Deus é lento.

Diante dessa pequena afirmação é possível escutar o consentimento positivo de muitos corações ou cabeças balançando numa dolorosa afirmativa. No entanto, isso, quando visto mais profundamente, pode nos gerar um mudança dramática de vida. 

Nossas vidas modernas e internéticas fazem apologia ao ágil e rápido. Podemos dizer, sem nenhuma dúvida, que vivemos como quem corre de espanto e pavor de algo que não vê rumo a um lugar que não existe.

Estamos agindo, vivendo e nos movendo fora do tempo lento de Deus. 

Mesmo aqueles que se dedicam a Deus, que se esforçam num caminho rumo a espiritualidade parecem simplesmente viver desejando algo que está numa linha paralela da sua atual posição. E como ensinam os personagens do livro Três Monges Rebeldes, as linhas paralelas não se encontram, de modo que só nos resta mudar de linha ou fazer com que a linha superior se inferiorize.

Qualquer uma das ações que escolha realizar fará uma mudança radical na forma como você vê e encaminha a sua vida.

São Paulo quando foi à Grécia entrou no templo grego e lá viu o altar do Deus Desconhecido, usou esse altar vazio do templo, para dizer aos gregos que o Deus Onipotente que havia se revelado aos judeus e se encarnado nesse mesmo povo, era o Deus Desconhecido que eles tanto ansiavam em encontrar e ao fazer seu discurso a esse povo, douto e moderno, usou uma frase celebre dos poetas gregos: "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos", como disseram alguns dos poetas de vocês: "Também somos descendência dele" (Atos 17:28). Como essa frase nos mostra como estamos na contramão da forma de viver em Deus, somos Sua descendência mas agimos de forma apressada e superficial. Podemos então fazer a pergunta, que pode nos doer profundamente: estamos vivendo, nos movendo e existindo em Deus dessa forma?

Eu sei, eu sei... você não consegue nem mesmo imaginar como agir de outra forma, como sair dessa roda de rato que se tornou a vida humana, como sair dessa escada íngreme e cansativa de coisas que parecem tão vazias e que te dizem que são essenciais.

O cristianismo é uma religião estranha ao mundo, nós temos um Deus que fez todas as tarefas banais que fazemos: fisiológicas, profissionais, sociais. Tudo isso para que se torne mais fácil, viver e nos movermos nEle, já que Ele viveu tudo isso.

Mas ainda assim é muito difícil realizar a ação que promove a entrada no tempo de Deus: descansar no Deus que é lento. 

Muitas pessoas dirão, teologicamente, que Deus não é lento, que tudo acontece em Seu tempo e por isso não há lentidão, há somente a hora certa. E de fato é assim, mas humanamente falando, podemos sentir a lentidão da espera, que se torna mais angustiante quando estamos em outra linha, vivendo de uma forma que seria mais correto dizer que "fazemos o tempo fugir de medo" do que "que corremos atrás do tempo".

Descansar em Deus é a tarefa mais difícil que você pode se propôr, é muito mais fácil se desesperar e viver na roda de ratos, ainda mais quando essa atitude é vista como cool pela sociedade. Já percebeu como as pessoas gostam de falar que "não tem tempo pra nada", que "estão correndo com a vida"... fazem isso porque é chique ser soterrado por tarefas que muitas vezes não possuem nenhuma importância radical para elas. 

Mas como se descansa? Como se entra no tempo de Deus?

Uma vez li um frase de Santa Teresinha em que ela dizia que sua vocação estava vinculada a ser amada. Aquilo me incomodou e eu não sabia ao certo a razão, depois de um tempo notei que estava vinculada a primeira coisa que aprendi sobre a vida espiritual quando estava cantando no coral da Igreja de São Francisco, quando tinha uns 7 anos: "é dando que se recebe". Então descobri que a frase de Santa Teresinha travou tudo que até então eu acreditava ser o resumo da espiritualidade, ela me fez parar e pensar no descanso que recebe o Amor. 

É estranho dizer isso em uma cultura que prega a agilidade, a superficialidade e o comodismo, principalmente. Mas a verdade é que vendo os frutos dessas deturpações (ansiedade, medo, depressão, cansaço, tristeza...) vejo que tudo tem sua raiz no anseio por ser amado e no cansaço por buscar esse amor em tudo e em todos e não encontrá-lo.

Descansar em Deus é se mover e existir no Amor. Por isso Santa Teresa diz que "nada te perturbe, nada de amedronte, tudo passa...". Descansar em Deus nos deixa livres para ver as coisas do ponto de vista do Eterno, através da linha paralela do Amor, podemos olhar a linha do tempo fugaz com calma e com certa lentidão.

Eu sei, não é fácil, mas comece saindo dessa linha fugaz, faça as coisas com calma, sonhe com calma, realize com calma, maravilhê-se com a vida, com a Santa Missa, com os Sacramentos, maravilhe-se! Se deixe encantar pelas coisas que Deus faz na criação, saia dessa neura de criar um mundo perfeito para si e se encante com o mundo que Ele já criou para você e com Ele mesmo. 

Isso é entrar no tempo de Deus, é unir sua respiração e seu maravilhamento aos sons da criação que vive louvando a Deus, nos pássaros e nos ventos, na chuva e no sol, na Santa Missa e nos Céus.

Não seja tão apressado, tão agitado, tão "desmaravilhado"... e acredite, essa é uma das razões do cansaço, da fadiga, da tristeza, da ansiedade, da murmuração, dos sonhos não concretizados, das metas sem sentido, da oração sem destinatário: viver fora do tempo de Deus.

Deus é lento, pois "vê o coração de todos os homens e por todos os seus atos se interessa".

Ele passa os tempos eternos lendo os nossos corações, como mãe debruçada ao berço de seu bebê e nós recebemos esse olhar de amor? Descansamos nos cuidados desse Vigia que nunca dorme?

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