Catecismo da Educação: Os meios imediatos para manter a autoridade
Quais são os meios imediatos de adquirir e de conservar a autoridade? São seis os princípios:
1º – É preciso falar pouco.
2º – É preciso usar de autoridade com discrição.
3º – É preciso ser claro.
4º – É preciso tomar a sério o que se diz.
5º – É preciso exigir uma obediência imediata.
6º – É preciso manter a firmeza até ao fim.
Qual o sentido desta fórmula: é preciso falar pouco?
É preciso intervir raramente.
Seria, com efeito, desastroso não permitir e não deixar passar nada. Alguns pais falam sem descanso, tanto para mandar quanto para proibir ou aconselhar:
– Pedro, tem cuidado, não caias.
– Olha bem.
– Olha para a frente.
– Não vás tão depressa.
– Aí vem um carro. Etc.
A criança acaba por não prestar atenção às recomendações que se lhe fazem. Os próprios pais não dão importância ao que dizem e, quando querem fazer valer sua autoridade, compreendem que esta está irremediavelmente perdida.
2º – É preciso usar da autoridade com discrição
"Todo o excesso é um erro. Eis uma afirmação que se faz a cada passo, e cujo sentido nunca se põe em prática." (La Fontaine)
O que é preciso fazer para praticar a discrição no exercício da autoridade?
1º – É preciso que a autoridade intervenha raras vezes.
“É preciso mandar poucas vezes, mas formalmente, a fim de deixar à criança, sem risco para ela e sem perigo para a autoridade dos pais, o máximo de liberdade possível. Afrouxam-se as rédeas ao cavalo quando se sabe que se pode segurar a tempo, ao passar ao longo dos precipícios do caminho; não se tem constantemente preso, nem sob a ameaça do látego, o cão fiel, acostumado a obedecer à voz do dono.” (F. Nicolay, ob. cit., p. 142)
2º – É preciso não empregar a autoridade senão com conhecimento de causa: quer dizer, em casos que valham a pena e em ordens cuja sensatez e oportunidade sejam indiscutíveis.
É uma situação lamentável, difícil e geralmente sem saída honrosa a de alguns pais obrigados, pela imprudência, a recuar, se quiserem ser razoáveis, ou a comprometer-se seriamente por bagatelas ou erros, se quiserem salvaguardar sua autoridade.
3º – É preciso ser claro
Em que sentido se deve tomar esta recomendação? Em dois sentidos:
1º – Quando se ordena, é absolutamente necessário saber claramente o que se quer.
2º – Quando se ordena, é indispensável exprimir a vontade em termos claros, que não deem margem a equívocos nem erros de interpretação. Muitas vezes, num grupo de crianças, a obediência não é pronta nem rigorosa porque as ordens não foram claras: elas não compreenderam.
4º – É preciso tomar a sério aquilo que se diz.
Há, então, pais que não tomam a sério aquilo que dizem? Pode ser que o tomem a sério, mas um certo número deles não o demonstra.
Ordenam e ameaçam de tal forma que nem eles próprios, nem – com mais razão – as crianças, prestam atenção às ordens dadas; e assim, não se dá importância ao que se diz, promete ou ameaça.
Fala-se com aquele tom de indiferença usado ao cumprimentar alguém casualmente:
– "Como tem passado?" Pensa-se tão pouco no que se diz que, se a pessoa cumprimentada tivesse estado doente, julgar-se-ia indelicado não ter perguntado por sua saúde.
5º – É preciso exigir uma obediência imediata
O que se deve pensar da obediência demorada?
A obediência que obriga à repetição da ordem já não é obediência; deve ser tratada como desobediência.
Quantos pais, entretanto, resignam-se a repetir duas, três ou mais vezes as ordens que dão aos filhos. E, acompanhando as repetições com as palavras “imediatamente” e “depressa”, não percebem – ou não querem perceber – que estão em contradição consigo próprios, perdendo a autoridade.
É verdade que há nisso uma aparência de vantagem: pois, sendo a obediência à quinta intimação considerada ainda uma obediência imediata, não há motivo para castigo. Mas é pura ilusão: falta-lhe uma qualidade essencial – a prontidão.
Tiago é mal mandado e choraminga constantemente. A mãe, agastada:
– "Se não te calas num minuto, comerás sobremesa no prato de sopa!" (É o castigo que Tiago mais teme.)
– "Não me ouviste?"
– "Sim, mas sei bem quanto é um minuto, e que posso chorar ainda mais um bocado..."
Esse exemplo, absolutamente autêntico, mostra que as crianças abusam da fraqueza dos pais.
Que outro inconveniente há na obediência que discute?
É ainda mais grave do que a obediência demorada. É o vício da educação sentimental:
– Luís, leva tua capa.
– Não vale a pena, mamãe.
– Olha: o céu está se nublando; o vento sopra de oeste; o barômetro baixa; faz o que te digo.
– Mamãe, tenho certeza de que não chove.
– Na quinta-feira, foste ver teu tio sem capa; choveu, e voltaste todo molhado.
– Sim, mas no domingo a mamãe me obrigou a levá-la, e o tempo estava lindíssimo.
E se a mãe, por fim, se impõe:
– "Sabes que me mortificas com as tuas reflexões? Leva a capa, que mando eu."
Para quê todas as divagações meteorológicas? (Nicolay, ob. cit., p. 170)
6º – É preciso ir até ao fim
Como proceder praticamente para tirar proveito deste conselho? Nunca se devem fazer concessões ou transigir. A criança deve saber, sem sombra de dúvida, que aquilo que foi ordenado deve ser cumprido sempre, custe o que custar.
Qual é a importância desta firmeza? É capital. O sistema das concessões compromete ou arruína a autoridade.
Se uma recusa não for definitiva, se um “não” puder tornar-se um “sim”, a criança empregará todos os meios – até os mais violentos – para apressar a submissão do pai ou da mãe.
Que ninguém se iluda. Não se trata de brinquedos ou guloseimas. Trata-se, acima de tudo, da própria autoridade dos pais. É sobre isso que a luta se trava nos pequenos incidentes da vida cotidiana.
Se os pais cedem, caminham para a impotência. A criança se encorajará a cada concessão conquistada. Se forem firmes, se domarem a criança e a constrangerem com resolução, manterão sua autoridade e serão obedecidos.
Qual é o risco dessa firmeza?
1º – São as lágrimas e os arrufos. Mas é preciso não ceder nunca.
“Não se receiem as lágrimas nem as cóleras das crianças. Conheceis o provérbio inglês: ‘Ventos de março e chuvas de abril trazem flores de maio’. E eu acrescentarei que as flores de maio trazem os frutos de setembro.” (Mademoiselle Thérèse Alphonse Karr).
2º – São também as meiguices. A criança percebe que a mãe é sensível a beijos, abraços, palavras carinhosas… Usa disso como moeda de troca pela sua independência. E nisso encontra, como a própria mãe, uma satisfação de afeto e delicadeza.
*Mademoiselle Thérèse Alphonse Karr, leiga celibatária, foi uma escritora francesa do século XIX, ativa por volta de 1835 a 1897. Ela é conhecida principalmente por sua obra Contre un proverbe, publicada em 1865 e obra Dieu et ses dons: cours d'instructions religieuses offert à la jeunesse (“Deus e seus dons: curso de instruções religiosas oferecido à juventude”, publicada em 1864. O conteúdo do livro é voltado à formação religiosa cristã de jovens, com forte ênfase na doutrina católica.
BETHLÉEM, René de. Catecismo da educação. 1. ed. São Paulo: Castela, 2023.
Abade René Bethléem, um sacerdote católico francês nascido em 1850 e falecido em 1950. Ele foi ordenado padre em 1895, na Diocese de Lille, e é conhecido por sua atuação como educador e autor de obras religiosas voltadas à formação moral e pedagógica da juventude
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