A Virtude da Mortificação| Mês de Setembro

by - setembro 11, 2023





Logo vem a Primavera. 

A primavera é a estação em que as plantas possuem mais viriditas, ensina Santa Hildegarda. É a estação perfeita para colher ervas aromáticas e hortaliças. No entanto, um pouco antes, no fim do outono, se poda algumas plantas, como a lavanda. Se faz isso, para que possuam mais força e novas folhas nasçam na Primavera, justamente por ser a estação em que estão mais fortes. 

Esse período de poda, coincide, no Brasil, com o mês de Setembro, dedicado ao aperfeiçoamento da Virtude da Mortificação. Afinal, o que é essa virtude senão uma poda orquestrada, programada, anual, para dar melhores frutos de virtude nos outros meses? 

No entanto, se você já precisou podar uma planta, sem que ela estivesse com alguma praga visível, sabe que é uma tarefa difícil. Algumas plantas precisam ser podadas em 2/3! Parece que nunca mais vão crescer. Mas é impressionante, logo no dia seguinte começam a dar brotos... Aquele tamanho todo, todos aqueles galhos e folhas, ramificações, não estavam fazendo bem à planta. Ela estava grande, mas não dava folhas novas, estava fadigada. 

Poda anual é uma regra necessária para algumas plantas. Talvez as almas também sejam assim... é preciso desapegar, mas quando se trata de coisas profundas, ramificações incrustradas no fundo do coração, que impedem a vida de fluir... bem, quando isso acontece, é preciso podar. Mortificar. 

Podar as coisas excessivas, tirar os olhos das coisas inúteis, diminuir um tanto para ficar mais forte nos próximos meses, isso é mortificar. 

Sim, dói. Uma dor espiritual. Cortar coisas profundas gera aquele sentimento de certa agonia interior mas, como quando se poda lavanda, gera um perfume de suave odor que se levanta até o Céu. 

Há quem possa apontar que a vida já é puxada, não precisamos, portanto, dessa virtude. Mas, embora eu acredite que não estejamos na altura de pedir sofrimentos, talvez seja adequado se abrir à oportunidade das podas anuais que nos fazem resolver tantas coisas interiores, coisas estas que fazem a vida patinar, causam certos desequilíbrios interiores ou disputas nas sombras do coração. Vale à pena pedir luz para ver essas linhas, cordas ou grilhões interiores que nos prendem. Só ao vê-los teremos já uma dose considerável de mortificação. Depois a graça de se ver livre deles. 


A Mortificação


"A mortificação deve abraçar o homem inteiro, corpo e alma; porque o homem inteiro, se não está bem disciplinado, é que é uma ocasião de pecado. É certo que, falando com rigor, só a vontade é que peca; mas a vontade tem por cúmplices e instrumentos o corpo com os seus sentidos exteriores e a alma com todas as suas faculdades... por conseguinte, o homem todo deve ser disciplinado... deve-se praticar com prudência ou discrição, ser proporcionada segundo as forças físicas e morais de cada um..." ¹

É preciso: 1) poupar as forças físicas, ou seja, não ultrapassar os limites do corpo e acabar por enfraquece-lo demais, 2) poupar forças morais, ou seja, não se impor objetivos que não poderá seguir constantemente levando a um relaxamento moral, após tentar voar alto demais; 3) devem estar em harmonia com os deveres de estado. 






Prática cotidiana

Modéstia do corpo


"Para mortificar o corpo, comecemos por observar perfeitamente as regras da modéstia e urbanidade, nisto se encontra abundante matéria de mortificação... é mister respeitar o nosso corpo como templo santo, como um membro de Cristo. Nada desses trajes mais ou menos indecentes, que não são feitos senão para provocar a curiosidade e a volúpia... traga o vestido reclamando a sua condição, simples e modesto para sempre asseado e decente."¹

"Sede elegante, Filoteia, e nada haja em vós destoante e mal posto... mas fugi o máximo possível das vaidades e afetações, das curiosidades e loucuras... tendei sempre, para a singeleza e modéstia..."²

" A compostura do porte exterior é igualmente uma excelente mortificação ao alcance de todos. Evitar com cuidado as posições moles e efeminadas, conservar o corpo direito sem violência ou afetação".¹

*urbanidade = boas maneira, civilidade, cortesia.


Disciplina da inteligência


Esta consiste em, pela dedicação ao estudo, vencer a ignorância. Mantendo ainda um olhar atento às coisas elevadas, desviando os olhos das coisas inúteis que alimentam a curiosidade, que é uma doença do espírito que aumenta a ignorância religiosa. 







Educação da Vontade


Para tal é preciso vencer:

- a irreflexão: que instiga a agir sem refletir;
- a correria febril: produz uma tensão demasiada, uma agitação até mesmo para fazer o bem. Esta afasta o sossego e a paz, levando ao um agir imoderado e caracterizado por rompantes;
- a negligência e preguiça: é a falta de energia moral que paralisa e atrofia as forças; é preciso fortificar as convicções;
- medo de fracassar: o medo de fazer uma figura fraca oriunda da falta de confiança, pode ser afastado pela fé de que com a ajuda de Deus seremos bem sucedidos.
- o respeito humano: que nos torna escravos dos outros e reféns de seus gostos, isso se combate com a convicção de que o juízo Divino é o mais importante; as pessoas são finitas, hora gostam de uma coisa, hora de outra; Deus é eterno e já manifestou o que Lhe agrada ou desagrada;
- maus exemplos: os maus exemplos oferecem grande perigo, por isso, a boa educação da vontade conta com a eleição de bons modelos, segundo as características oferecidas pelo Evangelho e a vida moral e espiritual dos santos, ou seja, nesta eleição até mesmo os nossos gostos e inclinações pessoais, tão influenciados pela mentalidade do mundo, devem ser purificados.


Convicções


As convicções nascem da : 1) a decisão, depois de refletir e orar, é preciso agir sem hesitação; 2) decisão firme, a firmeza nas pequenas ações é que assegura a fidelidade nas grandes; 3) uma firmeza que se renova para ser constante e tranquila, ninguém é vencido senão quando abandona a luta. Mesmo com alguns desfalecimentos ou ferimentos, nesta santa batalha contra frouxidão moral, podemos nos considerar vitoriosos. Como quem sobe nos ombros de um gigante, podemos ganhar convicção e vencer cotidianamente a frouxidão moral nos apoiando em Deus que nos faz participar da Sua invencibilidade. É por esta razão que ter convicção é, num mundo como o nosso, um milagre oculto. 









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1 comments

  1. Belo texto. Obrigada por compartilhar seus estudos. Estão sendo de grande valia para minha conversão à Santa Igreja. Abraços!

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Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.