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Salus in Caritate

Cultura Católica


estudo da carta aos corintios pela doutrina catolica



Introdução

Este é um material de apoio do Projeto de Leitura Bíblica: Lendo a Bíblia, para baixar o calendário de leitura bíblica e os outros textos de apoio dos Doutores da Igreja , online e pdf, sobre cada livro da Bíblia, clique aqui. 

Este projeto é um dos ramos de uma árvore de conteúdos planejados especificamente para o seu enriquecimento. Os projetos que compõem esta árvore são: Projeto de Leitura Bíblica com textos de apoio dos Doutores da Igreja (baixar gratuitamente aqui), Plano de Vida Espiritual (baixar gratuitamente aqui), o Clube Aberto de Leitura Conjunta Salus in Caritate, com resenha e materiais de apoio (para ver a lista de livros, materiais e os cupons de desconto  2020 clique aqui) e o Salus in Caritate Podcast (ouça em sua plataforma preferida aqui). 



Nota do VS: O presente texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de um belíssimo e extraordinário comentário da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios feito pelo mais Doutor dos Santos e o mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é, de Santo Tomás de Aquino.
A tradução para a língua portuguesa foi feita por Rodrigo Santanta e revisada por Alessandro Lima de um texto editado em castelhano pela Editorial Tradicón (S. A. Av. Sur 22 No. 14 – entre Oriente 259 y Canal de San Juan – , Col Agricola Oriental. Codigo Postal 08500) de 1983. A edição em castelhano (disponível no site da Congração para o Clero: http://www.clerus.org) se deu através de um exemplar em latim intitulado Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici super Primam Epistoiam Sancti Pauli Apostoli ad Corinthios expositio editado por Petri Marietti em 1896.
O texto bíblico citado por Santo Tomás é o da Vulgata de São Jerônimo, infelizmente as atuais traduções em português não são tão fiéis aos termos empregados nesta referência católica das Escrituras, desta forma optamos por traduzir da Vulgata os textos utilizados neste comentário, dando assim maior uniformidade e fidelidade ao texto latino de Santo Tomás.
O que nos motiva a publicar o presente trecho do comentário de Santo Tomás (sobre o capítulo 14 de 1 Cor) é que ele trata de um tema  ainda muito incompreendido entre nós católicos deste século: o dom de línguas. Neste trecho de seu comentário o Doutor Angélico apresenta-nos a doutrina tradicional da Santa Igreja Católica a respeito deste tema que é de especial interesse em nosso tempo. É mister lembrar ainda que os Pontífices Romanos não só recomendaram-nos à doutrina do Aquinate (Santo Tomás), mas também em diversas oportunidades confirmaram a autoridade de seus ensinamentos para toda a Igreja Católia (alguns exemplos: Aeterni Patris de Leão XIII, Doctoris Angelici de S. Pio X , Lúmen Ecclesiae de Paulo VI, Sapientia Christiana, Laborem exercens, Inter Munera Academiaraum de João Paulo II).




Comentário de Santo Tomás de Aquino à Primeira Carta aos Coríntios


Capítulo 14
Texto sobre o dom de línguas.
Lição 1: 1Co 14,1-4

Primazia do dom da Profecia sobre o dom de línguas.

1.    Buscai a caridade; mas também desejai com emulação os dons espirituais, especialmente a profecia.2. Pois o que fala em línguas não fala aos homens senão à Deus. Em efeito, nada ele entende: diz verbalmente coisas misteriosas.3. Pelo contrário, o que profetiza fala aos homens para sua edificação, exortação e consolação.4. O que fala em línguas, edifica-se a si mesmo; o que profetiza, edifica toda a assembléia.

Uma vez afirmada a excelência da caridade à respeito dos demais dons, logicamente compara agora o Apóstolo os demais dons entre si, e mostra a excelência da profecia sobre o dom das línguas. E para isto faz duas coisas. Primeiro mostra a excelência da profecia sobre o dom das línguas, e logo como se deve usar tanto do dom das línguas como o da profecia.

Primeiramente, faz duas coisas. Faz ver que o dom da profecia é mais excelente que o dom das línguas, em primeiro lugar por razões relativas aos infiéis, e em segundo por razões da parte dos fiéis.

A primeira parte se divide por sua vez em duas. Primeiro mostra como o dom da profecia é mais excelente que o dom das línguas pelo uso daquele nas exortações ou ensinamentos; em segundo termo, pelo que vê do uso das línguas, que é para orar. Com efeito, para estas duas coisas é o uso das línguas: Por isso aquele que fala em línguas peça para poder interpretar (14,13). Enquanto ao primeiro, ainda duas coisas. Desde logo antepõe uma, pela qual se assegura o que segue; e ela é isto: Dito está que a caridade excede a todos os dons. Logo se isto é assim, buscai, isto é, esforçadamente, a caridade, que é o doce e proveitoso vínculo dos espíritos. Ante todas as coisas a caridade, etc. (1P 4,7). Sobre todas as coisas tenham caridade (Cl. 3,14).
...

Mas como nas coisas espirituais existem certos graus, porque a profecia excede o dom de línguas, se disse: especialmente a profecia, como se dissera: entre os dons espirituais desejai com maior emulação o dom da profecia. Não extingais o Espirito; não desprezeis a profecia (1Filem 5,19-20).

Mas para a explicação de todo o capítulo devem-se ter desde agora em conta três coisas, a saber: o que é profecia, de quantos modos se designa a profecia na Sagrada Escritura, e o que é falar em línguas.

Acerca do primeiro se deve saber que profeta é algo assim como o que vê ao longe, e em segundo lugar alguns o entendem como falar prognósticos, mas todavia melhor se toma por guia, farol, que é o mesmo que ver.

...
É, pois, a profecia a visão ou manifestação de futuros incertos ou do que excede a inteligência humana. Mas para tal visão se requerem quatro coisas.
Com efeito, como nosso conhecimento é mediante as coisas corporais e por espectros ou imagens tomadas das coisas sensíveis, primeiramente se necessita que na imaginação se formem semelhanças corporais das coisas que se mostram, como ensina Dionísio, pelo qual é impossível que nos ilumine a luz divina se não seja mediante a diversidade das coisas sagradas envoltas em véus.
O que em segundo lugar se necessita é uma luz intelectual que ilumine o entendimento sobre coisas que se devem conhecer acima de nossa natural cognição.

Com efeito, como a luz intelectual não se dá senão sobre as semelhanças sensíveis formadas na imaginação para serem entendidas, aquele a quem tais semelhanças se mostram não pode ser chamado profeta, mas senão um sonhador, como o Faraó, que embora viu espigas e vacas, as quais indicavam certos fatos futuros, como não entendeu o que viu, não se chama profeta, senão que o é, aquele José, que fez a interpretação. E o mesmo há que dizer de Nabucodonosor, que viu a estátua, mas não entendeu. Pelo qual tampouco ele foi chamado profeta, senão a Daniel. Pelo qual se disse em Daniel 10,1: Lhe foi dada na visão sua inteligência.

O que em terceiro lugar se necessita é ousadia para anunciar o revelado. Pois para isto fez Deus suas revelações: para que sejam manifestadas aos demais. Eis, eu ponho minhas palavras na tua boca (Jr. 1.9).

O quarto são os milagres, que são para a certeza da profecia. Pois se não fizerem alguns, que excedam as forças naturais, não crerão naquilo que está por cima da cognição natural.

Pelo que aponta ao segundo, os modos da profecia, sabemos que existem diversos modos de ser profeta. 
Com efeito, às vezes se diz que alguém é profeta porque tem estas quatro coisas, a saber: que vê visões imaginárias, e têm a compreensão delas, e ousadamente as manifiesta aos demais e também faz milagres, e de um como está dito em Numeros 12,6: Se existe entre vós um profeta, etc.

Chama-se também às vezes profeta o que só tem as visões imaginárias, mas impropriamente e muito de longe.

Também se diz às vezes profeta ao que tem a luz intelectual para explicar também as visões imaginárias, ou feitas a ele mesmo, ou a outros; ou para expor os ditos dos profetas ou as Escrituras dos Apóstolos.
...

Mas o que aqui diz o Apóstolo em todo o capítulo sobre os profetas deve-se entender do segundo modo, isto é, do que se diz que profetiza aquele que explica em virtude da luz divina intelectual as visões recebidas por ele mesmo ou por outros. É claro que aqui se trata desta classe de profetas.

Quanto ao dom de línguas devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar pelo mundo a fé de Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos anunciassem a palavra de Deus, o Senhor deu-lhes o dom de línguas, para que a todos ensinassem, não de modo que falando uma só língua fossem entendidos por todos, como alguns dizem, mas sim, bem literalmente, de maneira que nas línguas dos diversos povos falassem as de todos. Pelo qual disse o Apóstolo: Dou graças a Deus porque falo as línguas de todos vós (1Cor 14,18). E em Atos 2,4, se disse: Falavam em várias línguas, etc. E na Igreja primitiva muitos alcançaram de Deus este dom.

Mas os corintios, que eram de indiscreta curiosidade, preferiam esse dom que o da profecia. E aqui por falar em língua, o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguém falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la, esse tal fala em língua. E também é falar em língua o falar de visões somente, sem explicá-las...

Visto estas coisas, dediquemo-nos à exposição da carta, que é clara. E para isto faz o Apóstolo duas coisas. Primeramente prova que o dom de profecia é mais excelente que o dom de línguas; e em segundo lugar rechaça qualquer objeção: Volo autem vos…: Desejo que faleis todos em línguas; prefiro, contudo, que profezeis (1Cor 14,5). Que o dom de profecia exceda o dom de línguas o prova com duas razões, das quais toma a primeira da comparação de Deus com a Igreja; e a segunda razão se toma da comparação dos homens com a Igreja.

A primeira razão é a seguinte: Aquilo pelo qual faz o homem as coisas que não são unicamente em honra de Deus, mas também para utilidade dos próximos é melhor que aquilo que se faz tão unicamente em honra de Deus. É assim que a profecia é não unicamente em honra de Deus, mas também para a utilidade do próximo, e pelo dom de línguas se faz unicamente o que é em honra de Deus. Logo etc.

Averigua esta razão, e primeiramente enquanto a sua primeira parte, para o qual disse: O que fala em línguas edifica-se a si mesmo (1Cor 14,4). (Dentro de mim meu coração me ardia, Sl. 38,4). Em segundo lugar enquanto a sua segunda parte, para o qual disse: Mas o que profetiza edifica, instruindo, a Igreja, isto é, aos fiéis. Edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas (Ef. 2,20).

Como se dissera: não menosprezo o dom de línguas como se dele caressese, pois eu também o tenho, pelo qual disse: graças dou a Deus. E para que não se creia que todos falavam uma só língua, disse: porque falo todas as línguas de vós (Falavam os Apóstolos em várias línguas, Atos 2,6). 
...

Assim é que está escrito que em línguas estranhas, isto é, em diversos gêneros de línguas, e por lábios estrangeiros, ou seja, em diversos idiomas e modos de pronunciar, falarão a este povo, ao dizer, aos judeus, porque este sinal se deu especialmente para a conversão do povo judeu: Nem assim escutaram, porque com sinais manifestos não creram. Endureceu o coração deste povo, etc. (Is 6,10).

... não obstante que o dom de línguas se ordena para a conversão dos infiéis...

Disse, pois, primeiramente que o modo de usar do dom de línguas deve ser de tal maneira entre vós, que se fala em línguas, ou seja, sobre visões, ou sonhos, tal discurso não se faça por muitos, de modo que o emprego do tempo nas línguas não deixe lugar aos profetas, e se gere a confusão. Senão que falem dois, e se for necessário três, de modo que seja suficiente com três. Por declaração de dois ou três (Dt 17,6). E é de notar-se que este costume é conservado até agora na Igreja. Porque lições, e epístolas e evangelhos temos no lugar das línguas, e por isso na Missa falam dois, pois só por dois se dizem as coisas que pertencem ao dom de línguas, isto é, epístola e evangelho. (nota: São Tomás fala dos mistérios da Palavra de Deus interpretado corretamente pela Igreja)

...ensina quando não se deve usar das línguas dizendo que se deve falar por partes e que haja um que interprete. Porque se não há quem interprete, que quem tiver o dom de línguas guarde silêncio na assembléia, isto é, que não fale nem anuncie as pessoas na língua desconhecida (nota: sendo língua desconhecida sonhos, visões ou qualquer outra coisa sem entendimento) ... 

Assim é que não vale o pretexto de que te impulsiona o Espírito sem que possa calar.

Contudo, como, todavia poderia objetar-se que aquilo não ocorreria porque somente aos Coríntios mandava o Apóstolo estas coisas e não às demais Igrejas, pelo que até como algo molesto poderia ser considerado, agrega que isto ensina não somente a eles senão também em todas as Igrejas; e com efeito disse: Como ensino em todas as Igrejas dos Santos sobre o uso das línguas e da profecia. Já disse acima: Que tenhais todos um mesmo sentir (1Cor 1,10).



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Ponto I



Deus é Soberano e Senhor de todas as coisas, pois todos os seres do mundo estão sujeitos ao governo e domínio supremo, único e absoluto de Deus. Assim, coisa alguma existe no mundo espiritual, material e humano, independente da ação divina, a qual conserva a existência de todos os seres e os conduz ao fim para o qual foram criados, que é Deus mesmo e a sua própria glória.


Deus rege e conserva o universo para que, na ordem e concerto do mundo, se possa refletir e manifestar o pensamento Daquele que o criou, o conserva e o governa. Assim, o concerto e a ordem admiráveis do universo expressam a glória de Deus.

No plano atual da Providência, não existe nada mais perfeito e grandioso que a obra da Criação, a conservação e o governo do universo. Isso considerando um fato ainda mais sublime: dizemos plano atual da Providência, pois Deus é onipotente, assim nem o conjunto das obras mais perfeitas pode exaurir o seu poder infinito.





Ponto II


Deus governa o universo conservando-o no ser e conduzindo-o ao fim para o qual foi criado. É o próprio Deus que conserva a existência dos seres. Assim, a conservação do universo, assim como a Criação, são obras próprias e exclusivas de Deus.

Deus poderia aniquilar o mundo, se assim quisesse; bastaria que suspendesse por um instante a ação que dá, a cada momento, a virtude do ser. Logo, a existência das coisas se mantém debaixo da ação direta, absoluta e constante de Deus.

O fim da Criação é a glória de Deus, e a glória exige não a destruição, mas a conservação do criado.

As criaturas, por sua vez, apresentam transformações, mais ou menos profundas, conforme a espécie, e dentro da mesma espécie, conforme os diversos estados. Algumas transformações ocorrem por ação direta de Deus. Tais ações, quando fogem da explicação humana, são chamadas de milagres. Deus fez e faz milagres por sua bondade, para que os homens vejam a sua grandeza, para fazê-los ver que intervém no mundo e para a sua glória e bem dos homens.



comentários de são tomas, estudo da biblia pela doutrina catolico

Introdução

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SÃO TIAGO



São Tiago, o Justo, morto em 62 d.C., também conhecido como Tiago de Jerusalém, Tiago Adelfo (de Tiago Adelphoteos) ou ainda Tiago, irmão do Senhor, foi uma importante figura nos primeiros anos do Cristianismo. A Enciclopédia Católica conclui que, baseado no relato de Hegésipo, Tiago, o Justo, é o mesmo que o apóstolo conhecido por Tiago Menor (irmão do apostolo Judas, não o Iscariotes), e, em linha com a maior parte dos interpretes católicos, é também Tiago, filho de Alfeu e o Tiago, filho de Maria de Cleofas (irmã de Maria, a Mãe do Senhor; segundo boa parte dos exegetas). Ele não deve ser confundido, porém, com o também apóstolo conhecido por Tiago Maior (irmão de São João Evangelista).

Após a Paixão, São Jerônimo (Confessor e Doutor da Igreja, 347-420 d.C, século III e inicio do IV) escreveu, que os apóstolos selecionaram Tiago como bispo de Jerusalém. Ao descrever seu modo de vida ascético em seu De Viris Illustribus (Homens Ilustres) cita o relato de Hegésipo (cronista católico do século I) sobre Tiago a partir do quinto livro da obra "Comentários" , hoje perdida: “Após os apóstolos, Tiago, irmão do Senhor, chamado o Justo, foi feito líder da igreja de Jerusalém. Muitos de fato são chamados de Tiago. Este era sagrado desde o útero de sua mãe. Ele não bebia vinho ou bebida alcoólica, não comia carne e nunca se barbeava ou se ungia com cremes ou se banhava. Ele apenas teve o privilégio de entrar no Santo dos Santos, pois ele de fato não vestia roupas de algodão, apenas de linho, e entrou sozinho no templo e orou tanto por seu povo que seus joelhos têm a fama de terem adquirido a aspereza dos de um camelo.” — De Viris Illustribus, Jerónimo, citando Hegésipo 

Como era ilegal para qualquer um exceto o sumo-sacerdote do templo adentrar o Santo dos Santos e, mesmo assim, uma vez por ano durante o Yom Kippur (Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do judaísmo), a citação de Hegésipo por Jerônimo indica que Tiago era considerado um sumo-sacerdote. A obra "Reconhecimentos", de Pseudo- Clemente (Papa Clemente, século I), também sugere assim.

Sobre o martírio:
De acordo com Hegésipo, os escribas e os fariseus foram até Tiago em busca de ajuda para liminar as crenças cristãs. O relato diz:

“Eles vieram, portanto, em grupo até Tiago e disseram: "Nós te suplicamos, contenha o povo: pois eles se desviaram em suas opiniões sobre Jesus, como se ele fosse o Cristo. Nós te suplicamos, convença todos que vieram aqui para o dia da Páscoa, sobre Jesus. Pois nós todos ouvimos sua persuasão; pois nós também, assim como todo o povo, somos testemunhas que tu és justo e não mostras preferência por ninguém. Convence portanto o povo a não entreter opiniões errôneas sobre Jesus: pois todo o povo, e nós também, ouvimos a sua persuasão. Tome uma posição firme, então, no alto do templo, de modo que possas ser visto claramente por todos, e tuas palavras possam ser claramente ouvidas por todos. Pois, para comemorar a Páscoa, todas as tribos vieram para cá e também alguns gentios.

Para desgosto dos escribas e os fariseus, Tiago corajosamente testemunhou que Cristo "sentava-se no céu do lado direito Grande Poder e retornará nas nuvens celestiais".

Então eles confabularam entre si "Erramos ao procurar seu testemunho sobre Jesus. Vamos então subir e jogá-lo de lá, para que eles tenham medo e não acreditem nele.”

...lançaram abaixo o homem justo... [e] começaram a apedrejá-lo, uma vez que ele não morrera na queda; mas ele virou e se ajoelhou e disse: "Eu imploro-te, Senhor Deus nosso Pai, perdoa-os pois eles não sabem o que fazem." E, enquanto eles estavam apedrejando-o até a morte, um dos sacerdotes, dos filhos de Recab, o filho de Rechabim, de quem testemunhou Jeremias, o profeta, começou a gritar, dizendo: "Parem, o que estão fazendo?

O homem justo está rezando por nós.". Mas um dentre eles, um dos tintureiros, tomou seu cajado com o qual ele estava acostumado a manipular as vestes que tingia, e atirou na cabeça do homem justo.E assim ele sofreu o martírio; e eles o enterraram ali mesmo, e o pilar que foi erguido em sua memória ainda está lá, perto do templo. Este homem foi uma testemunha verdadeira tanto para os judeus quanto gregos de que Jesus é Cristo."

— Fragmentos dos "Atos da Igreja" sobre o Martírio de Tiago, o irmão do Senhor.


O QUE É UM CONFESSOR?


Confessor ou Confessor da Fé é um título masculino concedido pela Igreja Católica e Igreja Ortodoxa a santos e beatos que não foram martirizados.

Historicamente, o título de confessor foi concedido a todos aqueles que sofreram perseguição e tortura pela fé, mas não ao ponto do martírio. Muitas vezes é usado para definir qualquer santo, bem como aqueles que tenham sido declarados abençoados, que não podem ser categorizadas como mártir, apóstolo, evangelista, ou virgem.

Como o cristianismo emergiu como a religião dominante na Europa após o quinto século, as perseguições tornaram-se raras, e o título foi dado a homens santos que viveram uma vida sagrada, mas sofreram algum tipo de atentado, não propriamente por serem cristãos, como São Luís de Montfort, que sobreviveu a um envenenamento por outros sacerdotes por inveja de suas pregações.

Talvez o exemplo mais conhecido seja o do rei inglês São Eduardo, o Confessor (foi o penúltimo Rei saxão de Inglaterra, entre 1042 e 1066. Era filho de Etelredo II e de Ema da Normandia. Foi canonizado pelo papa Alexandre III, em 1161.).

É possível que confessores tenham outros títulos, como, por exemplo, Papa e confessor, confessor e doutor da Igreja, entre outros.


O QUE É UM DOUTOR DA IGREJA?


Os Doutores da Igreja são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente saber teológico, atestado por escritos vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja.

Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja, dos quais também diferem. Padres da Igreja são aqueles cristãos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram eficazmente para a reta formulação das verdades da fé (SS. Trindade, Encarnação do Verbo, Igreja, Sacramentos. ..) nos tempos dos grandes debates e heresias. O seu período se encerra em 604 (com a morte de S. Gregório
Magno) no Ocidente e em 749 (com a morte de S. João Damasceno) no Oriente. 

Para que alguém seja considerado Padre da Igreja, requer-se antiguidade (até os séculos VII/VIII), ao passo que isto não ocorre com um Doutor.Para os Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou por um Concílio. Para os Padres, não se requer um saber extraordinário, ao passo que
para um Doutor se exige um saber de grande vulto.

EM SUMA

Doutor da Igreja é aquele cristão ou aquela cristã que se distinguiu por notório saber teológico em qualquer época da história. O conceito de Doutor da Igreja difere do de Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a reta formulação dos artigos da fé até o século VII no Ocidente e até o século VIII no Oriente. Há Padres da Igreja que são Doutores. Assim os quatro maiores Padres latinos (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo e S. Gregório Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzeno e S. João Crisóstomo).

Portanto, o parecer de um Doutor da Igreja é maior do que achismos, independente do assunto em estudo ou discussão.


SÃO TOMÁS DE AQUINO


Conta-se que, quando criança, com cinco anos, Tomás, ao ouvir os monges cantando louvores a Deus, cheio de admiração perguntou: “Quem é Deus?”.A vida de santidade de Santo Tomás foi caracterizada pelo esforço em responder, inspiradamente para si, para os gentios e a todos sobre os Mistérios de Deus. 

Nasceu em 1225 numa nobre família, a qual lhe proporcionou ótima formação, porém, visando a honra e a riqueza do inteligente jovem, e não a Ordem Dominicana, que pobre e mendicante atraia o coração de Aquino.Diante da oposição familiar, principalmente da mãe condessa, Tomás chegou a viajar às escondidas para Roma com dezenove anos, para um mosteiro dominicano. No entanto, ao ser enviado a Paris, foi preso pelos irmãos servidores do Império. Levado ao lar paterno, ficou, ordenado pela mãe, um tempo detido. Tudo isto com a finalidade de fazê-lo desistir da vocação, mas
nada adiantou.

Pregador oficial, professor e consultor da Ordem, Santo Tomás escreveu, dentre tantas obras, a Suma Teológica e a Suma contra os gentios. Chamado “Doutor Angélico”, Tomás faleceu em 1274, deixando para a Igreja o testemunho e, praticamente, a síntese do pensamento católico.

Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!


COMENTÁRIOS


Como foi dito, o Verbo de Deus é o Filho de Deus, como o verbo (mental) do homem é concebido pela inteligência. Mas algumas vezes o verbo (mental) do homem fica como morto, quando alguém pensa em realizar alguma coisa, mas a vontade de executa-la não se manifesta.

Assim também quando alguém crê e não faz as obras, a sua fé pode ser chamada de morta, conforme se lê na carta de São Tiago: “Como o corpo sem alma é morto, a fé sem as obras é morta” (Tiag. 2, 26). A carta aos Hebreus afirma que o Verbo de Deus é vivo, lendo-se nela: “é viva a palavra de Deus” (Heb. 4, 12).

Por essa razão é necessário que haja em Deus vontade e amor. Escreve Santo Agostinho no seu livro De Trinitate: “O verbo sobre o qual pretendemos dar uma noção é um conhecimento com amor”. Como o Verbo de Deus é o Filho de Deus, assim também o amor de Deus é o Espírito Santo.

Por isso, quando o homem ama a Deus, possui o Espírito Santo. São Paulo escreve: “A caridade de Deus foi difundida em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5, 5).

Muitos frutos provêm para nós do Espírito Santo.

Primeiro, porque Ele nos purifica do pecado. Ora, compete a quem criou uma coisa, refaze- la. A nossa alma foi criada pelo Espírito Santo, porque Deus fez todas as coisas por meio d’Ele, pois é amando a sua própria bondade que Deus faz tudo.

Lê-se: “Amais todas as coisas que existem e nada odiastes do que fizestes” (Sb 11, 25). Lê-se também no livro “Sobre os homens Divinos”, do Pseudo Dionísio: “O divino amor não se

podia permitir ficar sem geração” (Cap. IV). Convém pois que os corações dos homens destruídos pelo pecado fossem refeitos pelo Espírito Santo.

Lê-se: “Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra” (Sl. 103, 30). Nem é motivo de admiração que o Espírito Santo purifique, porque todos os pecados são perdoados pelo amor, conforme se lê nas Escrituras: “Foram-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou” (Is. 7, 47); “A caridade cobre todos os delitos” (Pr 10, 12); “A caridade cobre uma multidão de pecados” (1 Pd 4, 8).


Segundo, porque ilumina a inteligência, já que tudo que sabemos, o sabemos pelo Espírito Santo. Confirmaram-no os seguintes textos da Escritura: “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas sugerir-vos-á tudo o que vos disse” (Jo 24 ,26); “A sua unção ensinar-vos-á tudo” (1 Jo 2, 27).

Terceiro, porque o Espírito Santo nos ensina a observar os mandamentos, e, até de certo modo, no-lo obriga.

Ninguém pode seguir os mandamentos de Deus, se não amar a Deus, pois: “Se alguém me amar, observará os meus mandamentos” (Jo 24, 23). Ora, o Espírito Santo nos faz amar a Deus, e nos auxilia nesse sentido. Lê-se no Profeta Ezequiel: “Dar-vos-ei um novo coração, e colocarei no meio de vós um novo espírito; tirarei o coração de pedra da vossa carne; dar-vos-ei um coração de carne, e colocarei o meu espírito no meio de vós; e farei que guardeis os meus mandamentos e os pratiqueis” (Ez 36, 26).

Quarto, por que Ele confirmará em nós a sua esperança da Vida Eterna, já que o Espírito Santo é o penhor da sua herança, conforme estas palavras do Apóstolo aos Efésios: “Fostes assinalados com o Espírito da promessa, que é o penhor da nossa herança” (Ef 1, 14). Ele é, com efeito, a garantia da Vida Eterna.

A razão disto está em que a Vida Eterna é devida ao homem, enquanto este é filho de Deus, e o é feito, enquanto se assemelha a Cristo. Assemelha-se alguém a Cristo pelo fato de possuir o Espírito de Cristo, que é o Espírito Santo. Lê-se na carta aos Romanos: “Não recebestes o espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o Espírito de adoção dos filhos, no qual chamamos Abba, Pai. O próprio Espírito certifica ao nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8, 15-16). Lê-se também em outra carta do Apóstolo: “Porque sois filhos de Deus, enviou Deus o espírito do seu Filho nos nossos corações, chamando — Abba, Pai”. (Gl 4, 46).

Quinto, porque o Espírito Santo nos aconselha em nossas dúvidas e nos ensina qual seja a vontade de Deus. Lê-se: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2, 7); “Escutá-lo-ei como um Mestre” (Is 50, 4).

Trechos dos "Comentários" retirados da Suma Teológica 
Creio no Espírito Santo




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doutrina catolica sobre os frutos


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Após ter falado dos dons, santo Tomás acrescenta ainda duas outras questões, verdadeiramente surpreendentes para quem esperaria apenas uma simples descrição de estruturas mentais, mas que não são feitas para nos surpreender, uma vez que sabemos que ele é um leitor assíduo da Escritura. Plenamente consciente do fato de que “o Sermão da Montanha contém o programa completo da vida cristã” (ST I-II q.108 a.3), ele se interroga sobre o que são as bem-aventuranças das quais o Senhor fala nos evangelhos (Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-26), e sobre o que São Paulo denomina “os frutos do Espírito” (Gl 5, 22-23; ST I-II q.69-70). A aproximação não é arbitrária, porque há mais de um ponto comum entre frutos e bem-aventuranças, e a união com o Espírito Santo é evidente a partir do momento em que se percebe que tudo isso tem suas raízes nele como em sua fonte. Muito pouco lidas, porque se tende a considerá-las secundárias num movimento de conjunto da Suma, as duas questões são, ao contrário, apreciadas pelos melhores teólogos moralistas de hoje. Eles vêem aí de bom grado “um programa de vida e de progresso espiritual” e se inspiram para “traçar um retrato do homem espiritual”.

A lista das bem-aventuranças não tem necessidade de ser aqui lembrada, mas talvez seja útil recordar os doze frutos do Espírito tais como Tomás os encontrava no latim da Vulgata: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência, castidade (não se encontrará no grego do Novo Testamento a integralidade desta lista, da qual se conhecem apenas nove elementos). Para compreender de que se trata, deve-se saber que, em relação às virtudes e aos dons, as bem-aventuranças e os frutos não representam novas categorias de habitus, mas simplesmente os atos que deles provêm:

A palavra fruto foi transferida das coisas materiais para as espirituais. Na ordem material, chama-se fruto o que a planta produz ao atingir seu pleno desenvolvimento e traz em si certa suavidade. Nesse sentido, o fruto tem dupla relação com a árvore que o produz e com o homem que dela colhe. Assim, pois, podemos entender a palavra fruto nas coisas espirituais de dois modos: primeiro, diz-se fruto do homem, como da árvore, o que é produzido por ele; segundo, diz-se fruto do homem o que o homem colhe.
(ST I-II q.70 a.1)

Esta simples apresentação do vocabulário permite um primeiro esclarecimento. Se se pensa naquilo que é produzido pelo homem, é claro que são os atos humanos que levam o nome de frutos. Se eles estão de acordo com a capacidade da razão, são frutos da razão; mas se são produzidos por uma faculdade mais alta, a do Espírito Santo que age nas virtudes e nos dons, “então se diz que a ação do homem é fruto do Espírito Santo, como proveniente de uma semente divina” (ST I-II q.70).

Mas se pensamos no fruto como aquele que é colhido pelo homem, então se abre ao olhar uma perspectiva de amplidão insuspeitada. O fruto do homem, como o de uma terra, não é somente este ou aquele produzido isolado, mas a renda total que a plantação aporta. Transposto para o campo do agir humano, o fruto colhido será o fim último do qual o homem terá gozo. “Segue-se que nossas obras, em sua qualidade de efeito do Espírito Santo que opera em nós, se apresentam como frutos, mas na medida em que elas estão ordenadas a seu fim que é a vida eterna elas se apresentam antes como flores” (ST I-II q.70 a.1 ad 1). Tomás, de quem se vangloria o rigor da linguagem, não recua ocasionalmente diante da metáfora, mas esta é particularmente bem elaborada: da semente que o Espírito Santo deposita na alma ao fruto da bem-aventurança, passando pelas flores de nossas boas obras, temos efetivamente todo um programa.

Mas se, seguindo São Paulo, ele fala mais dos frutos do que das flores é que os atos virtuosos levam em si mesmos seu próprio prazer e até mesmo sua recompensa (In ad Galatas 5, 22, lect. 6, n. 322). É aqui que encontramos as bem-aventuranças. Como os frutos, as bem-aventuranças são também atos que têm por origem as virtudes e os dons, mas elas se distinguem dos frutos no sentido de que são atos ainda melhores: “Exige-se mais para a noção de bem-aventurança do que para a dos frutos … chamam-se bem-aventuranças unicamente as obras perfeitas; é por isso, aliás, que são atribuídos aos dons mais do que às virtudes” (ST I-II q.70 a.2). Sobretudo pelo fato de que elas levam o mesmo nome que o fruto ultimamente colhido, as bem-aventuranças dizem melhor que a imagem do fruto de que elas são apenas o começo de uma realização em devir.

Entre Santo Ambrósio, que reservava as bem-aventuranças para a vida futura, e Santo Agostinho, que as entendia da vida presente, ou ainda São João Crisóstomo, que as repartia em duas categorias, Tomás teve de escolher sua via pessoal; sua resposta é de muito interesse:

Para esclarecer esse assunto, cumpre considerar que a esperança da bem-aventurança futura pode existir em nós por duas razões: primeiro, por uma preparação ou disposição para a bem-aventurança futura, e isso se dá pelo merecimento; depois, como um início imperfeito dessa bem-aventurança nos santos, já na vida presente, pois a esperança de ver a árvore frutificando é diferente quando ela frondeja verdejante e quando começam a aparecer os primeiros frutos.

Assim, tudo o que nas bem-aventuranças se indica como mérito prepara ou dispõe para a bem-aventurança, seja ela completa ou apenas iniciada. Mas o que se afirma como prêmio pode ser ou a própria bem-aventurança perfeita, e nesse sentido pertence à vida futura, ou a alguma bem-aventurança iniciada, como ocorre entre os santos, e nesse sentido os prêmios pertencem à vida presente. Com efeito, quando alguém começa a progredir no exercício das virtudes e dos dons, pode-se esperar dele que chegará à perfeição de sua caminhada aqui e na pátria (ST I-II q.69 a.2).

Essas reflexões transmitem, sem nenhuma dúvida, o eco de uma experiência espiritual, se não forçosamente a do autor – o que, no entanto, se pode imaginar – ao menos a de tantos santos que ilustraram as bem-aventuranças à sua maneira. É bem verdade, como diz Tomás a propósito da bem-aventurança das lágrimas, que os santos são consolados nesta vida, uma vez que têm parte no Espírito consolador; do mesmo modo, famintos de justiça, são eles também saciados, uma vez que seu alimento, como o de Jesus, é fazer a vontade do Pai. 

Quanto aos puros de coração, é também verdade que eles Vêem Deus de certa maneira pelo dom da inteligência (ST I-II q.69 a.2 ad3). Mas o eco dessa experiência espiritual se percebe talvez melhor quando Tomás se interroga sobre a maneira pela qual os frutos são ao mesmo tempo distintos e ligados entre si:

Como se considera fruto o que vem de algum princípio como de uma semente ou raiz, será preciso atentar para a distinção desses frutos, conforme os diferentes modos (processus) pelos quais o Espírito Santo procede conosco. Ora, esse procedimento implica, primeiro, que a mente humana (mens hominis) seja ordenada em si mesma; segundo, que se ordene em relação ao que está ao seu lado e, em terceiro lugar, em relação ao que lhe é inferior.

Fica a mente do homem bem disposta em si mesma quando se comporta bem tanto em relação ao bem quanto em relação ao mal. Ora, a primeira disposição da mente humana para o bem é o amor, sentimento primordial e raiz de todos os sentimentos [cf. I-II q.27 a.40]. E, por isso, entre os frutos do Espírito Santo o primeiro citado é a caridade, na qual o Espírito Santo se dá de modo especial, como em sua própria semelhança, porque ele mesmo também é amor. Daí a palavra da carta aos Romanos (5, 5):

 “A caridade de Deus foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Mas o amor da caridade gera necessariamente a alegria, pois quem ama se alegra de estar unido ao amado. Ora, a caridade tem Deus a quem ama sempre presente, segundo a primeira carta de João (4, 16): “Quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele”. Portanto, a alegria é conseqüência da caridade.

Mas a perfeição da alegria é a paz, sob dois aspectos. Primeiro, quanto ao repouso das perturbações exteriores, pois não pode desfrutar perfeitamente do bem amado quem é perturbado por outras coisas nessa fruição. Ao contrário, quem tem o coração perfeitamente pacificado por um único objeto, por nenhum ato pode ser molestado, pois considera tudo o mais como nada. Por isso se diz no Salmo (118, 165): “Grande é a paz dos que amam a sua lei: para eles não há mais obstáculos”, isto é, as coisas exteriores não os impedem de fruir de Deus. Segundo, a paz é também a perfeição da alegria, no sentido de que ela acalma a instabilidade dos desejos, pois não goza da alegria perfeita quem não se satisfaz com o objeto que o alegra. Ora, a paz exige duas coisas: que não sejamos perturbados pelas coisas externas e que os nossos desejos descansem num só objeto. Essa é a razão por que depois da caridade e da alegria, coloca-se em terceiro lugar a paz. (ST I-II q.70 a.3)


Tomás prossegue juntando a “paciência” e a “longanimidade” a essa boa ordenação interna de si mesmo, mas na adversidade. No que concerne à retidão das relações com respeito ao outro, ele situará de maneira semelhante a “bondade”, a “benignidade”, a “mansidão” (ou igualdade de alma), a “fé” (que tomará a forma da fidelidade com respeito ao homem e de entrega de si na submissão do espírito com respeito a Deus). A lista termina com a reta ordenação das coisas menos sobressalentes, e então aparecem a “modéstia”, a “continência” e a “castidade”. Sem que seja necessário seguir detalhadamente o processo, a longa citação que fizemos basta para mostrar o lugar dos frutos do Espírito Santo e das bem-aventuranças na construção do organismo espiritual. De fato, tudo se tem, aqui como alhures, e, mesmo se São Paulo provavelmente não pensou numa descrição sistemática, o esforço do teólogo, que procura compreender como as coisas se encadeiam umas às outras, não somente nada deslocou de lugar, mas é profundamente esclarecedor tanto da fineza das análises de Tomás como dos elementos de uma doutrina espiritual para qualquer um que deseje percebê-los lendo-as.

No entanto, mais ainda que tudo isso, deve-se observar que Tomás situa de fato toda a vida espiritual sob o signo da esperança da realização escatológica. O jogo do “já e ainda não”, do qual o século XX refez a descoberta com a leitura da Bíblia, comanda o conjunto das opções do Mestre de Aquino. Já o vimos a propósito de sua concepção da teologia e da maneira pela qual fala do sacramento da Eucaristia. Encontraremos em outro texto, e com significativa insistência, toda a vida espiritual situada sob o signo do caminho e de suas etapas entre o “começo inacabado”, que é o da graça em ação numa vida, e a realização futura, que será o termo desse esforço:

A graça do Espírito Santo, tal como a possuímos no presente, mesmo se não é igual à glória em ato (in actu), está em germe (in virtute), como a semente das árvores contém em si a árvore inteira. Do mesmo modo, pela graça habita em nós o Espírito Santo que é a causa suficiente da vida eterna; por isso, ele é chamado na segunda carta aos Coríntios (1, 22) “O penhor de nossa herança”.
(ST I-II q.114 a.3 ad 3)
Fonte: Jean-Pierre Torrel, Santo Tomás de Aquino, Mestre Espiritual, Ed. Loyola, 2ª ed.



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O QUE É UM DOUTOR DA IGREJA? 


Os Doutores da Igreja são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente saber teológico, atestado por escritos vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja. Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja, dos quais também diferem. Padres da Igreja são aqueles cristãos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram eficazmente para a reta formulação das verdades da fé (SS. Trindade, Encarnação do Verbo, Igreja, Sacramentos. ..) nos tempos dos grandes debates e heresias. O seu período se encerra em 604 (com a morte de S. Gregório Magno) no Ocidente e em 749 (com a morte de S. João Damasceno) no Oriente. 

Para que alguém seja considerado Padre da Igreja, requer-se antiguidade (até os séculos VII/VIII), ao passo que isto não ocorre com um Doutor.Para os Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou por um Concílio. Para os Padres, não se requer um saber extraordinário, ao passo que para um Doutor se exige um saber de grande vulto. 

EM SUMA 


Doutor da Igreja é aquele cristão ou aquela cristã que se distinguiu por notório saber teológico em qualquer época da história. O conceito de Doutor da Igreja difere do de Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a reta formulação dos artigos da fé até o século VII no Ocidente e até o século VIII no Oriente. Há Padres da Igreja que são Doutores. Assim os quatro maiores Padres latinos (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo e S. Gregório Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzeno e S. João Crisóstomo). 

Portanto, o parecer de um Doutor da Igreja é maior do que achismos, independente do assunto em estudo ou discussão.


SÃO JOÃO CRISÓSTOMO 


Doutor da Igreja, Boca de Ouro, Alma de Anjo e Coração de Pai.

 João nasceu com alma monástica, tanto que, por duas vezes passou anos no silêncio do deserto; por causa da precária saúde voltou da vivência religiosa mais retirada e em Antioquia foi ordenado sacerdote. Famoso devido ao seu dom de comunicar a Palavra de Deus, Crisóstomo não demorou a abraçar a cruz do governo pastoral da diocese de Constantinopla, já que o imperador fez de tudo para isto. Ao perceber a má formação do clero, entregue à ambição e à avareza, o santo começou a exigir vida de pobreza e simplicidade evangélica daqueles que precisavam ser exemplo para o rebanho. 

Devido aos naturais atritos com o clero e fervorosas pregações contra o luxo e imoralidades da vida social, São João teve problema com a imperatriz Eudóxia, que começou o movimento causador dos seus dois exílios, sendo que no último, os sofrimentos da longa viagem e os maus tratos foram mortais! 

Amado pelo povo e respeitado por todos, São João Crisóstomo morreu em 407 e deixou, além do belo testemunho dos dez anos de pontificado, suas últimas palavras as quais resumiram sua vida: “Glória seja dada a Deus em tudo!”. 

São João Crisóstomo, rogai por nós! Oração "Protegei-nos Senhor, concedeu-nos santos sacerdotes e leigos. Agradecemos por nos dar São João Crisóstomo como pai e professor em meio as trevas desse mundo que nos quer afastar de Vós. Agradecemos Senhor, pois nunca nos abandonou."

IGREJA DA GALÁCIA 


A província da Galácia se localizava na Asia Menor e abrangia os territórios da Frigia, Panfília, Licaônia e Galácia. 

A igreja foi fundada por São Paulo em uma de suas primeiras viagens missionária, como podemos ler em Atos 13 ,1 e 14, 26; nessa passagem vemos também o ocorrido em Listra, onde Paulo e Barnabé foram confundidos com deuses, rangaram as vestes, depois foram perseguidos pelos judeus. 

Esse foi "o tom" da fundação da Igreja na Galácia.




COMENTÁRIOS 

O prólogo é vigoroso e cheio de afeto, e de certo modo, não só o proêmio, mas a epístola inteira. Com efeito, dirigir-se sempre com moderação aos discípulos necessitados de severidade, não condiz com um mestre, e sim com um sedutor e inimigo. Por este motivo, igualmente, o Senhor, que falava aos discípulos com muita mansidão, algumas vezes utilizou linguagem mais severa, e ora felicitava, ora censurava. Assim, tendo dito a Pedro: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas” (Mt 16,17), e prometido que os fundamentos da Igreja repousariam sobre a pedra de sua confissão, não muito depois, lhe disse: “Arreda-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço” (Mt 16,23), e em outra passagem mais uma vez: “Nem mesmo vós tendes inteligência?” (Mt 15,16). Tanto respeito lhes inspirava que João narra que, ao vê-lo falar com a mulher samaritana acerca do alimento, “nenhum deles lhe perguntou: ‘Por que falas com ela?’, ou: ‘Que desejas?’” (Jo 4,27). 

Paulo, aprendendo a lição e seguindo as pegadas do mestre, se adapta às necessidades dos discípulos, e ora cauteriza e corta, ora aplica remédios mais suaves. E dizia aos coríntios: “Que preferis? Que eu vos visite com vara ou com amor e em espírito de mansidão?” (1Cor 4,21). Aos gálatas, porém: “Ó gálatas insensatos” (Gl 6,16). Não foi somente uma vez, mas por duas vezes que utilizou esta repreensão. Além disso, no final da epístola, investe: “Ninguém mais me moleste” (Gl 6,7). De outras vezes suaviza o tom. Assim: “Meus filhinhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto” (Gl 4,19), e outras palavras semelhantes. 

De resto, é evidente a todos desde a primeira leitura que esta epístola é impetuosa. 

Convém expor o que provocava a ira do Apóstolo contra os discípulos. Não era coisa pequena nem insignificante; do contrário, não os teria perseguido tanto. De fato, é próprio do homem pusilânime, rude e mísero irritar-se por qualquer motivo, e peculiar ao mais preguiçoso e sonolento recuar diante de problemas importantes. Mas Paulo não era dos tais. Qual era, então, o pecado que tanto o abalava? Certamente era grande, excessivamente grave e os apartava a todos de Cristo, conforme diz em seguida: “Atenção! Eu, Paulo, vos digo: Se vos fizerdes circuncidar, Cristo de nada vos servirá” (Gl 5,2).

Não foi somente numa cidade, nem em duas ou três, mas em toda a nação dos gálatas que o incêndio deste erro se propagara. Vê a intensa indignação do Apóstolo. Não disse: Caríssimos, nem: Santificados e sim: “Às Igrejas da Galácia”. Era sinal de grande aborrecimento e de sua dor não chamá-los com um apelativo amigável, nem respeitosamente com o próprio nome, mas somente pelo da assembleia. E não aditou: Igrejas de Deus, mas disse simplesmente: “Às Igrejas da Galácia”. Embora em outra passagem no próprio prefácio logo se apressa a reduzir à concórdia o dissídio entre eles; por isso, colocou o nome de Igreja, incutindo-lhes pudor e impelindo-os à unidade. 

De fato, os que se dividem em vários partidos não podem de forma alguma receber este nome; na verdade, o nome de Igreja é denominação de concórdia e unanimidade. Ao dizer, portanto, que eles se apartaram do Pai, atribui-lhes dupla culpa, a saber, que se afastaram, e o fizeram rapidamente. Na verdade, é merecedor de repreensão quem se aparta depois de muito tempo, mas quem cai na primeira investida e no próprio lançamento das setas, oferece um exemplo de extrema tolice. Com tal nome ele os acusa, dizendo: Por que os vossos sedutores nem de espaço de tempo precisam, mas basta-lhes o primeiro acesso para vos subverter e captar? Que perdão podeis impetrar? Mas há alguns que vos estão perturbando e querendo corromper o evangelho de Cristo. Isto é, não conhecereis outro evangelho, enquanto tiveres um julgamento correto, enquanto não for distorcida tua visão, imaginando o que não existe. Como o olho turvo vê uma coisa por outra, assim a mente perturbada pela confusão de maus pensamentos costuma padecer o mesmo. Por isso os que estão loucos imaginam uma coisa por outra. 

Na verdade, esta loucura é mais perigosa do que aquela, porque não ocasiona prejuízo a respeito das coisas sensíveis, mas das inteligíveis, não danifica a pupila dos olhos corporais, mas subverte os olhos do espírito. “Querendo corromper o evangelho de Cristo.” Ora, eles introduziram um ou outro preceito, restabelecendo só a circuncisão e a observância dos dias. Mas, para indicar que um pequeno erro corrompe o todo, Paulo diz que corrompe o evangelho. Se alguém apagar um pouco a figura impressa numa moeda régia falsifica a moeda inteira; assim quem corromper a mínima partícula da fé ortodoxa, estraga o todo, e deste início procede a erros piores.

Onde estão os que nos condenam como contenciosos, porque disputamos com os hereges? Onde estão os que murmuram que não há diferença entre nós e eles, mas que a discórdia provém da ambição de poder? Ouçam o que Paulo diz, a saber, que corromperam o evangelho os que reintroduziram uma pequena novidade. 

Não é possível, não é. A causa de todos os males consiste em que não nos importamos com estas coisas pequenas. Por isso cometeram os crimes maiores porque os menores não encontraram a adequada correção. Como relativamente aos corpos, os que negligenciam cuidar das feridas, contraem febre, gangrena e por fim advém a morte, assim, em relação às almas, os que menosprezam as coisas pequenas acarretam as grandes. Aquele homem, diz-se, resvalou quanto ao jejum, o que não importa; um outro tem a verdadeira fé, mas disfarça por oportunismo e renuncia à ousadia de confessar; nem isso é grave. Um outro, irritado, ameaçou abandonar a fé verdadeira; nem este merece castigo, replicas, porque pecou num movimento de ira e furor. Encontram-se diariamente pecados desta espécie cometidos nas Igrejas. Por esse motivo, tornamo-nos ridículos diante dos judeus e dos gentios, enquanto a Igreja se divide em mil partes. Com efeito, se desde o início fosse empregada conveniente admoestação aos que se entregavam à transgressão dos preceitos divinos e tentavam fazer um pouco além do que é devido, não teria aparecido de forma alguma esta peste, nem haveria irrompido tão grande tempestade nas Igrejas. 

E por que falar das observâncias judaicas? Dentre os nossos alguns guardam costumes pagãos, observam presságios, voos de aves, dias e símbolos, superstições sobre os nascimentos e letras cheias de toda impiedade, que para seu grande mal são impostas na cabeça das crianças recém-nascidas, ensinando-lhes desde o começo a rejeitar o zelo na aquisição das virtudes e sujeitando-as à tirania do destino falaz. Se Cristo não é de proveito algum aos que se circuncidam, o que adiantará a fé para a salvação destes, contra os quais tantos males investem? Entretanto a circuncisão fora dada por Deus; mas como causava dano ao evangelho, quando observada fora do tempo oportuno, Paulo fez o possível por aboli-la. 

Além disso, como Paulo tinha tanto empenho em abolir os costumes judaicos, porque obsoletos, nós nem os hábitos pagãos cortaremos? Que escusa teremos? Por estas razões, nossas vidas acham-se envolvidas em tumulto e agitação, e os que deviam ser discípulos, inchados de soberba, subverteram a ordem e tudo se acha revolucionado. Se alguém os acusar, mesmo levemente, cospem com desprezo contra os chefes, porque os educamos mal. Ora, mesmo se os que governam fossem ímprobos e estivessem repletos de milhares de vícios, nem assim o discípulo teria o direito de desobedecer. Se não é permitido julgar o próximo, quanto mais proibido será julgar os doutores?

Vê que (Paulo) teve maior amizade a Pedro, porque por sua causa empreendera a viagem, e demorou-se junto dele. Repito-vos isso constantemente e quero que guardeis na memória, de sorte que, se ouvirdes algo que pareça o Apóstolo ter dito contra Pedro, não tenhas suspeitas falsas. De fato, é por isso que ele assim se exprime, prevenindo, como ao dizer: “Eu enfrentei a Pedro” (cf. Gl 2,11). Não se julgue que estas palavras são de inimizade ou de rixa, pois ele o honra e ama mais do que a todos. 

Efetivamente, por causa de nenhum outro apóstolo narra que subiu a Jerusalém, mas somente por causa dele. “Não vi nenhum outro apóstolo, mas somente Tiago.” “Vi”, assegura, e não: Recebi dele uma instrução. Mas observa com que respeito o nomeia. Não disse simplesmente: Tiago, mas acrescentou respeitoso elogio: “O irmão do Senhor”, a tal ponto estava isento de inveja. De fato, se quisesse indicar de quem falava, poderia colocar outra nota e dizer: Tiago de Clopas, cognome usado pelo evangelista João (Jo 19,25). Mas não se exprimiu deste modo, porque considerava os títulos honoríficos dos apóstolos como seus, e uma honra para si próprio, e por isso o reverencia. 

Não o denominou desta forma, conforme disse; de qual, então? “O irmão do Senhor.” Ora, não era irmão do Senhor segundo a carne, mas assim era considerado; nem por isso deixou de dar-lhe o título honorífico. Aliás, Paulo muitas outras vezes demonstrou afeto sincero aos apóstolos, o que era, de fato, conveniente. Muitos que leem pouco atentamente esta passagem da epístola, julgam que Paulo acusou a Pedro de hipocrisia, mas não foi assim, de forma alguma. Descobrimos aqui disfarçada muita prudência tanto da parte de Pedro quanto de Paulo, visando ao bem dos ouvintes. 

Com efeito, os apóstolos, conforme narrei, em Jerusalém permitiam a circuncisão. Não podiam de repente afastá-los da Lei. Quando, porém, foram para Antioquia, já não praticavam essas observâncias, mas relativamente aos que acreditaram dentre os gentios, viviam sem diferenças. Certamente Pedro também o fazia. Mas, quando vieram alguns da cidade de Jerusalém, que os viram pregando assim, não o fazia mais, temendo que eles se escandalizassem, mas subtraía-se, agindo por condescendência com dois resultados: de um lado, não se escandalizavam os judeus, mas de outro, oferecia a Paulo oportunidade de censurá-lo com justeza. De fato, se aquele que pregava em Jerusalém permitindo a circuncisão, mudasse em Antioquia, pareceria aos judeus que acreditaram que agia assim por medo de Paulo e os discípulos o censurariam por empregar grande facilidade e causaria grande escândalo, embora a Paulo, que perfeitamente conhecia o motivo da mudança, sua recusa não causava nenhuma suspeita, porque sabia com que disposição assim procedia. Por conseguinte, Paulo censura e Pedro aceita. 

Enquanto o mestre cala ao ser censurado, mais facilmente os discípulos mudariam de parecer. Com efeito, se na realidade tivesse havido entre eles disputa, de forma alguma haveriam se censurado mutuamente na presença dos discípulos, porque teriam causado grande escândalo. Em nosso caso, era útil a discordância em público.


A força da fé 


“A vós ante cujos olhos foi desenhada a imagem de Jesus Cristo crucificado.” Ora, ele não foi crucificado na região dos gálatas, mas em Jerusalém. Como, pois, ele diz: “A vós”? Foi a fim de mostrar a força da fé, pela qual se torna possível discernir o que está longe. E não disse: Foi crucificado, e sim: “Foi desenhada a imagem do crucificado”, indicando que com os olhos da fé alguns viram mais exatamente do que alguns que estavam presentes e olhavam o que sucedia. 

Efetivamente, muitos daqueles que assistiram [à crucifixão] nenhum fruto retiraram; os que, porém, não viram com os próprios olhos, pela fé viram com maior evidência. 

Sobre a Lei 


De modo algum é supérflua. Vês que ele supervisiona tudo, como se tivesse inúmeros olhos? Havia enaltecido a fé, enquanto anterior à Lei; a fim de evitar que alguém julgasse a Lei supérflua, emenda, demonstrando que não fora em vão, mas muito útil: “Foi acrescentada em vista das transgressões”, isto é, para não permitir aos judeus viverem em segurança, e resvalarem na maior malícia, mas impor-lhes a Lei à guisa de freio, instruindo, regulando, proibindo as transgressões, se não de todos, ao menos de alguns preceitos. Não foi, portanto, pequeno o fruto proveniente da Lei. Mas até quando? – Até que viesse a descendência, a quem fora feita a promessa. 

Ora, se a Lei foi dada para abranger a todos, isto é, coagir e manifestar-lhes os pecados, não somente não obsta a que consigas a realização das promessas, mas ainda contribui para alcançá-las. 

Na verdade, se a Lei não tivesse sido dada, todos se revolveriam na malícia, nenhum judeu ouviria a Cristo; agora, porém, a Lei dada prestou-nos estes dois bens: um, ao ensinar uma virtude comedida àqueles que lhe davam atenção, e outro, ao persuadir a que reconhecessem os próprios pecados, o que os tornava mais inclinados a procurar o Filho. 

Em consequência, os que não acreditavam na Lei, por não condenarem os próprios pecados, não acreditaram em Cristo. Apontando para isso, ele diz: “Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Rm 10, 3). “Vos revestistes de Cristo”, nem com esta palavra se contentou, mas explanando-a vai à união mais íntima e diz: “Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus”, isto é, todos tendes uma só forma, um só modelo, a saber, o de Cristo. 

O que há de mais estupendo e respeitável do que tais palavras? Quem antes era gentio, judeu ou escravo, agora não se acha na condição de um anjo, de um arcanjo, mas na do Senhor do universo, representando Cristo em si.

Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne. 


Aqui já parece partir para um sermão moral. Emprega uma novidade que em nenhuma das outras epístolas aparece. Em todas costuma fazer uma divisão em duas partes, de sorte que na primeira trata dos dogmas, na segunda fala dos costumes; aqui, começa tratando dos costumes, e depois insere uma dissertação sobre os dogmas. Mas o que quer dizer: “Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne”? 

Cristo, diz ele, nos libertou do jugo da escravidão, quis que fosse livre a vontade, não a fim de abusarmos deste poder para o mal, mas para termos oportunidade de obter prêmio maior, após progredirmos em direção duma sabedoria mais elevada. De fato, após ter denominado a Lei, em todos os sentidos, jugo da servidão, e chamado à graça de libertação da maldição, a fim de evitar a suspeita de que estava ordenando o afastamento da Lei por ser lícito levar uma vida fora da Lei, corrige esta suspeita, dizendo: Não é para que se leve uma vida ilegítima, mas para transcender a Lei pela Sabedoria. 

Não me exprimo esta forma para ficarmos mais abatidos, mas para subirmos mais alto. Com efeito, tanto o que fornica quanto aquele que persevera na virgindade, ultrapassa os termos da Lei, mas não da mesma forma; um cai de forma péssima, outro se eleva a um grau mais alto, de sorte que um transgride a Lei, outro a ultrapassa. 

Eis que indica outro caminho que facilita a virtude, e realiza bem o que foi dito, o caminho que gera a caridade, e que preme pela caridade. Nada de fato, nada, diria, de tal modo insere em nós a caridade como sermos espirituais, nem persuade igualmente ao Espírito que permaneça em nós senão a força da caridade. Por isso diz: “Conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne”. 

Visto que expusera o que produzia a doença, igualmente receita o remédio que cura. Qual é e qual a força das palavras corretas senão viver pelo Espírito? Por isso diz: “Conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne”. O que diz, portanto? Denomina carne aqui o pensamento terrestre, indolente e covarde. Não está acusando a carne, mas o crime da alma negligente; na verdade a carne é instrumento dela, mas ninguém tem aversão e ódio ao instrumento, mas àquele que o utiliza mal. Não é ao ferro, mas ao homicida que odiamos e punimos.


Lei e Espírito 


Qual a consequência? Máxima e evidente. De fato, quem se deixa guiar pelo Espírito, como convém, por meio dele extingue todo o mau desejo. 

Mas quem deles se libertou não precisa do auxílio da Lei, tendo se tornado muito superior àqueles preceitos. De fato, quem não se irrita, por que precisa ouvir: Não matarás? Quem não olha com olhos intemperantes por que há de aprender que não deve cometer adultério? Quem lhe falará do fruto da maldade, se já arrancou-a pela raiz? A raiz do homicídio é a ira, e a raiz do adultério é o olhar indiscreto. Por isso, ele diz: “Se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais debaixo da Lei."

Fruto do Espírito 


Porque as más obras vêm somente de nós, e por isso se chamam obras; as boas, porém, não só exigem nossos cuidados, mas precisam da divina bondade. Em seguida, estando para descrevê-las, primeiro coloca a raiz dos bens, dizendo: caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade... Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também nossa conduta. Estabeleçamos nossa vida segundo suas leis. É o seguinte o sentido das palavras: “Pautemos nossa conduta”, isto é, contentemo-nos com a força do Espírito. 

"Vós, os espirituais, corrigi-o..."

 Não disse: Puni, ou condenais, e sim: “Corrigi. Não se detém aí, mas para mostrar que deviam ser muito mansos para com os que foram suplantados, assim termina: com espírito de mansidão, Não disse: Com mansidão, e sim: “Com espírito de mansidão”, afirmando que isso também apraz ao Espírito, porque, na verdade, o próprio fato de poder corrigir com equidade os pecadores é um dom espiritual. Em seguida, no intuito de que aquele que corrige não se exalte, submete-o ao mesmo temor, dizendo: cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.

Quanto às sementes, quem semeia cevada não pode colher trigo, porque a semeadura e a messe devem ser da mesma espécie. Assim deve acontecer relativamente às obras. Quem jogar na carne saciedade, embriaguez, maus desejos, colherá o fruto que brotar. Qual? Suplício, castigo, opróbrio, zombaria, podridão. De fato, nada resulta das mesas suntuosas e das iguarias senão a corrupção; simultaneamente elas se corrompem e arruínam a saúde do corpo. As realidades espirituais, porém, não são tais, mas exatamente o oposto. Pondera o seguinte: Semeaste esmola, ser-te-ão reservados tesouros celestes e glória sempiterna. Semeaste temperança, receberás honra e prêmio, congratulações dos anjos e coroas. 

Denomina nova criatura o nosso estilo de vida, tanto por causa do passado como do futuro. Do passado, na verdade, porque nossa alma que envelhecera na vetustez do pecado, de repente pelo batismo foi renovada como se fosse recriada. Por isso também exige-se de nós novo e celeste estilo de vida. Do futuro, porque o céu e a terra e enfim toda criação passarão à incorruptibilidade, conjuntamente com nossos corpos. 

Trechos retirados do livro Patrística: Comentários de São João Crisóstomo/1, pg 301-370.



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Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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