A beleza do ritmo sazonal: inverno

by - sábado, junho 28, 2025







“Enquanto durar a terra, semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais cessarão.” - Gênesis 8,22


O inverno é uma estação que nos envolve, de um lado, com o conforto e o recolhimento que tanto amamos — mas também pode trazer o desconforto cortante de um frio que chega a doer.

É a estação do silêncio, ainda mais profundo que o do outono. Há um tipo de crescimento que não precisa se mostrar. O inverno é, naturalmente, uma estação de interioridade. Um tempo para focar nas raízes que lançamos, e não nas flores que mostramos.


“Foste tu que fixaste todos os limites da terra; o verão e o inverno, foste tu que os formaste.” - Salmo 74,17


O outono ensina a arte de soltar — as folhas, os excessos, os pesos. O inverno ensina a arte de guardar. Não é uma estação de abundância. À primeira vista, tudo parece estéril, parado. Mas, de algum modo, o inverno nos sustenta, mesmo quando parece oferecer tão pouco.

É uma época de lentidão e de certo preciosismo, ideal para revisitar projetos, avaliar escolhas e ouvir o que ficou soterrado em nós. 

A estação do repouso. 

Mesmo que as atividades sigam, talvez seja hora de mudar o ritmo. Desacelerar. Talvez o convite seja esse: entregar-se, de corpo e alma, à alegria do que o inverno tem a oferecer. Não resistir. Não desejar que ele passe logo.


Carpe Diem


Os dias passam cheios de pequenas tarefas e pensamentos. Coisas simples ganham uma certa beleza: arrumar um armário, revisar o que temos guardado, cuidar da despensa com atenção. Pouco a pouco, como convém ao inverno. Ou ganham um tom heróico, quase hercúleo, como lavar a louça ou manter as roupas lavadas e secas.

Os movimentos ganham uma precisão que beira o ritual: preparar um chá, cuidar das palavras, repousar o corpo. É momento para prestar atenção às pequenas coisas: o conforto das meias de lã, o bule no fogão que convida para mais uma xícara de chá... e outra... e mais uma.

A cozinha de inverno é diferente. É acolhedora e simples. Manteiga chiando na panela de ferro, cebola dourando, carne, cenouras, batatas, um pouco de caldo de osso. Um pão fatiado e coberto de manteiga. Sem receitas elaboradas, apenas o calor do forno, da panela de pressão, e o tempo que os aromas levam para ocupar a casa inteira.

O inverno pede o oposto das urgências do nosso tempo, pede a criação de aconchego. Pede menos pressa, com uma xícara aquecida nas mãos, as meias nos pés e a escuta fina do que ainda não tem nome, mas que aguarda a primavera.



“Porque eis que passou o inverno, cessaram as chuvas e se foram. Aparecem as flores na terra, chegou o tempo das canções.” - Cântico dos Cânticos 2,11-12








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