A IMATURIDADE E O DESESPERO DO SOBREVIVER (por Natan Pimenta)

by - fevereiro 12, 2022

 Temos visto o surgimento de várias famílias católicas na internet que, sendo católicas, são abertas à vida. Algumas possuem 4, 5, 7 e até 11 filhos. Mas, ao nos cercarmos virtualmente de famílias assim, podemos ter a falsa impressão de que a sociedade está ficando cada vez mais consciente quanto ao real significado do que é a família. Porém, a realidade infelizmente ainda mostra-se bem diferente.


 Lembro uma vez de um amigo que me contou que certa feita foi ao médico e, quando questionado – seja lá por qual motivo – sobre a quantidade de filhos que possuía, respondeu: tenho três. O médico, aparentemente surpreso, questionou: todos com a mesma mulher?


 Deixemos a falta de delicadeza e bom senso do médico de lado. O que queremos mostrar aqui é que a sociedade está cheia de pessoas como este médico. Culpáveis ou inculpáveis, só Deus poderá julgar. E o pior: isso já adentrou os ambientes eclesiais. O sexo antes do casamento , o “divórcio” e o uso de pílulas anticoncepcionais foram normalizados. Já não assustam mais. Ou assustam menos que uma família tradicional com cônjuges que vivem a castidade e são abertos à vida. Quantos casais de jovens já ouviram as seguintes velhas e equívocas afirmações e indagações após afirmarem que, após o casamento, serão abertos à vida: “esperem após terem o primeiro filho para ver se ainda permanecerão com essa opinião”; “não está barato ter filho no mundo de hoje”; “o mundo está cada vez pior, pra quê colocar mais filhos nele?”; “você vai abrir mão dos seus sonhos?”. Fora aquelas bobagens de superpopulação que, conquanto mais raras, às vezes marcam presença.


 O que essas pessoas que fazem tais afirmações simplesmente não conseguem entender é que a falta de força moral de alguém na aplicação do princípio que ela acredita nada diz sobre a veracidade deste mesmo princípio. É algo lógico. O ato de um padre que comete abusos sexuais nada diz sobre a verdade da Igreja. Ou seja, mesmo que um jovem casal realmente não consiga manter o princípio de abertura à vida, isso nada diz contra tal princípio. Igreja santa e pecadora? Não! Igreja Santa, membros pecadores. Mas muitos não estão preocupados com a sublimidade dos princípios (pois aceitá-los exige maturidade e, com ela, mudança de conduta), mas em medir a vida alheia com a régua de sua própria mediocridade. Uma prova disso é a seguinte: olhe para a vida da pessoa que diz isso e se pergunte: ela é feliz? A resposta quase sempre é evidente. Não há como ser plenamente feliz com uma hierarquia de valores totalmente bagunçada. Não há verdadeiro amor e plena felicidade sem entrega; e entrega é sacrifício. Porém, em tempos de exacerbação do egoismo, da liberdade sexual e da imaturidade a palavra sacrifício anda fora de moda.


 A verdade é que as pessoas já não possuem mais uma visão sobrenatural. Divorciaram a fé da vida cotidiana. Esqueceram-se o que é ser verdadeiramente homem e verdadeiramente mulher. Esqueceram-se de que nascemos para ser mães e pais (e assim gerar almas para Deus) e que assumir esse papel, ordenando-o a Deus, é a verdadeira maturidade. Fomos feitos para a maturidade, e a maturidade necessariamente dá frutos. Nenhuma vida veio a este mundo para ser estéril. Nenhuma vida veio a este mundo para guardar-se para si mesma, mas para gastar-se para os outros. Todos fomos feitos para a maternidade ou a paternidade, seja esta biológica, adotiva ou espiritual – sendo ainda esta última essencialmente a mais elevada forma de paternidade e maternidade. A castração biológica voluntária reflete a castração da alma.


 Cada pessoa possui peso e responsabilidade próprios. Não querer crescer é negar a sua responsabilidade e colocar o seu peso no ombro de outro. Enquanto que a maturidade é, além de sustentar o seu peso, tentar aliviar ao máximo o peso dos outros. Os Santos são grandiosos, mas são leves. Reconhecer o seu dever e assumi-lo de forma integral (entregando tudo a Deus) torna a vida mais leve e a coloca nos trilhos. O sentido do dever, que brota da responsabilidade, que é própria da maturidade, fala mais alto que o sentido do querer. Por isso a maioria dos casais que não possuem filhos são imaturos, pois não sabem qual peso devem carregar, e, quando sabem, não o assumem. Não assumem as consequências dos seus atos. Tudo o que sabem é que não querem mais peso para si, nem deixar de fazer tudo aquilo que gostam, nem ter a responsabilidade de criar uma outra vida. A vivência de uma vida irrefletida assim pode fazer com que nos livremos de várias dores e sofrimentos imediatos, mas inevitavelmente nos conduzirá à frustração e ao desespero.


 Desespero de não ter a plenitude do viver, mas apenas o desespero do sobreviver. Desespero de não ter vivido, de não ter se doado aos outros, de ter sido o servo mau, inútil e preguiçoso que não fez o talento dado por Cristo frutificar (Cf. Mt 25, 14-30). Ou seja, no dia do Juízo, você correrá como uma criança para o colo do Pai, de quem não via a hora de encontrá-Lo, com as mãos cheias de talentos multiplicados, ou irá com as mãos vazias de tudo o que poderia ter feito e não fez, tudo o que poderia ter sido e não foi?


 Como no-lo diz a grande Santa Teresa de Ávila: “É justo que muito custe o que muito vale”. E para nós, cristãos, esse valor é muito alto, pois o amor de Deus não tem medida. O amor de Deus conduziu Seu Filho à morte, e morte de Cruz, por nós. Se Ele, sendo Deus, me amou, como eu, miserável que sou, posso não amá-lO de volta? Como não me sacrificarei por Aquele que me deu a vida e se sacrificou por mim? Para nós, ou o amor é livre, fiel, total e fecundo, ou simplesmente não é amor!


 Segundo Santo Tomás de Aquino, três coisas são necessárias ao homem para a sua salvação: “A primeira é o conhecimento daquilo que se deve crer; a segunda, conhecer o que se deve desejar e a terceira, conhecer o que se deve realizar. O homem tem o primeiro desses conhecimentos no Símbolo dos Apóstolos; a Oração Dominical o instrui sobre o que se deve desejar; e os dois preceitos da caridade e os dez mandamentos da lei mostram o que se deve pôr em prática ”. Eis o mapa para a nossa vida!


 Por que a sociedade mais livre sexualmente da história é a que mais se suicida? Justamente porque a vida que estamos levando vai contra a nossa própria natureza. A gravidez é um sinal disso, a fragilidade de um singelo bebê que demanda cuidados e a complementariedade dos sexos também. O Homem está mutilado, sentindo falta daquilo que lhe é essencial. O Homem está perdido, sem saber o que se deve crer, o que se deve desejar e o que se deve fazer.


Por: Natan Pimenta
Teólogo

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