Livro de Juízes: Visão Geral

by - abril 09, 2021





Livro de Juízes: Visão Geral



Introdução

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Livro de Jó


Vamos recapitular: depois de Josué liderar as tribos de Israel para a Terra Prometida ele os convocou a serem fiéis a aliança com Deus e para obedecer aos mandamentos da Torah. Se eles fizessem isso, eles mostrariam a todas as outras nações como Deus é. 


O livro de Juízes começa com a morte de Josué e basicamente conta a história de como Israel falhou totalmente em sua promessa de cumprir os preceitos de Deus. 


O nome do livro vem dos líderes tribais que Israel tinha nessa época. Antes de terem reis, as tribos eram governadas por esses juízes, mas não pense em uma corte ou em algo organizado, eles eram líderes regionais, políticos e militares. 


Eu aviso que: o livro de Juízes é bastante perturbador. Ele relata o caminho trágico de corrupção moral de Israel, da sua péssima liderança e basicamente, como eles se tornaram tão maus quanto os canaanitas e até mesmo, em dado momento, nos lembram o que aconteceu em Sodoma e Gomorra. 


Mas essa triste história também tem como objetivo gerar esperança para o futuro e você pode ver isso através da estrutura do livro. 


Há uma longa introdução que precede a falha de Israel ao não expulsarem os canaanitas remanescentes,
a maior e principal seção do livro contém histórias sobre a crescente corrupção dos Juízes de Israel e a história mostra como os líderes de Israel foram de "muito bons" para "ok", "ruins" e, por fim, "péssimos". Assim, a seção conclusiva é muito perturbadora e mostra a corrupção do povo de Israel como um todo. 


Primeira Parte 


A abertura começa com as tribos de Israel em seus territórios na Terra Prometida, enquanto Josué derrotou algumas cidades-chaves canaanitas ainda há muita terra para ser conquistada e muitos canaanitas vivendo nessas áreas. O capítulo 1 mostra uma longa lista de grupos e cidades canaanitas que Israel falhou em expulsar da Terra Prometida. Lembrem-se: o motivo para se expulsar os canaanitas era para evitar sua corrupção moral e sua maneira de adorar aos deuses através de sacrifícios infantis. 

Deus chamou Israel para ser um povo santo, e isso não aconteceu, pois Israel desobedeceu.

O capítulo 2 descreve como Israel conviveu com os canaanitas e adotou todas as suas práticas morais e religiosas, é bem aqui que a história para.


Por praticamente um capítulo inteiro, o narrador nos dá um panorama do que irá acontecer no resto do livro. Essa parte da história de Israel, segundo o narrador, foi uma série de fracassos que colocaram Israel em um ciclo repetitivo de corrupção. 


Israel se tornou como os canaanitas e pecaria contra Deus. Ele, por sua vez, iria permitir que eles fossem conquistados e oprimidos pelos canaanitas e eventualmente, os israelitas veriam que seus caminhos eram errôneos e se arrependeriam, então Deus iria levantar um libertador, um juiz, do meio de Israel que derrotaria o inimigo e traria uma era de paz, mas eventualmente, Israel iria pecar novamente e todo o ciclo se repetiria. Esse ciclo provê a estrutura literária da próxima parte do livro. 


As histórias dos primeiros 3 juízes, Othoniel, Ehud e Deborah são aventuras épicas e também são histórias extremamente sangrentas, o próprio juiz ou as pessoas que ajudaram os juízes, derrotaram os inimigos e libertaram o povo de Israel. 


As histórias sobre os próximos 3 juízes são mais longas e elas focam nas falhas de caráter dos juízes, que começam a piorar cada vez mais. 

Gideão: ele começa muito bem, é um homem covarde mas eventualmente ele começa a acreditar que Deus pode salvar Israel através dele e então, ele derrota um exército enorme de Madianitas (descendentes de Madiã, filho de Abrãao com sua segunda esposa Cetura) com apenas 300 homens carregando tochas e vasos de barro. Mas Gideão tem um temperamento desagradável e ele assassina um monte de israelitas por não ajudá-lo na batalha e então, tudo vai ladeira abaixo a partir daí.
Ele faz um ídolo a partir do ouro que ele ganhou nas batalhas e depois que ele morre, todo o Israel adora o ídolo como um deus, e o ciclo de corrupção começa novamente. 


O próximo juiz principal é Jefté, que é um tipo de mercenário que vivia nas montanhas (ele era um marginal, falando mais claramente) e quando as coisas ficam bem ruins para Israel, os anciãos vão até ele implorando por sua ajuda (!). Jefté era realmente um líder bem efetivo, ele venceu muitas batalhas contra os Amonitas (descendentes de Amon, filho do incesto entre Ló - sobrinho de Abraão e a sua filha). 

Mas Jefté conhecia tão pouco o Deus de Israel que ele o trata como um deus canaanita e promete sacrificar sua filha se ele ganhasse a batalha! Justamente o que Deus não queria que eles fizessem, como vimos. Essa história trágica mostra o quão grande havia sido a queda de Israel, eles não conheciam mais o caráter de seu próprio Deus, o que os leva ao assassinato e falsa adoração. 

O último juiz, Sansão, é de longe o pior. Sua vida começa cheia de promessas, cheia de oportunidades de penitência, ele deveria ser penitente, sua vinda é anunciada por um anjo e ele viveria como um nazireu. Nós falamos sobre esse voto quando comentamos os Atos dos Apóstolos (aqui), mas vamos retomar aqui: 


Observações sobre o Voto do Nazireu:

Os nazireus formavam grupos ascéticos no judaís­mo. Eles tomavam vários votos, como abster-se de vinho, não entrar em contacto com qualquer coisa imunda, ou não aparar os cabelos. Entre os antigos hebreus, esses votos eram vitalícios (ver a história de Sansão). E o trecho de Amos 2,12 sugere que os nazireus eram muito prestigiados em Israel.

A legislação posterior, entretanto, permitia que tais votos fossem limitados quanto ao tempo (ver Josefo, Guerras 2,15,1). Mas, um elemento que nunca foi abandonado foi o de um severo ascetismo. O voto do nazireado aparece em Núm. 6,1-20. Ninguém podia fazer tais votos por um período inferior ao de trinta dias. Sansão, Samuel e João Batista (de acordo com muitos eruditos), foram nazireus vitalícios. A instituição do nazireado tinha por intuito tipificar a separação e um modo de viver santificado e restrito. A cabeleira crescida simbolizava a virilidade e virtudes heróicas.

As madeixas de cabelos simbolizavam uma simplicidade infantil, poder, beleza e liberdade. Maimônides, um sábio judeu sefardi (falecido em 1204), referiu-se à dignidade dos nazireus como equivalente à de um sumo sacerdote. E antes dele, Eusébio, o grande historiador eclesiástico da Igreja antiga, asseverou, em termos enfáticos, que os nazireus tinham acesso ao Santo dos Santos, em Israel (Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica 2,23).

Os pais podiam dedicar seus filhos homens a esse grupo religioso separatista. Entretanto, os nazireus não viviam em comunidades separadas, e nem lhes era vedada a associação com outras pessoas, ou de se ocuparem em atividades comuns. Viviam na comunidade de Israel como símbolos de dedicação especial a Yahweh. Essa era a principal função dos nazireus. E eles mostravam-se ativos no serviço religioso e nas práticas ritualistas.

Esse voto podia variar quanto à sua duração. Podia ser imposto às crianças, por seus pais, que as dedicavam à vida do nazireado, como foi o caso de Sansão (ver Jz 13,5,14), e talvez de Samuel (ver I Sam. 1, 11) e de João Batista (Lc. 1,15). A Mishna (livro da tradição judaica) afirma que esses votos eram tomados por um mínimo de trinta dias, e que o período de sessenta dias era o mais comum. O voto tomado por Paulo, conforme está registrado em Atos 18, 18, provavelmente foi um voto temporário de nazireu. O voto se constituía (e constitui, ainda existe entre os judeus, mas possuí modificações):

ProibiçõesOs nazireus precisavam abster-se de vinho, de todas as bebidas alcoólicas, de vinagre, e até de uvas e passas de uvas. A experiência humana exibe claramente os debilitantes efeitos espirituais das bebidas alcoólicas. Além disso, esses votos provavel­mente eram um protesto contra as práticas pagãs, onde as bebidas alcoólicas eram usadas para agitar aos adoradores, levando-os a cometerem toda sorte de excessos. Um forte exemplo dessa adoração, era a embriaguês exercidas pelos adoradores do deus Baco ou Bako, sendo ele tido pelos pagãos como o deus do vinho. Essa adoração era dada através do consumo exagerado de vinho pelos seus fiéis misturadas com muitas músicas e batuques, originando daí o tão famoso carnaval dos dias atuais.
Mas os nazireus também não podiam tocar em coisas imundas, como um cadáver, mesmo que se tratasse de um parente próximo. E cumpre-nos observar que os sumos sacerdotes de Israel também não se podiam contaminar desse modo.

Requisitos. Um nazireu não podia cortar os cabelos durante todo o tempo em que perdurasse a sua consagração. As referências literárias mostram que os cabelos de uma pessoa eram considerados a sede da vida, e até mesmo a habitação de espíritos e de influências mágicas. Talvez por essa razão é que, terminado o voto do nazireado, a pessoa precisava raspar seus cabelos e queimá-los, como medida eficaz para anular quaisquer poderes que os cabelos fossem tidos como possuidores.


Mas  voltando a Sansão, ele não tinha respeito pelo Deus de Israel: era promíscuo, violento e arrogante, no entanto, venceu brutalmente batalhas estratégicas sobre os Filisteus mas apenas ao custo de sua própria integridade e sua vida termina num ato que é um misto entre a depravação de um juiz e a doação pelo chamado. É interessante notar que Sansão é constantemente tentado pelos olhos e falha sempre, é um dedo podre convicto, caindo sempre na depravação, e no final ele fica cego fisicamente. Ele é o retrato do povo de Israel, chamado para algo sublime, fracassa por se deixar corromper pelo mundo e, no final, quer servir mas está já cego pelas paixões e sofre com isso. 


Você irá notar um tema recorrente na seção principal do livro é: que em momentos-chave, o espírito de Deus se apossava de cada um desses juízes para completar esses grandes atos de libertação. Mas veja, o fato de Deus usar essas pessoas bem complicadas não significa que Ele apoiava qualquer uma das decisões deles. 


Deus é comprometido primeiramente e principalmente em salvar Seu povo e tudo o que Ele tem para trabalhar são esses líderes corruptos, e Ele os usa mesmo assim. Isso nos diz muito sobre o poder de Deus apesar de nós mesmos, Ele é capaz de fazer a pessoa errada fazer a coisa certa em prol do Seu Plano de Salvação. 


Essa seção inteira é montada para mostrar o quão ruim as coisas estavam. O leitor não consegue mais distinguir entre os israelitas e os canaanitas. 


Segunda Parte


A última seção mostra Israel como um todo chegando no fundo do poço. Existem duas histórias trágicas aqui, e elas não são para os que tem coração fraco. 


Elas são estruturadas por essa frase-chave que é repetida 4 vezes até o final do livro: "Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo."


A primeira história é sobre um Israelita chamado Mica (ele era da tribo de Efraim), que constrói um templo particular para um ídolo e esse templo é saqueado por um exército privado, enviado pela tribo de Dan (ou seja, nós estamos falando de saques entre tribos irmãs). Os danitas roubam tudo e queimam a cidade pacífica de Laís,  assassinam todos os seus habitantes, fazem isso fora da guerra e sem um motivo realmente importante. 


Quando Israel se esquece de seu Deus, quem tem mais poder faz o que quer. 


Mas a última história do livro é ainda pior. É um relato chocante de abuso sexual e violência, que leva a primeira guerra civil de Israel. É bem perturbadora. O primeiro caso de abuso foi a filha de Jacó e Lia, Dina (relatado em Gênesis 34) que foi violentada por um estrangeiro, Siquém. Seus irmãos Simeão e Levi a vingaram e mataram a cidade toda (curiosamente, Jacó não gostou nada desse caminho).

No entanto, a narrativa nos faz lembrar o episódio de Sodoma e Gomorra, os visitantes estavam sendo assediados pelos moradores (embora não da forma tão depravada como Gomorra e Somoda) e a moça é dada para que eles se calem, ela é estuprada até a morte. Vale lembrar que isso aconteceu sendo ela esposa de um levita numa cidade bejaminita, ou seja, ela foi assediada por benjaminitas, uma tribo irmã, israelitas. Considerando que os levitas eram sacerdotes podemos dizer que o desrespeito ao Senhor se personificou nesse ato de corrupção e esquecimento completo das Leis de Deus e dos laços filiais. 



Portanto, esse é o ponto: essas histórias devem servir como um aviso.  A queda de Israel de maneira auto-destrutiva é resultado de se voltar contra o Deus que os ama e os salvou da escravidão no Egito, e agora, Israel precisa ser liberto outra vez, deles mesmo, pois tinham escolhido o caminho da maldição. 


O único vislumbre de esperança nessa história é encontrada nessa frase repetida na última parte do livro
e que forma a última sentença da história: "Israel não tinha um Rei."


Então, o palco está preparado para os próximos livros contarem a origem da família do Rei Davi, que começa com o livro de Rute (a moabita, descendentes de Moab, filho do incesto entre Ló e sua filha), e também a origem da realeza em Israel, no livro de 1 Samuel. 


O livro de Juízes é uma explicação sóbria da condição humana, e em última análise aponta para a necessidade da graça de Deus em enviar um rei que irá resgatar o Seu povo. 





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