Resenha: O abandono à Providência Divina| Padre Jean Pierre de Caussade

by - março 09, 2020






Nome do livro: O abandono à Providência Divina
Autor: Padre Jean Pierre de Caussade (7 de março de 1675 - 8 de dezembro de 1751) foi um padre e escritor jesuíta francês .

Data da leitura: 2019
Editora: Minha Biblioteca Católica
Total de páginas: 143




 Qual o contexto histórico do livro? 




O "tratado do abandono" foi composto, ao que parece, de cartas dirigidas às irmãs do mosteiro da Visitação em Nancy, França, em 1723. Foi editado somente em 1861, pois temia-se que as instruções do padre às irmãs fossem confundidas com Quietismo, heresia condenada por Inocêncio XI (1611-1689). Tal temor se deve a constante confusão que se faz entre abandonar-se à Vontade Divina e acreditar que isso significa não ter nenhuma responsabilidade ativa e moral em tal relacionamento. 

Os textos, por fim, foram publicados - com grande sucesso - a 5ª edição, no entanto, foi enriquecida com cartas do editor defendendo a doutrina do Padre Caussade e diferenciando-a da heresia quietista, para realmente não gerar nenhuma confusão. 

O quietismo é uma heresia cujas origens remontam ao século XVII e a figura que mais o representa é o sacerdote espanhol Miguel de Molinos. O quietismo se difundiu na Europa, especialmente na França, Itália e Espanha.

Segundo a doutrina quietista, o fiel alcançaria a Deus mediante a oração contemplativa e a passividade da alma. No estado de quietude, a mente humana se torna inativa, já não apresenta vontade própria, mas permanece passiva, sendo Deus mesmo quem opera nela. No entanto, tal doutrina pode gerar confusão em relação a responsabilidade moral que cada um tem ao viver a vida cristã. A doutrina foi condenada e considerada herética pelo papa Inocêncio XI, e Molinos, foi mantido no Castelo de Santo Ângelo e faleceu em 1696.

O interessante é que essa dinâmica do ativo e passivo da alma em relação a união com Deus já estava exposto nos livros de Santa Teresa (1515 - 1587) , que é de mais ou menos dois séculos antes da escrita do livro e um século antes de Molinos. 

Posteriormente Santa Teresinha (1873-1897) vive a doutrina do abandono, ela entrou no Carmelo em 1888, por volta de 20 anos após a 5ª edição desse livro. Será que ela também o leu? Nunca saberemos, mas só a suspeita já me deixa animada!

Voltando ao ano da escrita do livro, 1723, podemos citar dois acontecimentos, além dos já citados: o término da construção do Aqueduto da Carioca, atualmente os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro e a apresentação das Quatro Estações de Antonio Vivaldi (1678-1741, ele tinha 45 anos nessa época).



 O que esse livro acrescentou na minha vida pessoal? 

Um aprofundamento na doutrina do abandono em relação a Total Consagração a Nossa Senhora pelo Método de São Luís de Montfort (o Tratado da Verdadeira Devoção foi escrito em 1712, por volta de dez anos antes deste "Tratado do Abandono", além do fato que São Luís visitou Nancy algumas vezes, se não me falha a memória, será que eles encontraram-se? Fica aí, mais uma suspeita animadora que nunca saberemos, não é mesmo?), o autor não faz essa ligação, mas eu me vi muitas vezes casando as duas coisas. E ainda me possibilitou relembrar que as inspirações divinas aperfeiçoam o cumprimento dos deveres de estado. 




 Para quem você indicaria esse livro? 


Aos que querem viver a Vontade Divina, aos que a questionam, aos que fogem dela, aos que se revoltam contra ela.




 Citações favoritas 



"Mas para não se desviar nem para a direita nem para a esquerda, a alma precisa de não seguir inspiração alguma que julgue recebida de Deus, antes de se ter certificado de que essa inspiração não afasta dos seus deveres do seu estado. Estes deveres são a manifestação mais curta da Vontade de Deus [Ordem Divina], e nada lhes deve ser anteposto; neste ponto nada há a temer, nada a excluir nem distinguir. Os momentos consagrados ao cumprimento dos próprios deveres são para alma os mais preciosos e os mais salutares, por isso mesmo que lhe dão a segurança indubitável da aprovação de Deus".


"Deus faz os santos como bem lhe apraz, a sua ordem é que os faz a todos e todos devem ser sujeitos a esta ordem".


"Na submissão à ordem de Deus, quanto mais esta submissão se torna absoluta, tanto mais eles se santificam".


"Penso que a santidade corresponde ao amor que temos ao beneplácito de Deus, e que quanto mais esta vontade e esta ordem forem amadas, seja qual for a ação material que elas prescrevam, tanto mais santidade haverá". 


"O mais perfeito em geral, é a submissão à ordem de Deus quer no cumprimento dos deveres exteriores quer nas disposições interiores". 


"A santidade é simplesmente um fiat, uma disposição de vontade conforme a Vontade de Deus; haverá coisa mais fácil?"


"Encontrar a Deus nas menores coisas e mais comuns, como nas maiores, é ter uma fé invulgar, uma fé grande e extraordinária."


"A vida de fé não é senão uma busca incessante de Deus através de tudo aquilo que O esconde, O desfigura e por assim dizer destrói e aniquila".


"O momento presente está cheio de tesouros infinitos excedendo em muito a vossa capacidade receptiva"


"A morte dos sentidos, a sua destruição e o seu aniquilamento são o reino da fé".


"A Palavra de Deus escrita é cheia de mistério, mas não o é menos a sua palavra realizada nos acontecimentos do mundo".


"O tempo que há de decorrer até ao fim do mundo não é mais que um dia e este dia é um dia cheio de Jesus".


"Todos os momentos dos Santos são o Evangelho do Espírito Santo. As almas santas são o papel os seus sofrimentos e ações são a tinta."


"A ação divina mortifica e vivifica com o mesmo golpe, quanto o mistério é mais obscuro, maior luz encerra".


" O que nos instrui é o que hora a hora, momento a momento, nos vai sucedendo".


"O momento presente é sempre um embaixador que declara as Ordens de Deus. O coração pronuncia o fiat. A alma vai deslizando assim para o seu centro e para seu termo".


"O que Deus realiza em cada momento é um pensamento divino significado por uma coisa criada".


"Só Deus pode fazer conhecer a cada alma a ideia que está destinada a realizar".


"É preciso não ser covarde mais decidido como convêm a instrumentos divinos". 



 O que você aprendeu sobre a Igreja com essa leitura? 



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