Tradução da Entrevista de Ana Paula Barros para a Revista Misión: Para o resgate da elegância
Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).Por Isabel Molina Estrada.
Pintura: Paseo a orillas del mar, Joaquín Sorolla
Embora algumas pessoas tenham aquele "algo" inato que lhes dá uma certa nobreza e refinamento ao seu porte, a autora brasileira Ana Paula Barros explica a Misión que a elegância é adquirida praticando virtudes como simplicidade e modéstia, e exercitando "a arte de escolher o melhor".
Para o resgate da elegância.
"A roupa é uma linguagem que transmite ideias e convicções"
"Você não nasce elegante."
Embora algumas pessoas tenham aquele "algo" inato que lhes dá uma certa nobreza e refinamento ao seu porte, a autora brasileira Ana Paula Barros explica a Misión que a elegância é adquirida praticando virtudes como simplicidade e modéstia, e exercitando "a arte de escolher o melhor".
Aprenda o que é a verdadeira elegância e por que praticá-la.
Muitos hoje se vestem mal, não apenas em suas vidas diárias, mas também para participar de eventos memoráveis, como uma formatura ou um evento oficial ou para ir a lugares sagrados (para a missa ou um casamento, uma comunhão ou um funeral). O que aconteceu? Esta geração desistiu da elegância?
Ana Paula Barros, autora do livro Modéstia: o caminho da Beleza e da Santa Ordem (disponível na Editora Salus in Caritate, 2023), explica que as modas atuais fazem parte de uma grande "fábrica social" em que todos são obrigados a usar jeans e camiseta. E isso não é acidental, porque as roupas, como posturas e gestos, comenta a autora, "fazem parte do discurso social, são mais uma linguagem para transmitir ideias e convicções que pertence ao quadro dos símbolos". E, como alertou a baronesa Gertrude von Le Fort, filósofa e teóloga católica, "o símbolo nunca é insignificante". Para que as ideologias se enraízem na cultura, garante Barros, é preciso "silenciar ou perverter os ensinamentos cristãos, também na forma como se vestem, e fazer com que os crentes deixem de prestar atenção ao discurso que pronunciam com seu comportamento".
Os gestos e o vestido pronunciam um discurso cheio de valores
A Marca do Horrendo
Barros afirma que a boa postura, o vestuário harmonioso e os gestos medidos e amigáveis criam uma atmosfera cordial que hoje está quase extinta. "Com a descristianização do Estado e da escola e a renúncia à educação moral, não era mais considerado importante educar na elegância. Esses aspectos da educação foram considerados restritivos. O resultado é um aumento crescente no "culto da feiura", do descuido e um esforço para construir uma aparência que esteja em conformidade com os modismos passageiros. As indústrias da moda e da arte, incentivadas por ideologias, querem imprimir nas pessoas – a imagem e semelhança de Deus e, portanto, bela – a marca do horrendo", diz ela.
Barros evoca Gustavo Corção, um de seus autores favoritos, em Conversação em Sol Menor. Compilação de memórias (disponível em português no VIDE Editorial, 2018): "A cidade era linda como as meninas daquela época. Quando eram pequenos, cantavam em círculos, e em todos os bairros os cantos das crianças marcavam o crepúsculo [...]. A rua da cidade ajudava as pessoas a viver. […] Quem ousou tocar levemente o corpo sagrado de uma jovem? […]. As pessoas se vestiam melhor, a postura do corpo era mais ereta, mais resoluta, mais enérgica do que hoje. Folheie você mesmo o álbum de seus avós, leitor, e observe que eles eram mais determinados e firmes. O que aconteceu com os homens, com as cidades? O que foi que aconteceu?..."
A arte de saber escolher
A palavra elegância vem do latim eligere que significa "fazer uma escolha". Portanto, como explica Barros, elegância é a arte de optar pelo melhor no campo moral. E acrescenta que "quando uma pessoa faz suas escolhas de acordo com razões transcendentes, a elegância se manifesta em suas posturas, em seu tom de voz, em seus gestos e no refinamento de sua maneira de se vestir".
Muitas vezes, acredita-se que a elegância seja cumprir certos códigos sociais para ter uma boa aparência ou ser apreciada pelos outros. Mas uma pessoa elegante e de bom gosto, adverte a autora, é aquela que "sabe escolher levando em conta a vontade de Deus, a Tradição Católica e a beleza que emana da evangelização silenciosa".
Os seres humanos são gentil e naturalmente atraídos pela beleza porque ela irradia luz, não apenas física, mas também espiritual. "A beleza é o resultado da harmonia, integridade e clareza", diz Barros, que distingue três formas de beleza: estética, moral e espiritual. "A beleza estética é capturada pela observação da pureza, que é o resultado da harmonia na forma. A moralidade surge do equilíbrio da alma. E o espiritual é a capacidade de chegar à Verdade, que é Jesus Cristo. Só é possível que algo seja belo se a beleza estética estiver subordinada à beleza moral e espiritual. Portanto, a elegância só leva à beleza quando as escolhas estão subordinadas à moral e à verdade cristãs. Caso contrário, torna-se uma mera adesão a regras de etiqueta (que significa pequena ética) que podem não ter valor eterno."
"A elegância [vivida desta forma] ajuda a recristianizar, pois reflete a beleza da alma unida a Deus"
O auge da elegância
Uma pessoa pode ser elegante sem a necessidade de usar joias ou acessórios, simplesmente vestindo trajes modestos e expressando-se com gestos harmoniosos. Para alcançar esse refinamento, Barros sugere buscar a assistência de São José, por sua presença viril e modesta, e da Santíssima Virgem, o ápice da elegância e "senhora da elegância espiritual", como Santo Ildefonso sabiamente a chamou.
Barros adverte que fomos levados a acreditar que, para ter uma boa aparência, é necessário construir um "rosto no rosto" [maquiagem excessiva], um "cabelo no cabelo" [penteados elaborados] e um "corpo no corpo" [roupas excessivamente vistosas ou procedimentos], e esquecemos que a beleza é espiritual e esta ligada à simplicidade. "Em geral, a quantidade e intensidade de acessórios e o esforço para usar roupas e objetos atraentes geram ruído para a beleza natural da pessoa", diz ela.
Em síntese, segundo a autora, a elegância é um atributo indispensável para a recristianização, pois atualiza na pessoa diferentes verdades cristãs: a beleza de ser imagem e semelhança de Deus, o respeito pelo corpo dos outros e pelo próprio, o valor da beleza da alma unida a Deus, as bênçãos e responsabilidades da filiação divina (que variam de acordo com a missão e os dons que cada um recebeu), o valor dos lugares consagrados ao culto, o dever de adorar a Deus de corpo e alma e a capacidade de olhar de perto a beleza que nos rodeia.
MODÉSTIA E ELEGÂNCIA
"Se a elegância é a arte de escolher bem, a modéstia é a prática da moderação em tudo", diz Ana Paula Barros. E explica que a relação entre as duas virtudes é que uma escolhe e a outra coloca em prática, o que é essencial, porque às vezes é difícil para nós realizar as decisões que tomamos. Além disso, a modéstia e o pudor são virtudes irmãs." Um protege os sentidos (e a noção de privado) e o outro protege o corpo. Portanto, se a elegância é considerada de forma cristã: a elegância, a modéstia e o pudor andam juntas", explica. No entanto, se o padrão de elegância é apenas o da etiqueta social, um vestido chique pode não ser virtuoso ou elegante porque seleciona peças que expõem o corpo e o tornam vulnerável. Portanto, a elegância supõe o exercício da temperança, juntamente com as virtudes que dela emanam: sobriedade, mansidão, continência e modéstia, além de outras como cordialidade e respeito pelos outros.
Entrevista publicada em 5 de junho de 2024.
Artigo publicado na 72ª edição da revista Misión, a revista mais lida pelas famílias católicas na Espanha (original em espanhol disponível aqui).Por Isabel Molina Estrada.
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