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Salus in Caritate

Cultura Católica

Landscape with a Castle. Fredrik Marinus Kruseman, 1851.



POR ALEXANDRE WESTENBERG

NOTAS: ANA PAULA BARROS



Como a discussão anterior destacou, as origens da estética filosófica moderna no século XVIII concentraram-se na questão da beleza e seus correlatos, como a sublimidade e a feiúra. Isso imediatamente suscita a questão do que se entende por beleza, pois esta não é uma propriedade simples como a vermelhidão ou a quadratura. Em vez disso, a beleza é uma qualidade intangível, constituída por diferentes características em diferentes contextos. O que é belo em um objeto pode não ser em outro – por exemplo, bordas rígidas podem parecer atraentes em um edifício, mas não em um gato.

A primeira questão que se coloca é: o que torna algo belo? Embora este tópico seja discutido em grande detalhe no devido tempo, pode-se apontar aqui que, se é verdade que as experiências estéticas são aquelas que mantêm uma tensão entre o pessoal e o universal, como argumentei neste capítulo, então é lógico que algum aspecto do que torna algo belo, que poderíamos chamar de “objetivamente agradável” [o que significa que esperamos um certo nível de apreciação universal] pelo objeto de nossa experiência. As pessoas costumam usar esse conceito naturalmente quando dizem, por exemplo: “Não gosto, mas posso apreciar”. Claro, como vimos, essa é a questão fundamental da estética, então isso talvez não seja surpreendente. No entanto, vale a pena dedicar um momento para explorar a relação entre a beleza e a tensão entre o pessoal e o universal. Levantar essa questão nos leva, no entanto, a expandir o conceito de beleza e deformidade (como Hume o chamaria) ou feiúra (como poderíamos dizer hoje), para ser uma espécie de espaço reservado para toda e qualquer experiência que possamos tender a insistir em universalizar. Isso ocorre porque, se a estética é o estudo da beleza – como tantas vezes se diz que é – só pode ser assim se a beleza for tomada para abranger muito mais do que simplesmente o que é agradável.


O Martírio de Santa Cristina, 1895, Vicente Palmaroli y González



Esse “prazer objetivo” parece estar dissociado da questão do nosso prazer e da avaliação da causa dessa experiência. Isso explica como se pode esperar que apreciemos um livro, pintura, escultura, peça musical e assim por diante, mesmo que não se espere que gostemos dela, porque a agradabilidade da experiência estética – que poderíamos chamar de nossa apreciação dela – parece ser assumida como separada do prazer e da aprovação da causa dessa experiência. Se é possível apreciar uma experiência – isto é, ter a resposta apropriada a ela – e ainda assim não gostar dela, então parece haver dois elementos na experiência de um indivíduo: um puramente pessoal e, portanto, não estético como tal, e o outro pessoal, mas universal. É este último elemento que constitui a experiência estética do indivíduo propriamente dita. Isso pode explicar por que, apesar de sua importância no século XVIII, a distinção de Burke e Kant entre beleza e sublime não é muito usada hoje. A beleza torna-se o conceito primordial para todas as experiências que são universais, mas pessoais.

Como esses exemplos demonstram, a beleza não é um conceito de “tamanho único” – ou, se for, parece tão radicalmente diferente em suas diversas manifestações que é apenas nessas formas distintas que podemos discuti-la em detalhes. No entanto, expandir a noção de beleza dessa maneira não a torna inútil. Embora pareça abranger uma ampla gama de experiências e se aplicar a uma diversidade – e, por vezes, contradição – de qualidades, a beleza desempenha um papel determinante nos julgamentos estéticos. Quando temos uma experiência estética, sentimos que palavras como “belo” são excepcionalmente apropriadas: descrevemos como belas não apenas o incrível, o inspirador e o repleto de alegria, mas também aquelas experiências saturadas de tristeza e desespero. Mesmo quando a experiência parece muito sombria, ou o que é retratado em uma obra de arte é muito confrontador ou perturbador para nos sentirmos confortáveis em chamá-la de “bela” diretamente, ainda não é incomum ouvir falar de uma obra de arte como sendo “lindamente montada”. A beleza, portanto, permanece um conceito poderoso e útil no estudo da estética.

Nota da professora 1: é imperativo observar que a estética é a habilidade de apreender a realidade pelos sentidos. A educação estética é o empenho em oferecer aos sentidos boas realidades, formando assim um repertório rico e de qualidade. O belo é um dos objetos da estética, sendo um dos objetos de apreensão. Hoje, é comum a confusão entre estético e belo, como se fossem sinônimos, mas não são. O belo é o objeto, enquanto a estética é a habilidade, a capacidade em si que pode ser educada, estudada e alterada.



Portanto, o primeiro aspecto do elemento individual em uma experiência estética é a questão de uma resposta apropriada.

Isso está inextricavelmente entrelaçado com o segundo aspecto, que é a questão do desenvolvimento e cultivo da apreciação e da resposta apropriada. Se a resposta apropriada pode ser esperada (independentemente do prazer), então naturalmente nos voltamos para a questão da educação estética, ou como essa resposta apropriada surge, e como se desenvolve a disposição da qual surge tal resposta apropriada. É lógico que, se os julgamentos sobre experiências estéticas devem ser universais – isto é, se esperamos, como de fato esperamos, que outra pessoa concorde com nosso julgamento – então só podemos fazer isso porque acreditamos que eles são capazes de dar a mesma resposta apropriada (uma vez que, obviamente, assumimos que nosso próprio julgamento é apropriado). Isso ocorre porque não podemos esperar que eles tenham uma resposta que concorde com a nossa se essa resposta for aleatória ou puramente baseada na personalidade – lembrando nossa discussão no início do capítulo, a experiência deve ser “objetivamente pessoal”, isto é, pessoal, mas universal. Isso deixa apenas duas opções: 1) todos nascem com exatamente a mesma disposição para ter uma resposta apropriada que não muda à medida que crescem; ou 2) a disposição de todos para ter uma resposta apropriada muda e é afetada pelas circunstâncias da vida e experiência de cada pessoa. O problema com a primeira opção é tentar acomodar aqueles que não têm uma resposta adequada: a única maneira de acomodá-los é dizer que eles têm uma anormalidade inata. Mas, neste caso, não seríamos capazes de julgá-los por isso. Afinal, não julgamos alguém cego de nascença por não concordar conosco que o objeto à nossa frente é amarelo: simplesmente não é possível que ele concorde ou discorde, pois é fisicamente incapaz de experimentar a cor amarela.

Parece, então, que a única opção é reconhecer que nossa disposição para uma resposta apropriada muda e se desenvolve ao longo do tempo e, assim, reconhecer a possibilidade de educação estética, isto é, educação no desenvolvimento de respostas apropriadas. E, embora o foco principal deste capítulo seja a experiência estética individual, vale a pena notar aqui que essa mudança de disposição em direção a uma resposta apropriada que acontece ao longo do tempo é verdadeira tanto no nível individual quanto no nível cultural/social. Assim, por exemplo, para um grego antigo, a repulsa à desproporcionalidade era considerada uma resposta apropriada, enquanto na sociedade ocidental contemporânea, apesar de essa ser a resposta de algumas pessoas, a desproporcionalidade é culturalmente aceitável e, às vezes, até mesmo a característica mais louvável de uma obra de arte (pensa-se imediatamente em Picasso, por exemplo). Para retornar ao assunto da mudança de disposição em direção a respostas apropriadas, ao adotar essa opção em conjunto com a afirmação de que uma resposta a uma experiência estética pode ser apropriada ou inadequada (embora possa haver mais de uma resposta apropriada ou inadequada), reconhecemos imediatamente o papel da própria disposição do indivíduo como um fator nas experiências estéticas e, portanto, no estudo da estética. As experiências estéticas são, afinal, a fonte do pessoal na tensão entre o pessoal e o universal que impulsiona a estética como disciplina.

Sem nome. Yana Movchan, 2022


Nota da professora 2: um povo possui um acervo responsivo enriquecido pelas experiências estéticas que vivencia e pela qualidade dessas experiências. Ou seja, o povo tende a considerar belo aquilo a que já está acostumado; suas respostas são, em alguma medida, condicionadas pela qualidade da produção social do país. Isso explica a grande validação de discursos polemistas, populistas ou de baixo calão, somados a frases religiosas. Tal apreensão estética é natural para um brasileiro, já que isto é considerado adequado, correto e até mesmo belo. A apreensão estética é fortemente impulsionada pelos debates sociais e políticos, assim como pela qualidade desses debates, além, é claro, da produção cultural do país.


Uma Nuvem Passageira. Arthur Hughes (1830-1915)


O Bouquet. Nom Kinear, 2022




Isso sugere uma resposta alterada à questão de por que se deve estudar estética, se considerarmos a estética como o estudo de experiências estéticas (como as definimos aqui) envolvendo tanto o objeto quanto o sujeito dessa experiência. Sob essa definição, a estética é uma disciplina digna de estudo porque examina e procura explicar a miríade de experiências que compõem uma grande parte da experiência humana, nas quais respondemos a algo em um nível pessoal e subjetivo e, ainda assim, buscamos universalizá-lo em um nível objetivo. Seu objeto de estudo está no limiar entre a singularidade do indivíduo e a experiência compartilhada da humanidade, e procura resolver disputas sobre se e por que podemos esperar que os outros compartilhem uma experiência particular. Assim, a estética pode ser considerada um estudo filosófico da beleza (ou da falta dela) e de nossa reação a ela.


Barley Monn. Noam Kinnear, 2022








Revista Digital Salutaris (acessar aqui)
sobre arte, educação estética e patrimônio cultural




Referências:

Tradução do livro parcial: What is Aesthetics? in Introduction to Philosophy: Aesthetic Theory and Practice Copyright © 2021 by Yuriko Saito; Ruth Sonderegger; Ines Kleesattel; Elizabeth Burns Coleman; Elizabeth Scarbrough; Matteo Ravasio; Xiao Ouyang; Richard Hudson-Miles; Andrew Broadey; Pierre Fasula; Alexander Westenberg; Matthew Sharpe; Valery Vino (Book Editor); and Christina Hendricks (Series Editor) is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License, except where otherwise noted.

NOUGUE, C. Das Artes do Belo. Formosa: Edições São Tomás, 2021. 2ª edição. 588 p. Disponível em: https://amzn.to/3YbmUac





Brincadeira: Você rirá ou não? por Sophie Anderson, 1857






Dentro dos círculos dos especialistas do erro, surgem discursos bastante intrigantes, como a afirmação de que toda mulher possui vestígios feministas (eu mesma acho que já falei essa frase várias vezes). Contudo, se assim for, podemos igualmente supor que todo homem carrega traços machistas. Curiosamente e convenientemente, essa última premissa não é aceita, como se os homens, por algum motivo obscuro, estivessem imunes a tais perturbações.

Este raciocínio pode ser bastante confortável, mas não posso afirmar que seja prudente. Se uma premissa é válida em uma direção, deve ser também na outra; caso contrário, há manipulação do discurso. O mais grave na especialização no erro é a completa desconsideração dos motivos subjacentes ao erro, com o único objetivo de não “parecer com o grupo adversário”. Por exemplo, as protestantes no Brasil usam coque baixo e saia reta; logo, se você não é protestante, não deve usar essas coisas para não parecer protestante (e mesmo que em outro país se use a mesmíssima coisa com o nome de “clean girls”, aqui será recebido como “coisa de protestante”). Em outra direção, se as feministas não fazem algo, nós logicamente devemos fazê-lo. É uma disputa infantil, rotulada de intelectualidade à brasileira, uma análise desprovida de critério que provavelmente abrirá espaço para pensamentos revolucionários ainda mais perniciosos.

O comportamento feminino e masculino foi corrompido pelo pecado original.

Os homens têm, sim, tendência ao clubismo dos pares e a oprimir a mulher de alguma forma, podendo ser extremamente perigosos quando não estão sob a verdadeira redenção do Senhor. Verdadeira, pois pode acontecer de alguém ter o nome de Deus na boca e ser soberbo e intimidador, exceto se diante de um homem mais forte. Esses traços do Adão caído são comuns nos homens sem Deus, mesmo dentro da Igreja: sorriso de escárnio, humor de quinta série, clubismo masculino acolhedor, culpar as mulheres por suas mazelas e incompetências, menosprezá-las, como Adão fez com Eva, e culpar a Deus por tudo. Esses traços da queda são comuns, já que todos estamos caídos e feridos. Isso é machismo? Não, é algo pior, que está na origem, é o pecado.

As mulheres têm, sim, a tendência a se deixar dominar pelo homem, numa relação de dependência que não é saudável. Enfrentam grandes dificuldades na maternidade e nos caminhos para vivê-la, têm apreço por si mesmas num amor desregulado e vaidoso, deixaram de olhar para as coisas eternas e passaram a focar nas terrenas. Sentem-se desprovidas de proteção, já que todos os homens se comportam como Adão; então, como Eva, resolvem, reiteradamente, fazer as coisas sem o apoio masculino, ao mesmo tempo que sentem que dependem doentiamente da aprovação masculina. Isso é feminismo? Não, é algo pior, que está na origem, é o pecado.

E ambos perderam a inocência e a alegria de descobrir a Deus e em Deus. Mesmo entre os grupos mais dedicados, existe uma acepção de pessoas brutal, alimentada pelo famosismo, populismo e polemismo, as novas e antigas vestes que geram atenção e aprovação irrefletida. 

É um amor falso pela verdade. Uma dinâmica mundana que só poderá ser vencida com oração e meditação.

Por fim, além de nos preocuparmos com as possíveis ações feministas ou machistas, poderíamos perguntar o que afinal é uma mulher cristã e um homem cristão. Será que os santos perderiam tempo com essas rotulações? Ou gastariam tempo cultivando a alma em virtudes e a mente em pensamentos santos?

Santa Joana D’Arc liderou um exército, Santo Antônio foi cozinheiro por anos, Santa Teresa derrubou uma parede à marretada para ampliar um convento, São Geraldo Majela era alfaiate/costureiro, Santa Lídia era empresária/comerciante.

Diante da vida dos santos, todas essas divagações infantis se desfazem, tudo fica claro como a luz nos vitrais das igrejas. Deus faz maravilhas nas almas dos seus escolhidos, os filhos de Deus podem fazer tudo que estiver conforme à vontade de Deus e à santificação de suas almas, basta que ajam como homens e mulheres, na vocação e instalação sexual que a Providência lhes conferiu.

Quem dera cessássemos de desperdiçar tempo e nos entregássemos ao estudo e à meditação, conforme convém aos filhos de Deus.





Sarah apresentando Ágar a Abraão, 1749 por Joseph Marie Vien




Primeiro Esboço em 13 de novembro de 2023
Publicado em 16 de setembro de 2024



Introdução



Nos últimos anos, muitos descobriram que as linhas revolucionárias criaram um ideal de homem e mulher que não seguem as orientações bíblicas e católicas sobre ser um homem cristão e uma mulher cristã.

Ao se depararem com as mentiras propagadas pelas diversas frentes revolucionárias, as mulheres se refugiaram numa percepção de feminilidade que pode ser facilmente reduzida à prática de “feminices”, e a masculinidade foi reduzida à aparência de “macho alfa”. Nos dias atuais, isso é entendido como correto. Mas será que este é um caminho saudável para a edificação cristã? Ou seria uma resposta imediata baseada unicamente em fazer o oposto dos revolucionários, achando que somente isso seria o suficiente para proteger tudo que amamos?

Bem, em 2018, iniciei o curso Mulher Católica (que não é só para mulheres), idealizado desde 2015, que visa esclarecer e aprofundar a abordagem de que essa resposta reativa, masculina e feminina, focada em fazer somente o oposto, não será suficiente. Já não é suficiente. É extremamente ilusória. Somente uma mudança profundamente cristã poderá nos auxiliar na devida ordenação do caos que nos atinge.



A visão Católica da Complementariedade


Antes de mais nada, é importante salientar que é preciso ordenar a vida interior e sacramental para bem entender a visão católica e os exemplos que nos foram deixados sobre a complementariedade.

A complementariedade é a minha aposta para este curso e para todo o trabalho no Educa-te. No entanto, preciso que a noção de complementariedade cristã e católica se torne mais palpável. Esta série não é um pedaço do Educa-te; o Educa-te é bem maior e mais profundo. Me vejo inclinada a fazer esta pequena série na esperança de veicular a abordagem católica sobre o assunto e ajudar na maturação das abordagens que são um tanto confusas da temática. Para tal, também elaborei o Calendário Literato Católico, composto por seis homens e seis mulheres intelectuais.

Segundo, a complementariedade não se restringe aos casais. A maior parte dela, como verão, acontece na execução de uma missão, e a dos casais é uma delas, mas existem outras.



"Filósofos, letrados e escritores, nós dizemos a nós mesmos, dizemos entre nós, e dizemos ao público, que temos um dever: o de trabalhar, na medida dos nossos meios e forças, para fazer cessar a anarquia intelectual e moral que todos sofrem, que tudo sofre. Queremos, portanto, trabalhar pela pacificação dos espíritos. Sabemos que a paz completa, definitiva, não é deste mundo. Não sonhamos com uma paz impossível.

Faço uma bela imagem do nosso mundo moderno enfim pacificado. A paz, ou seja, a ordem, que é a concórdia. Cada coisa em seu lugar, em seu devido posto e todas unidas conspirando para um fim superior... As fontes da paz e as fontes da regeneração moral e intelectual são as mesmas. Os espíritos e as almas serão pacificados com o que é capaz de refazer espíritos e almas. O que é capaz de refazer os espíritos e as almas é a verdade, a verdade moral inteira" (Ollé-Laprune, 1892).




Abraão, Sara e Ágar


Abraão residia na Mesopotâmia quando ouviu a voz de Deus, que o ordenou a dirigir-se a uma terra prometida. Ele obedeceu, mas deteve-se na fronteira do país de seu pai, um sacerdote da religião dos caldeus.

Há lendas que sugerem que a família de sacerdotes caldeus dessa época seria ancestral dos Reis Magos. Contudo, é imperativo mencionar Sara. Sara e Abraão, que anteriormente se chamava Abrão, não possuíam filhos, e ter um descendente era o grande anseio deles. O Senhor prometeu-lhes repetidamente uma vasta descendência, afirmando que seria numerosa. Todavia, Sara não acreditou, e é nesse ponto que se revela o aprendizado sobre a complementariedade entre Abraão e Sara. Abraão possuía uma fé inabalável e era persistente, como demonstrado no episódio de Sodoma e Gomorra, enquanto Sara carecia de fé. O aprendizado centraliza-se na virtude da fé.

Sara, descrente, instruiu Abraão a tomar Ágar, sua serva. Ela antecipou-se, e Abraão aceitou essa antecipação (embora pudesse ter recusado), resultando no nascimento de Ismael. Trata-se de uma narrativa familiar, que parece ecoar a queda original. Ágar, envaidecida por gerar um filho, maltratou sua senhora.

Expulsa, Ágar chorava no deserto quando foi socorrida por um anjo que não permitiu que Ismael perecesse. Ágar tencionava abandonar o bebê no deserto. Ismael não era o filho da promessa, não era a descendência esperada, mas, sendo filho de Abraão, recebeu cuidados. Ele é considerado o antepassado de todos os árabes do deserto.

Após algum tempo, e depois de rir de um anjo do Senhor, Sara concebeu.

A complementariedade entre Abraão e Sara ilustra a decadência da complementariedade após a queda. Abraão mentia e deixava Sara sozinha para se proteger; Sara não tinha fé e ria de um anjo do Senhor. Em suma, uma versão aprimorada de Adão e Eva: ele também mentiu e deixou Eva sozinha; Eva dialogou com um anjo caído.

Finalmente, Isaac nasceu e foi recebido com muito amor, um menino destinado a gerar uma nação. Abraão foi justificado pela fé, e Sara, pela fé de Abraão e sua conturbada espera por um filho.



Pontos de aprendizado:

"A humildade é o princípio do aprendizado, e sobre ela, muita coisa tendo sido escrita, as três seguintes, de modo principal, dizem respeito ao estudante. A primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura. A segunda é que não se envergonhe de aprender de ninguém. A terceira é que, quando tiver alcançado a ciência, não despreze aos demais" (Hugo de São Vítor).


Lição 1: A conturbada vivência da fé após a queda, uma complementariedade desconectada que usa outras pessoas para atingir os próprios objetivos.

Lição 2: A antecipação nasce da insegurança; a vaidade, da crença em uma ilusão. Deus, em Sua infinita sabedoria e misericórdia, retifica com justiça as escolhas equivocadas dos homens.

Lição 3: Os resquícios mais evidentes da queda no homem são a mentira, a falta de decisão e a irresponsabilidade. Já a mulher zomba das coisas divinas e de seus enviados, não colhendo as bençãos do Senhor, ou colhendo-as tardiamente, por falta de fé; além de criar problemas para si mesma ao se antecipar.


No entanto, cabe salientar que as feridas do pecado original estão cada dia mais profundas, alimentadas pelos pensamentos desordenados da humanidade e pela falta de cultivo espiritual e intelectual. É fácil encontrar os resquícios de mentira, irresponsabilidade e indecisão nas mulheres e, por outro lado, descrença, zombaria e antecipação nos homens. Assim, todos estamos, de certa forma, feridos por todos os males comportamentais da queda (além dos já mencionados na reflexão sobre Adão e Eva: a morte, a doença e a concupiscência).

O Senhor entregou Seu Sangue para nos resgatar desses males comportamentais, libertando-nos dos comportamentos de irresponsabilidade, zombaria, indecisão, mentira, falta de fé e antecipação, abrindo para nós as comportas das virtudes da justiça, da modéstia, da fortaleza, da verdade, da fé e da prudência, respectivamente. Cada uma dessas virtudes é responsável por curar uma ferida comportamental e tantas outras. Basta saber se estamos abertos a receber os frutos da ação do Messias: redenção espiritual e física das sequelas do pecado original, de nossos pecados particulares e dos pecados da humanidade, nos abrindo ao cultivo das virtudes em preparação para o Seu Reino.



"Três coisas são necessárias ao estudante: a natureza, o exercício e a disciplina. Na natureza, que facilmente perceba o que foi ouvido e firmemente retenha o percebido. No exercício, que cultive o senso natural pelo trabalho e diligência. Na disciplina, que vivendo louvavelmente, componha os costumes com a ciência" (ibidem). 



A Anunciação. Fra Angelico, 1400-1455







Introdução


Preservar tradições não é um objetivo simples, tampouco fácil. Numa época desprovida de memória, veloz e sem grande empenho para o aprimoramento da recordação, não surpreende que tenhamos perdido muitas tradições, abraçado pensamentos conturbados e nos entregado, sem reservas ou acanhamento, à mentalidade limitante da humanidade após o pecado original. Após a queda, relembremos o Sagrado Ensino Católico: a humanidade perdeu a inteligência infusa, a primazia da razão sobre as paixões, a imunidade e a imortalidade do corpo. Ou seja, sabíamos as coisas sem estudar, não éramos arrastados por paixões ou vícios, o corpo não adoecia e tampouco morria. A humanidade foi concebida neste molde que a todos causa saudade, conhecida ou desconhecida. Mas, após a queda, temos que estudar para aprender, precisamos de alguém que nos ensine, além de aprender a controlar as paixões e as falhas de temperamento, e conviver com o processo de declínio do corpo, alimentando a santa virtude da esperança no Reino Eterno do Senhor. Estes remédios amenizam as enormes feridas da queda no Éden.

Interessantemente, a Santíssima Virgem, nascida sem pecado original e, portanto, segundo o Ensino Católico, sem nenhuma dessas feridas, é retratada desde a antiguidade fazendo duas coisas: estudando e adorando. A maior parte das obras de arte apresenta uma Anunciação Angélica dada a uma Virgem que está a estudar. Uma mente mais moderna, cercada, portanto, de muitos preconceitos, poderá acreditar que se trata de uma “representação”, figurando, portanto, a promessa do Messias nas Escrituras, não se tratando de algo feito cotidianamente. Por outro lado, uma mente mais tradicional perguntar-se-á: será? Será mesmo que é somente representativo? E se for, figura e remete somente a um objeto?

Numa tentativa de oferecer um panorama sobre estes questionamentos, realizei este pequeno estudo, uma curadoria de arte e conteúdo. Espero que possa ajudá-los no meu maior objetivo: evidenciar que a Tradição não se refere a seguir padrões, como pensam os mais progressistas, tampouco em enaltecer um clubismo masculino, como tendem os mais tradicionais; mas em mostrar que, segundo a Ordem Divina, somos igualmente capazes e dedicados à Sabedoria.

Espero que isso diminua distâncias, remedie excessos, gere respeito genuíno dos homens para com as mulheres em trato e reconhecimento, melhore a capacidade de ambos de conviverem com seus talentos e saberes para a maior glória de Deus e benefício de todos. Que isso os motive a estudar para desembotar a mente, fortalecer o intelecto e promover uma interação social ou individual - principalmente nos meios cristãos - afastada do polemismo, do populismo e do famosismo, priorizando talentos, habilidades e dons mutuamente; como ensina a nossa Santa Tradição, nossos Patriarcas, Doutores e Santos, em prol de uma conduta e vida santa.



“É principalmente por dois instrumentos que alguém adquire o conhecimento: a leitura e a meditação.” (HUGO DE SÃO VÍTOR, Didascalicon).


Virgem da Anunciação. Antonello da Messina, 1476





A Virgem Maria como Virgem do Templo: Evidências Históricas e Tradições


Embora não haja evidências históricas concretas que comprovem que a Ss. Virgem Maria foi uma virgem do templo, a tradição e os escritos apócrifos, como o Protoevangelho de Tiago, influenciaram muitos teólogos e santos ao longo dos séculos.

Protoevangelho de Tiago: Este texto apócrifo, datado do século II, menciona que a Ss. Virgem Maria foi consagrada ao serviço do Templo de Jerusalém por seus pais, São Joaquim e Santa Ana, quando tinha três anos de idade. “Então a mulher que descia a montanha me perguntou: ‘Onde vais?’ Respondi: ‘Procuro por uma parteira hebréia’. Ela disse: ‘Sois de Israel?’ Respondi: ‘Sim’. Então ela disse: ‘Quem está dando à luz na caverna?’ Disse-lhe: ‘Minha esposa’. Ela replicou: ‘Mas não é tua mulher?’ Respondi-lhe: ‘É Maria: aquela que foi criada no Templo do Senhor. De fato, foi-me dada por mulher, mas não o é, e agora concebe por obra do Espírito Santo” (PROTOEVANGELHO DE TIAGO, s.d.).


Historiadores e Teólogos Católicos: A obra “Mariologia”, organizada pelo Pe. Juniper B. Carol, é uma referência importante para o estudo da vida da Ss. Virgem Maria. Este trabalho reúne estudos de vários especialistas sobre diversos aspectos da mariologia, incluindo a virgindade da Ss. Senhora e sua possível ligação com o Templo de Jerusalém (CAROL, 1964).

Enciclopédia Judaica: Embora não mencione diretamente a Ss. Virgem Maria como uma virgem do templo, fornece contexto sobre as práticas e funções das mulheres que serviam no Templo de Jerusalém. “As mulheres que serviam no templo eram instruídas nas leis e tradições judaicas, garantindo que pudessem desempenhar suas funções sagradas de maneira adequada” (ENCICLOPÉDIA JUDAICA, s.d.).



O Ensino da Torá pelas Virgens do Templo de Jerusalém



Flávio Josefo, em sua obra “Antiguidades Judaicas”, menciona que “as mulheres no templo eram responsáveis por ensinar a Torá e outras disciplinas religiosas às crianças e a outras mulheres da comunidade” (JOSEFO, s.d.). Esse papel educativo era fundamental para a preservação e transmissão das tradições judaicas.

Além do estudo da Torá, as virgens também ensinavam outras disciplinas relacionadas à vida religiosa e prática judaica. Elas dedicavam várias horas diárias ao ensino e à preparação para suas aulas. De acordo com a Enciclopédia Judaica, “as virgens do templo passavam cerca de quatro a seis horas diárias estudando e ensinando a Torá e outras escrituras sagradas” (ENCICLOPÉDIA JUDAICA, s.d.). Esse tempo era dividido entre sessões de leitura, discussão e meditação sobre os textos.

A História dos Hebreus também destaca a importância do papel educativo das virgens do templo. Segundo o texto, “as virgens eram vistas como guardiãs do conhecimento religioso, e seu ensino era altamente valorizado pela comunidade” (HISTÓRIA DOS HEBREUS, s.d.). Esse reconhecimento reforça a importância de seu papel na educação e na manutenção das tradições religiosas.



A Senhora Lendo. Giorgiane (b. 1477, Castelfranco, d. 1510, Venezia)





Virgens do Templo de Jerusalém Famosas por Sua Sabedoria

Textos históricos e religiosos mencionam várias dessas mulheres, destacando suas contribuições para a educação e a preservação das tradições judaicas. Algumas se tornaram notáveis por sua sabedoria e capacidade de ensino.

Flávio Josefo, em sua obra “Antiguidades Judaicas”, destaca a figura de Miriam, uma virgem do templo conhecida por sua profunda compreensão das escrituras e sua habilidade em transmitir esse conhecimento. Josefo escreve: “Miriam era uma mulher de grande sabedoria, cujos ensinamentos eram procurados por muitos” (JOSEFO, s.d.).

Outro exemplo é encontrado na História dos Hebreus, que menciona a virgem Judith. Segundo o texto, “Judith era conhecida por sua habilidade em interpretar a Torá e por sua dedicação ao ensino das leis judaicas” (HISTÓRIA DOS HEBREUS, s.d.). Sua reputação como educadora atraía estudantes de várias partes de Jerusalém, que vinham aprender com ela.



O Estudo Realizado pelas Virgens do Templo de Jerusalém

As virgens do Templo de Jerusalém dedicavam uma parte significativa de seu tempo ao estudo da Torá, que era essencial para a compreensão e cumprimento das leis e ensinamentos religiosos. Segundo a Enciclopédia Judaica, “o estudo da Torá era uma parte fundamental da vida religiosa judaica e era considerado essencial para todos os judeus, incluindo as mulheres que serviam no templo” (ENCICLOPÉDIA JUDAICA, s.d.).

Essas mulheres recebiam uma educação religiosa rigorosa, que incluía a leitura e interpretação das escrituras. Flávio Josefo, em suas obras, menciona que “as mulheres no templo eram instruídas nas leis e tradições judaicas, garantindo que pudessem desempenhar suas funções sagradas de maneira adequada” (JOSEFO, s.d.).

Segundo a Enciclopédia Judaica a rotina de estudo das virgens do templo era bem estruturada. Elas dedicavam cerca de quatro a seis horas diárias ao estudo da Torá e outras escrituras sagradas. Esse tempo era dividido entre sessões de leitura, discussão e meditação sobre os textos. Pela manhã, após as orações iniciais, elas passavam duas a três horas estudando. No período da tarde, após suas tarefas no templo, dedicavam mais duas a três horas ao estudo e reflexão.

Essa dedicação ao estudo não apenas fortalecia seu conhecimento religioso, mas também as preparava para ensinar e orientar outras mulheres e crianças na comunidade. A educação contínua era vista como uma forma de manter a pureza e a santidade necessárias para suas funções no templo.




Santa Ana ensinando Nossa Senhora Menina. Século XIV pelos grandes mestres catalães Jaume Ferrer Bassa, o seu filho Arnau e Ramón Destorrents



As Virgens do Templo de Jerusalém: Funções e Rotina Diária



As virgens do Templo de Jerusalém desempenhavam um papel crucial na manutenção e funcionamento do templo. Segundo a Enciclopédia Judaica, essas mulheres eram responsáveis por diversas tarefas, incluindo a manutenção do templo, a preparação dos sacrifícios e a confecção de vestes sagradas. Além disso, elas doavam joias e outros itens valiosos para a manutenção do templo e para a compra de materiais necessários.

Para ser uma virgem do templo, havia requisitos específicos. As virgens precisavam manter um estado de pureza ritual, o que incluía a virgindade, e geralmente vinham de famílias respeitadas e devotas, muitas vezes de linhagem sacerdotal. Elas também precisavam demonstrar uma forte dedicação à vida religiosa e aos deveres do templo, além de receberem educação religiosa e treinamento específico para realizar suas tarefas.

O estudo da Torá era uma parte fundamental da vida dessas mulheres. Elas recebiam educação religiosa para entender e cumprir as leis e ensinamentos contidos na Torá, o que as ajudava a desempenhar suas funções sagradas de maneira adequada.

A rotina diária das virgens no templo era estruturada e cheia de responsabilidades sagradas. Pela manhã, começavam o dia com orações e meditação, seguidas pela preparação do templo e dos sacrifícios. Ao meio-dia, trabalhavam na confecção e manutenção das vestes sacerdotais e participavam de sessões de estudo da Torá. À tarde, assistiam os sacerdotes durante os rituais, preparando os utensílios sagrados e as vestes sacerdotais. À noite, encerravam o dia com mais orações e reflexões, retirando-se para descansar (ENCICLOPÉDIA JUDAICA, s.d.).

Flávio Josefo, em suas obras, também menciona a importância das mulheres no contexto do templo. Ele descreve como a pureza e a dedicação dessas mulheres eram essenciais para a manutenção da santidade do templo e para a realização dos rituais religiosos (JOSEFO, s.d.).

Segundo a Enciclopédia Judaica, como já vimos, “as mulheres que serviam no templo eram instruídas nas leis e tradições judaicas, garantindo que pudessem desempenhar suas funções sagradas de maneira adequada” (ENCICLOPÉDIA JUDAICA, s.d.). Mas essa instrução não se limitava às virgens do templo, mas também se aplicava às mulheres judias em geral, que eram incentivadas a estudar para manter a chama do judaísmo acesa em seus lares.

“À mulher judia foi dada a principal responsabilidade de manter acesa a chama do judaísmo. Isto é alcançado por meio da pureza da alimentação casher, de taharat hamishpachá (santidade da vida conjugal) e da educação dos filhos desde os primeiros passos dentro do judaísmo”. Para cumprir essas responsabilidades, as mulheres precisavam de um conhecimento profundo das leis e tradições judaicas, o que implicava em horas de estudo e aprendizado contínuo.


O Papel da Mulher e o Estudo no Midrash

O Midrash, uma coleção de textos judaicos que interpretam e expandem os ensinamentos da Torá, contém várias histórias e ensinamentos que destacam a importância do papel das mulheres na educação e no estudo. Um exemplo notável é a história de Bruriah, uma mulher sábia mencionada no Talmud, que é frequentemente citada no Midrash. Bruriah é conhecida por sua erudição e por desafiar os rabinos em debates teológicos. “Bruriah, esposa de Rabi Meir, era uma mulher de grande sabedoria e conhecimento, e frequentemente discutia questões haláchicas com os sábios” (MIDRASH, s.d.).



A Educação da Virgem. Eugène Delacroix, 1852



O Estudo como Virtude

O Midrash também enfatiza que o estudo não é apenas uma obrigação, mas uma virtude que eleva a alma e aproxima a pessoa de Deus. Este princípio se aplica igualmente a homens e mulheres. “O estudo da Torá é comparado à água, que purifica e nutre a alma, e é uma obrigação sagrada para todos os judeus” (MIDRASH, s.d.).




Referências

CAROL, Juniper B. Mariologia. Madrid: BAC, 1964.

ENCICLOPÉDIA JUDAICA. Disponível em: https://www.jewishencyclopedia.com. Acesso em: 09 set. 2024.

HISTÓRIA DOS HEBREUS. Disponível em: https://www.historiadoshebreus.com. Acesso em: 09 set. 2024.

JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas. Disponível em: https://www.josephus.org. Acesso em: 09 set. 2024.

JERÔNIMO. Obras Completas. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/3001.htm. Acesso em: 09 set. 2024.

PROTOEVANGELHO DE TIAGO. Disponível em: https://www.newadvent.org/fathers/0847.htm. Acesso em: 09 set. 2024.



 

Acervo Digital Salus: O véu na Tradição Cristã



O véu na tradição cristã 
Formato: Digital (epub/pdf)
60 páginas 
Editora Digital: Salus in Caritate


•

Editoria e Curadoria de Arte: Ana Paula Barros
Tradução: Mariana Goulart
Revisão: Jarbas
Viabilização: Mecenas

•

Produção Cultural Católica Independente



Obra: A felicidade do paraíso. V. Vasnetsov. 1885–1896. Fragmento dos afrescos da Catedral de São Vladimir em Kiev



Primeiro Esboço em 13 de novembro de 2023
Publicado em 02 de setembro de 2024



Introdução



Nos últimos anos, muitos descobriram que as linhas revolucionárias criaram um ideal de homem e mulher que não seguem as orientações bíblicas e católicas sobre ser um homem cristão e uma mulher cristã.

Ao se depararem com as mentiras propagadas pelas diversas frentes revolucionárias, as mulheres se refugiaram numa percepção de feminilidade que pode ser facilmente reduzida à prática de “feminices”, e a masculinidade foi reduzida à aparência de “macho alfa”. Nos dias atuais, isso é entendido como correto. Mas será que este é um caminho saudável para a edificação cristã? Ou seria uma resposta imediata baseada unicamente em fazer o oposto dos revolucionários, achando que somente isso seria o suficiente para proteger tudo que amamos?

Bem, em 2018, iniciei o curso Mulher Católica (que não é só para mulheres), idealizado desde 2015, que visa esclarecer e aprofundar a abordagem de que essa resposta reativa, masculina e feminina, focada em fazer somente o oposto, não será suficiente. Já não é suficiente. É extremamente ilusória. Somente uma mudança profundamente cristã poderá nos auxiliar na devida ordenação do caos que nos atinge.



A visão Católica da Complementariedade


Antes de mais nada, é importante salientar que é preciso ordenar a vida interior e sacramental para bem entender a visão católica e os exemplos que nos foram deixados sobre a complementariedade.

A complementariedade é a minha aposta para este curso e para todo o trabalho no Educa-te. No entanto, preciso que a noção de complementariedade cristã e católica se torne mais palpável. Esta série não é um pedaço do Educa-te; o Educa-te é bem maior e mais profundo. Me vejo inclinada a fazer esta pequena série na esperança de veicular a abordagem católica sobre o assunto e ajudar na maturação das abordagens que são um tanto confusas da temática. Para tal, também elaborei o Calendário Literato Católico, composto por seis homens e seis mulheres intelectuais.

Segundo, a complementariedade não se restringe aos casais. A maior parte dela, como verão, acontece na execução de uma missão, e a dos casais é uma delas, mas existem outras.



"Filósofos, letrados e escritores, nós dizemos a nós mesmos, dizemos entre nós, e dizemos ao público, que temos um dever: o de trabalhar, na medida dos nossos meios e forças, para fazer cessar a anarquia intelectual e moral que todos sofrem, que tudo sofre. Queremos, portanto, trabalhar pela pacificação dos espíritos. Sabemos que a paz completa, definitiva, não é deste mundo. Não sonhamos com uma paz impossível.

Faço uma bela imagem do nosso mundo moderno enfim pacificado. A paz, ou seja, a ordem, que é a concórdia. Cada coisa em seu lugar, em seu devido posto e todas unidas conspirando para um fim superior... As fontes da paz e as fontes da regeneração moral e intelectual são as mesmas. Os espíritos e as almas serão pacificados com o que é capaz de refazer espíritos e almas. O que é capaz de refazer os espíritos e as almas é a verdade, a verdade moral inteira" (Ollé-Laprune, 1892).





Adão e Eva

Como todos sabem, Adão e Eva são os nossos primeiros pais. Foram criados com dons preternaturais, ou seja, não morriam, nem adoeciam, tinham inteligência infusa (sabiam sobre algo sem precisar estudar) e não tinham concupiscência, ou seja, as paixões estavam sob a tutela da razão. Eles eram virgens e puros.

Então, a serpente enganou Eva e todos conhecem o desfecho: nós e a nossa tendência à autodestruição pelo pecado.

Adão amava Eva, ela era a sua imagem e semelhança. Os dois cuidavam do jardim do Éden, foram criados como filhos de Deus e possuíam dons preternaturais. A missão deles era povoar a terra, multiplicar e cuidar da Criação. Deus lhes deu a vida e, ao gerar, eles continuavam o dom da vida.

A missão de Adão e Eva estava intrinsecamente ligada ao dom da vida: cuidar do jardim e da criação, gerar filhos e crescer. Eles eram, ambos, guardiões da vida. Este é o primeiro aprendizado da ação complementar entre Adão e Eva. Esta complementariedade não cessou após a queda, ela permaneceu. O castigo do Senhor foi: para a mulher, as dores do parto e se sentir atraída pelo homem e se ver por ele dominada; e para o homem, trabalhar e obter o alimento com o suor do rosto.

Antes da queda, a vida fluía lindamente e o amor entre Adão e Eva era puro e equilibrado; o trabalho e o alimento eram fáceis. Sempre houve vida e trabalho no Éden, mas ambos ganharam a nota da fadiga e da dor. Gerenciar essas duas coisas é a tarefa conjunta após a queda, assim como gerenciar a alteração dessa relação. O pecado original mudou o relacionamento original entre o primeiro homem e a primeira mulher. Todas as rusgas e brigas de poder, seja vindas do homem ou da mulher, são resultado da queda.

Por isso, como cristãos, temos, além das lições anteriores, a grande responsabilidade de, mergulhados no Sangue que nos remiu do pecado original, sair das condutas que replicam o resultado do pecado original.

Este é um dos resultados da Grande Graça que o Nosso Salvador conquistou para nós. Por isso, não se deixe levar pela replicação de padrões e estereótipos, tomando como ponto de partida apenas fazer o oposto da conduta revolucionária. Antes, homens e mulheres profundamente cristãos devem colher os ensinos da Igreja e das Sagradas Escrituras, formando-se numa vida católica manifestada numa conduta santa.

Para tranquilizá-lo, comunico que, segundo a Sagrada Tradição, Adão e Eva, após serem expulsos do Éden, foram para uma gruta e fizeram penitência. Sofreram muito ao verem o primeiro assassinato da humanidade entre seus dois filhos, Abel e Caim. Após longos anos, morreram e ficaram no Limbo, até que o Senhor Jesus desceu à Mansão dos Mortos (o Limbo) e os libertou, assim como todos os patriarcas e profetas tementes a Deus do Antigo Testamento, para entrarem no Céu, agora aberto, pelo Seu Sacrifício na Cruz.




Pontos de Aprendizado:

"O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres, e solícito em aprender de boa vontade de todos. Nunca presuma de sua ciência; não queira parecer douto, mas sê-lo; busque os ditos dos sábios, e procure ardentemente ter sempre os seus vultos diante dos olhos da mente, como um espelho" (Hugo de São Vítor).


Lição 1: Adão e Eva nos ensinam a ação complementar na execução da tarefa de serem guardiões da vida (na geração de filhos, no gerenciamento da criação, no trabalho).

Lição 2: Após a queda, a ação complementar ganha a tarefa de guardar a vida em meio à hostilidade interna e externa que o pecado gera.

Lição 3: As rusgas entre homens e mulheres, pessoais e sociais, são resultado do pecado original. Como católicos, devemos nos esforçar para, através de uma conduta santa, não replicar os efeitos do pecado original numa constante batalha de superior-inferior que gera uma falta do genuíno deleite e admiração pelos talentos um do outro.

Mesmo em meios mais tradicionais, é comum notar a replicação do enaltecimento de um em detrimento do outro, numa incapacidade de sair da conduta advinda do pecado original. Também é comum que, dada a falta de interesse e respeito genuíno pelo trabalho e talento feminino, se abra um espaço forçoso para a sua presença. Muitos destes espaços são desajustados, outros não; no caso, se houvesse um interesse genuíno e verdadeiro, não haveria necessidade de se abrir um espaço forçosamente, simplesmente se pensaria na pessoa como alguém adequado, detentor do talento e habilidade para tal tarefa ou execução. Numa ação complementar, evitam-se as constantes separações “para homens” e “para mulheres”. Ambos aprendem, se edificam, crescem e multiplicam juntos, num aprendizado e admiração mútuos.

As separações são resultado de uma conduta moduladora da incompetência em lidar com as feridas do pecado original no meio social. São muito diferentes dos motivos que levam uma ordem religiosa a separar os homens e as mulheres; uma coisa é um mosteiro, outra coisa é uma interação social. O motivo da conduta moduladora é facilitar o “convívio de iguais” (homens com homens e mulheres com mulheres), o que dificulta muito o nascimento de um respeito genuíno entre homens e mulheres. No entanto, favorece largamente o comportamento embotado e “clubista” dos homens e a excessiva sensação de incapacidade e afetação das mulheres. Duas coisas que podem ser facilmente educadas numa interação complementar sadia.

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Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e da Linha Editorial Practica. Autora dos livros: Modéstia (2018), Graça & Beleza (2025).

Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista.

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