Cuidado com a síndrome do porquinho espiritual

by - maio 14, 2017


Todos sabemos que a espiritualidade, atualmente, esta focada em receber graças, de repente em todas as religiões as pessoas começaram a estabelecer uma relação com Deus que é baseada em receber graças e milagres.

Mas aqui me detenho ao cristianismo.

Realmente essas pessoas chegaram a conclusão que a fonte das graças e dos milagres é Deus e que para obtê-las devem então se voltar para Deus e pedir.

Uma conclusão bem óbvia e natural, depois de algum tempo sendo o centro do universo e percebendo, depois de muitas quedas, que não é bem assim.

A essa mesma conclusão chegou o "filho pródigo", lembra? Ele saiu de casa, achando que bastava a si mesmo, gastou tudo e depois se viu entre os porcos, era tratado como menos que um porco e o resultado foi que seu raciocínio foi o de um porco. Ele disse: "na casa de meu pai tem comida", "posso ser um dos servos".

Ele então se voltou para o caminho que levava até a casa paterna, pois queria comer e ser tratado ao menos como gente.

Ele voltou para o pai para satisfazer suas necessidades, não por que o amava. Existem mil e uma formas de ver a parábola do filho pródigo, como todas as parábolas, mas não podemos deixar de notar a motivação do filho mais novo. Ele voltou para o pai ainda pensando em si mesmo.

Pois, não é exatamente o que vemos hoje? Ao menos, com uma frequência exorbitante.

Filhos que se voltam para o Pai querendo coisas para si mesmos, coisas que acreditam ser o certo e o melhor para elas, de acordo com elas mesmas. Porquinhos espirituais. Uma síndrome horrenda.

Realmente sabemos que os patriarcas da fé (Abraão, Isaac, Jacó) eram muito abastados, pois foram agraciados, como dizem os escritores sagrados. Mas o que todos preferem não ver é que foram agraciados porque obedeceram a Deus e obedecer é sinal de amar.

Amar é mais profundo que gostar, quem gosta não se molda por ninguém, quem ama se deixa transformar. Por isso, dizemos que o amor transforma, claro que me refiro ao amor real, não a essa imitação barata romântica dos tempos de hoje.

Portanto, se pautar nos patriarcas para se comportar como um porquinho espiritual, não rola. 

Outro ponto, ainda maior, é a vida do Senhor, que nasceu, viveu e morreu sendo pobre (o que não é miserável). Não é preciso muita perspicácia para notar que Ele escolheu a pobreza por um motivo e é justamente se contradizer a mentalidade de que: Deus nos da bens, e se não os temos, não temos Deus. Ele quis provar tão profundamente isso que nasceu Ele mesmo, Deus, na pobreza.

Assim, novamente a síndrome horrenda de porco espiritual é vetada.

Para não deixar dúvidas, Jesus mesmo começou a falar da cruz e do sofrimento quando viu que o povo estava seguindo-O porque ele havia multiplicado os pães no dia anterior. Sinal de que Ele não se agrada nada desse comportamento.

Agora, sinceramente, pensa comigo, você gosta de gente interesseira? 

Então, porque raios muitos se comportam assim com Deus?

Mas, então, não devo pedir nada!?

Claro que deve, mas o amor e a gratidão vem antes.

Será mesmo que nos voltamos para Deus porque O amamos?
Será que somos gratos pelo que Ele fez e faz em nossas vidas?
Será que fazemos essas perguntas antes de pedir alguma coisa?
Será que pedimos pensando que "seja feita a vontade de Deus" realmente? Ou o que vale é a nossa vontade e se não acontecer a fé se abala e Deus passa a ser "menos legal"?

Estamos num tempo, que mais do que nunca, é preciso sair das águas rasas, da fé da barganha, da fé que é só baseada em graças exteriores. É preciso se aprofundar, entender a presença de Deus no muito e no pouco, no ganho e na perda, no nada e no tudo. Isso é amar a Deus sobre todas as coisas.

Uma fé baseada em graças externas é fraca, mole e ineficaz, não transforma porque não existe amor, mesmo que externamente a pessoa tenha mudado, internamente esta num chiqueiro cada dia mais afundado em lama e muitos dizendo o nome de Deus quase o tempo todo. 

Porquinhos espirituais. Uma fé que não entendeu que graça é receber o amor de Deus e esse amor transforma acima de tudo o interior e nos leva claramente a desprezar o status que o mundo impõe para o chamado "sucesso". O amor de Deus liberta.


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2 comments

  1. Amei o texto! e confirmo a sua visão sobre aprofundarmos na intimidade com Deus, especialmente no mundo atual onde relacionamentos profundos perderam o sentido.

    Deus abençoe seu apostolado

    bjs

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