Meditações sobre a Beleza| Parte 1: O Belo Supremo e a Alma Bela

by - abril 19, 2023





Artigo original em 23/06/2018
Atualização em 17/04/2023 

"A Beleza Suprema não podia senão criar a beleza. Neste cosmos tudo era apenas equilíbrio e simples reflexo da Beleza criadora. Quais olhares podiam descobrir o Belo? Os do homem e da mulher, criados a imagem de Deus, a quem Deus insuflou seu hálito de vida, capazes de se maravilharem um diante do outro, num face a face que conduz ao olhar criador que faz o outro existir.  Eis a obra primordial de Deus, seu primeiro olhar de amor: o homem elevado na beleza de Deus e, pelo homem, todas as criaturas, feitas para ele, e ele tendo parte comum com esse universo. Uma criação manando de mil graças. Agora um olhar sedutor desemboca num olhar destruidor. O olhar humano é embaciado, o olhar de Deus permanece na sua limpidez. Mas como concedê-lo ao homem? Pelo Filho único, resplendor da glória do Pai e expressão do seu Ser (Hb 1, 3)"
Cônego Constant Tonnellier



Você é toda linda, minha querida;
em você não há defeito algum.
Cântico dos Cânticos 4, 7





O Belo manifesta-se a uma espécie de visão interior. O Belo é espiritual, mas pode ser captado, em parte, pelos sentidos.

Quando os sentidos reconhecem a Beleza, é como uma perfeição do conhecimento sensível.

Esse conhecimento é embasado numa satisfação desinteressada.

O Belo possui três acepções: a estética, a moral e a espiritual.

A acepção estética vem da sua qualidade de pureza, que é constatada pela harmonia da forma.

A acepção moral vem da percepção de que a Beleza é o patrimônio das almas equilibradas, que conseguem manter-se em perfeita harmonia consigo mesmas.

A acepção espiritual se refere à característica do Belo de levar à Verdade.






Logo, o belo estético está subordinado ao belo moral e espiritual, já que ambos são superiores ao estético.




As artes estão no conjunto do belo estético, a beleza da alma no conjunto do belo moral e a verdade está no conjunto de beleza espiritual.

Por isso, uma obra de arte é bela quando está subordinada ao belo moral e espiritual. Assim também a beleza corporal física humana.

Já a fonte das três acepções do belo é a beleza divina, da qual somos adoradores e, espantosamente, espelhos. Somos belos conforme nos fazemos mais semelhantes à beleza divina. Este esforço virtuoso está na categoria de beleza moral; as virtudes são a riqueza da alma e o belo moral é o patrimônio das almas equilibradas.

“A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e joias de ouro ou roupas finas. Ao contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus.” (1 Pedro 3, 3-4)

A primeira é a beleza humana aparente e a segunda, a beleza moral que atrai a suprema beleza, já que isso Lhe agrada.

Esta é a beleza que atrai o Senhor para residir na alma amada de Cânticos. A alma que busca e é buscada. Que ama e é amada. A alma bela.

A beleza divina se fez carne e se deixou conhecer, para que os olhos humanos, já embaçados pela corrupção do pecado e atualmente pela feiura estética, moral e espiritual crescente, pudessem purificar seus olhares na limpidez da beleza divina, gerada e não criada, consubstancial ao Pai. Este influxo de graça perpassa os séculos e ainda hoje nos é apresentado como remédio salutar.

No entanto, embora tal purificação possa acontecer misticamente, foi também necessário o uso dos sentidos, tão envenenados pelo pecado e corrupção, para uma purificação de corpo e alma. Os sentidos elevados a Deus pelo maravilhamento usam a beleza terrena criada pelas mãos dos homens como trampolim para vislumbrar, pela virtude da esperança, a beleza da face divina que, com solicitude, espalha sua presença nas boas obras artísticas e morais humanas e na natureza.









Referências:

NUNES, B. Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Edições Loyola, 2016. 116 p.
Disponível em: https://amzn.to/43xVApb.

TONNELIER, C. 15 de Dias de Oração com São João da Cruz. Paulinas, 2011. 104 p.
Disponível em: https://amzn.to/3GO5PvE.

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4 comments

  1. Paz e bem! Que nossos olhos se tornem límpidos!

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  2. OBRIGADA , muito obrigada! Eu já percorri por caminhos de meditações hinduístas e nessa época conseguia ter olhos mais sensíveis à beleza da criação. Depois que fui presenteada com a Verdade e me afastei de tudo que fosse incompativel a Igreja de Cristo havia perdido esse encanto e beleza da meditação, hoje a alegria de contemplar as maravilhas de Deus através desse vídeo me trouxeram grande paz e certeza de que não há nada que não tenhamos resposta na Igreja Católica.

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    1. Fico feliz em lhe ajudar a acessar os tesouros de beleza da Santa Igreja, todas as respostas e belezas estão no depósito na nossa fé. Paz e Bem!

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  3. Olá, Ana Paula! Me interesso muito por esse tema! Se puder esclarecer um pouco mais: “Por isso, uma obra de arte é bela quando está subordinada ao Belo Moral e Espiritual.” Necessariamente uma obra será bela somente quando for subordinada ao Belo Moral e Espiritual?
    Desde já, obrigada!
    Camila

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Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.

Foto do Autor

Ana Paula Barros

Especialista em Educação Clássica e Neuro Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Graduada em Curadoria de Arte e Produção Cultural pela Academia de Belas Artes de São Paulo. Professora independente no Portal Educa-te (desde 2018). Editora-chefe da Revista Salutaris e autora do livro: Modéstia. Possui enfática atuação na produção de conteúdos digitais (desde 2012) em prol da educação religiosa, humana e intelectual católica, com enfoque na abordagem clássica e tomista. Totus Tuus, Maria (2015)

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