Virtude da Obediência| Virtude do Mês de Julho

by - julho 11, 2023

 





"Quem me ama obedece os meus mandamentos" (Jo 14, 15)



A Virtude da Obediência é uma Virtude Moral (ou seja, que edificamos pelo exercício e prática) e sobrenatural (pois, como humanidade decaída precisamos da ajuda da Graça) anexa à Virtude da Justiça. A Virtude da Obediência honra a Deus.

O primeiro passo para a vivência da Virtude da Obediência é obedecer os Mandamentos do Senhor e ao seu Evangelho. Todas as outras atitudes de obediência estão subordinados aos ensinamentos do Senhor e só são válidos se aperfeiçoam a obediência devida à Majestade Divina.

A Virtude da Obediência nos faz participar da dinâmica da Soberania do Amor de Deus que tudo rege e governa, tal Soberania merece uma resposta de submissão absoluta. No entanto, como humanidade caída e cheia de propensão ao mal, temos uma dificuldade radical em nos submetermos ao ensinamento do Senhor em Seu Evangelho, passamos a viver uma "espiritualidade" isenta de compromisso e exigências, isenta de correção e obediência a Deus. Somos levados com frequência aos discursos de "não colocar o dedo na ferida", uma religião que não corrige, não possui padrões morais e virtuosos, um amor que não edifica, mas amordaça na mediocridade. E todas estas coisas estão adornadas com o véu de uma falsa obediência e de um falso amor. Por isso, se torna radicalmente necessário o conhecimento dos Mandamentos do Senhor e dos Ensinamentos da Igreja para que não tomemos como verdadeiro o falso.

A Obediência ao Senhor, e não aos homens, é a marca do ensino do Senhor Jesus, também de São Paulo, que disse obedecer a Deus e não aos homens e de todos os santos. No entanto, Deus se usa dos cargos humanos para fazer os seus ditames, isto quando tais homens estão sobre a Obediência à Sua Soberania. Por isso, se torna novamente necessário reiterar que a obediência devida aos superiores é sinal da Vontade Divina quando aperfeiçoa a obediência aos Seus Mandamentos e Conselhos, não quando afasta deles. Quando afasta do Evangelho já não é mais virtude e sim uma ação totalitária que decidiu edificar uma "nova nova aliança", propagar uma boa nova mais nova que o Evangelho. No entanto, noutros casos, em que existe a obediência à Soberania Divina e seguimento do Evangelho, os superiores devem ser obedecidos por mais que isso cause algum sofrimento da vontade própria. Obedecer à autoridade que por sua vez obedece aos ditames do Senhor, é obedecer o próprio Deus. A autoridade, no entanto, não deve ser usada para proteger o próprio ego em prol de criar o ambiente que agrade ao superior, mas sim como um lugar que lhe foi dado para exercer sobre os outros o papel de alguém que tem "uma idade maior", ou seja, o ofício do sábio que conduz os seus por uma conduta santa à Vida Eterna. Este é o dever moral da autoridade.



Na ​ordem natural, ​ podem-se distinguir três espécies de sociedades: a sociedade doméstica ​ou ​familiar, a que presidem os pais; a sociedade ​civil governada pelos detentores legítimos da autoridade, segundo sistemas reconhecidos nas diversas nações; a sociedade​ profissional, em que há patrões e operários cujos direitos e deveres respectivos são determinados pelo contrato de trabalho. Na ​ordem sobrenatural,​ os superiores hierárquicos são o ​Santo Pontífice, os ​Bispos, ​párocos​ e ​vigários.


O Mérito da Obediência¹



Toda a perfeição consiste na conformidade de nossa vontade com a vontade de Deus. Qual é, porém, o meio mais seguro para se conhecer a vontade de Deus e conformar a nossa vontade com ela? Esse meio é a obediência a nossos superiores e diretor espiritual.

“Em caso algum se executa mais perfeitamente a vontade de Deus, diz São Vicente de Paulo, que quando se obedece a seus superiores”

O maior sacrifício que uma alma pode fazer a Deus consiste na obediência a Seus legítimos superiores, porque, segundo Santo Tomás, nada nos é mais caro que a liberdade da própria vontade (De perf. vit spir., c. 10) e, por isso, não podemos oferecer a Deus um presente mais agradável que nossa liberdade. Isso nos ensina o Espirito Santo nestes termos: “Obediência é melhor que sacrifício” (1 Rs 15, 22), isto é, Deus prefere a obediência a todos os sacrifícios. Quem consagra a Deus seus haveres, distribuindo-os aos pobres; sua honra, suportando com paciência os desprezos; seu corpo, mortificando-o com jejuns e penitências, dá a Deus uma parte de si mesmo. Quem, ao contrário, lhe sacrifica a sua vontade, sujeitando- se à obediência, entrega-Lhe tudo o que tem e pode dizer:

Senhor, depois de vos haver entregado minha vontade, nada mais possuo para Vos dar São Gregório diz que praticando as outras virtudes damos a Deus o que é nosso, mas, pela obediência, fazemos-Lhe o sacrifício de nós mesmos (1 Rs, 15). O mesmo Santo ensina que a obediência é acompanhada de todas as outras virtudes e as conserva na alma (Mor., 1. .15, c. 12). Segundo o venerável Pe. Serlório Cupulo, semelhante ao martírio é o merecimento devido à obediência, porque, como se sacrifica a Deus, pelo martírio, a cabeça do corpo, se sacrifica, pela obediência, a sua própria vontade, que é a cabeça da alma. Pelo que, nos assegura o Sábio (Pr 21, 28) que um homem obediente vencerá todos os ataques de seus inimigos.


“É justo que os obedientes superem todos os ataques do inferno, porque, sujeitando sua vontade aos homens pela obediência, vencerão ao demônio, que caiu por causa de sua desobediência” (1 Rs, 1. 4, c. 12)


Ler: Da Graça e do Mérito (aqui)
Ler: Do ato de escolher - Do Mérito e do Demérito em Geral (aqui)




Obediência aos pais (ou Piedade para com os Pais)¹


Deve-se obedecer aos pais em tudo que é justo. “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor”, diz São Paulo (Ef 6, 1). Os filhos, pois, são obrigados a obedecer aos pais em tudo que diz respeito ao bem da família e, principalmente, no que se refere aos bons costumes.


Não temas, alma cristã, de te entregar a um trabalho que te expõe ao perigo de muitas distrações e aí perder o recolhimento de espírito, se o fazes por obediência a teus pais; Deus te dará então, em um quarto de hora de oração mental, mais graças do que alcançarias em dez dias de recolhimento. Procura então, durante o teu trabalho, empregar na oração todo o tempo que te resta, ainda que sejam só alguns instantes. Não deves dizer que teu trabalho não te deixa nenhum tempo para a oração; os que tem zelo pelo trabalho e que amam a oração mental, encontram tempo para um como para o outro.

Contudo, devemos notar bem a última palavra do texto que citamos acima. Ela diz que se deve obedecer nas coisas que são agradáveis a Deus e não naquelas que O desagradam. Por exemplo, se uma mãe mandasse que seu filho roubasse ou ferisse alguém, estaria ele obrigado a obedecer? De forma alguma; pecaria até se o fizesse. Do mesmo modo, segundo Santo Tomás, não se está obrigado a obedecer aos pais se se trata da escolha do estado. Quanto ao casamento, afirma o Pe. Pinamonti, com Sánchez, Konink e outros, que os filhos estão obrigados a aconselhar-se com seus pais, porque eles, nisso, têm mais experiência e porque, em tais circunstâncias, principalmente um pai cuida em cumprir seus deveres de pai. Quanto à vocação à vida religiosa, diz o Pe. Pinamonti, com não menos razão, o filho não tem a menor obrigação de pedir conselhos a seus pais, porque nisso não têm eles a menor experiência e, regularmente; o interesse próprio os transforma em inimigos. O mesmo afirma Santo Tomás, que diz, a respeito da vocação, que nossos amigos segundo a carne muitas vezes se opõem a nosso adiantamento espiritual. De fato, muitos pais preferem que seus filhos se percam com eles, a permitir-lhes que se salvem longe deles. Isto é, segundo São Bernardo, uma crueldade da parte dos pais para com seus filhos.


Ler: Virtude da Piedade para com os pais e a pátria (aqui)


Obediência da Esposa ao Marido e a Obediência do Marido a Deus²


O pecado original nos ocasionou dois castigos distintos: 1 - o homem terá que trabalhar e comer com o "suor do seu rosto", assim o trabalho se tornou um peso e um meio de sobrevivência, o homem já não teria o poder sobre a natureza que seu papel de guardião lhe assegurava, 2- a mulher seria atraída pelo homem e ele a subjugaria, ou seja, ela que foi criada para ser a companheira e não deixar o homem só, que foi recebida com o entusiasmo do reconhecimento, passou a ser atraída e dominada e não mais protegida e honrada. A mulher refém de seus impulsos e o homem sedento por dominar (ou vice-versa, atualmente), este é o cenário pós queda. Por isso, o Antigo Testamento nos apresenta uma série de figuras femininas humilhadas (Diná, Agar, Tamar) e homens lutando contra pestes, secas e outras alterações da natureza. Também nos apresenta um número considerável de boas mulheres (Debora, Ester) e bons homens (Samuel, Natã, Isaías, que inclusive dominavam a natureza) como prefiguração do que havia de acontecer. No Novo Testamento temos uma verdadeira cascata de mulheres e homens sendo retificados: Madalena, a filha de Jairo, a mulher com hemorragia, a sogra de Pedro, as santas mulheres; todos os apóstolos, os fariseus convertidos e os diversos doentes curados. Os dois, homem e mulher, recebem de forma distinta os efeitos da Redenção e iniciam uma vida cristã conforme as diretrizes da Boa Nova.




Claro que essa dinâmica do pecado alterou a relação entre os homens e as mulheres, inclusive os casamentos. A sensação de limitação às ações femininas, ideias pré concebidas de suas capacidades, chacotas e minimizações, inferiorização de sua sensibilidade e papel em todos os meios e outras tantas facetas da mesma atitude limitada é um efeito do pecado original. No principio não era assim. Assim como a revolta das mulheres para com os homens, a feminilização dos homens, a inferiorizarão de seu papel, também são um resultado do pecado original. São os desdobramentos da desordem da desobediência. Infelizmente, estamos ainda muito imbuídos de tal mentalidade. Quantos bons homens cristãos não falam de forma pejorativa do agir feminino, minimizando a sua ação e participação, quantos ainda não impulsionam e encorajam as mulheres, replicando a ação não protetora de Adão? Quantas boas mulheres cristãs tem ainda dificuldade de se deixar ser protegida, de ocupar o seu espaço animada pelos homens que a cercam, quantas por outro lado se revestem da armadura da afetação para se protegerem da sua responsabilidade moral e religiosa radical para com os seus, dando um fruto ruim aos seus, imitando Eva?




Estes são efeitos do pecado original e de uma vida cristã que ainda não conseguiu receber o realinhamento da salvação que o Senhor Jesus conquistou para nós. Ele veio nos salvar dos efeitos do pecado original e sua ação redentora é integral, retifica toda a nossa vivência pessoal e social, retifica a nossa existência como homens e mulheres. Munidos das múltiplas graças da redenção devemos buscar o plano original de Deus para nós e não mais viver segundo os efeitos do pecado original.




Reconhecer tais comportamentos e retificá-los numa conduta santa - o homem como homem santo e a mulher como mulher santa - é uma tarefa árduo e urgente. Replicar os padrões de pensamento da queda seria barrar a nossa santificação. A santificação é mais que um retorno ao estado original, é o cumprimento do Plano Divino lá "no principio".




É por isso que a obediência ao marido se realiza numa ação simples e santificadora quando debaixo da ação redentora: o marido protege, busca ser sábio se unindo a Deus e dá o sangue pela esposa (ou seja, sacrifica a si mesmo e não deixa que a esposa sofra, se sacrifica no lugar dela, se for possível, assume a responsabilidade, é para ela o seu mais forte protetor, o seu mais firme apoio em seus projetos e toma para si a responsabilidade de arcar com qualquer oposição que ela tenha no caminho), a mulher obedece ao marido que está unido a Deus, acolhe a proteção e a honra, instrui com o coração (que é a sede do ser, ou seja, instrui com a sua vida, com ela mesma, não me refiro à emoções, mas à amabilidade firme) todos que lhe são confiados. Resgatados pela ação redentora do Senhor, homem e mulher já não são mais atraídos para uma relação de dominador e dominado, mas para uma ação de proteção, honra, crescimento humano e espiritual. Uma obediência que vivifica e instrui mutuamente, pois ambos estão comprometidos em vivenciar os efeitos da Redenção e não mais viver segundo os efeitos do pecado original.


A dinâmica acima citada entre homem e mulher se replica em todas as outras nuances de relacionamentos com suas devidas proporções.








Os Limites da Obediência³


Todo católico, por ação do Santo Batismo, precisa exercitar-se na obediência imitando assim Nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, vivemos num mundo deturpado e muitas autoridades podem usar seu poder de forma equivocada: para proteger o próprio ego, para proteger os seus pares ou para defender os seus pensamentos não devotos e não cristãos. Tais autoridades não devem ser obedecidas. Se os pais orientam algo contrário as leis de Deus, a moral ou as leis da Igreja não devem ser obedecidos, o mesmo para qualquer clérigo, independente do nível hierárquico; se este ensina algo contra as leis de Deus, a moral ou as leis da Igreja não deve ser obedecido. Assim como as autoridade civis que façam algo contra as leis de Deus, a moral ou as leis da Igreja não é necessário obedecer. Também não se é obrigado a obedecer a alguém que dá ordem fora da sua alçada de poder, ou seja, fora das suas atribuições. No entanto, neste caso, caso seja, por exemplo, um colega de trabalho que mande algo, sendo que este não tem cargo de chefia, você não é obrigado a obedecer, mas talvez para que o trabalho aconteça e você não corra o risco de ser demitido seja oportuno realizar o solicitado, se tal coisa não atinge a lei de Deus, a moral ou as leis da Igreja. Tal atitude pode lhe ajudar a crescer na virtude. 

Outros casos também podem sugerir a necessidade de um olhar atento, por exemplo, os superiores de comunidade e grupos. Eles exercem uma autoridade que possui uma grande carga afetiva nos membros de tais grupos, essa ação psicológica/afetiva pode gerar uma dependência emocional do superior e um "endeusamento" surreal do mesmo, ocasionando o território propício para a aplicação de uma autoridade centralizadora e escravizante que aliena os que estão ao seu redor e os suga emocionalmente e espiritualmente. Tais casos acontecem com alguma frequência e devem ser diferenciados da falta de adaptação de alguns membros numa realidade, sendo isso uma questão pessoal.

A boa autoridade possui, sim, laços emocionais com aqueles que recebem a sua ação de liderança, mas tal ação é utilizada para edificação, crescimento humano e espiritual. Imitando, assim, a autoridade do Senhor. 

Este é o limite da obediência: a obediência que mata é aquela que não causa crescimento e é desempenhada fora do ensinamento da lei de Deus, da moral e a da lei da Igreja, é um sacrífico que destrói; já a obediência que vivifica é desempenhada segundo a lei de Deus, a moral e a lei da Igreja , é um sacrifício da própria vontade que não nos mata, antes nos torna quem nós realmente somos. 


Graus da obediência³


1º) Pontual: o obediente ama o preceito e quer seja conforme o seu gosto quer não, aplica-se em fazer imediatamente. Por isso, é sempre questionável um "discurso de obediência" que desvaloriza o preceito e seu cumprimento, já que este é o primeiro degrau do cumprimento da obediência.

2º) Sem restrição: sem fazer seleções, ou seja, obedecer em certas coisas e desobedecer em outras, fazer tal coisa é já perder o mérito da obediência, é mostrar que nos sujeitamos somente no que agrada, que não causa incomodo ou grandes adaptações aos olhos dos outros.

3º) Alegre: a quem ama, nada é penoso, porque não pensa no sofrimento, mas nAquele por quem sofre.


Por isso, que obedece mais quem ama mais. 


"Quem me ama obedece os meus mandamentos" (Jo 14, 15)


Referências


1) OMER C.SS.R., Padre Saint. Escola da Perfeição Cristã para Seculares e Religiosos: Obra compilada dos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja. Editora Vozes, 1955, p. 204-212. Disponível aqui: https://amzn.to/44jiIaK

2) JOÃO PAULO II. 2000 (1988). Carta Apostólica Mulieris Dignitatem do Sumo Pontífice João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher por ocasião do ano mariano. 4ª edição. São Paulo: Paulinas.

3) TANQUEREY, A. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. Editora Cultor de Livros, 2018, p. 660. Disponível aqui: https://amzn.to/3rnZJNS.



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