Letras, mercado e política (transcrição de aula aberta)
Transcrição em partes da aula: Letras, mercado e política ministrada pela professora Ana Paula Barros em 23 de nov. de 2024 .Aula disponível na íntegra aqui com link para o mapa mental na descrição da aula (sugerimos fortemente a escuta da aula na íntegra).
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Guardar - Antônio Cícero
Gostaria de conversar sobre alguns assuntos que, à primeira vista, podem parecer aleatórios, mas que, na verdade, estão interligados e são de grande relevância. Minha intenção é gerar reflexões e, quem sabe, promover uma mudança de conduta.
Para começar, quero destacar que boa parte deste cenário se desenrola no campo da produção cultural. Esse campo abrange livros, filmes, séries, documentários e, inevitavelmente, a questão editorial e cinematográfica. Quem sabe, no futuro, também incluamos produções culturais em museus e algo relacionado à arte e ao patrimônio, mas ainda não chegamos a esse ponto.
É importante observar o cenário editorial no Brasil. Este tema está em alta por causa da lei que estabelece um preço fixo para os livros durante um ano, sem que nenhuma plataforma possa alterá-lo.
Nos anos 2000, vivemos a era das Meg Stores. Trabalhei em uma Meg Store de grande porte, cuja sede de referência estava na minha cidade. Era uma rede de franquias onde as lojas deveriam ser mais ou menos iguais, mas esta, em particular, era grandiosa. Para vocês terem uma ideia, havia um Gollum em tamanho real e uma árvore feita por um artista plástico. Tudo ali era mágico, bonito e empolgante.
Cresci dentro dessa livraria, começando a trabalhar lá aos 15 anos e saindo apenas ao final da minha primeira faculdade. Isso me deu uma noção do que é o livro no contexto do antigo livreiro, que via o livro como algo nobre. A dona da loja sempre dizia: "livro é nobre". Esse respeito pelo livro permeava tudo, inclusive a dinâmica que os leitores seguiam para consegui-los. Pertenci ao setor de encomendas de livros, onde buscávamos volumes tanto para quem sabia todos os detalhes quanto para quem dizia: "É um livro de capa azul, de mais ou menos tal autor".
O que me interessava profundamente era a dinâmica dos pesquisadores. Eles não eram apenas leitores, mas pessoas que faziam mestrado e doutorado e precisavam de livros específicos para suas pesquisas, às vezes sem saber se seriam úteis, mas aos quais precisavam ter acesso. Lembro-me de encomendar livros para capuchinhos e para pessoas que desenvolviam projetos de pesquisa, tanto em editoras nacionais quanto internacionais.
Minha primeira formação ocorreu em um contexto de extremo respeito ao leitor, ao livro e, principalmente, ao autor. O livro não existe sem o autor. E nesse cenário de Meg Store, havia um comprometimento genuíno dos proprietários em transformar aquele espaço em um lugar de formação e enriquecimento, tanto para os frequentadores quanto para os funcionários. Sei que nem todos tiveram experiências positivas em Meg Stores, mas essa foi a minha realidade.
Para mim, era um ambiente desafiador devido ao grande fluxo de pessoas. A Meg Store, integrada ao shopping, permitia que pessoas de diferentes condições financeiras tivessem contato com livros e materiais de forma acessível. Isso, para mim, representa um benefício social significativo.
Sei que há toda uma discussão sobre o dinheiro envolvido. Era muito dinheiro. Muitos daqueles livros eram consignados. Aqui, acho que posso entrar na questão administrativa da Meg Store para que você, que talvez seja mais jovem, compreenda melhor...
Entenda como funcionava: o livro chegava consignado. A editora emprestava o livro para a livraria, que o vendia e depois repassava o valor para a editora referente ao que tinha sido vendido, devolvendo os livros que sobravam. Dentro dessa dinâmica de uma Meg Store que recebia muitas pessoas, muitas delas com o péssimo hábito de roubar, podia-se perder exemplares. Muitas vezes, algumas dessas Meg Stores não repassavam o valor dos livros perdidos e, às vezes, sequer repassavam o valor dos livros vendidos.
Assim, muitas editoras ficavam reféns da Meg Store. Você perceberá adiante na minha reflexão que essa dinâmica mudou um pouco, mas ainda permanece em parte. A editora era refém da Meg Store, e o autor era refém da editora. Hoje, a editora não é refém de nenhuma Meg Store, graças às plataformas online e à possibilidade de construir uma imagem própria, mas o autor continua sendo refém da editora. Quando digo refém, refiro-me a um refém financeiro, não criativo, onde este agente pode tanto retribuir quanto ludibriar ou enganar no sistema.
Então, veja bem: a Meg Store era, para quem nunca conheceu, uma estrutura grandiosa que combinava livraria, games e papelaria. A livraria se dividia em várias áreas, incluindo um setor dedicado ao público infantil, que normalmente tinha um ar mais mágico do que o restante da Meg Store. Não era toda Meg Store que tinha esse aspecto mágico, mas a que eu trabalhei tinha, por causa do interesse de um dos donos pelo mundo fantástico. Essa árvore que saía do chão e entrava pelas paredes lembrava um pouco a árvore do Castelo Rá-Tim-Bum, algumas árvores de histórias como "O Senhor dos Anéis" ou a árvore onde Alice se reclinou para dormir antes de cair no buraco. Eram lugares e elementos que remetiam a portais que sempre apareciam em algum nível dentro do mundo fantástico. A área infantil também era assim. Depois, essa área foi transformada em um lugar com vários setores coloridos, onde cada cor representava uma faixa etária, e os materiais, livros e brinquedos eram separados nesses nichos enormes e coloridos que ocupavam um setor inteiro. O consumidor podia chegar e solicitar um material por idade, e teria um setor inteiro dedicado a essa faixa etária.
Os brinquedos desse setor... Posso compartilhar o quanto esse empresário estava à frente de seu tempo. No começo dos anos 2000, ele trouxe brinquedos que tinham a característica dos brinquedos europeus: feitos de madeira, educativos, com cores suaves e um forte caráter artesanal. Ele trouxe várias dessas empresas, muitas delas estrangeiras, e também conseguiu contato com várias empresas de artesãos de brinquedos brasileiros para fazer uma curadoria importante e abrangente de brinquedos dessa categoria para todas as idades. Não eram apenas brinquedos das grandes empresas já estabelecidas, como os americanos, que muitas vezes ainda hoje são caros e ultrapassados. Ele conseguiu quebrar isso, trazendo tanto novos lançamentos americanos quanto brinquedos com características europeias ou brinquedos brasileiros artesanais de alta qualidade. Era uma administração muito além do que uma Meg Store comum oferecia.
Agora, vale fazer uma pequena viagem pelo mercado editorial e pela precificação dos livros. Eu disse que comecei a trabalhar nessa livraria aos 15 anos e, até hoje, trabalhei em todas as áreas imagináveis do cenário editorial. Já trabalhei na edição, como chefe de editora, na revisão, tradução, como autora, enfim, tanto no físico quanto no digital. Então, acredito ter uma bagagem sólida. Tenho 37 anos e posso oferecer algumas orientações e informações a respeito desse setor.
O preço do livro é estabelecido da seguinte forma, e isso não mudou; o que mudou foram os agentes que participam da precificação. A editora pode ter uma gráfica própria ou contratar uma gráfica. Se a editora possui uma gráfica, essa dinâmica se torna mais barata, já que não precisa terceirizar o serviço. De modo geral, até 2017, algumas edições de capa mole com orelhas, imagens coloridas dentro do livro, de tamanho convencional (nem pocket, nem grande), poderiam sair de uma gráfica com 150 a 200 páginas, por cerca de R$ 9 a R$ 12. Se o livro fosse de capa dura, com muitas imagens, o custo seria maior. Esse preço é o preço de custo. A editora, então, acrescenta 100% em cima. Se o livro saísse a R$ 9, a editora vendia por R$ 18.
É importante considerar que, se o valor do livro aumenta na gráfica, por exemplo, se a editora precisar pagar mais pelo papel, esse valor pode aumentar ainda mais. Isso ocorre porque a editora continua aplicando a margem de 100% em cima do novo custo. Portanto, o valor do livro aumentou não só porque o preço do papel aumentou, mas também porque todos na cadeia de produção e venda mantêm a dinâmica de acrescentar 100% ou mais em cima.
Por exemplo, suponha que o custo de R$ 9 aumente para R$ 10. A editora pode vender o livro por R$ 20 para compensar o aumento do custo do papel. Quando a editora passa o livro para a livraria ou distribuidor (que pode ser um gestor de sites ou um site específico), esse site ou livraria acrescenta mais 100% em cima. A livraria pode adicionar até mais que 100%, como 120%. Alguns sites aplicam 120% ou 130% de margem em cima do custo original, para cobrir o valor de custo mais a margem de lucro desejada.
Então, com o preço que está sendo vendido hoje, um livro simples de 150 a 200 páginas, que sai da gráfica entre R$ 9 a R$ 12, pode ser vendido ao consumidor final por R$ 40 ou mais. O que vale a pena considerar é que, em nenhum momento, mencionamos a pessoa que fez esse material: o autor. Isso significa que a cadeia está ganhando, mas o valor pago ao autor não mudou significativamente desde os anos 2000. O autor continua recebendo uma margem muito pequena do preço que você paga por um livro físico.
Para esclarecer, vou fazer um comparativo entre o digital e o físico. Se um autor vende seu material pela Hotmart, por exemplo, ou qualquer site similar (existem vários), a Hotmart fica com uma porcentagem. Vamos supor que um livro digital seja vendido por R$ 27; a Hotmart fica com R$ 9 e o autor com R$ 18. O mesmo valor aplicado na Amazon: um livro digital vendido a R$ 27, a Amazon fica com R$ 18 ou R$ 17,80 e o autor com R$ 9 ou R$ 8,20.
Agora, considere a diferença entre um setor e outro. Um livro físico, vendido pelo preço que você vê nos sites, dá ao autor uma margem muito menor. Hoje, quando um livro é vendido por R$ 58 a R$ 60, o autor ganha entre R$ 4 a R$ 6 por livro, ou às vezes menos, como R$ 2. Além disso, o autor é frequentemente induzido a fazer uma "caixinha de doação" para a editora, que já está lucrando bastante. Por quê? Porque, já que o autor recebe tão pouco, ele é induzido a deixar essa margem para a editora em prol da alta cultura, da vida intelectual, da propagação da educação e do livro. O autor tem que amar seu trabalho e trabalhar por amor, enquanto o restante da cadeia trabalha por dinheiro.
Estou contando isso para que você possa ter algumas informações e reflexões sobre o ato de comprar o livro de um autor, achando que está beneficiando o autor, mas na verdade está enriquecendo alguém no meio do caminho que não valoriza o autor. E aqui chegamos ao meu ponto.
O cenário, tanto católico como não católico, tende a nos apontar que devemos valorizar a alta cultura e a elite produtora dessa alta cultura. Devemos ter uma vida intelectual e incentivar outros a também terem uma vida intelectual. Mas quem realmente faz a alta cultura? Se voltarmos a Platão, veremos que os verdadeiros políticos da pólis são os autores, filósofos, escritores, artistas e poetas. Isso significa que os verdadeiros políticos são aqueles que produzem a alta cultura. Veja bem, não é o setor administrativo, muito menos o setor de negociação, que faz a alta cultura. É aquele que cria o material.
Dentro dessa dinâmica, tanto no meio secular quanto no cristão, o autor, o artista, o poeta e o escritor são desvalorizados. Muitas vezes, não paramos para pensar o quanto é grave quando existe um nicho que diz ter metas cristãs, mas na verdade replica as injustiças do meio secular. Essa réplica tem várias camadas. Uma delas é a questão não só da desvalorização, mas da superexploração do autor e não só do autor, mas também do revisor, do tradutor, enfim.
A maioria das editoras fatura em cima de autores mortos. Cecília Meireles falou sobre essa dinâmica das editoras de superfaturar em cima de autores mortos. Não é difícil lembrar de alguém que faleceu e, de repente, surgem biografias, relatos, livros de frases, memórias e cartas. O mercado editorial usufrui e suga o autor enquanto ele está vivo, pagando mal ou não pagando, e depois usufrui dele morto. Nesse momento, você consegue perceber com clareza o quanto o mercado é desleal, cretino e injusto.
Isso me leva ao tópico de que talvez seja importante saber que boa parte do que você vê nas redes sociais e dessa sensação de que o meio está cristianizado, e que os valores estão sendo propagados, é um engodo. Na verdade, muitas dessas dinâmicas são baseadas e replicadas do secular. Não aconteceu o aspecto importante, que é o sinalizador da verdadeira cristianização, da verdadeira catolicidade, que é cristianizar todos os processos.
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com êle me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua côr não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
A flor e a náusea - Drummond
Nossa, esse processo tem toda a aparência de ser uma canalice. É uma boa maneira de começar essa reflexão. Gostaria de pontuar que são raríssimos os lugares que fazem esse tipo de reflexão. Se você tem uma percepção baseada nesse verniz de catolicidade, acreditando que as dinâmicas mudaram de verdade e profundamente, talvez seja importante refletir sobre isso com base em outras informações que possam te conduzir a um lugar um pouco mais seguro dentro dessa realidade.
Digo isso como alguém que sempre foi católica. Percebo que, muitas vezes, a dinâmica dos recém-convertidos tem aspectos que precisam ser corrigidos, e talvez vocês não consigam alcançar ou ter acesso a alguém que faça essa correção, que normalmente seria o diretor espiritual. Muitas vezes, esse verniz de catolicidade é criado pelo número de pessoas envolvidas nas redes sociais, e muitas delas também são recém-convertidas. Então, muitos de vocês, recém-convertidos, se espelham em outros recém-convertidos. Isso pode parecer lógico em um primeiro momento, mas, ao refletir um pouco mais, perceberão que não tem lógica alguma e não é prudente.
É importante escutar e seguir a Sagrada Escritura e a Santa Tradição da Igreja. Já disse isso anteriormente, mas se eu apontasse as pessoas que estavam em alta em 2012, quando a internet ainda estava em crescimento, muitos de vocês desconheceriam completamente. Isso porque essas pessoas ou saíram dessa forma de servir a Deus, ou se dedicaram exclusivamente a algum tipo de vocação específica, ou seguiram outro caminho que nada tinha a ver com aquilo que estavam propagando. É importante que haja uma maturação dentro dessa visão, e talvez isso possa ser fortalecido com acesso a algumas ações.
Essa nova leva católica traz consigo traços do brasileiro - populismo, polemismo e famosismo - traços que já existiam no cenário de TV, rádio, etc., e foram aplicados ao nicho que cresceu com a rede social. Não sou contra a rede social, mas preciso apontar como ela mudou as dinâmicas de comportamento. Dada a área da minha atuação, preciso pontuar as realidades.
O nicho católico passou a existir. Era um nicho que não existia, e claro que o fato de existir é melhor do que não existir. Ter materiais, produtos e coisas feitas com essa intenção é positivo. Porém, corremos o risco de nos tornarmos uma réplica digital das barracas em frente ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Criar um nicho saudável é uma coisa; tornar-se um vendilhão no templo é outra. Aos meus olhos, já estamos à beira de estabelecer esse perigo como uma realidade. É por isso que vale a pena falar sobre números na pesquisa anual Salus, que é um dos objetivos desta aula.
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A questão é até que ponto vocês conhecem a dinâmica digital. Concluí que muitos de vocês ou desconhecem a dinâmica ou têm uma visão ingênua dos processos. A primeira pergunta foi em relação ao tamanho do site Salus in Caritate. A maioria conhece algumas coisas que falo no site, que é um site de nicho de médio alcance. O que isso significa? Foi a matéria da segunda pergunta: quantas pessoas atingiria mensalmente um site de médio alcance. Percebi que vocês não têm ideia numérica das coisas, talvez por desconhecimento ou preconceito. Algo do tipo "eu conheci agora, logo passou a existir agora". Portanto, só pode ser desse tamanho.
O site tem um alcance de mais de 60.000 visitas mensais. Um site de nicho de pequeno alcance teria 30.000 ou 10.000 visitas mensais. Usando isso como gancho quero fazer uma reflexão sobre a rede social mais visualizada, que no caso atual (2024) é o Instagram. Pode ser que você, vindo do futuro, tenha outra rede em mãos. Agora, em 2024, é o Instagram. No Instagram, suponha que alguém tenha 900.000 seguidores. O layout da rede é feito para que o número seja maior que a pessoa. Se você olhar o número de seguidores e postagens, ele é maior que o nome da pessoa dona da conta. Os números são maiores que a identidade e a personalidade, o que coloca em cheque muitas das falas propagadas na mesma rede de que a identidade importa. O que é a identidade imposta por essa rede?
O Instagram fez com que nossa identidade fosse atrelada a esse número, maior que nosso próprio nome na plataforma. Antigamente, apresentávamos um currículo com projetos, realizações e conhecimentos. Hoje, aquele número define quem você é, aqui no Brasil. Na França e em Portugal, não é assim, mas aqui é assim. Você é definido pelo número. Muitas vezes, pessoas que não têm capacidade são lidas como capazes porque têm números elevados. Isso é uma dinâmica estabelecida pela própria ferramenta para que isso seja determinante.
Dada essa dinâmica, vale observar...
Será que isso é real? Não vou entrar no ponto de que existem pessoas que compram seguidores. Vamos supor que alguém tenha realmente 900 mil a 1 milhão de seguidores. Quanto será que essa pessoa realmente alcança em um Story ou uma postagem? Isso depende do estado do Instagram da pessoa, ou seja, da conta dela. Se a pessoa é cancelada, se não é, se fala sobre polêmicas ou não, se tem visibilidade em outros nichos ou não. A aparência física dessa pessoa também será levada em consideração, pois é uma rede baseada na imagem e que enfatiza muito essa dependência visual.
Aqui não estou fazendo uma crítica, nós também somos essa imagem. Estou dizendo que o Instagram supervaloriza essa questão, assim como o Twitter supervaloriza a opinião. Quanto mais curta, direta e "lacradora" ela for, melhor. Então, cada rede valoriza um aspecto.
Essa pessoa com 900 mil seguidores pode atingir, em um Story, 90 mil pessoas. Por que digo "pode atingir"? Porque pode ser um pouco mais, se ela tiver super alcance, estiver em um momento polêmico importante, etc. Ou pode diminuir bastante esse alcance para 20 mil, 30 mil, se estiver com alguma questão na conta ou se o Instagram limitar temporariamente a visibilidade das suas postagens.
Não estou dizendo que é o algoritmo que dita tudo, mas ele dita uma parte. A ferramenta trabalha com imagens em vários estratos: não só a imagem da pessoa, que é incentivada a se expor o tempo todo, mas também a imagem dos números em detrimento da própria pessoa. O número que aparece na página inicial não é necessariamente o número que aquela pessoa alcança.
Mesmo que o número seja 90 mil, ela tem acesso, a que conteúdo em um Story de 15 segundos, 60 segundos? Elas têm acesso a um fragmento ou a um fragmento do fragmento. Aqui acho interessante pontuar, por exemplo, que um livro é um fragmento do pensamento do autor sobre um determinado assunto. Então, um livro é uma parte de um todo. Citações, trabalhos, artigos que referenciam aquele livro são fragmentos que contêm fragmentos. Um texto no site é baseado, talvez, no fragmento do pensamento do autor e em fragmentos de fragmentos, que são artigos e outras publicações.
O que seria um Story? Se esses são fragmentos, os Stories seriam, dentro de uma produção cultural de conteúdo, migalhas.
Podemos discutir um aspecto de valor e ética a respeito do conteúdo presente em redes sociais. Esse material é uma migalha que pode ser útil ou não, atingindo um grande número de pessoas, mas não necessariamente correspondendo ao número de seguidores exibido na página inicial do usuário.
No caso de um site de médio alcance como o Salus, nem vou mencionar os grandes sites, pois não estão na mesma categoria, já que o Salus é um site de estudo. Isso significa que os visitantes estão acessando materiais, cronogramas de estudo, metodologias, processos de estudo ou edificação espiritual, especialmente no primeiro pilar da Piedade da Educação Clássica Católica. É importante destacar que não cobro para produzir esse material, mas ele é fundamental para que outros pilares possam ser desenvolvidos.
A diferença entre o que a pessoa acessa e o que ela se alimenta é clara. Eu não trocaria esse engajamento por um número maior de visualizações em Stories. Estudar, dentro do nicho do Salus, é mais importante do que apenas engajar. O verdadeiro engajamento está no estudo. Se a pessoa consegue sair dos vórtices de conteúdos e polêmicas e focar no estudo, ela realmente engajou. Isso está relacionado com a cristianização dos ciclos e nos faz refletir sobre até que ponto podemos nos curvar ao que é estabelecido no meio secular como correto.
Outro ponto importante é como os aplicativos disputam a nossa atenção. É justamente a nossa atenção que é vendida por esses aplicativos. Quando você baixa um aplicativo no seu celular, você aumenta o valor de mercado dele, pois o número de usuários influencia diretamente nesse valor.
Essas plataformas sobrevivem com patrocínios. O comercial de TV foi substituído pelos anúncios patrocinados nas redes sociais. Esses anúncios não vendem apenas o espaço, mas também a nossa atenção. Quanto mais um aplicativo consegue reter a nossa atenção, mais patrocínios ele atrai e mais caro pode cobrar por visibilidade. A nossa capacidade cognitiva de atenção se tornou mercadoria.
A pergunta é: você está ciente disso? Você concorda com isso? Não temos um protocolo de responsabilidade social, psicológica e ética desses aplicativos. O Instagram teve uma pequena crise de consciência quando alguns psicólogos americanos e europeus começaram a falar sobre os efeitos das redes sociais. Isso resultou na ocultação de vários números, mas logo foi revertido.
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Existe um site chamado "Factor Culture" que analisa o comportamento dos povos em comparação. Você pode comparar Brasil com Estados Unidos, China, Venezuela, Cuba, entre outros. Esse site mostra como o Brasil sempre se destaca na questão do status. A dinâmica de parcelar várias vezes uma bolsa de marca é um exemplo disso; o importante é ter aquela marca para ser associado a ela. Essas ferramentas de status são usadas para construir a identidade pessoal.
As marcas e aplicativos, que também são empresas e estruturas de marca, sabem disso. E não é à toa que as redes sociais são muito mais usadas aqui no Brasil. Se você fizer uma pesquisa simples, verá que os países ao redor, como Venezuela, Peru, Colômbia e Argentina, não utilizam as redes sociais tanto quanto o Brasil. Todas essas vertentes estão relacionadas a isso. Isso significa que talvez você e eu também sejamos impactados por esse fenômeno. Nós não somos separados do povo. Então, mesmo estando em um nicho no qual você acredita estar tendo uma abordagem reflexiva e atenta, talvez você esteja replicando esse comportamento.
Por exemplo, é nítido o número de pessoas que têm estudado filosofia na universidade, mas não têm capacidade de avaliar as questões sociais com clareza e se deixam levar e enganar por essa mentalidade populista, polemista e famosista. Inclusive, pautando suas análises de avaliação do professor ou de algum trabalho por essas ferramentas, mesmo estudando filosofia.
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Nós, dentro dessa ala, você pode pegar sua plaquinha que considera sua, seja católico, de direita, esquerda, conservador, de cima ou de baixo, ainda não entendemos o valor do professor. Existem lugares em que o professor é extremamente desrespeitado. Situações em que três professores estão ali, os que não são tão conhecidos em redes sociais, que às vezes nem têm rede social, chegam a ser maltratados e deixados de lado em detrimento daquele que tem muitos seguidores, mas é incompetente e tem conhecimento inferior àquele que não tem rede social ou que não é tão conhecido. Isso feito por essas mesmas pessoas que dizem estudar filosofia, que dizem ser de direita, esquerda, de cima, de baixo, enfim, a situação está beirando o caricato.
Isso é o que gostaria de pontuar a respeito dessa interação do meio e da intersecção com redes sociais e a formação de imagens. É uma caricatura, e pode ser que você esteja acreditando na caricatura. Não estou dizendo que todos são caricatos. Vamos exemplificar porque a parte acachapante é difícil de lidar. Não estou dizendo que todo mundo é caricato. Estou dizendo que existe a linha da caricatura, e essa linha da caricatura, entenda, não é de um ente ou de outro ente, não é de fulano ou beltrano. É uma linha que as pessoas podem entrar e sair dela à medida que têm consciência de que ela existe. É uma linha estabelecida por essas intersecções que acabei de explicar, e a pessoa entra nela e pode ficar ali, vivendo ali, achando que aquilo é real. Ela pode sair dela quando tem a real convicção disso. A questão é: você tem consciência de tudo isso que estou falando? Qual é o seu posicionamento e ações a respeito disso?
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Principalmente dentro dessa cadeia, você e eu, embora eu também seja produtora, mas também sou consumidora, podemos ter uma ação de norteadores do mercado. Porque isso aconteceu: o catolicismo se tornou um nicho de mercado, e muitas dessas empresas não estão realmente se importando com marketing. Marketing é filosofia de empresa. A propaganda, o banner, o reels são ferramentas de promoção e divulgação. O marketing é a filosofia. Se eu disser que a maioria desses lugares não tem filosofia de empresa porque não se importam com isso que acabei de falar, ou têm uma filosofia de empresa que não posso nem chamar de secular, porque há muitas empresas seculares que são muito sérias nesse quesito. Então, posso dizer que é uma conduta imoral da qual não voltam atrás.
Você, como consumidor, tem notado isso? Consegue observar o seu papel dentro dessa estrutura? Consumir determinados conteúdos digitais é uma forma de endossar determinadas atitudes. Você tem noção de que existe uma diferença no fim da linha de produção cultural? Se realmente estiver disponível e disposto a encorajar quem não está sendo valorizado, qual é a sua visão a respeito do autor? Qual é a sua visão a respeito do professor? Já parou para pensar na sua própria atitude pessoal a respeito disso?
Essa é a minha intenção, porque não acredito que o macro será mudado com facilidade. Acredito que as pessoas, tendo consciência dessas realidades, refletindo e tendo maiores informações para constituir balizadores reflexivos realmente concretos, possam fazer uma mudança efetiva.
Os autores e os professores têm trilhado um caminho independente e solitário por conta de diversas mudanças no cenário. Então, o professor não pode mais contar com uma estrutura educacional que o apoie 100%, pois essas estruturas já não existem mais. Ele é visto como uma ferramenta, um produtor que gerará um produto educacional, e esse produto será mercantilizado. Ele é apenas o fazedor de um produto. O mesmo acontece com o autor; ele é visto como um produtor de um produto que será vendido e gerará lucro para alguém, menos para ele.
Os produtores culturais têm se deslocado desse cenário para trilhar um caminho independente, ainda que solitário, já que, junto a essas estruturas, eles continuam solitários. O autor, por exemplo, não tem mais ajuda do editor. O editor, antigamente, era um suporte para o autor, inclusive para defendê-lo. Assim como o curador de arte é um defensor do artista. O editor não está lá para ser o editor de negócios. Mas isso tem se transformado: ou o editor visa o dinheiro e quer ganhar dinheiro, ou é um editor crítico que está ali apenas para criticar a obra, acreditando que essa é sua função.
O papel do editor não é nem um, nem outro; é simplesmente apoiar o autor nos momentos em que ele precisa. Já cheguei a sentar à mesa com um autor que não conseguia escrever. Tudo estava na mente dele, mas ele não conseguia colocar no papel, então ele ditava e eu escrevia. O editor ajuda a conceber a obra e a valorizar o autor. Esse sistema ruiu. Não existe mais esse tipo de editor.
O mesmo acontece com colégios e institutos que realmente valorizam o professor. E digo isso de verdade, afastado da questão do populismo, do polemismo e do famosismo. Então o escritor, o professor, o artista, desloca-se dessas estruturas, abandonando-as por caminho mais justo.
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Como já pontuei a respeito das questões do mercado de valoração e remuneração desses profissionais, isso talvez aponte para a necessidade de deslocamento da cultura da produção cultural de entidades e até de partidos, para que ela possa sobreviver independentemente do que esteja acontecendo nos ciclos partidários, políticos, ideológicos, etc. Para que consiga ter uma vida fértil. Alguns países já possuem essa característica, onde a produção cultural continua acontecendo independentemente do que está em pauta na política, na ideologia, ou até mesmo na ascensão e declínio de grupos. Isso é favorecido por alguns incentivos, inclusive do próprio governo.
Muita gente tem problemas com as questões de incentivo, mas deixo aqui mais um balizador reflexivo: como a cultura conseguirá se restabelecer se não tiver incentivo? Nós temos um país com muitas dificuldades em vários setores, mas não podemos continuar com essa percepção de que a cultura é inferior no benefício que traz ao povo. Primeiramente, no que se refere à educação, a cultura é parte integrante do processo educacional. O processo educacional no Brasil está em declínio por conta da falta de acesso ao acervo cultural. Um dos pontos é esse, pois a metodologia não faz com que o aluno acesse esse acervo.
Investir em cultura para que as crianças possam ter a possibilidade de acessar lugares (e estou falando das pessoas nas periferias) que não teriam em outros momentos. Acessar bibliotecas e teatros com facilidade é enriquecer o processo educacional e facilitar o papel do professor, principalmente o professor da periferia. Ele precisa de um ambiente que seja um pouco mais salutar do que aquele em que a criança vive dia e noite. Isso só é possível com uma cultura estabelecida, com portais em que essa criança, esse jovem, esse adolescente possa entrar.
Porque, da mesma forma que uma boca de fumo na periferia é um portal para o inferno, a porta de um teatro, de um museu, ou de uma igreja são portas para o céu. Isso é estabelecido pela cultura. Por isso, reafirmo: enquanto esses ditos produtores culturais não mudarem sua conduta, isso nunca será cristianizado e esses portais nunca se abrirão; será somente um discurso para enaltecer egos nas redes sociais.
Eu me pergunto muitas vezes: Qual é, de fato, a direção que esses projetos, principalmente os editoriais, estão tomando? Livros com preços exorbitantes, feitos mais para serem exibidos do que lidos, livros cuja produção visa apenas a aparência, e não o acesso ao conteúdo para pessoas que talvez não possam pagar por eles.
Será que esses lugares estão com os pés no chão da realidade brasileira, onde a maioria das famílias gasta R$ 200 ou menos para alimentar cinco pessoas? Será que têm ética cristã em sua conduta? Será que existe mesmo o desejo de ganhar um pouco menos para conseguir levar um pouco mais?
Não vou entrar no cenário do cinema, pois acredito que talvez esteja um pouco melhor, mas o cenário editorial precisa de uma revisão urgente, de uma salvação através de um golpe de ética providencial.
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O livro é a obra de arte mais acessível, e é por isso que talvez eu tenha gastado tanto tempo falando sobre isso. Estou nesse ambiente desde os 15 anos de idade. Minhas graduações e pós-graduações, até mesmo quando estava na área da saúde, sempre tiveram muita relação com a literatura e os livros. O livro é a obra de arte mais acessível.
Você consegue fazer com que uma criança, um jovem, um adolescente, um adulto e até um idoso entrem em contato com uma obra de arte. Entrar em um museu requer um deslocamento, mas o livro não; o livro traz a obra de arte às mãos de quem o lê. É o acesso mais genuíno, direto e fácil. Isso me leva ao tema da pesquisa. Percebo que, talvez por falta de direção, as pessoas estão interessadas em educação e filosofia, mas esquecem que a arte e a literatura são ferramentas essenciais.
Só que essa ferramenta precisa ser acessível. Livro não é artigo de luxo; livro é algo necessário para a sanidade de um povo. Precisa ser de fácil acesso, de custo acessível e precisa chegar às pessoas. Recentemente, tive contato com um grupo de catequese em que três famílias não tinham Bíblia. As Bíblias que possuíam eram protestantes; não tinham acesso à Bíblia católica, não tinham acesso de verdade, porque a Bíblia está custando quase R$ 100. Para essas famílias, gastar R$ 100 em uma Bíblia pode parecer pouco para alguns, mas é quase o valor da compra do mês para essas famílias.
Eu não sei realmente o que passa na cabeça desse setor. Sinceramente, não sei se eles vivem no mesmo Brasil que eu. Não sei se essa bolha excessiva, esses ciclos que eu já chamava de bolha, que agora todo mundo repete como papagaios da internet... Talvez porque vivam em um estrato social mais favorecido. Mas é importante que aqueles que têm um estrato social mais favorecido tenham visão dessa realidade e, ao contrário dos revolucionários que têm dó e pena de si mesmos por pertencerem a uma classe social maior, possam utilizar dessa posição para facilitar o acesso de outras pessoas, inclusive deixando algumas coisas para trás.
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A lei de incentivo à cultura não é algo supérfluo. É um erro acreditar nisso. E foi justamente esse erro que fez com que muitos dos cenários brasileiros fossem subjugados ao revolucionário. Quando os militares deixaram as universidades, eles deixaram uma das facetas da produção cultural. Hoje, algumas pessoas, mesmo dentro de um cenário conservador ou católico, seja qual for a plaquinha que queiram colocar, dizem que estão fazendo produção cultural, mas não mudaram a forma de gestão. Se não mudarem a forma de gestão, é uma réplica exata, ainda é um abandono de cultura. É apenas um afago de ego, uma construção de status, uma construção falsa e enganosa na rede social.
O incentivo cultural precisa, sim, vir do Estado, embora possa ser também apreciado por vias privadas. Mas precisa existir, porque a educação precisa dessas ferramentas e a saúde também precisa dessa ferramenta. Você realmente acha que as pessoas não precisam de cultura estando em ambientes hospitalares e em outros lugares? Elas precisam disso também porque a arte, a cultura, é um curativo da alma. É um veículo que pode ser utilizado por Deus para purificar, para fazer um processo de catarse na alma das pessoas. Então, também não é um artigo que deve ser deixado de lado na área da saúde, inclusive na formação desses profissionais.
No último projeto de pesquisa que fizemos, coloquei exatamente o grande benefício que médicos, nutricionistas e psicólogos conseguem com um maior aporte formativo da área da filosofia estética, educação estética, arte, patrimônio e literatura para exercer suas funções e para acessar e ter o devido respeito às pessoas. Talvez, dentro desse cenário de propagação de alta cultura, falte educação estética, que é uma propulsora do respeito genuíno, da valorização genuína, de uma sensibilidade verdadeira e não caricata ou falsa.
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Dentro dessa questão do incentivo, existem algumas iniciativas feitas por outros países. Por exemplo, a França tem a Lei da Cópia Privada. Você que mora na Europa pode me mandar depois um veredito a respeito disso, se isso funciona realmente na prática no solo do país em que você vive, pois existem várias coisas que são bonitas, mas às vezes, para quem vive nesse solo, não são tão reais assim, não são tão verdadeiras.
As pessoas, ao comprarem seus equipamentos, pagam um pouco a mais já embutido no preço do equipamento, para que possam acessar conteúdos gratuitos pela internet de diversas formas digitais, autorizadas pelos próprios autores, artistas e produtores. Esse valor é revertido para projetos que serão disponibilizados gratuitamente. É um ciclo de gratuidade dentro do cenário cultural, em que os produtores, autores e artistas são valorizados, pois são entendidos como pessoas que precisam receber sua remuneração. Também é entendido que esse produto cultural, essa produção cultural, precisa chegar gratuitamente às pessoas. Então, alguém precisa fazer algo para equilibrar essa conta de recursos versus gratuidade.
A Lei da Cópia Privada foi uma forma que eles estabeleceram para conseguir fazer esse circuito funcionar. Claro que deve existir alguma questão em relação aos projetos aceitos, mas pelo que consegui ver de alguns colegas e das questões da área de projetos, existem produções de diversos tipos e alcances, muitas vezes feitas de forma simples. Documentários mais acessíveis, produções feitas com uma, duas ou três pessoas, foram aprovados. Esse valor é colocado em algumas instituições que fazem a curadoria dos projetos e a avaliação dos mesmos. É claro que o número de projetos é grande, muitas vezes recebendo 1.200 projetos, dos quais 180 são aprovados.
Existem algumas questões para gerenciar esse aspecto da gratuidade da produção cultural que precisam ser levadas em consideração. Talvez não seja importante para algumas pessoas quando pensado de uma forma simplista, mas dentro de um cenário tão complexo como o Brasil, seria o mesmo que abrir portais para oportunidades, para melhoria de vida, para beleza e até mesmo para o paraíso para muitas dessas pessoas, dependendo do lugar em que vivem. Muitos dos professores e profissionais vão entender exatamente do que estou falando e do quanto esses portais fazem falta na didática. O professor pode ser um portal, mas se ele contasse com outros portais que cercassem esse aluno, ele provavelmente teria mais chances de encontrar um caminho mais salutar, mais edificante e até mesmo para quem não está em uma situação ou ambiente tão ruim e desvantajoso para a formação.
Existem opções, existem formas. Talvez tenhamos a oportunidade de deslocar a cultura desses enredos políticos e ideológicos, tanto de direita, de esquerda, conservador, progressista, e fazer com que a cultura consiga subsistir com autonomia, com respeito aos diversos tipos de produção cultural, independente do tipo de governo e do tipo de coisa que venha a se estabelecer no aspecto da politicagem. Porque, como eu disse, quem faz política mesmo é o professor, o escritor, o artista. Talvez esse movimento dos autores, tradutores e professores, de uma independência ainda que solitária, mas que valoriza o trabalho, possa ser um primeiro passo para que consigamos esse aspecto um pouco maior, que é deslocar a cultura da dependência dos enredos políticos.
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O Brasil já teve vários projetos culturais de identidade nacional. Durante o regime militar, houve um projeto que tinha esse ideal da alta cultura popularizada gratuitamente. As pessoas tinham acesso a concertos gratuitos feitos pelas orquestras sinfônicas. Isso ainda existe nas orquestras sinfônicas, mas era algo grandioso, propagado e transmitido na TV. Inclusive, você encontrará a Orquestra Sinfônica do Brasil fazendo um concerto público que foi transmitido pela Globo. Era um projeto estabelecido que não foi para frente.
Antes disso, tivemos um projeto de um Brasil modernista, um Brasil que tinha novas ideias, que não assimilava mais as coisas europeias, mas que concebia suas próprias coisas, gerando uma reflexão muito presente no livro "Macunaíma". O próprio Macunaíma passa a ser uma representação do brasileiro que não tem muita ideia de quem é, mas o livro passa essa ideia de que o brasileiro, na verdade, é o índio que se tornou europeu.
Mais recentemente, tivemos muitas iniciativas em relação à questão do moderno e do artesanato, de valorizar coisas locais. Todos esses movimentos intuem que o brasileiro não tem personalidade. Nós não temos, como outros países, uma veste típica, uma forma típica de ser, etc. Somos o resultado da junção de vários povos, de várias línguas, e isso talvez seja a nossa grande força cultural. Por isso, esse deslocamento é tão importante, porque precisa ser um território que realmente valorize tudo isso que está dentro do brasileiro. Nós não somos apenas o índio, somos também o índio, o negro, o europeu, o asiático, o árabe. Temos todas essas vertentes na nossa constituição de povo, e a cultura não pode ficar restrita a ponto de querer silenciar qualquer uma dessas vozes.
Na nossa ação cristã, é importante cristianizar tudo isso. Todas essas culturas podem passar por um processo de cristianização, que não significa torná-las europeias.
Isso exige muito mais de nós, que realmente somos os fazedores dos livros, das artes, dos monumentos, dos patrimônios. Aqueles que realmente fazem política. Quem precisa fazer essa primeira valorização somos nós mesmos e, num segundo momento, você que consome essas obras. O começo é o artista, o autor, o poeta, o professor, e o fim é o aluno, o consumidor, o leitor.
Essas são as duas pontas que realmente importam e são os nossos anseios, as nossas boas ambições que determinam muito dentro do cenário. Acho que esse é o fim dessa reflexão um pouco aleatória, mas nem tanto assim, que possa te fornecer algumas informações para fazer uma reflexão baseada numa silenciosa sensatez.
Eu sei que pode ser que isso não mude nada na conduta, porque nem sempre saber significa mudar, mas espero que pelo menos alguém tenha um refinamento a respeito do que está acontecendo. Não se deixe ludibriar por vernizes, mas consiga fazer na sua conduta pessoal algumas mudanças a respeito desse cenário. E aí sim, realmente estaremos defendendo e promovendo a alta cultura.
Resumo em tópicos:
Funcionamento das Editoras e Livrarias
Livros chegavam consignados às livrarias, que vendiam e repassavam o valor à editora, devolvendo os livros restantes.
Muitas editoras dependiam das Meg Stores, mas hoje dependem das plataformas online.
A dinâmica do mercado editorial mudou, mas os autores ainda são financeiramente prejudicados.
História e Transformação das Meg Stores
Meg Stores combinavam livraria, games e papelaria, com setores dedicados ao público infantil.
A administração dessas lojas muitas vezes era avançada, trazendo brinquedos educativos e artesanais.
A área infantil se transformou em setores coloridos, com nichos específicos por faixa etária.
Precificação dos Livros
Livros têm seus preços calculados com base no custo da gráfica, com a editora adicionando 100% em cima.
Livrarias e distribuidores também adicionam suas margens, elevando o preço final ao consumidor.
Autores recebem uma porcentagem pequena do valor final de venda do livro.
Impacto da Precificação na Acessibilidade
Livros caros dificultam o acesso da população, especialmente em áreas periféricas.
O mercado editorial muitas vezes lucra com autores mortos, enquanto os vivos recebem pouco.
A necessidade de incentivos culturais para facilitar o acesso à cultura e educação.
Influência das Redes Sociais
Redes sociais, como Instagram e Twitter, valorizam aspectos diferentes, como imagem e opinião.
O número de seguidores nem sempre reflete o alcance real das postagens.
A identidade nas redes sociais é frequentemente baseada em números de seguidores.
Produção Cultural e Gestão
A produção cultural deve se desvincular dos enredos políticos e ideológicos.
A Lei da Cópia Privada na França como exemplo de incentivo cultural.
A necessidade de uma gestão cultural que valorize e remunere adequadamente autores e artista
Importância da Cultura na Educação
A cultura é fundamental para o processo educacional e deve ser acessível.
Investir em cultura enriquece o processo educacional e facilita o trabalho dos professores.
Acesso à cultura pode transformar vidas, oferecendo novas oportunidades e experiências.
Reflexão Final
A necessidade de uma reflexão silenciosa e sensata sobre o papel da cultura e educação.
Mudanças na conduta pessoal podem promover a alta cultura de forma genuína.
A valorização do autor, do professor e do artista é essencial para uma cultura cristianizada e autêntica.
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