determinante.

Dada essa dinâmica, vale observar...

Será que isso é real? Não vou entrar no ponto de que existem pessoas que compram seguidores. Vamos supor que alguém tenha realmente 900 mil a 1 milhão de seguidores. Quanto será que essa pessoa realmente alcança em um Story ou uma postagem? Isso depende do estado do Instagram da pessoa, ou seja, da conta dela. Se a pessoa é cancelada, se não é, se fala sobre polêmicas ou não, se tem visibilidade em outros nichos ou não. A aparência física dessa pessoa também será levada em consideração, pois é uma rede baseada na imagem e que enfatiza muito essa dependência visual.

Aqui não estou fazendo uma crítica, nós também somos essa imagem. Estou dizendo que o Instagram supervaloriza essa questão, assim como o Twitter supervaloriza a opinião. Quanto mais curta, direta e "lacradora" ela for, melhor. Então, cada rede valoriza um aspecto.

Essa pessoa com 900 mil seguidores pode atingir, em um Story, 90 mil pessoas. Por que digo "pode atingir"? Porque pode ser um pouco mais, se ela tiver super alcance, estiver em um momento polêmico importante, etc. Ou pode diminuir bastante esse alcance para 20 mil, 30 mil, se estiver com alguma questão na conta ou se o Instagram limitar temporariamente a visibilidade das suas postagens.

Não estou dizendo que é o algoritmo que dita tudo, mas ele dita uma parte. A ferramenta trabalha com imagens em vários estratos: não só a imagem da pessoa, que é incentivada a se expor o tempo todo, mas também a imagem dos números em detrimento da própria pessoa. O número que aparece na página inicial não é necessariamente o número que aquela pessoa alcança.

Mesmo que o número seja 90 mil, ela tem acesso, a que conteúdo em um Story de 15 segundos, 60 segundos? Elas têm acesso a um fragmento ou a um fragmento do fragmento. Aqui acho interessante pontuar, por exemplo, que um livro é um fragmento do pensamento do autor sobre um determinado assunto. Então, um livro é uma parte de um todo. Citações, trabalhos, artigos que referenciam aquele livro são fragmentos que contêm fragmentos. Um texto no site é baseado, talvez, no fragmento do pensamento do autor e em fragmentos de fragmentos, que são artigos e outras publicações.

O que seria um Story? Se esses são fragmentos, os Stories seriam, dentro de uma produção cultural de conteúdo, migalhas.

Podemos discutir um aspecto de valor e ética a respeito do conteúdo presente em redes sociais. Esse material é uma migalha que pode ser útil ou não, atingindo um grande número de pessoas, mas não necessariamente correspondendo ao número de seguidores exibido na página inicial do usuário.

No caso de um site de médio alcance como o Salus, nem vou mencionar os grandes sites, pois não estão na mesma categoria, já que o Salus é um site de estudo. Isso significa que os visitantes estão acessando materiais, cronogramas de estudo, metodologias, processos de estudo ou edificação espiritual, especialmente no primeiro pilar da Piedade da Educação Clássica Católica. É importante destacar que não cobro para produzir esse material, mas ele é fundamental para que outros pilares possam ser desenvolvidos.

A diferença entre o que a pessoa acessa e o que ela se alimenta é clara. Eu não trocaria esse engajamento por um número maior de visualizações em Stories. Estudar, dentro do nicho do Salus, é mais importante do que apenas engajar. O verdadeiro engajamento está no estudo. Se a pessoa consegue sair dos vórtices de conteúdos e polêmicas e focar no estudo, ela realmente engajou. Isso está relacionado com a cristianização dos ciclos e nos faz refletir sobre até que ponto podemos nos curvar ao que é estabelecido no meio secular como correto.

Outro ponto importante é como os aplicativos disputam a nossa atenção. É justamente a nossa atenção que é vendida por esses aplicativos. Quando você baixa um aplicativo no seu celular, você aumenta o valor de mercado dele, pois o número de usuários influencia diretamente nesse valor.

Essas plataformas sobrevivem com patrocínios. O comercial de TV foi substituído pelos anúncios patrocinados nas redes sociais. Esses anúncios não vendem apenas o espaço, mas também a nossa atenção. Quanto mais um aplicativo consegue reter a nossa atenção, mais patrocínios ele atrai e mais caro pode cobrar por visibilidade. A nossa capacidade cognitiva de atenção se tornou mercadoria.

A pergunta é: você está ciente disso? Você concorda com isso? Não temos um protocolo de responsabilidade social, psicológica e ética desses aplicativos. O Instagram teve uma pequena crise de consciência quando alguns psicólogos americanos e europeus começaram a falar sobre os efeitos das redes sociais. Isso resultou na ocultação de vários números, mas logo foi revertido.




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Existe um site chamado "Factor Culture" que analisa o comportamento dos povos em comparação. Você pode comparar Brasil com Estados Unidos, China, Venezuela, Cuba, entre outros. Esse site mostra como o Brasil sempre se destaca na questão do status. A dinâmica de parcelar várias vezes uma bolsa de marca é um exemplo disso; o importante é ter aquela marca para ser associado a ela. Essas ferramentas de status são usadas para construir a identidade pessoal.
As marcas e aplicativos, que também são empresas e estruturas de marca, sabem disso. E não é à toa que as redes sociais são muito mais usadas aqui no Brasil. Se você fizer uma pesquisa simples, verá que os países ao redor, como Venezuela, Peru, Colômbia e Argentina, não utilizam as redes sociais tanto quanto o Brasil. Todas essas vertentes estão relacionadas a isso. Isso significa que talvez você e eu também sejamos impactados por esse fenômeno. Nós não somos separados do povo. Então, mesmo estando em um nicho no qual você acredita estar tendo uma abordagem reflexiva e atenta, talvez você esteja replicando esse comportamento.


Por exemplo, é nítido o número de pessoas que têm estudado filosofia na universidade, mas não têm capacidade de avaliar as questões sociais com clareza e se deixam levar e enganar por essa mentalidade populista, polemista e famosista. Inclusive, pautando suas análises de avaliação do professor ou de algum trabalho por essas ferramentas, mesmo estudando filosofia.

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Nós, dentro dessa ala, você pode pegar sua plaquinha que considera sua, seja católico, de direita, esquerda, conservador, de cima ou de baixo, ainda não entendemos o valor do professor. Existem lugares em que o professor é extremamente desrespeitado. Situações em que três professores estão ali, os que não são tão conhecidos em redes sociais, que às vezes nem têm rede social, chegam a ser maltratados e deixados de lado em detrimento daquele que tem muitos seguidores, mas é incompetente e tem conhecimento inferior àquele que não tem rede social ou que não é tão conhecido. Isso feito por essas mesmas pessoas que dizem estudar filosofia, que dizem ser de direita, esquerda, de cima, de baixo, enfim, a situação está beirando o caricato.




Isso é o que gostaria de pontuar a respeito dessa interação do meio e da intersecção com redes sociais e a formação de imagens. É uma caricatura, e pode ser que você esteja acreditando na caricatura. Não estou dizendo que todos são caricatos. Vamos exemplificar porque a parte acachapante é difícil de lidar. Não estou dizendo que todo mundo é caricato. Estou dizendo que existe a linha da caricatura, e essa linha da caricatura, entenda, não é de um ente ou de outro ente, não é de fulano ou beltrano. É uma linha que as pessoas podem entrar e sair dela à medida que têm consciência de que ela existe. É uma linha estabelecida por essas intersecções que acabei de explicar, e a pessoa entra nela e pode ficar ali, vivendo ali, achando que aquilo é real. Ela pode sair dela quando tem a real convicção disso. A questão é: você tem consciência de tudo isso que estou falando? Qual é o seu posicionamento e ações a respeito disso?




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Principalmente dentro dessa cadeia, você e eu, embora eu também seja produtora, mas também sou consumidora, podemos ter uma ação de norteadores do mercado. Porque isso aconteceu: o catolicismo se tornou um nicho de mercado, e muitas dessas empresas não estão realmente se importando com marketing. Marketing é filosofia de empresa. A propaganda, o banner, o reels são ferramentas de promoção e divulgação. O marketing é a filosofia. Se eu disser que a maioria desses lugares não tem filosofia de empresa porque não se importam com isso que acabei de falar, ou têm uma filosofia de empresa que não posso nem chamar de secular, porque há muitas empresas seculares que são muito sérias nesse quesito. Então, posso dizer que é uma conduta imoral da qual não voltam atrás.

Você, como consumidor, tem notado isso? Consegue observar o seu papel dentro dessa estrutura? Consumir determinados conteúdos digitais é uma forma de endossar determinadas atitudes. Você tem noção de que existe uma diferença no fim da linha de produção cultural? Se realmente estiver disponível e disposto a encorajar quem não está sendo valorizado, qual é a sua visão a respeito do autor? Qual é a sua visão a respeito do professor? Já parou para pensar na sua própria atitude pessoal a respeito disso?




Essa é a minha intenção, porque não acredito que o macro será mudado com facilidade. Acredito que as pessoas, tendo consciência dessas realidades, refletindo e tendo maiores informações para constituir balizadores reflexivos realmente concretos, possam fazer uma mudança efetiva.

Os autores e os professores têm trilhado um caminho independente e solitário por conta de diversas mudanças no cenário. Então, o professor não pode mais contar com uma estrutura educacional que o apoie 100%, pois essas estruturas já não existem mais. Ele é visto como uma ferramenta, um produtor que gerará um produto educacional, e esse produto será mercantilizado. Ele é apenas o fazedor de um produto. O mesmo acontece com o autor; ele é visto como um produtor de um produto que será vendido e gerará lucro para alguém, menos para ele.

Os produtores culturais têm se deslocado desse cenário para trilhar um caminho independente, ainda que solitário, já que, junto a essas estruturas, eles continuam solitários. O autor, por exemplo, não tem mais ajuda do editor. O editor, antigamente, era um suporte para o autor, inclusive para defendê-lo. Assim como o curador de arte é um defensor do artista. O editor não está lá para ser o editor de negócios. Mas isso tem se transformado: ou o editor visa o dinheiro e quer ganhar dinheiro, ou é um editor crítico que está ali apenas para criticar a obra, acreditando que essa é sua função.

O papel do editor não é nem um, nem outro; é simplesmente apoiar o autor nos momentos em que ele precisa. Já cheguei a sentar à mesa com um autor que não conseguia escrever. Tudo estava na mente dele, mas ele não conseguia colocar no papel, então ele ditava e eu escrevia. O editor ajuda a conceber a obra e a valorizar o autor. Esse sistema ruiu. Não existe mais esse tipo de editor.

O mesmo acontece com colégios e institutos que realmente valorizam o professor. E digo isso de verdade, afastado da questão do populismo, do polemismo e do famosismo. Então o escritor, o professor, o artista, desloca-se dessas estruturas, abandonando-as por caminho mais justo.




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Como já pontuei a respeito das questões do mercado de valoração e remuneração desses profissionais, isso talvez aponte para a necessidade de deslocamento da cultura da produção cultural de entidades e até de partidos, para que ela possa sobreviver independentemente do que esteja acontecendo nos ciclos partidários, políticos, ideológicos, etc. Para que consiga ter uma vida fértil. Alguns países já possuem essa característica, onde a produção cultural continua acontecendo independentemente do que está em pauta na política, na ideologia, ou até mesmo na ascensão e declínio de grupos. Isso é favorecido por alguns incentivos, inclusive do próprio governo.

Muita gente tem problemas com as questões de incentivo, mas deixo aqui mais um balizador reflexivo: como a cultura conseguirá se restabelecer se não tiver incentivo? Nós temos um país com muitas dificuldades em vários setores, mas não podemos continuar com essa percepção de que a cultura é inferior no benefício que traz ao povo. Primeiramente, no que se refere à educação, a cultura é parte integrante do processo educacional. O processo educacional no Brasil está em declínio por conta da falta de acesso ao acervo cultural. Um dos pontos é esse, pois a metodologia não faz com que o aluno acesse esse acervo.

Investir em cultura para que as crianças possam ter a possibilidade de acessar lugares (e estou falando das pessoas nas periferias) que não teriam em outros momentos. Acessar bibliotecas e teatros com facilidade é enriquecer o processo educacional e facilitar o papel do professor, principalmente o professor da periferia. Ele precisa de um ambiente que seja um pouco mais salutar do que aquele em que a criança vive dia e noite. Isso só é possível com uma cultura estabelecida, com portais em que essa criança, esse jovem, esse adolescente possa entrar.


Porque, da mesma forma que uma boca de fumo na periferia é um portal para o inferno, a porta de um teatro, de um museu, ou de uma igreja são portas para o céu. Isso é estabelecido pela cultura. Por isso, reafirmo: enquanto esses ditos produtores culturais não mudarem sua conduta, isso nunca será cristianizado e esses portais nunca se abrirão; será somente um discurso para enaltecer egos nas redes sociais.


Eu me pergunto muitas vezes: Qual é, de fato, a direção que esses projetos, principalmente os editoriais, estão tomando? Livros com preços exorbitantes, feitos mais para serem exibidos do que lidos, livros cuja produção visa apenas a aparência, e não o acesso ao conteúdo para pessoas que talvez não possam pagar por eles.


Será que esses lugares estão com os pés no chão da realidade brasileira, onde a maioria das famílias gasta R$ 200 ou menos para alimentar cinco pessoas? Será que têm ética cristã em sua conduta? Será que existe mesmo o desejo de ganhar um pouco menos para conseguir levar um pouco mais?


Não vou entrar no cenário do cinema, pois acredito que talvez esteja um pouco melhor, mas o cenário editorial precisa de uma revisão urgente, de uma salvação através de um golpe de ética providencial.




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O livro é a obra de arte mais acessível, e é por isso que talvez eu tenha gastado tanto tempo falando sobre isso. Estou nesse ambiente desde os 15 anos de idade. Minhas graduações e pós-graduações, até mesmo quando estava na área da saúde, sempre tiveram muita relação com a literatura e os livros. O livro é a obra de arte mais acessível.


Você consegue fazer com que uma criança, um jovem, um adolescente, um adulto e até um idoso entrem em contato com uma obra de arte. Entrar em um museu requer um deslocamento, mas o livro não; o livro traz a obra de arte às mãos de quem o lê. É o acesso mais genuíno, direto e fácil. Isso me leva ao tema da pesquisa. Percebo que, talvez por falta de direção, as pessoas estão interessadas em educação e filosofia, mas esquecem que a arte e a literatura são ferramentas essenciais.


Só que essa ferramenta precisa ser acessível. Livro não é artigo de luxo; livro é algo necessário para a sanidade de um povo. Precisa ser de fácil acesso, de custo acessível e precisa chegar às pessoas. Recentemente, tive contato com um grupo de catequese em que três famílias não tinham Bíblia. As Bíblias que possuíam eram protestantes; não tinham acesso à Bíblia católica, não tinham acesso de verdade, porque a Bíblia está custando quase R$ 100. Para essas famílias, gastar R$ 100 em uma Bíblia pode parecer pouco para alguns, mas é quase o valor da compra do mês para essas famílias.




Eu não sei realmente o que passa na cabeça desse setor. Sinceramente, não sei se eles vivem no mesmo Brasil que eu. Não sei se essa bolha excessiva, esses ciclos que eu já chamava de bolha, que agora todo mundo repete como papagaios da internet... Talvez porque vivam em um estrato social mais favorecido. Mas é importante que aqueles que têm um estrato social mais favorecido tenham visão dessa realidade e, ao contrário dos revolucionários que têm dó e pena de si mesmos por pertencerem a uma classe social maior, possam utilizar dessa posição para facilitar o acesso de outras pessoas, inclusive deixando algumas coisas para trás.






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A lei de incentivo à cultura não é algo supérfluo. É um erro acreditar nisso. E foi justamente esse erro que fez com que muitos dos cenários brasileiros fossem subjugados ao revolucionário. Quando os militares deixaram as universidades, eles deixaram uma das facetas da produção cultural. Hoje, algumas pessoas, mesmo dentro de um cenário conservador ou católico, seja qual for a plaquinha que queiram colocar, dizem que estão fazendo produção cultural, mas não mudaram a forma de gestão. Se não mudarem a forma de gestão, é uma réplica exata, ainda é um abandono de cultura. É apenas um afago de ego, uma construção de status, uma construção falsa e enganosa na rede social.


O incentivo cultural precisa, sim, vir do Estado, embora possa ser também apreciado por vias privadas. Mas precisa existir, porque a educação precisa dessas ferramentas e a saúde também precisa dessa ferramenta. Você realmente acha que as pessoas não precisam de cultura estando em ambientes hospitalares e em outros lugares? Elas precisam disso também porque a arte, a cultura, é um curativo da alma. É um veículo que pode ser utilizado por Deus para purificar, para fazer um processo de catarse na alma das pessoas. Então, também não é um artigo que deve ser deixado de lado na área da saúde, inclusive na formação desses profissionais.


No último projeto de pesquisa que fizemos, coloquei exatamente o grande benefício que médicos, nutricionistas e psicólogos conseguem com um maior aporte formativo da área da filosofia estética, educação estética, arte, patrimônio e literatura para exercer suas funções e para acessar e ter o devido respeito às pessoas. Talvez, dentro desse cenário de propagação de alta cultura, falte educação estética, que é uma propulsora do respeito genuíno, da valorização genuína, de uma sensibilidade verdadeira e não caricata ou falsa.




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Dentro dessa questão do incentivo, existem algumas iniciativas feitas por outros países. Por exemplo, a França tem a Lei da Cópia Privada. Você que mora na Europa pode me mandar depois um veredito a respeito disso, se isso funciona realmente na prática no solo do país em que você vive, pois existem várias coisas que são bonitas, mas às vezes, para quem vive nesse solo, não são tão reais assim, não são tão verdadeiras.


As pessoas, ao comprarem seus equipamentos, pagam um pouco a mais já embutido no preço do equipamento, para que possam acessar conteúdos gratuitos pela internet de diversas formas digitais, autorizadas pelos próprios autores, artistas e produtores. Esse valor é revertido para projetos que serão disponibilizados gratuitamente. É um ciclo de gratuidade dentro do cenário cultural, em que os produtores, autores e artistas são valorizados, pois são entendidos como pessoas que precisam receber sua remuneração. Também é entendido que esse produto cultural, essa produção cultural, precisa chegar gratuitamente às pessoas. Então, alguém precisa fazer algo para equilibrar essa conta de recursos versus gratuidade.




A Lei da Cópia Privada foi uma forma que eles estabeleceram para conseguir fazer esse circuito funcionar. Claro que deve existir alguma questão em relação aos projetos aceitos, mas pelo que consegui ver de alguns colegas e das questões da área de projetos, existem produções de diversos tipos e alcances, muitas vezes feitas de forma simples. Documentários mais acessíveis, produções feitas com uma, duas ou três pessoas, foram aprovados. Esse valor é colocado em algumas instituições que fazem a curadoria dos projetos e a avaliação dos mesmos. É claro que o número de projetos é grande, muitas vezes recebendo 1.200 projetos, dos quais 180 são aprovados.


Existem algumas questões para gerenciar esse aspecto da gratuidade da produção cultural que precisam ser levadas em consideração. Talvez não seja importante para algumas pessoas quando pensado de uma forma simplista, mas dentro de um cenário tão complexo como o Brasil, seria o mesmo que abrir portais para oportunidades, para melhoria de vida, para beleza e até mesmo para o paraíso para muitas dessas pessoas, dependendo do lugar em que vivem. Muitos dos professores e profissionais vão entender exatamente do que estou falando e do quanto esses portais fazem falta na didática. O professor pode ser um portal, mas se ele contasse com outros portais que cercassem esse aluno, ele provavelmente teria mais chances de encontrar um caminho mais salutar, mais edificante e até mesmo para quem não está em uma situação ou ambiente tão ruim e desvantajoso para a formação.


Existem opções, existem formas. Talvez tenhamos a oportunidade de deslocar a cultura desses enredos políticos e ideológicos, tanto de direita, de esquerda, conservador, progressista, e fazer com que a cultura consiga subsistir com autonomia, com respeito aos diversos tipos de produção cultural, independente do tipo de governo e do tipo de coisa que venha a se estabelecer no aspecto da politicagem. Porque, como eu disse, quem faz política mesmo é o professor, o escritor, o artista. Talvez esse movimento dos autores, tradutores e professores, de uma independência ainda que solitária, mas que valoriza o trabalho, possa ser um primeiro passo para que consigamos esse aspecto um pouco maior, que é deslocar a cultura da dependência dos enredos políticos.




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O Brasil já teve vários projetos culturais de identidade nacional. Durante o regime militar, houve um projeto que tinha esse ideal da alta cultura popularizada gratuitamente. As pessoas tinham acesso a concertos gratuitos feitos pelas orquestras sinfônicas. Isso ainda existe nas orquestras sinfônicas, mas era algo grandioso, propagado e transmitido na TV. Inclusive, você encontrará a Orquestra Sinfônica do Brasil fazendo um concerto público que foi transmitido pela Globo. Era um projeto estabelecido que não foi para frente.


Antes disso, tivemos um projeto de um Brasil modernista, um Brasil que tinha novas ideias, que não assimilava mais as coisas europeias, mas que concebia suas próprias coisas, gerando uma reflexão muito presente no livro "Macunaíma". O próprio Macunaíma passa a ser uma representação do brasileiro que não tem muita ideia de quem é, mas o livro passa essa ideia de que o brasileiro, na verdade, é o índio que se tornou europeu.






Mais recentemente, tivemos muitas iniciativas em relação à questão do moderno e do artesanato, de valorizar coisas locais. Todos esses movimentos intuem que o brasileiro não tem personalidade. Nós não temos, como outros países, uma veste típica, uma forma típica de ser, etc. Somos o resultado da junção de vários povos, de várias línguas, e isso talvez seja a nossa grande força cultural. Por isso, esse deslocamento é tão importante, porque precisa ser um território que realmente valorize tudo isso que está dentro do brasileiro. Nós não somos apenas o índio, somos também o índio, o negro, o europeu, o asiático, o árabe. Temos todas essas vertentes na nossa constituição de povo, e a cultura não pode ficar restrita a ponto de querer silenciar qualquer uma dessas vozes.






Na nossa ação cristã, é importante cristianizar tudo isso. Todas essas culturas podem passar por um processo de cristianização, que não significa torná-las europeias.


Isso exige muito mais de nós, que realmente somos os fazedores dos livros, das artes, dos monumentos, dos patrimônios. Aqueles que realmente fazem política. Quem precisa fazer essa primeira valorização somos nós mesmos e, num segundo momento, você que consome essas obras. O começo é o artista, o autor, o poeta, o professor, e o fim é o aluno, o consumidor, o leitor.


Essas são as duas pontas que realmente importam e são os nossos anseios, as nossas boas ambições que determinam muito dentro do cenário. Acho que esse é o fim dessa reflexão um pouco aleatória, mas nem tanto assim, que possa te fornecer algumas informações para fazer uma reflexão baseada numa silenciosa sensatez.




Eu sei que pode ser que isso não mude nada na conduta, porque nem sempre saber significa mudar, mas espero que pelo menos alguém tenha um refinamento a respeito do que está acontecendo. Não se deixe ludibriar por vernizes, mas consiga fazer na sua conduta pessoal algumas mudanças a respeito desse cenário. E aí sim, realmente estaremos defendendo e promovendo a alta cultura.








Resumo em tópicos:


Funcionamento das Editoras e Livrarias

Livros chegavam consignados às livrarias, que vendiam e repassavam o valor à editora, devolvendo os livros restantes.
Muitas editoras dependiam das Meg Stores, mas hoje dependem das plataformas online.
A dinâmica do mercado editorial mudou, mas os autores ainda são financeiramente prejudicados.



História e Transformação das Meg Stores

Meg Stores combinavam livraria, games e papelaria, com setores dedicados ao público infantil.
A administração dessas lojas muitas vezes era avançada, trazendo brinquedos educativos e artesanais.
A área infantil se transformou em setores coloridos, com nichos específicos por faixa etária.


Precificação dos Livros

Livros têm seus preços calculados com base no custo da gráfica, com a editora adicionando 100% em cima.
Livrarias e distribuidores também adicionam suas margens, elevando o preço final ao consumidor.
Autores recebem uma porcentagem pequena do valor final de venda do livro.




Impacto da Precificação na Acessibilidade

Livros caros dificultam o acesso da população, especialmente em áreas periféricas.
O mercado editorial muitas vezes lucra com autores mortos, enquanto os vivos recebem pouco.
A necessidade de incentivos culturais para facilitar o acesso à cultura e educação.



Influência das Redes Sociais

Redes sociais, como Instagram e Twitter, valorizam aspectos diferentes, como imagem e opinião.
O número de seguidores nem sempre reflete o alcance real das postagens.
A identidade nas redes sociais é frequentemente baseada em números de seguidores.




Produção Cultural e Gestão

A produção cultural deve se desvincular dos enredos políticos e ideológicos.
A Lei da Cópia Privada na França como exemplo de incentivo cultural.
A necessidade de uma gestão cultural que valorize e remunere adequadamente autores e artista




Importância da Cultura na Educação

A cultura é fundamental para o processo educacional e deve ser acessível.
Investir em cultura enriquece o processo educacional e facilita o trabalho dos professores.
Acesso à cultura pode transformar vidas, oferecendo novas oportunidades e experiências.




Reflexão Final

A necessidade de uma reflexão silenciosa e sensata sobre o papel da cultura e educação.
Mudanças na conduta pessoal podem promover a alta cultura de forma genuína.
A valorização do autor, do professor e do artista é essencial para uma cultura cristianizada e autêntica.









































Transcrição em partes da aula: Educação Clássica Católica: orientações gerais ministrada pela professora Ana Paula Barros em 22 junho de 2024. Aula disponível na íntegra aqui com link para o mapa mental na descrição da aula (sugerimos fortemente a escuta da aula na íntegra).


Gostaria de abordar um novo tópico relacionado à Educação Clássica Católica, fornecendo algumas orientações essenciais tanto para a aplicação prática quanto, principalmente, para o processo de autoeducação. Percebo que há uma grande confusão a respeito da Educação Clássica Católica e do que entendemos por catequese.


Para iniciar, acredito ser fundamental apresentar alguns pilares da Educação Clássica Católica. Mencionarei aqui alguns deles de forma alusiva, sem um aprofundamento inicial ou detalhado de cada um. Isso poderá ser feito tanto nas aulas presenciais quanto no Educa-te. No entanto, considero importante mencioná-los para fornecer uma orientação clara e tentar, de alguma forma, esclarecer as mentes em relação a esse tópico.

Os pilares são: piedade, maravilhamento, exercício físico, memória, leitura, ensino e aprendizado, virtude. Estes são alguns dos pilares da Educação Clássica Católica.


Vale ressaltar que o primeiro pilar é a piedade, razão pela qual, por exemplo, neste mesmo podcast, no site, e até mesmo nos primeiros módulos do Educa-te, você encontrará uma vasta gama de conteúdos relacionados à vida espiritual. Posteriormente, aprofundar-me-ei um pouco mais nessa temática, abordando o plano de leitura bíblica, o plano de vida espiritual, o cronograma de quaresma, o plano de Natal e a organização das festividades natalinas, além dos exercícios espirituais que são de extrema importância. 

Vocês compreendem, a princípio, que a catequese já faz parte integrante da Educação Clássica Católica. Está situada no território que eu denomino, e que organizei inclusive no site e nos materiais do podcast, como: Preceptora.

A preceptora é aquela primeira professora que não se confunde com uma professora de jardim de infância ou pré-escola. Essa professora tinha a responsabilidade de educar as crianças e adolescentes em casa, ensinando não somente as noções iniciais de letras, mas, sobretudo, a moral. Na instrução aos principiantes, Hugo de São Vítor afirma que uma das primeiras coisas importantes é a aquisição da disciplina, alcançada pela moderação do comportamento e pela prática da piedade.

A piedade não é um pilar insignificante e talvez seja o que mais diferencia a Educação Clássica Católica da educação meramente clássica ou convencional. Na educação clássica, mesmo sem ser católica, esse pilar já existia e era necessário. Esse respeito ao sagrado é essencial para iniciar o processo educacional. Contudo, com o tempo, foi esquecido, e esse pilar tem passado despercebido numa imitação constante e irrefletida dos mundanos, que afirmam que a piedade não pertence ao território da educação. Afirmam [inclusive padres] que quando alguém cita um versículo ou fala sobre o Espírito Santo, está dando, absolutamente e sem discussão, catequese. Esse pensamento precisa ser erradicado, pois, se persiste, torna-se muito difícil concluir o processo educacional.

Portanto, há esse pilar, que eu enriqueci sem oferecer muitas explicações. Como vocês sabem, o Salus existe há mais de 10 anos, desde 2012, quando a situação era como era. O que a maioria de nós faz? Continuamos a agir sem explicar muito, porque naquele momento não julgávamos importante esclarecer a metodologia. O pilar da piedade era o mais defasado; não adiantava falar sobre o maravilhamento ou a memória se o pilar da piedade não estava bem fundamentado.


O Pilar da Leitura: é crucial que se tenha uma bagagem literária do Ocidente, que se fundamenta essencialmente nas Sagradas Escrituras. Portanto, ler a Bíblia é um benefício religioso, moral, intelectual e de enriquecimento do seu acervo de memória e do seu universo interior, essenciais para compreender muitas das obras clássicas e outras manifestações artísticas e literárias. Isso porque, ao ler a Bíblia, você consegue identificar quem são os personagens, suas histórias, qual a sua intenção do escritor e as camadas de significado ao citar ou mencionar determinados personagens bíblicos.

Isso é extremamente importante. Por que digo que é uma das coisas mais importantes e que tem sido solenemente negligenciada, especialmente pelos jovens que têm paixão por ensaios e tratados filosóficos, mas não conseguem fazer conexões simples entre personagens bíblicos e personagens de obras como "Moby Dick"? Isso é um sinal de deficiência e deformação educacional. Por isso, se você tem essa dificuldade, pergunto: quantas histórias bíblicas você conhece? Você já fez um estudo bíblico? Quanto de boa literatura você já leu? De verdade, o que você leu de autores e autoras? Você consegue fazer a ligação entre o que leu, as Sagradas Escrituras e os ensinamentos da catequese? Precisa conseguir.

Se você tem muita dificuldade nisso, o Educa-te oferece um caminho detalhado para que você possa trilhar e superar essa deficiência. Esforce-se para adquirir essa habilidade. E, realmente, provavelmente levará de dois a três anos para conseguir criar essa bagagem e interligar esses conhecimentos. Não adianta apenas ler; é preciso interligar com as Sagradas Escrituras e com a doutrina da Igreja. Não é uma questão de ler dois ou três livrinhos em um ano; é necessário ter uma bagagem significativa.

Por que isso é importante? Porque ao fazer isso, você enriquecerá o Pilar da Piedade, o Pilar da Memória e o Pilar da Leitura.


Bom, por onde começar? Essa é a pergunta que a maioria de vocês faz.

Primeiro, comece com aquilo que tem em casa. Isso é fundamental: utilize os recursos que você já possui. Ah, você não tem nada em casa? Faça como eu fiz aos 13 anos de idade: vá até uma biblioteca. Foi o que eu fiz, sozinha. Faça uma carteirinha da biblioteca. É fantástico! E então explore as sessões de literatura estrangeira e brasileira, onde você encontrará, em grande parte, obras de autores clássicos. Ou leia o que já possui em casa, e a partir daí, inicie esse enriquecimento.

Ah, você não tem acesso a esses livros? Talvez você tenha em casa um livro chamado Bíblia. Então comece por ele. Acesse o site, baixe o cronograma de leitura bíblica gratuitamente, juntamente com os comentários, que também estão disponíveis gratuitamente. Você começará a enriquecer sua base de piedade, leitura e memória, e depois poderá ampliar com outras leituras. Simples assim. Isso é Educação Clássica Católica

Ah, mas isso não é catequese? Também é, mas principalmente é um enriquecimento da Educação Clássica Católica, iniciando com três a quatro anos de aquisição de bagagem cultural e literária. Sem preguiça, sem menosprezar a importância disso, sem achar que ler um ensaio é melhor do que ler literatura ou fazer um estudo bíblico. É inadmissível que um cristão não tenha lido a Bíblia completa. Deixo claro que o cronograma no site abrange todos os livros bíblicos da Bíblia católica, com comentários dos doutores da Igreja. É inadmissível que alguém com pretensões de vida intelectual não tenha se dedicado a isso. Esse conhecimento é essencial e previne erros comuns entre aqueles que consomem apenas tratados de filosofia, teologia e ensaios. Esses livros são importantes, mas sem essa bagagem inicial, o conhecimento fica solto, desvinculado das demais formas que compõem a cultura literária, e pode gerar uma percepção deficiente.

Já falei sobre isso em vários podcasts anteriores e em outras instâncias: temos a formação humana, intelectual e doutrinal. A formação humana é enriquecida com essa bagagem cultural e literária, adquirida através da leitura de personagens e histórias... as ações e reações e onde determinada coisa ocorre. Consegue identificar sinais de como é uma modulação, uma moderação de temperamento, o que é um desequilíbrio de temperamento, um vício, uma virtude, uma atitude sábia, uma atitude tola. Tudo isso está condensado nos personagens.

Isso é apenas para crianças? Ou para adolescentes? Não, jovens adultos e adultos cultos, é para vocês também. Vocês precisam suprir essa bagagem, e muitas vezes enterram-se em ensaios e compêndios, deixando de lado essa parte essencial do alicerce, construindo a casa na areia e achando-se muito sábios. Tome cuidado. Preste atenção.


Os mitos também são extremamente valiosos nesse processo e podem ser gradativamente interligados na sua teia de conhecimento com os contos e, posteriormente, com as obras de ficção que você for acrescentando à sua bagagem. A forma como você lê também é importante. Você pode marcar nos livros as partes que mais chamam sua atenção, fazer um sistema de fichamento das citações que mais gostou e marcar os livros com tags, desde que também revise essas anotações, citações e marcações de tempos em tempos.

É importante compreender que estamos falando da formação de uma biblioteca interna. Você guardará algumas citações de diversos livros, que se unirão em uma teia de conhecimento e criarão uma melodia interna. As obras de tratados e de ensaios, que costumam ser mais densas e com pouca poesia, ganharão  certa harmonia interna.

Criar uma biblioteca de poemas dentro de si ajuda muito. Para você ter uma ideia, a sabedoria dos grandes autores das Sagradas Escrituras inspirou muitos poetas. Em vários livros bíblicos, até mesmo nos livros proféticos, há poesias e cânticos. Isso não é de pouca importância dentro do ciclo literário. Eles possuem um valor simbólico e várias camadas de interpretação, muitas vezes mais do que um livro extenso. Versar na leitura de poesia é essencial dentro do tópico da leitura, pois tem ligação com a memória, maravilhamento e vários outros pilares.

Preste atenção: é necessário fazer esse processo e entender que, provavelmente, a ficção será mais fácil, os contos serão mais fáceis, os mitos começam a ficar um pouco mais difíceis, e a poesia será realmente um pouco mais desafiadora, dependendo da bagagem que a pessoa tem e do que está lendo. Pode ser que uma obra clássica, como a "Ilíada" ou algo de Jorge de Lima, seja mais desafiadora que outra, dependendo do treino de leitura.


Depois, é importante contemplar as obras mais densas, como acabei de mencionar, como a "Ilíada".

A importância da "Ilíada" e da "Odisseia" reside na necessidade de revisitar esses grandes clássicos gregos, mesmo que você se sinta um pouco descontente ou inseguro. É fundamental que você se disponha e se exponha a essas obras o mais cedo possível, assim como à leitura das Sagradas Escrituras. Isso vale também para adolescentes, pois, na educação clássica, esse tipo de exposição ocorre por volta dos 15 anos, e às vezes até antes, aos 13 ou 14 anos, dependendo da bagagem que já possuam. Se você não teve essa oportunidade, há uma defasagem significativa. Talvez isso lhe dê uma noção de quanto isso é importante e faz falta.

Uma das principais razões para abordar esses pontos é que, devido ao grande número de ensaios e publicações excelentes realizados, parece-me que existe uma defasagem tão grande que essas obras [ensaios filosóficos e teológicos] ficam orbitando num espaço interior oco. Isso não acontece com pessoas que possuem uma bagagem literária robusta, que inclui poesia, contos e ficção. Para essas pessoas, os ensaios não ficam orbitando, mas, em outras, pode passar uma falsa imagem de aprendizado e enriquecimento intelectual, quando na verdade não existe. Uma pessoa não se forma com um único tipo de literatura. 


Visite as abas de estudo do site, entre no Educa-te e supra sua defasagem com materiais disponibilizados generosamente. Com esta aula, quero deixar alguns apontamentos e esclarecimentos a respeito do que é a educação clássica católica, alguns pilares que a compõem e os processos necessários, principalmente no que tange à piedade e à leitura, para suprir, de início, pelo menos esses dois pilares.


É perigoso querer pular essas etapas, mesmo já sendo um jovem adulto ou um adulto. Ser uma pessoa que faz uma escolha intencional em relação ao seu caminho é transformador. Sei que existe uma certa dor quando falo sobre a posição que o avanço das redes sociais nos deixou. Tornamo-nos receptores passivos. É muito importante que, ao tomar essa decisão, você deixe de ser um receptor passivo.

Porque, com a facilidade trazida pela modernidade, também houve um aumento do estado de preguiça e ingratidão, tanto interior quanto exterior, para com aqueles que estão ensinando. Isso é inadmissível dentro da Educação Clássica Católica. Há uma ligação intrínseca entre o trabalho intelectual, a postura moral do aluno e do professor. A prontidão, que se opõe à preguiça, e a gratidão são aspectos essenciais que caracterizam uma pessoa que passou por um processo educativo sólido.

Assim, termino aqui estas orientações gerais. Na descrição, você encontrará vários links para contos e para as abas de Educação e Filosofia, Literatura e Arte, onde poderá enriquecer-se com o material que já está disponível gratuitamente. Há também uma aba para acessar o Educa-te e explorar conteúdos mais profundos. Material, método e aulas estão disponíveis.



Resumo em tópicos:


Pilares da Educação Clássica Católica:

  • Piedade
  • Maravilhamento
  • Exercício Físico
  • Memória
  • Leitura
  • Ensino e Aprendizado
  • Virtude


Importância da Piedade:

  • Diferencia a educação clássica católica da educação convencional.
  • Base para vida espiritual e moral.
  • Essencial para entender outros pilares.


Leitura das Sagradas Escrituras:

  • Benefício religioso, moral e intelectual.
  • Enriquecimento do acervo de memória.
  • Importante para compreender obras clássicas e artísticas.


Bagagem Literária e Cultural:

  • Revisitar clássicos como "Ilíada" e "Odisseia".
  • Importância da exposição a obras clássicas desde cedo.
  • Formação de uma biblioteca interna com citações e anotações.


Ficção e Poesia:

  • Leitura de romances clássicos (ingleses, russos, americanos).
  • Contos medievais e de fadas.
  • Poesia como elemento essencial, ligada à memória e maravilhamento.
  • Importância de criar uma biblioteca de poemas internos.


Educação Clássica e Católica:

  • Integração do trabalho intelectual com postura moral.
  • Prontidão e gratidão como valores essenciais.
  • A importância de não ser um receptor passivo.


Materiais Disponíveis:

  • Contos, cronogramas de leitura, resenhas de livros.
  • Aulas e materiais de apoio.
  • Orientações para suprir defasagens literárias e culturais.


Conclusão:

  • Perigo de negligenciar etapas formativas essenciais.
  • Necessidade de fazer escolhas intencionais em direção ao conhecimento.
  • Importância de deixar de ser um receptor passivo e ser ativo no processo educativo.



A visão de Constantino. Bernini, 1670. Vaticano.





Transcrição em partes da aula: Educação do encorajamento na Igreja e na Sociedade ministrada pela professora Ana Paula Barros em 24 de abril de 2024. Aula disponível na íntegra aqui com link para o mapa mental na descrição da aula (sugerimos fortemente a escuta da aula na íntegra).


Introdução

É provável que eu já tenha mencionado anteriormente o padrão de formação nivelada ao qual estamos habituados, uma metodologia de nivelamento que possui diversas origens, dentre as quais uma de natureza revolucionária, que busca homogeneizar a todos. No entanto, é imperativo utilizar a observação e a percepção para constatar que, embora tenha raízes revolucionárias, esta prática mantém as mesmas características mesmo em ambientes que, a princípio, não são revolucionários. Ou seja, este fenômeno ultrapassou o contexto de grupos adeptos de determinadas vertentes filosóficas e políticas, tornando-se uma prática amplamente adotada, muitas vezes sem a devida reflexão.

Este fenômeno é evidente, por exemplo, nas diversas demandas da internet, que induzem as pessoas a se tornarem absolutamente iguais, replicando umas às outras e utilizando o mimetismo não como um meio de educação, mas como uma forma de pertencer.

A análise que hoje proponho, focada na aplicabilidade da Educação do Encorajamento, será dividida em quatro pontos:

  1. Avaliação de talentos;

  2. Como se dá essa avaliação de talentos e competências;

  3. Trabalho como método educacional;

  4. Educação ao longo da vida.

Avaliar talentos tornou-se uma prática comum em algumas obras que analisam a atualidade do mundo em que vivemos, referindo-se a ele como um mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity). Esse acrônimo em inglês, que para nós, brasileiros, pode soar peculiar, é extremamente relevante. O mundo em que vivemos é volátil, incerto, complexo e ambíguo. É claro que essa visão de mundo também deriva de uma base filosófica desconexa. A filosofia moderna tem se fundamentado mais recentemente em uma espécie de panteísmo ou materialismo, ou ambos. No primeiro caso, Deus se estende a todas as criaturas, seres e objetos, onde todos são um e um são todos, uma visão panteísta presente em algumas correntes filosóficas. Já o materialismo simplesmente nega a transcendência, ou, se esta existe, é uma transcendência que se dirige ao próximo. Portanto, não se transcende mais verticalmente, mas horizontalmente.

É interessante observar que essa transcendência horizontal, que implica transcender-se no próximo, é o discurso atual em algumas linhas teológicas, tanto católicas quanto não católicas. Aqui abro um parêntese para não reduzir a mentalidade revolucionária aos movimentos da teologia da libertação e similares. Este é apenas um aspecto; há outras mentalidades revolucionárias infiltradas na Igreja, que se manifestam de diversas formas em diferentes países.

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Dentre as conexões mais frequentes, trabalhar com outras pessoas é uma prática que fomenta o desenvolvimento de aspectos cruciais, tais como lidar com frustrações e superar o medo de errar. Esse tipo de interação é benéfica para a formação da personalidade. Outro aspecto relevante é a obediência a ordens, que deve ser avaliada com uma bagagem moral adequada para discernir se são justas ou injustas. A história nos mostra que, muitas vezes, ordens injustas foram dadas e seguidas sem questionamento, ressaltando a necessidade de avaliação crítica e de agir conforme a consciência.

Quando se trata de avaliar talentos, existem cinco competências que precisam ser observadas:

  1. Desempenho de tarefas: Observado pela persistência.

  2. Regulação emocional: Avaliada pelo otimismo e resistência ao estresse.

  3. Colaboração: A capacidade de trabalhar com outras pessoas.

  4. Criatividade: Abertura para a criatividade e o maravilhamento, aspectos essenciais no processo educacional.

  5. Sociabilidade: A habilidade de interagir de forma benéfica com outros, fomentando um ambiente de apoio e crescimento mútuo.

Muitas vezes, a expressão de emoção pode incentivar a criatividade. No entanto, no contexto da Educação do Encorajamento que apresento, a ligação está em identificar e exercer o talento pessoal. Criatividade é a capacidade de, de certa forma, imitar o agir criador de Deus. Portanto, é fundamental identificar o próprio talento e, ao longo do tempo, colocá-lo em prática, exercitando essa criatividade. A criatividade pode ou não estar vinculada a atividades artísticas, dependendo do talento individual.

O papel de instrutores, professores, pais, mães, padres e religiosos é justamente auxiliar as pessoas a formarem uma base sólida e instigá-las a descobrir seus próprios talentos. Esse processo pode ser facilitado por uma exposição constante a momentos de maravilhamento, seja pelo incentivo à contemplação, seja pela exposição às artes e formas artísticas.


Sociabilidade


A sociabilidade está intrinsecamente ligada à formação da personalidade. Trabalhar em colaboração com outras pessoas e obedecer ordens, possuindo uma base moral que permita avaliar se essas ordens são justas ou não, são aspectos essenciais no desenvolvimento da personalidade. Contudo, essa habilidade nem sempre se manifesta em grandes grupos. Há quem acredite que, ao inserir alguém em um ambiente social repleto de pessoas, essa pessoa se tornará automaticamente sociável. Todavia, a realidade demonstra que muitas pessoas, mesmo quando cercadas por outras, não se tornam necessariamente sociáveis.

Estar em um ambiente propício ao aproveitamento dos momentos de interação entre as pessoas é fundamental. Isso não implica a necessidade de estar com um grande número de pessoas ou com desconhecidos, mas sim que o processo de interação proporcione oportunidades para seguir ou não padrões, observar ou não uma determinada ordem, lidar ou não com frustrações, ter medo de errar ou coragem de realizar. Essas interações podem ocorrer em grupos muito pequenos. Portanto, a habilidade de interagir beneficamente não deve ser confundida com simplesmente colocar uma pessoa no meio de uma multidão.



Avaliação de Talentos e Competências

Incentivar a descoberta dos próprios talentos é uma coisa; avaliar esses talentos e competências é outra. Tal processo pode ser facilitado através do exame de consciência ou da confissão. Nós, como católicos, estamos habituados a essa prática na vida espiritual, realizando um exame de consciência das nossas faltas. No entanto, no sentido mais clássico do termo, o exame de consciência e a confissão também estão ligados a um aspecto positivo, aquilo que de fato possuímos e somos.

Esse aspecto pode ser utilizado em um contexto educacional e em diversos ciclos sociais, onde o exame de consciência passa a ser empregado como observação da execução ou não de um talento, de uma habilidade em relação ao outro, e até mesmo da graduação de quanto isso está sendo realizado. Por exemplo, é através desse exame das próprias habilidades que a pessoa consegue perceber o quanto está excedendo ao desvalorizar o próprio talento ou não respeitar o seu tempo de maturação. Tudo isso pode ser facilitado com um exame consciente das próprias habilidades. Esse exame pode incluir algumas intervenções e mudanças intencionais para alterar comportamentos, auxiliando tanto em questões de saúde mental quanto na modulação da autoimagem.

Por exemplo, ao realizar um exame de consciência, um adolescente, adulto ou jovem senhor pode observar que algumas habilidades ou talentos foram alterados por intervenções de pais, chefes ou outras pessoas ao longo da vida, e que essas intervenções não representam necessariamente a verdade. Esses exames de consciência são importantes para a avaliação dos talentos e competências, permitindo uma autoimagem mais próxima da realidade.

Lembremo-nos de que a humildade é a verdade; isso significa que achar-se ruim ou desprovido de talentos não é sinal de humildade, mas pode ser uma modulação falsa adquirida ao longo da vida. Esse autoexame pode ser aplicado não apenas na relação da pessoa consigo mesma, mas também na relação com os outros. Muitas vezes, o autoexame revela nossa capacidade (ou a falta dela) de ver e valorizar o talento alheio.

A linguagem utilizada é um aspecto crucial que frequentemente não recebe a devida valorização. Modulações que promovam uma comunicação mais harmônica e cordial podem facilitar a manifestação dos próprios talentos, além de ajudar a observar e valorizar os talentos alheios. Uma linguagem harmônica e cordial não implica negligenciar a necessidade de correção ou pontuação; na verdade, essa abordagem estabelece uma ponte entre a avaliação de talentos e competências e a correção necessária.

Essa avaliação pode ser aplicada a qualquer pessoa em processo educacional, incluindo pais, padres, gestores e outros responsáveis pela instrução de indivíduos. Outra questão importante é a responsabilidade, que traz consigo a necessidade de escolher. Não há como ser responsável sem a capacidade de fazer escolhas. Para tomar boas decisões, é preciso ter bases morais sólidas. Essas questões estão intrinsecamente interligadas e não podem ser dissociadas.

Por fim, a santificação de qualquer pessoa passa pelo cumprimento do dever de estado. No caso dos sacerdotes, isso inclui preparar e oferecer boas homilias, ministrar os sacramentos conforme as normas canônicas e estar disponível para os fiéis. Os deveres dos pais e casais são manifestados no voto do matrimônio, incluindo a educação dos filhos na fé católica.

Esses são os deveres de estado. O dever de estado do filho é honrar pai e mãe e obedecer os mandamentos. A santidade passa pelo cumprimento do dever de estado e pela responsabilidade de arcar com esses deveres. Não é como uma pomba que pousa no ombro, sem que a pessoa cumpra suas responsabilidades.

Dei esses exemplos para que vocês possam revisitar e refletir sobre alguns aspectos. Outro ponto importante em relação às mudanças desenvolvidas após o processo de avaliação de talentos e competências, que pode ser autoaplicado ou aplicado a outra pessoa, é incentivar que a pessoa tome uma posição diante de algo errado. A Educação do Encorajamento incentiva a tomada de decisões.

Observe que há uma linha de interligação entre a linguagem harmônica e cordial, a responsabilidade e a tomada de decisões diante de situações equivocadas. Isso pode ocorrer na esfera social, eclesiástica, familiar e entre amigos. É importante incentivar esse aspecto. Uma criança que observa outra sofrer bullying, por exemplo, deve ter a formação moral e a fibra interior para ficar ao lado daquela que está sendo maltratada. Isso é criar um verdadeiro senso de justiça, de dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

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Diante de erros eclesiásticos, é imperativo questionar se possuímos uma dinâmica interna que encoraja as pessoas a se posicionarem contra tais equívocos, mesmo quando estão ligados a questões clericais sérias. Ou será que estamos presos em uma dinâmica de acobertar erros sob o pretexto de piedade? É fundamental refletir sobre a real eficácia dessa abordagem. Agindo dessa forma entre cristãos, podemos realmente ter esperanças sociais de cristianização? Será que isso representa justiça? Se não fazemos justiça entre nós, como poderemos promovê-la na sociedade?

Vivemos sob uma ditadura do silêncio, onde se promove a omissão diante do erro. Se essa é a realidade, esperar ações sociais cristãs verdadeiras não seria um engodo, uma falsificação do cristianismo?

Essas questões evidenciam que, muitas vezes, é mais fácil incentivar uma educação nivelada do que promover uma Educação do Encorajamento verdadeiramente cristã.


Trabalho como Método Educacional

A relação entre o trabalho e a inteligência é sintetizada por uma frase conhecida em meios científicos: quanto mais inteligente a pessoa, mais competências cognitivas ela possui. Tal indivíduo tem a capacidade de se conectar com as pessoas e de reconhecer realidades, uma aptidão também referida como inteligência, relacionada à vida intelectual.

O estudo não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas como um instrumento para enxergar a realidade com maior clareza. Ele promove a racionalidade sem eliminar a empatia e a amabilidade, que devem ser exercidas de forma controlada para gerar edificação e encorajamento. O trabalho, por sua vez, é uma excelente ponte para esses aspectos.

Projetos constituem uma das melhores formas de desenvolver talentos. Muitas vezes, pessoas inteligentes são capazes de detectar diversas formas e realidades, possuindo múltiplos talentos e habilidades, nem sempre na mesma área, independentemente de serem crianças, adultos, jovens ou idosos. Projetos de trabalho, desencadeados conforme o interesse e a motivação, tornam-se pontes para aplicar talentos e inteligência alimentados pelo estudo e reflexão.

Esses projetos facilitam o autoconhecimento e a compreensão das próprias habilidades, fomentando uma mentalidade de crescimento e aperfeiçoamento. Este é um dos motivos pelos quais, ao visitar o site Salus, é possível encontrar uma série de projetos como leitura bíblica, cronograma da Quaresma, Advento, plano de vida espiritual, entre outros. Eles incentivam a mentalidade de crescimento e aperfeiçoamento, facilitando o entendimento do que é virtude.

Especialmente quando falamos das virtudes morais, que crescem conforme o nosso esforço. Muitas vezes, tem-se a ideia de que a virtude é como uma luz que surge de repente e torna a pessoa virtuosa, mas não é assim que funciona. Embora Deus possa fazer isso, tanto no caso da pombinha no ombro do padre quanto no caso da luz, não é assim que Ele geralmente procede.

Portanto, essa mentalidade de crescimento é extremamente importante, tanto no aspecto educacional eclesiástico quanto no aspecto educacional geral. Se o objetivo é ensinar, é interessante inserir, no meio ou no final, um projeto para que a pessoa possa transbordar seu talento e aquilo que adquiriu e captou pela inteligência durante o aprendizado.

Na execução de projetos, sejam eles autoexecutáveis, como aqueles disponíveis no site, ou realizados com um grupo ou com alguém que tenha sido confiado à educação, podem surgir algumas questões que merecem atenção. A primeira é a assimilação de práticas que, muitas vezes, são vistas como normais, mas que, na realidade, não são. Na esfera eclesiástica, é importante observar que pode haver um desaproveitamento dos talentos locais. De modo geral, a maioria das dinâmicas de grupos, institutos, paróquias e dioceses não aproveita os talentos locais. Não há sequer interesse em conhecê-los ou saber do que são capazes.

Essa mentalidade, que já existe há muito tempo na Igreja, se alicerça na ideia de que o povo é ignorante. Muitos padres, inclusive, sustentam essa ideia, embora com outras palavras e expressões.

Muitas vezes, essa crença dificulta a execução de uma Educação do Encorajamento, pois é necessário acreditar que a pessoa possui talento e dar-lhe uma chance. Alguns podem pensar que, enquanto afirmo a necessidade de aulas, os talentos não devem ser aproveitados. Na verdade, devem sim ser aproveitados, mas também lapidados e aperfeiçoados. Por isso, falei da mentalidade de crescimento e aperfeiçoamento.

É fundamental valorizar os talentos locais, ao mesmo tempo que se proporcionam oportunidades de crescimento. Isso se aplica a diversas instâncias e ciclos sociais, que enfrentam a mesma dificuldade. Em vez de buscar dentro do próprio ciclo, frequentemente se procura fora, contratando externamente, inclusive na gestão da igreja. Em muitas dioceses, muitos dos que trabalham nas cúrias diocesanas nem são paroquianos assíduos, mas foram contratados.

Frequentemente, não há uma atenção adequada para a realidade paroquial ou diocesana. Quantas vezes você já viu, nas paróquias, vagas disponíveis na diocese para contratação? Talvez algumas pessoas da paróquia tenham capacidade para enviar seus currículos e se candidatar às vagas, mas isso nem é cogitado. Estamos tão absorvidos pelo desencorajamento que essa possibilidade nem nos ocorre.

Outro ponto que pode surgir na execução de projetos, sejam eles eclesiásticos, escolares ou em outros contextos, é a necessidade de estabelecer um ambiente favorável. Mais especificamente, é crucial que em qualquer processo educacional o ambiente seja propício e consiga combater algo que crianças ou adolescentes possam desenvolver: a impotência aprendida. Na igreja, isso é muito comum. As pessoas aprenderam que são impotentes, que não têm motivo para lutar por nada, o que gera apatia e uma sensação de desesperança. Muitas pessoas reclamam de quem faz denúncias na internet, mas não param para refletir por que isso acontece. A resposta é que, muitas vezes, elas buscam uma resposta no tribunal eclesiástico, que, embora existente e funcional, não oferece a resposta esperada. Com isso acontecendo reiteradamente, elas aprendem que são impotentes e que muitos discursos sobre escuta são enganosos.

Essas pessoas acabam buscando justiça em outros lugares, o que faz parte da educação cristã. É difícil um cristão não ter algum senso de justiça. Será que podemos culpá-los? Não parece justo, já que não receberam nenhum respaldo. Questões sociais dentro da igreja não surgem do nada; não são apenas rebeldias sem causa. Há fundamentos para essa situação.

Outro ponto a ser considerado é o sequestro da amígdala. A amígdala, uma região do cérebro (não a amígdala da garganta), está ligada a reações emocionais e gerencia o estresse. Quando uma pessoa é exposta reiteradamente ao estresse, como bullying na escola, maus-tratos ou abusos verbais de superiores, ela não só aprende a impotência, mas também começa a ter reações emocionais descontroladas devido ao sequestro da amígdala. Isso afeta a capacidade de gerenciar emoções, levando a explosões emocionais diante das mesmas situações de estresse.

No português, dizemos que a pessoa "explodiu do nada". Na verdade, isso não é do nada; pode ser resultado de uma carga de estresse prolongada e humilhação constante, levando a uma explosão emocional após um longo período de trauma.

Há um estudo comportamental realizado com dois grupos. Um grupo estava exposto a um barulho repetitivo e extremamente exaustivo, que parava quando faziam algo, como mexer uma alavanca. No outro grupo, independentemente do que faziam, o barulho continuava. O grupo que sempre obtinha uma resposta continuava buscando soluções para parar o barulho, aprendendo a não desistir. Já o grupo que não conseguia parar o barulho, independentemente de suas ações, eventualmente desistia de tentar, sabendo que o barulho não pararia.

Depois de algum tempo, os participantes foram colocados em outra situação, sem relação com o barulho. Aqueles que aprenderam que suas ações tinham impacto estavam prontos para resolver a nova situação. Enquanto os que aprenderam a impotência, por não terem controle sobre o barulho, não fizeram nada. Eles aprenderam que não adianta agir, e essa impotência se estendeu a todas as áreas de suas vidas.

Baseando-se nesse estudo, podemos refletir sobre o que está sendo incentivado em nós e nas pessoas ao nosso redor: encorajamento ou impotência aprendida? Quando a base educacional é a impotência aprendida, a autoridade é de fato autoridade?


Educação ao Longo da Vida

A educação ao longo da vida é imprescindível para ensinar a perspectiva da vida intelectual. Ensinar a vida intelectual não é algo facilmente exequível, pois se trata de um chamado específico. Antes disso, é necessário estabelecer um aspecto educacional contínuo ao longo da vida, com a percepção de autoeducação e autolapidação.

A educação não termina com a escola ou faculdade; é um processo contínuo. O traço de ser dedicado é tão importante quanto o de ser inteligente. Muitas pessoas inteligentes não enxergam o processo educacional como contínuo, o que resulta na falta de dedicação.

Para aprender, é preciso ter modelos. Sem encorajamento, atenção e responsabilidade, fornecer modelos torna-se ineficaz. A importância de fornecer alicerces é crucial para que as pessoas retenham e reproduzam o que aprendem. Por exemplo, apresentar vidas de santos como modelos não surte efeito se não houver uma base sólida. Sem essas bases, a aprendizagem não completa a reprodução necessária.

No contexto eclesiástico, a reprodução da vida dos santos não ocorre devido à falta de aprendizado da doutrina e das bases humanas da educação cristã. Aprender implica mudança de conduta, ligada ao estado mental e interior da pessoa, e requer um olhar atento e cuidadoso.


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Mapa Mental da Aula: https://drive.google.com/file/d/1auLt...

Referência para citação: BARROS, Ana Paula. Educação do encorajamento na Igreja e na Sociedade. Transcrição da aula ministrada em 24 de abril de 2024. Aula disponível na íntegra aqui.


Referências:


ALBUQUERQUE, Fabíola da Silva; SILVA, Regina Helena. A amígdala e a tênue fronteira entre memória e emoção. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 31, n. 3, supl., 2009. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rprs/a/7x9NJbSS9Gz4KfyLgR4VjGK/>. 

BASTOS, Fernando. Deveres - Dez Minutos de Cultura Espiritual por Dia. São Paulo: Editora Cultural, 2022. Disponível em: <https://amzn.to/4daHeQ8>. 

GILBERT, Anthony. Podres de Mimados - As consequências do sentimentalismo tóxico. Rio de Janeiro: Editora Realidade, 2020. Disponível em: <https://amzn.to/49KuoFr>. 

NOGUEIRA, José. Direitos máximos, deveres mínimos: O festival de privilégios que assola o Brasil. Brasília: Editora Nacional, 2021. Disponível em: <https://amzn.to/4aVXDGq>. 

PIO XII. Mediator Dei, 20 de novembro de 1947. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/pius-xii/it/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_20111947_mediator-dei.html>.

PIO XII. Mensagem ao IV Congresso Interamericano de Educação Católica, 5 de agosto de 1951. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/pius-xii/it/speeches/1951/documents/hf_p-xii_spe_19510805_congresso-educazione-catolica.html>. 

REESE, William L. História da Filosofia. São Paulo: Editora Filosófica, 2018. Disponível em: <https://amzn.to/4daHMG2>. 

SILVA, João Carlos. A Selva - Virtudes e Deveres do Sacerdote. Rio de Janeiro: Editora Sacra, 2020. Disponível em: <https://amzn.to/4b7WLyj>. 

WEAVER, Richard M. As Ideias Têm Consequências. São Paulo: Editora Pensamento, 2019. Disponível em: <https://amzn.to/3Ut7Ogk>. 








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"Pois o preceito é lâmpada, e a instrução é luz, e é caminho de vida a exortação que disciplina" - Provérbios 6, 23

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Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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