PELA VOLTA DA RADICALIDADE

by - outubro 03, 2017

por um cristianismo autêntico


Se existe uma palavra que define o cristianismo é a palavra: radicalidade.

Não existiu e nem existirá nenhuma história cristã em que o ato de ser radical não esteja presente.

Por isso, nos soa falso e caricato alguns atos atuais. Pessoas que aparentemente nos passam nuances de "radicalidade", mas a mesma carece de originalidade.

Para melhor elucidar e me fazer entender ao máximo, acredito que é de grande valia citar a história de alguns personagens radicais do cristianismo, que viveram tal radicalidade com originalidade.

Assim me decido começar por São Lucas. Pois bem, São Lucas era médico, formado na faculdade de Alexandria, filho de gregos e criado muito próximo de um líder romano, de modo que durante toda a sua vida recebeu ajuda desse romano para estudar. Enfim, segundo relatos São Lucas já era dotado de alguns dons de cura, estando ele ainda a atender muito longe da Terra Santa. Existem os que não sabem, mas São Lucas era praticamente um ateu, não acreditava em muita coisa, ele escutava falar da fama de um rabino chamado Jesus que fazia curas na Terra Santa e um dia, por fim, ele chegou na Terra Santa, mas um ano depois da morte e ressurreição do Senhor. E então, passou a fazer pesquisas para conhecer Jesus através de quem O conheceu. Tanto fez que chegou a ser Evangelista. 

O que podemos tirar dessa história é a radicalidade original, ou seja, pessoal, única de São Lucas. Muito próxima de nós, aliás. Ninguém poderia escrever algo sobre quem era o Senhor se não fosse alguém que foi talhado por quase 30 anos, até que encontrou a Verdade. E ele mudou profundamente, porque foi buscar quem era Jesus, procurou tanto que encontrou e pôde, por sua vez, falar Dele para as pessoas. Além disso passou a ajudar São Paulo.

E por falar em São Paulo, temos nesse homem outro exemplo único de radicalidade, um fariseu, estudado e aprofundado nas Leis, zeloso e guerreiro por natureza, que matava cristãos. Ele teve um encontro com Jesus de uma forma mais brutal, digamos assim, era o que a alma de Saulo precisava para se converter na alma do futuro São Paulo, uma das colunas da Igreja. E existe alguém mais radical? Ele mudou profundamente, internamente. Todas as crenças que ele tinha acabaram, tudo que ele havia feito estava comprovadamente equivocado, ele havia errado feio. Mas ele não ficou a se lamentar, mudou tanto que foi defender, orientar, formar e guiar aqueles que antes matara. 

Esses dois exemplos já me permitem chegar a termo da verdadeira radicalidade cristã, que sempre foi vivida na mudança interior profunda e depois nas ações. Não existe cristianismo sem radicalidade.

Radicalidade de abandonar o pecado.
Radicalidade de abandonar o achismo.
Radicalidade de mudar de vida, se a vida atual não agrada a Deus (na verdade, sempre temos algo para converter, esteja você onde estiver).

Não tens desculpa nenhuma. A culpa é somente tua. Se sabes - conheces-te o bastante-  que, por esse caminho - com essas leituras, com essa companhia...-, podes acabar no precipício, por que te obstinas em pensar que talvez seja um atalho que facilita a tua formação ou que amadurece a tua personalidade? Muda radicalmente o teu plano, ainda que te exija mais esforço, menos diversões ao alcance da mão. Já é tempo de que te comportes como uma pessoa responsável. (São Josemaria Escrivá, Sulco 138)

Você a essa altura já deve estar a pensar: Mas isso é muito difícil!

Graças a Deus! Eu te respondo.

A vivência dessa radicalidade cristã é uma entrega total, um descanso em Deus, um passo de confiança na Graça Divina.

Do que vale um cristianismo que não acredita na ação da Graça de Deus? Afinal, o Deus que trabalhou nas almas de São Paulo e São Lucas, também os manteve e é O mesmo que em nós trabalha de acordo com o nível de radicalidade que nos propomos viver.

Pede-Lhe que te conceda uma aversão radical ao que é mundano: que só o Amor te sustente. (Sulco 814)

Por isso não é natural essa leva de conversões rápidas e lacrimosas, mais relâmpago. A pessoa é cristã de noite e já não o é na semana de eventos da cidade.

Isso não existe!

Assim como não existe uma conversão que a pessoa já se vê santa, uma conversão que se baseia numa vivência sem concretude, algo ralo e digital demais pra ser de carne e osso.

Outros, entretanto, entendem ser radical com ser puritano. Basta lembrar que o puritanismo não é um comportamento de raiz católica, pois normalmente impede muito uma vida normal. 

E aqui entramos no centro da conversa: todos acreditam que são radicais quando seguem a risca alguma sequência de regras, isso no que se refere a religião. No entanto, a radicalidade tem mais relação com entender e praticar essas regras de uma forma tão assimilada, tão profunda, tão incrustada no interior daquela alma, que ela assim faria mesmo que a regra não existisse, mesmo que não existissem companheiros que o incentivassem, mesmo sem os likes e os comentários nas redes.

Acontece que esse não é o caso da maioria. 

Como já nos diz São Luis de Montfort, somos inconstantes e é por isso que precisamos clamar por radicalidade original, ou seja, cada um em sua história de vida, em suas conversões e em sua vocação. Uma radicalidade original numa vida normal.

Digo isso por ser bem comum que, por algum motivo muito difuso e um tanto incompreensível, as pessoas atribuam a vida de radicalidade com a vida de um monge, de um religioso. De fato, eles são o cume da radicalidade, pois neles existe essa vocação (de religioso de clausura). Mas é também possível e é o desejo de Deus a radicalidade na sua vocação, na sua vida normal, na sua pessoalidade. Me refiro a esse aspecto porque vejo muitas moças que são vocacionadas ao matrimônio que acreditam que a radicalidade é ter a vida de uma religiosa e é aí que está a falta de originalidade, de pessoalidade. Assim como rapazes que já sabem ter vocação para padre e se comportam como se não a tivesse.

E isso, buscar a pessoalidade na vivência do cristianismo, te garanto, cansa muito! Pois é, uma busca entre tantas coisas que não somos e tantas coisas que queríamos ser, mas que na verdade não são o que Deus quer pra nós.

Acredito que tenha deixado claro, mas não me custa reiterar, que pessoalidade não significa fazer uma Igreja segundo a sua vontade, não existe um programa de personal igreja. Existem pontos que são para todos, esses pontos se resumem a uma Vida Sacramental

Eis o começo da radicalidade cristã: a vivência dos sacramentos.

“Sê alma de Eucaristia! – Se o centro dos teus pensamentos e esperanças está no Sacrário, filho, que abundantes os frutos de santidade e de apostolado! (São Josemaria Escrivá, Forja, n.º 835)”

Quando um cristão decide fazer uso dos sacramentos com consciência da Graça de Deus, ocorre a abertura para a mudança profunda, para a radicalidade real e pessoal em sua vida. 

Na vida normal! De cristãos que vão a padaria e separam um horário para oração da manhã e da noite, que faz o sinal da cruz diante da Igreja e faz compras sem consumismo, que ajoelha ao entrar numa Igreja e senta no chão em casa ou parque pra brincar com as crianças, que faz novenas não contando a quantidade que faz mais a qualidade da oração e estuda para a faculdade ou para ser um ser humano melhor, que vai a Missa ao Domingo e comunga com adoração, mas também se alegra com um pote de açaí na tarde de domingo, que sabe a razão que realiza tais atos durante durante o Santo Sacrifício e que procura fazer um apostolado na sua realidade, no dia a dia e usando os talentos que Deus lhe deu. Essa é a chamada vida normal, aquela que Deus preparou para nós através dos talentos e vocação que temos. E a primeira vocação, ou seja, o primeiro chamado é ser santo (caso você não saiba a sua vocação pessoal). 

E isso dá trabalho, porque podemos buscar imitar os santos da Igreja, mas temos o nosso caminho pessoal de santidade para percorrer, um caminho único. Não existiu e nem existirá uma pessoa como você no mundo.

Portanto, dentre tantas influências e desinfluencias temos que buscar o que Deus reservou para nós e isso em si já tomaria muito do tempo que gastamos com o vórtice de opiniões que mudam pouco a realidade. O tempo gasto nessa busca aumentaria as mudanças radicais que efetivamente mudam a realidade.

Para que você possa meditar mais sobre o tema, poderá ter acesso ao material abaixo e não deixe de se inscrever em nosso canal!







Paz e Bem!
Ana

















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1 comentários

Olá, Paz e Bem! Que bom tê-lo por aqui! Agradeço por deixar sua partilha.