Desacelere

by - junho 05, 2022


Passamos muito tempo lutando para viver e acabamos vivendo muito pouco. Existir e viver são coisas diferentes. 


Desacelerar é um convite ousado numa sociedade que enaltece a velocidade e a produtividade, sem se lembrar que a calma é mais produtiva que a agilidade que fadiga. 


Você teria coragem de desacelerar? Pois é, quem diria que isso exigiria coragem, seja para arcar com o fato de ir na contramão de todos os outros, seja por se deparar com você mesmo no processo e tudo que deixou de lado para poder ser rápido.


Eu gosto de assitir séries com mestres de artes marciais desde pequena e, se você já assistiu alguma, já reparou que, os movimentos são rápidos, mas quem está lutando vê as coisas em câmera lenta? A atenção plena e lenta lhe concede agilidade e uma visão ampla da realidade. 


 Pois é, você já deve ter me entendido e talvez já tenha pensado nisso, toda essa fluidez de informação, todos falando ao mesmo tempo, tanta agitação dentro e fora de nós, deve ter lhe esgotado, de alguma forma, também. 


Não sei se posso defender, pessoalmente, a escolha de se apartar totalmente, mas a entendo completamente. Defendo, no entanto, certa consciência no uso de tanta agilidade, certa coragem de aceitar parar e olhar em volta, de desacelerar e ver os outros avançarem sem uma angústia interior. Você verá que não é muito fácil, exige certa resiliência e auto domínio. 


Existe uma história de um cachorro que viu uma lebre e saiu correndo, todos os outros cães sairam correndo também, mas não tinham visto nada. Penso que esse desacelerar permite ver o que não vimos, permite sair do "efeito manada", como eu o chamo, e fazer as coisas com mais consciência, pode até ser as mesmas coisas que antes ou que os outros já fazem, mas com consciência, com reta intenção, com presença.


Isso também vale para os que fazem trabalhos na Igreja e para a Igreja. Muitas vezes nós nos esquecemos que o Senhor trabalhou seis dias e descansou. Eu mesma pulei solenemente a imitação da parte do descanso por seis anos seguidos. Na verdade, eu nunca me sentia cansada, mas eu estava correndo... você já viu um atleta correndo? Bem, caso não tenha visto, depois de um tempo ele não sente mais nada, a endorfina anestesia tudo, os músculos estão tão energizados que pulam, ele não está cansado de fato, embora tudo esteja fadigando. Estranho né? Mas isso acontece na nossa vida e também nas práticas de apostolado. Então você que é fundador, orientador, coordenador, catequista, padre, irmã, consagrado, enfim, qualquer servidor assíduo do Reino, se lembre de descansar, se lembre de desacelerar, isso também dá glória a Deus e nos dá perspectiva. 


O atleta lá na pista de corrida, correndo e correndo só vê a pista, só vê a looonga pista... perde um pouco a perspectiva do que o cerca, do quê e quem está na beira da pista, até mesmo de quem corre com ele... ele só vê a pista e a linha de chegada. E devemos dizer que isso é ótimo, isso é plena concentração, é muito útil imitar essa atitude na vida e no serviço ao Senhor. Mas perder a perspetiva não é muito bom quando se serve o Reino, tudo o que servimos está, também, em volta de nós. 


Então, se lembre, aspirante a servo bom e fiel, de glorificar a Deus desacelerando. Parece loucura, eu sei, principalmente se você veio de uma formação como a minha "servir, servir, servir e fim", mas vamos lá aprender a descansar como o Senhor, você verá que existe serviço nisso também, por isso o Senhor Jesus disse que "meu Pai nunca descansa". 


Só temos que descobrir, com a vivência e o tempo, que sementes de edificação existem nesse desacelerar e descansar. Então vamos lá, aprender mais uma coisa com o Senhor!  


Paz e Bem! 



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1 comments

  1. Eu estava sempre correndo, quase que literalmente, de um lado para o outro, sempre a Marta agitada, fazendo muitas coisas... Então, depois de um acampamento com meu grupo escoteiro, desenvolvi fascite plantar. Uma inflamação no nervo que fica na sola do pé, derivado do tendão de Aquiles. É muita dor. Depois do tratamento com antiinflamatórios continuava com dor, ora num pé, ora no outro. Não conseguia andar rápido. Agora consegui comprar um tênis ortopédico. Consegui suportar ficar de pé o dia todo, mas me dei conta que não posso correr, senão a dor aumenta. Então, decidi não resistir à essa situação/condição. Atualmente caminho devagar, dando passos suaves e olhando as coisas em volta, prestando atenção no ambiente que me cerca e tentando estar onde estou e não onde meu celular ou outra distração me leva. Foi muita dor, mas Deus só permite a dor para nos ensinar algo. Estou tentando aprender.

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