Educação Clássica Católica: orientações gerais (transcrição de aula aberta)

by - novembro 30, 2024




Transcrição em partes da aula: Educação Clássica Católica: orientações gerais ministrada pela professora Ana Paula Barros em 22 junho de 2024. Aula disponível na íntegra aqui com link para o mapa mental na descrição da aula (sugerimos fortemente a escuta da aula na íntegra).


Gostaria de abordar um novo tópico relacionado à Educação Clássica Católica, fornecendo algumas orientações essenciais tanto para a aplicação prática quanto, principalmente, para o processo de autoeducação. Percebo que há uma grande confusão a respeito da Educação Clássica Católica e do que entendemos por catequese.


Para iniciar, acredito ser fundamental apresentar alguns pilares da Educação Clássica Católica. Mencionarei aqui alguns deles de forma alusiva, sem um aprofundamento inicial ou detalhado de cada um. Isso poderá ser feito tanto nas aulas presenciais quanto no Educa-te. No entanto, considero importante mencioná-los para fornecer uma orientação clara e tentar, de alguma forma, esclarecer as mentes em relação a esse tópico.

Os pilares são: piedade, maravilhamento, exercício físico, memória, leitura, ensino e aprendizado, virtude. Estes são alguns dos pilares da Educação Clássica Católica.


Vale ressaltar que o primeiro pilar é a piedade, razão pela qual, por exemplo, neste mesmo podcast, no site, e até mesmo nos primeiros módulos do Educa-te, você encontrará uma vasta gama de conteúdos relacionados à vida espiritual. Posteriormente, aprofundar-me-ei um pouco mais nessa temática, abordando o plano de leitura bíblica, o plano de vida espiritual, o cronograma de quaresma, o plano de Natal e a organização das festividades natalinas, além dos exercícios espirituais que são de extrema importância. 

Vocês compreendem, a princípio, que a catequese já faz parte integrante da Educação Clássica Católica. Está situada no território que eu denomino, e que organizei inclusive no site e nos materiais do podcast, como: Preceptora.

A preceptora é aquela primeira professora que não se confunde com uma professora de jardim de infância ou pré-escola. Essa professora tinha a responsabilidade de educar as crianças e adolescentes em casa, ensinando não somente as noções iniciais de letras, mas, sobretudo, a moral. Na instrução aos principiantes, Hugo de São Vítor afirma que uma das primeiras coisas importantes é a aquisição da disciplina, alcançada pela moderação do comportamento e pela prática da piedade.

A piedade não é um pilar insignificante e talvez seja o que mais diferencia a Educação Clássica Católica da educação meramente clássica ou convencional. Na educação clássica, mesmo sem ser católica, esse pilar já existia e era necessário. Esse respeito ao sagrado é essencial para iniciar o processo educacional. Contudo, com o tempo, foi esquecido, e esse pilar tem passado despercebido numa imitação constante e irrefletida dos mundanos, que afirmam que a piedade não pertence ao território da educação. Afirmam [inclusive padres] que quando alguém cita um versículo ou fala sobre o Espírito Santo, está dando, absolutamente e sem discussão, catequese. Esse pensamento precisa ser erradicado, pois, se persiste, torna-se muito difícil concluir o processo educacional.

Portanto, há esse pilar, que eu enriqueci sem oferecer muitas explicações. Como vocês sabem, o Salus existe há mais de 10 anos, desde 2012, quando a situação era como era. O que a maioria de nós faz? Continuamos a agir sem explicar muito, porque naquele momento não julgávamos importante esclarecer a metodologia. O pilar da piedade era o mais defasado; não adiantava falar sobre o maravilhamento ou a memória se o pilar da piedade não estava bem fundamentado.


O Pilar da Leitura: é crucial que se tenha uma bagagem literária do Ocidente, que se fundamenta essencialmente nas Sagradas Escrituras. Portanto, ler a Bíblia é um benefício religioso, moral, intelectual e de enriquecimento do seu acervo de memória e do seu universo interior, essenciais para compreender muitas das obras clássicas e outras manifestações artísticas e literárias. Isso porque, ao ler a Bíblia, você consegue identificar quem são os personagens, suas histórias, qual a sua intenção do escritor e as camadas de significado ao citar ou mencionar determinados personagens bíblicos.

Isso é extremamente importante. Por que digo que é uma das coisas mais importantes e que tem sido solenemente negligenciada, especialmente pelos jovens que têm paixão por ensaios e tratados filosóficos, mas não conseguem fazer conexões simples entre personagens bíblicos e personagens de obras como "Moby Dick"? Isso é um sinal de deficiência e deformação educacional. Por isso, se você tem essa dificuldade, pergunto: quantas histórias bíblicas você conhece? Você já fez um estudo bíblico? Quanto de boa literatura você já leu? De verdade, o que você leu de autores e autoras? Você consegue fazer a ligação entre o que leu, as Sagradas Escrituras e os ensinamentos da catequese? Precisa conseguir.

Se você tem muita dificuldade nisso, o Educa-te oferece um caminho detalhado para que você possa trilhar e superar essa deficiência. Esforce-se para adquirir essa habilidade. E, realmente, provavelmente levará de dois a três anos para conseguir criar essa bagagem e interligar esses conhecimentos. Não adianta apenas ler; é preciso interligar com as Sagradas Escrituras e com a doutrina da Igreja. Não é uma questão de ler dois ou três livrinhos em um ano; é necessário ter uma bagagem significativa.

Por que isso é importante? Porque ao fazer isso, você enriquecerá o Pilar da Piedade, o Pilar da Memória e o Pilar da Leitura.


Bom, por onde começar? Essa é a pergunta que a maioria de vocês faz.

Primeiro, comece com aquilo que tem em casa. Isso é fundamental: utilize os recursos que você já possui. Ah, você não tem nada em casa? Faça como eu fiz aos 13 anos de idade: vá até uma biblioteca. Foi o que eu fiz, sozinha. Faça uma carteirinha da biblioteca. É fantástico! E então explore as sessões de literatura estrangeira e brasileira, onde você encontrará, em grande parte, obras de autores clássicos. Ou leia o que já possui em casa, e a partir daí, inicie esse enriquecimento.

Ah, você não tem acesso a esses livros? Talvez você tenha em casa um livro chamado Bíblia. Então comece por ele. Acesse o site, baixe o cronograma de leitura bíblica gratuitamente, juntamente com os comentários, que também estão disponíveis gratuitamente. Você começará a enriquecer sua base de piedade, leitura e memória, e depois poderá ampliar com outras leituras. Simples assim. Isso é Educação Clássica Católica

Ah, mas isso não é catequese? Também é, mas principalmente é um enriquecimento da Educação Clássica Católica, iniciando com três a quatro anos de aquisição de bagagem cultural e literária. Sem preguiça, sem menosprezar a importância disso, sem achar que ler um ensaio é melhor do que ler literatura ou fazer um estudo bíblico. É inadmissível que um cristão não tenha lido a Bíblia completa. Deixo claro que o cronograma no site abrange todos os livros bíblicos da Bíblia católica, com comentários dos doutores da Igreja. É inadmissível que alguém com pretensões de vida intelectual não tenha se dedicado a isso. Esse conhecimento é essencial e previne erros comuns entre aqueles que consomem apenas tratados de filosofia, teologia e ensaios. Esses livros são importantes, mas sem essa bagagem inicial, o conhecimento fica solto, desvinculado das demais formas que compõem a cultura literária, e pode gerar uma percepção deficiente.

Já falei sobre isso em vários podcasts anteriores e em outras instâncias: temos a formação humana, intelectual e doutrinal. A formação humana é enriquecida com essa bagagem cultural e literária, adquirida através da leitura de personagens e histórias... as ações e reações e onde determinada coisa ocorre. Consegue identificar sinais de como é uma modulação, uma moderação de temperamento, o que é um desequilíbrio de temperamento, um vício, uma virtude, uma atitude sábia, uma atitude tola. Tudo isso está condensado nos personagens.

Isso é apenas para crianças? Ou para adolescentes? Não, jovens adultos e adultos cultos, é para vocês também. Vocês precisam suprir essa bagagem, e muitas vezes enterram-se em ensaios e compêndios, deixando de lado essa parte essencial do alicerce, construindo a casa na areia e achando-se muito sábios. Tome cuidado. Preste atenção.


Os mitos também são extremamente valiosos nesse processo e podem ser gradativamente interligados na sua teia de conhecimento com os contos e, posteriormente, com as obras de ficção que você for acrescentando à sua bagagem. A forma como você lê também é importante. Você pode marcar nos livros as partes que mais chamam sua atenção, fazer um sistema de fichamento das citações que mais gostou e marcar os livros com tags, desde que também revise essas anotações, citações e marcações de tempos em tempos.

É importante compreender que estamos falando da formação de uma biblioteca interna. Você guardará algumas citações de diversos livros, que se unirão em uma teia de conhecimento e criarão uma melodia interna. As obras de tratados e de ensaios, que costumam ser mais densas e com pouca poesia, ganharão  certa harmonia interna.

Criar uma biblioteca de poemas dentro de si ajuda muito. Para você ter uma ideia, a sabedoria dos grandes autores das Sagradas Escrituras inspirou muitos poetas. Em vários livros bíblicos, até mesmo nos livros proféticos, há poesias e cânticos. Isso não é de pouca importância dentro do ciclo literário. Eles possuem um valor simbólico e várias camadas de interpretação, muitas vezes mais do que um livro extenso. Versar na leitura de poesia é essencial dentro do tópico da leitura, pois tem ligação com a memória, maravilhamento e vários outros pilares.

Preste atenção: é necessário fazer esse processo e entender que, provavelmente, a ficção será mais fácil, os contos serão mais fáceis, os mitos começam a ficar um pouco mais difíceis, e a poesia será realmente um pouco mais desafiadora, dependendo da bagagem que a pessoa tem e do que está lendo. Pode ser que uma obra clássica, como a "Ilíada" ou algo de Jorge de Lima, seja mais desafiadora que outra, dependendo do treino de leitura.


Depois, é importante contemplar as obras mais densas, como acabei de mencionar, como a "Ilíada".

A importância da "Ilíada" e da "Odisseia" reside na necessidade de revisitar esses grandes clássicos gregos, mesmo que você se sinta um pouco descontente ou inseguro. É fundamental que você se disponha e se exponha a essas obras o mais cedo possível, assim como à leitura das Sagradas Escrituras. Isso vale também para adolescentes, pois, na educação clássica, esse tipo de exposição ocorre por volta dos 15 anos, e às vezes até antes, aos 13 ou 14 anos, dependendo da bagagem que já possuam. Se você não teve essa oportunidade, há uma defasagem significativa. Talvez isso lhe dê uma noção de quanto isso é importante e faz falta.

Uma das principais razões para abordar esses pontos é que, devido ao grande número de ensaios e publicações excelentes realizados, parece-me que existe uma defasagem tão grande que essas obras [ensaios filosóficos e teológicos] ficam orbitando num espaço interior oco. Isso não acontece com pessoas que possuem uma bagagem literária robusta, que inclui poesia, contos e ficção. Para essas pessoas, os ensaios não ficam orbitando, mas, em outras, pode passar uma falsa imagem de aprendizado e enriquecimento intelectual, quando na verdade não existe. Uma pessoa não se forma com um único tipo de literatura. 


Visite as abas de estudo do site, entre no Educa-te e supra sua defasagem com materiais disponibilizados generosamente. Com esta aula, quero deixar alguns apontamentos e esclarecimentos a respeito do que é a educação clássica católica, alguns pilares que a compõem e os processos necessários, principalmente no que tange à piedade e à leitura, para suprir, de início, pelo menos esses dois pilares.


É perigoso querer pular essas etapas, mesmo já sendo um jovem adulto ou um adulto. Ser uma pessoa que faz uma escolha intencional em relação ao seu caminho é transformador. Sei que existe uma certa dor quando falo sobre a posição que o avanço das redes sociais nos deixou. Tornamo-nos receptores passivos. É muito importante que, ao tomar essa decisão, você deixe de ser um receptor passivo.

Porque, com a facilidade trazida pela modernidade, também houve um aumento do estado de preguiça e ingratidão, tanto interior quanto exterior, para com aqueles que estão ensinando. Isso é inadmissível dentro da Educação Clássica Católica. Há uma ligação intrínseca entre o trabalho intelectual, a postura moral do aluno e do professor. A prontidão, que se opõe à preguiça, e a gratidão são aspectos essenciais que caracterizam uma pessoa que passou por um processo educativo sólido.

Assim, termino aqui estas orientações gerais. Na descrição, você encontrará vários links para contos e para as abas de Educação e Filosofia, Literatura e Arte, onde poderá enriquecer-se com o material que já está disponível gratuitamente. Há também uma aba para acessar o Educa-te e explorar conteúdos mais profundos. Material, método e aulas estão disponíveis.



Resumo em tópicos:


Pilares da Educação Clássica Católica:

  • Piedade
  • Maravilhamento
  • Exercício Físico
  • Memória
  • Leitura
  • Ensino e Aprendizado
  • Virtude


Importância da Piedade:

  • Diferencia a educação clássica católica da educação convencional.
  • Base para vida espiritual e moral.
  • Essencial para entender outros pilares.


Leitura das Sagradas Escrituras:

  • Benefício religioso, moral e intelectual.
  • Enriquecimento do acervo de memória.
  • Importante para compreender obras clássicas e artísticas.


Bagagem Literária e Cultural:

  • Revisitar clássicos como "Ilíada" e "Odisseia".
  • Importância da exposição a obras clássicas desde cedo.
  • Formação de uma biblioteca interna com citações e anotações.


Ficção e Poesia:

  • Leitura de romances clássicos (ingleses, russos, americanos).
  • Contos medievais e de fadas.
  • Poesia como elemento essencial, ligada à memória e maravilhamento.
  • Importância de criar uma biblioteca de poemas internos.


Educação Clássica e Católica:

  • Integração do trabalho intelectual com postura moral.
  • Prontidão e gratidão como valores essenciais.
  • A importância de não ser um receptor passivo.


Materiais Disponíveis:

  • Contos, cronogramas de leitura, resenhas de livros.
  • Aulas e materiais de apoio.
  • Orientações para suprir defasagens literárias e culturais.


Conclusão:

  • Perigo de negligenciar etapas formativas essenciais.
  • Necessidade de fazer escolhas intencionais em direção ao conhecimento.
  • Importância de deixar de ser um receptor passivo e ser ativo no processo educativo.

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