Carta 18: Colhendo Pérolas

by - terça-feira, fevereiro 09, 2021

 
Carta 18: Colhendo Pérolas




Piracicaba, 14 de abril de 2020



Este é um daqueles tempos em que a poesia parece que foge, e as palavras parecem mais úteis se não ditas. Um daqueles tempos que, já dizia Adélia Prado: “olho pedra, vejo pedra mesmo”. Talvez o caminho seja somente andar e colher as pérolas que se formam no mar do cotidiano. Só andar, nadar e ir indo — mas buscando pontos de luz aqui e ali, de boas práticas.

Um dia, um conhecido me disse que eu não devia gastar tanto tempo fazendo material para as pessoas — era jogar pérolas fora. Pensei nisso e quase sucumbi a esse jeito mercenário de ver a vida, mas aí lembrei que talvez isso fosse as pérolas de algumas pessoas e, na pior das hipóteses, no fim do percurso, teria eu deixado um caminho de pérolas. Não me pareceu ruim...

Esses dias, li aquela frase da Clarice Lispector: “o que me mata é o cotidiano, eu queria só exceções”. Penso que, muitas vezes, pensamos assim quando vivemos nas ondas calmas... No entanto, devo dizer: prefiro pensar como Rilke — “se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas”. E, se Deus, por Sua Providência, vela-nos a nossa querida poesia, que ao menos vejamos uma pedra repousada na grama da esperança, iluminada pelas nuances dos raios da Providência, envolta nas flores da paciência... linda pedra essa...

Talvez o caminho seja somente andar, ou navegar, em busca de pérolas — e tudo se ajeita.

Singelamente, Ana



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2 comments

  1. Olá,Paz e Bem!
    Esta carta é uma pérola que colhi.
    Obrigado por passar e deixá-la pelo caminho.

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Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.