Crônicas: Revolucionários enrustidos e as maluquices de cada dia
É, realmente as pessoas ficaram malucas. Às vezes me sinto como a Alice, que diz ao Gato que não quer ficar entre gente maluca, e o Gato responde que todos são malucos — inclusive ela. Talvez o único antídoto contra a maluquice seja outra forma de maluquice. Como o Chapeleiro e a Rainha de Copas. Mas, antes que eu entre no País das Maravilhas com esse papo, falemos das maluquices cotidianas.
- A mentalidade revolucionária é caracterizada por três atos:
- Renega o passado e seus aprendizados, gerando uma busca por algo novo que irá mudar o rumo da história;
- Utiliza a autoridade para defender esta busca por novidade, colocando todos os que não aceitam tal caminho como párias — o que gera uma dinâmica de grupos que lutam entre si (isso se chama demagogia);
O “pária” é excluído do meio em questão, e o motivo da sua exclusão é a sua negação em acatar as novidades e as buscas pelo novo — ou seja, ele mesmo se excluiu. Che Guevara, quando matava os que não estavam de acordo com ele, dizia que não era ele quem matava — era a pessoa que se matava.
Bem, a maioria de nós acredita que isso só acontece nos grupos revolucionários. Que se refere a uma forma de pensar do outro lado — ou seja, que estamos ilesos e sãos. Doce ilusão. Estamos todos soterrados em pensamentos revolucionários, por todos os lados. A diferença é que estão enrustidos.
Por isso, também é uma característica do pensamento revolucionário não pertencer ao grupo X ou Y. A mentalidade revolucionária é uma alteração mental e espiritual que pode acontecer — e acontece — em vários grupos, até mesmo nos mais bem-intencionados.
Exemplos notórios e enrustidos:
- O padre que não deixa um catequista ensinar a Doutrina e nega que este seja catequista: é a mentalidade revolucionária.
- O outro que acredita que só o seu grupo pode trazer algo bom para a Igreja ou a sociedade: também é a mentalidade revolucionária.
- Quando um grupo é impedido de fazer um evento na Igreja porque é “católico demais”: é um impedimento da mentalidade revolucionária.
- Mas quando um grupo exclui todos os outros membros da Igreja Católica, como inferiores em conhecimento: também é a mentalidade revolucionária.
- Quando uma moça quer ter atenção e “lugar de fala” defendido, calando os homens para que não abordem tais temas: é a mentalidade revolucionária.
- Mas quando um homem acha que a mulher nem mesmo deva falar, que ela não tem lugar para falar: também é movido por uma mentalidade revolucionária.
- Quando uma mulher acredita que pode ensinar sobre doutrina no púlpito: isso vem da mentalidade revolucionária.
- Mas quando se acredita que ela nunca deva abordar ensinos sobre doutrina: também há um movimento do pensamento revolucionário.
- Quando se tem desdém do passado, caçoando e debochando dos costumes antigos, principalmente os religiosos: isso é resultado da mentalidade revolucionária.
- Mas também o é quando existe um excesso de idealização do passado, numa tentativa de destruir tudo para construir algo novo compatível com o idealizado.
- Quando não podemos falar sobre a Missa Tridentina, o último Concílio, os debates da época, e somos orientados somente sobre as maravilhas atuais e o novo que buscamos (que nunca chega): este é um impedimento da mentalidade revolucionária.
- Mas quando não se vê como reais as realidades eclesiásticas, quando existe uma tendência a excluir tudo que não pertença a determinado grupo — inclusive pessoas e almas: isso também é resultado da mentalidade revolucionária.
- Quando temos uma negação da transcendência e sacralidade, ficando somente no aqui e agora: isso é a mentalidade revolucionária.
- Mas quando temos uma diocese que não abraça a realidade da variedade das almas e acolhe somente uma forma de vivência espiritual — normalmente do grupo tal e tal — exigindo que todos se adaptem e engulam sem reclamar: isso também é a mentalidade revolucionária.
Como vê, a mentalidade revolucionária é bem comum. Não pertence a um grupo específico. Muitos de nós podemos desenvolver uma cadeia de pensamento com os três componentes já citados, que resultam numa incapacidade de abarcar a realidade — além de gerar obtusidades evidentes.
Por exemplo:
- O padre que acredita que todos os caminhos dão no Céu e, dois minutos depois, reza por missionários: é uma obtusidade evidente.
- Quando alguém defende a catolicidade da sociedade e não quer que cada leigo — homens e mulheres (me perdoe a redundância, mas se faz necessário) — fale catolicamente em todos os meios: é uma obtusidade evidente.
- Quando se defende a contra-revolução em todas as possíveis realidades eclesiásticas e sociais, mas se evita o contato com esses mesmos meios: é uma obtusidade evidente.
Enfim, maluquices de cada dia.
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