Minhas etapas de refinamento pela Modéstia II

by - março 20, 2024


 Imagem e aparência. Talvez sejam as coisas que mais causam pré-ocupação numa moça. Eu me lembro que a primeira mesada que recebi na vida, o montante exorbitante de 15 reais, serviu para comprar minhas primeiras pecinhas banhadas a ouro e papéis de carta, claro. 


Me lembro também que ao realizar a minha primeira entrevista de emprego (2004), com 15 anos, a responsável pelo RH disse ao me ver: "Graças a Deus, é bonita". Achei interessante o fato de ser essa a minha maior qualidade. 


Eu cresci sabendo o que toda moça aprende: a beleza é uma dádiva e uma arma. Pode te fazer muito bem, pode também te fazer o oposto, pode ser empecilho para verem seus outros talentos. Eu aprendi tudo isso muito cedo. 


Quando olho para trás, não me vejo com problemas de imagem e aparência (que hoje chamam um tanto superficialmente, e por isso já inclinado ao erro, de "beleza"), mas isso não significa que eu não tinha algo para refinar. Claro, eu não sabia disso, descobri após a Total Consagração à Santíssima Virgem (Março, 2015). 


Como lhe contei eu comecei a trabalhar, numa livraria, com 15 anos (sim, o lugar que era preciso também ser bonita). Talvez isso tenha gerado algo benéfico na minha visão de aparência, ler e "ser bonita" eram coisas que existiam juntas na minha vidinha de jovem assalariada. Mas é num ponto muito sutil, visível somente por Aquele que vê os corações, que a Santíssima Virgem me ajudará pela Modéstia.


Eu aprendi muito cedo a disfarçar meu humor e tudo o mais, para não prejudicar o trabalho. Isso foi muito bom, trabalhei nesta mesma empresa por 6 anos, só sai dessa livraria para trabalhar numa clínica como recém formada. Trabalhar me fez ser quem eu sou hoje (além de ler muito os Padres do Deserto). No entanto, eu me habituei a usar os adornos como uma "máscara". Mas me deixe explicar melhor.


Depois de me formar, na minha primeira formação superior, fui trabalhar numa clínica (2009), que assim como a livraria era uma referência nacional no ramo. Em dois anos, me tornei coordenadora da equipe de profissionais. Minhas bases de referência de imagem e aparência sempre foram um tanto francesas, seja aquilo que todo mundo entende por francês, até aquilo que de fato é. De modo que a minha meta, já nesta época, era já um tanto ligada à francesa da vida real, uma aparência natural (que não é a francesa dos tons de vermelho, tá?). Talvez você já saiba, mas o natural que estou a mencionar não significa "nada" mas um "nada feito", um natural cuidado para sê-lo. Acho importante ressaltar esse ponto, já que a nossa cultura tende ao entendimento pelos opostos completos, ou seja, natural é facilmente entendido como desleixo, assim como buscar focar em estudo, ou virtude, ou ambos, é facilmente entendido como renegar a tal "beleza" (que nem mesmo existe como a apresentam). Bem, por falar em cultura, me deixe prosseguir.


Os padrões brasileiros de construir um rosto em cima do rosto, um cabelo em cima do cabelo, um corpo em cima do corpo sempre estiveram em alta, de modo que a minha referência era entendida somente por pessoas com a mesma formação que eu sobre imagem e aparência (e isso acontece até hoje). Ou seja, uma formação bem tradicional que se baseia no sutil, numa delicadeza de cuidados que não salta aos olhos, nada é gritante na aparência dentro desta percepção. Tanto a quantidade quanto a intensidade são extremamente sutis, o que exige mais atenção na vitalidade real do tecido do que em construir esta aparência. Somente a observação deste único ponto já nos coloca diante dos olhos as diferenças impostas pela cultura brasileira: muita quantidade, muita intensidade, é uma exigência ficar evidente o feito para poder mostrar que fez, que passou tal coisa no rosto e etc., se não for assim é como se não existisse. Homens e mulheres possuem está mesma percepção sobre aparência e imagem, vindas da cultura. 


No entanto, é interessante como a Providência torna real anseios bons e os aperfeiçoa. Quando entrei no caminho cristão da Modéstia, quando finalmente conheci o que me havia sido privado e negado, consegui tornar real, por impulso e fim espiritual, a imagem e aparência natural. Foi uma mudança muito sutil, nunca usei coisas muito carregadas, dada as minhas referências. Foi uma mudança na necessidade de ter que montar uma máscara (mesmo que não extremamente carregada) para então viver, ser, estar pronta e etc. Isto era uma bengala de personalidade. Não é muito fácil descobrir isso numa cultura tão alimentada pelo oposto. Eu queria me sentir confiante, inteligente sem a bengala.

Acredito que este foi o processo mais longo, esteve presente desde a primeira etapa relatada no artigo anterior. E ainda está presente, já que a cultura está aí, fazendo os seus vórtices dentro e fora do ciclo católico, num rodopiar sem fim. Sempre tento não me esquecer do que aprendi sobre imagem e aparência. 


É preciso também considerar que não tenho algo que se enquadre nos "ideais" (pois já sei que muitas mentes tendem para isso). Quando fui fazer um trabalho de missão (2017), nada agradável por sinal, no Nordeste (mas que aprendi muito), voltei com um Melasma de meio centímetro, que foi aumentando e espalhando. É muito difícil não querer esconde-lo 100%, é difícil se manter na linha de pensamento que disse que tenho há muitos anos quando a aparência destoa do considerado "ideal" pelas outras pessoas. Mas achei que era uma boa oportunidade de viver o que sempre acreditei. E é isso que estou fazendo até hoje. 


Recentemente (2023), ministrei uma aula num grande canal católico, fiquei feliz, pessoalmente feliz, porque ali estava eu, depois de 14 anos do anseio e 10 anos de refinamento, só eu mesma e o quê Deus fez em mim, sem bengalas de personalidade ou máscaras para então me sentir pronta, bela, confiante, capaz de servir, aceita e etc... Somente com um uso bem melhor para o  "francês natural", dado que tinha um fim eterno. E eu nunca me achei tão bonita, pronta, bela, confiante e capaz de servir. Este processo me ajudou muito na vivência da pura sinceridade. 


Realmente a Santíssima Virgem sabe das coisas e nos instrui naquilo que precisa de remédio. Independente da minha vocação, tenho certeza que eu precisava tomar vivência desta lição. Já que ela me ajudou numa outra etapa, mas essa é outra história. 


Singelamente, Ana






You May Also Like

2 comments

  1. Que belíssima foto, e o texto também, principalmente o final... amei. Deus nos fez belas, cada uma a seu modo, e não precisamos dessas "mascaras".

    ResponderExcluir

  2. Muito interessante e ilustrativo texto. Obrigado.

    Para quem estava curioso igual eu, acho que a aula da qual a professora estava falando era essa:
    https://www.youtube.com/watch?v=-S05pI5Nbw4

    ResponderExcluir

Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.